quinta-feira, 31 de julho de 2014

Saint-Exupéry, o grande pequeno príncipe!

 

Antoine de Saint-Exupéry



O Pequeno Príncipe
 

Apaixonado desde a infância pela mecânica começou por estudar no colégio jesuíta de Notre-Dame de Saint-Croix, em Mans, de 1909 a 1914. Neste ano da Primeira Guerra Mundial, juntamente com seu irmão François, transfere-se para o colégio dos Maristas, em Friburgo, na Suíça, onde permanece até 1917. Quatro anos mais tarde, em abril de 1921, Antoine inicia o serviço militar no 2º Regimento de Aviação de Estrasburgo, depois de reprovado nos exames para admissão da Escola Naval.
Em 17 de junho, obtém em Rabat, para onde fora mandado, o brevê de piloto civil. No ano seguinte, 1922, já é piloto militar brevetado, com o posto de subtenente da reserva. Em 1926, recomendado por amigo, o Abade Sudour, é admitido na Sociedade Latécoère de Aviação (depois conhecida como Aéropostale), onde começa então sua carreira como piloto de linha, voando entre Toulouse, Casablanca e Dacar, na mesma equipa dos pioneiros Vacher, Mermoz, Guillaumet e outros. Foi por essa época, quando chefiou o posto de Cabo Juby, no sul de Marrocos e então uma colónia espanhola, que os mouros lhe deram o cognome de senhor das areias. Permaneceu 18 meses no Cabo Juby,[carece de fontes] durante os quais escreveu o romance Courrier sud ("Correio do Sul")1 e negociou com as tribos mouras insubmissas a libertação de pilotos que tinham sido detidos após acidentes ou aterragens forçadas.
Após quase 25 meses na América do Norte, Saint-Exupéry retornou à Europa para voar com as Forças Francesas Livres e lutar com os Aliados num esquadrão do Mediterrâneo. Então com 43 anos, ele era mais velho que a maioria dos homens designados para funções, e sofria de dores, devido às suas muitas fraturas. Ele foi designado com um número de outros pilotos para pilotar aviões P-38 Lightning.
A última tarefa de Saint-Exupéry foi recolher informação sobre os movimentos de tropas alemãs em torno do Vale do Ródano antes da invasão aliada do sul da França ("Operação Dragão"). Na noite de 31 de julho de 1944, ele descolou de uma base aérea na Córsega e não retornou. Uma mulher relatou ter visto um acidente de avião em torno de meio-dia de 1º de agosto perto da Baía de Carqueiranne, Toulon. Um corpo não identificável ​​usando cores francesas foi encontrado vários dias depois a leste do arquipélago Frioul ao sul de Marselha e enterrado em Carqueiranne em setembro.
O alemão Horst Rippert assumiu ser o autor dos tiros responsáveis pela queda do avião e disse ter lamentado a morte de Saint-Exupéry. Em 3 de novembro, em homenagem póstuma, recebeu as maiores honras do exército. Em 2004, os destroços do avião que pilotava foram achados a poucos quilômetros da costa de Marselha. Seu corpo nunca foi encontrado.
As suas obras são caracterizadas por alguns elementos como a aviação e a guerra. Também escreveu artigos para várias revistas e jornais da França e outros países, sobre muitos assuntos, como a guerra civil espanhola e a ocupação alemã da França.
Destaca-se Le Petit Prince (O Pequeno Príncipe, no Brasil ou O Principezinho, em Portugal) de 1943, livro de grande sucesso de Saint-Exupéry.
Le Petit Prince pode parecer simples, porém apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geógrafo, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros.
O personagem principal vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranquilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu repensar o que é realmente importante na vida.
O romance mostra uma profunda mudança de valores, e sugere ao leitor quão equivocados podem ser os nossos julgamentos, e como eles podem nos levar à solidão. O livro nos leva à reflexão sobre a maneira de nos tornarmos adultos, entregues às preocupações diárias, e esquecidos da criança que fomos e somos.
“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
“A perfeição não é alcançada quando não há mais nada a ser incluído, mas sim quando não há mais nada a ser retirado”.
“O essencial é invisível aos olhos”.
Antoine de Saint-Exupéry


Texto retirado da Wikipédia
















quarta-feira, 30 de julho de 2014

dos meus avós paternos



De meu avô paterno não me lembro,
morreu eu ainda era de colo.
Minha avó, um encanto:
tinha nariz e orelhas grandes
e usava no alto da cabeça um coque
— cabelo algodoado.
Aos 85 ainda ordenhava o gado,
cultivava hortaliças e flores.
Morreu no inverno.
Entre suas mãos, levou uma flor-de-maio
que teimosa sobreviveu pálida, ao frio de junho.
Foi o modo da natureza
reclamar sua ausência.

                 Urhacy Faustino

Quintana e Leminski


 
 Frases da semana (em homenagem a Mario Quintana) 
  
  
  
  
  
  
  
 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Homenagens a Ariano Suassuna: José Nêumanne e Clovis Campelo

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Ariano Vilar Suassuna (Parahyba - atual João Pessoa, 16 de junho de 1927 — Recife, 23 de julho de 2014) foi um dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta brasileiro.

Idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura do Nordeste do Brasil.

Foi secretário de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos até abril de 2014.




O palhaço que foi aula e espetáculo

Certa vez, Ariano Suassuna foi ao Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba, na Praça João Pessoa, no centro da capital, batizada com o nome do maior inimigo de seu pai, João Suassuna. Lá foi barrado à entrada por um guarda instruído para não permitir que alguém adentrasse o recinto sem gravata. De camisa, calça e paletó de linho, como de hábito, o autor de O auto da compadecida, peça em que se baseou o filme de maior bilheteria do cinema brasileiro, retrucou:
— "Olhe, a primeira vez que entrei neste palácio aqui foi nu, viste?"
E era verdade: isso se deu em 27 de junho de 1927 num quarto do prédio decadente e saído do ventre da mãe, Rita de Cássia Vilar Suassuna. O pai, João, era presidente do Estado, como se dizia na República Velha. E ali começou a saga de um professor de aparência sisuda que, ao longo do tempo, de tanta comédia que escreveu para o palco, se tornaria o maior palhaço do Brasil, embora nunca tenha sido humorista profissional. Se o cearense Chico Anysio extraía personagens da observação da vida e os tornava reais, Ariano os punha no palco e, depois, brincava com a troça deles recorrendo à graça na cátedra universitária, nos gabinetes da burocracia e numa cadeira na Academia Brasileira de Letras. E, quando tudo isso apenas se esboçava no menino que berrava nu na sede do poder estadual, se desenrolava a tragédia política nacional, em cujo epicentro o palhaço octogenário também desempenhou seu papel.
João Suassuna, chefe do clã sertanejo de Catolé do Rocha, tinha sido substituído na presidência da Paraíba por João Pessoa, sobrinho do ex-presidente Epitácio, oligarca da várzea do Paraíba do Norte, e destinado a se tornar o estopim da Revolução de 30, que sepultaria a Primeira República para, depois de um interregno de arremedo institucional, mergulhar nas trevas do Estado Novo. João Pessoa, candidato a vice na chapa presidencial do gaúcho Getúlio Vargas, derrotada, foi assassinado a tiros pelo advogado João Dantas, aparentado e devotado dos Suassuna e do coronel Zé Pereira, de Princesa Isabel, que havia enfrentado a bala o poder paraibano, armado pelo federal, presidido por Washington Luís, que se preparava para empossar seu candidato eleito Júlio Prestes quando os políticos mineiros e as tropas gaúchas amarraram suas montarias no obelisco do centro do Rio, mandando o presidente deposto para o exílio. Acusado de manter ligações com os mandantes da morte do herói revolucionário, o pai de Ariano foi baleado e morto no centro do Rio em 1930. Corriqueiro seria vingar o patriarca assassinado, mas dona Ritinha nunca permitiu que a vingança levasse a prole a alguma loucura. Criado em Taperoá, terra da mãe, e, depois pelo resto da vida em Recife, o filho nascido no palácio sempre devotou ódio ao inimigo-mor do pai, recusando-se a chamar a antiga Filipéia de Nossa Senhora das Neves de João Pessoa e preferindo sempre designar a capital pelo nome do Estado, como era useiro fazer antes da Revolução de 30.
Ariano vingou-se em versos. Em 2000, selecionei um poema dele na antologia Os cem melhores poetas do século. Ariano protestou:
— "Não sou poeta, poetas são os personagens dos meus romances".
Como negar, contudo, que era do estro do autor o magnífico soneto (modalidade em que era mestre) em que saudou o pai? “Aqui morava um rei quando eu menino”.  / Vestia ouro e castanho no gibão, / Pedra da Sorte sobre meu Destino, / Pulsava junto ao meu, seu coração”.
A poesia, aliás, nele tudo originou. Em sua comédia teatral mais popular, O auto da compadecida, fundiu três folhetos de cordel, gênero poético popular por excelência. João Grilo e Chicó, os protagonistas, personificam a força do “amarelo”, que enfrenta valentões com sagacidade e graça. E tudo em Ariano tinha graça. Seu livro Introdução à estética, manual de ensino de teoria literária, é um show de erudição com pitadas de humor que rivalizam com as melhores anedotas de outra comédia dele, O santo e a porca .
Na última vez em que o vi no Centro Cultural Maria Antônia, da USP, em Higienópolis, fez uma palestra intitulada "O humor – de Aristóteles a Bergson". Nunca uma plateia, formada por professorinhas de escola pública no interior de São Paulo, imaginou que pudesse rir tanto das peripécias do preceptor de Alexandre da Macedônia e do filósofo francês da virada do século 19 para o 20 com aspecto de agente funerário captado pelos pioneiros da fotografia em preto e branco.
É imenso o acervo deixado pelo intelectual que tornou Paraíba e Pernambuco, inimigos em 1930, um Estado só. Mas tudo pode ser resumido numa Aula-espetáculo, título do documentário de Vladimir Carvalho, que se tornou seu cavalo-de-batalha nos últimos anos. Mais do que dramaturgo, romancista (do genial A pedra do reino), professor, acadêmico secretário estadual da cultura ou mesmo o humorista em que se transformou já velho, Ariano foi, ao mesmo tempo, uma aula viva estupenda e um permanente espetáculo folgazão de inteligência, vida, senso de humor e savoir-faire.

José Nêumanne Pinto



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Seu Ariano

E lá se foi seu Ariano. O mês de julho, fica assim marcado por mais uma morte literária. Um autor que soube fazer a junção da cultura erudita com a tradição oral da cultura popular. Juntou tudo, colocou no liquidificador da imaginação e criou, entre outras coisas, o Movimento Armorial.
Lançada em 1970, segundo definição do próprio Ariano no Jornal da Semana de 20 de maio de 1975, a arte armorial seria aquela que tem como traço comum principal a ligação com o espírito mágico da literatura de cordel, com a música de viola, rabeca ou pífano que a acompanha, e com a iconografia das xilogravuras que ilustram as suas capas.
Alguns podem até questionar que esta teria sido mais uma apropriação indébito da arte do povo por um autor pequeno burguês, muito embora tenha resultado em obras fantásticas e de grande identificação como o imaginário do homem nordestino da classe média.
Outros, podem até classificá-lo como xenófobo, haja vista a sua aversão pelo “modernismo” influenciado por culturas alienígenas. Quem não se lembra, por exemplo, do questionamento que teria feito a Chico Science sobre a adoção de tal nome: “Por que não Chico Ciência?”. Quem não se lembra, por exemplo, que sempre desconsiderou a Bossa Nova como um movimento musical autenticamente brasileiro, acusando-a de descaracterizar a MPB sob a influência do jazz? Quem não se lembra, por exemplo, da aversão que nutria pelo Movimento Tropicalista dos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, por achar que avacalhava a cultura brasileira expondo os seus ridículos e contradições?
Poucos se lembram, porém, de que a tradição cultural popular nordestina está enraizada na cultura portuguesa medieval, transplantada para cá por nossos invasores e colonizadores. Nesse sentido, mestre Ariano “apenas” recusava-se a aceitar as influências modernizadoras da nossa cultura, reconhecendo como autêntico somente o que se manteve inalterado ou pouco modificado pela passagem do tempo.
Poucos se lembram também que embora professasse ultimamente o credo socialista, resultante da aproximação que teve com o ex-governador Miguel Arraes, do qual foi vizinho no bairro de Casa Forte, nos anos 70, anos de chumbo da ditadura militar, foi secretário de cultura no governo biônico do prefeito Antônio Farias, entre 1975 e 1978, além de sócio fundador do Conselho Federal de Cultura, em 1967, indicado pelo reitor Murilo Guimarães da UFPE.
A aproximação com o ex-governador Miguel Arraes no início dos anos 90, aliás, levou-o a ocupar o cargo de Secretário Estadual de Cultura.
De agnóstico à cristão, de integrante do governo militar da ditadura ao credo socialista, assim foi Ariano Suassuna. Subindo o Morro da Conceição para homenagear a Santa ou dando as suas aulas-espetáculos nas universidades brasileiras, marcou presença na vida cultural brasileira dos séculos XX e XXI.

Clóvis Campêlo











segunda-feira, 28 de julho de 2014

Coluna de Marli Berg em Blocos



OS DELICIOSOS LIVROS QUE CHEGAM JUNTO COM O FRIO
A inglesa Nell Leysohn é romancista e escritora, já  foi indicada a importantes prêmios literários, e tem grande repercussão na mídia inglesa e norte-americana. A Cor do Leite (Bertrand Brasil), que acaba de ser lançado entre nós,  nos oferece uma história sensível, de superação e coragem, contada pela protagonista Mary, a quarta filha de um homem severo, cuja única preocupação é o lucro que obterá com suas plantações.



2 - Literatura Brasileira / Poesia
Graúna Grampola (Patuá),  livro de estreia do escritor e médico Otavio Ranzani, que já publicou poemas em revistas e antologias, conta uma trajetória de três partes: a Paixão, o Amor e a Loucura, descrevendo e decompondo o cotidiano, o homem e suas vivências. Nas duas primeiras partes do livro, o autor desenha o relacionamento entre as pessoas, sempre com um toque de observação no dia a dia – seja sobre um pequenino grão de açúcar que cai na mesa do café e as formigas que se juntam à sua volta, seja sobre um contador de histórias que ele conheceu no metrô. Dono de um estilo denso, afirmativo mas, ao mesmo tempo, suave e profundamente melódico, Otávio alegra os que amam nossa poesia, pois sentem, nele, um poeta que, se continuar neste tom criativo, certamente deixará marcas em nossa literatura poética.


3 - Literatura Americana / Jovens Adultos
Qualquer um com dinheiro suficiente, pode experimentar mundos fantásticos, vivenciar sem medo situações que ofereçam riscos de morte na vida real, ou, simplesmente, se encontrar com seus Virt-amigos para se divertir. Quanto maior a habilidade como hacker, maior a diversão.  E para que seguir regras? Para Dashner, o  foco principal de seu trabalho de escritor é a diversão. Mas, ele ama quando os livros que escreve estimulam seus jovens leitores a   pensar no mundo, e ver que nem tudo é preto no branço. Um autor de enorme sucesso,  criador de Maze Runner,que é sucesso internacional em vários idiomas, James Dashner está dando grande contribuição a literatura que visa este público jovem adulto, que  cresce cada vez mais. Uma leitura empolgante, O Jogo Infinito   está agradando muito o leitor brasileiro.
Luciano Pavarotti,  Um Mestre Para Todos (Bertrand Brasil|)de Andrea Bocelli, um dos tenores mais amados do mundo, em depoimento recolhido por Giorgio di Martino, narra a  vida de Pavarotti, um homem atencioso e irônico, que ama as mulheres, a pintura, os cavalos e a boa mesa.
Enfim, um homem que sabe muito bem apreciar as coisas boas da vida. Bocelli entremeia a narrativa com pedaços de sua própria vida, e nos revela aspectos profundos e desconhecidos, do enorme vínculo de amizade que o uniu a Pavarotti, que era conhecido como Big Luciano. A biografia nos apresenta, também, facetas menos conhecidas do artista, como a grande solidariedade que ele tem em  relação aos mais necessitados, em particular as crianças, e seu casamento feliz com Nicoletta. Livro  cheio de nuances, que o tornam interessantíssimo, esta biografia é não só uma narrativa sobre o tenor mais famoso que já existiu, mas também uma análise, uma confissão, do que Pavarotti representou para o próprio Bocelli, e como o influenciou em sua carreira. Uma obra belíssima, porque louva, com tintas da emoção, um dos mais belos sentimentos humanos: o da amizade.

Nos Estados Unidos, o livro foi lançado com tiragem de 5 milhões de exemplares,  e, no Brasil, a tiragem inicial foi de 400 mil exemplares, números altamente significativos do sucesso . Em Maré de Azar, Greg se sente rejeitado, pois Rowley, seu companheiro de todas as horas, o trocou pela namorada. Ao tentar fazer novos amigos na escola, Greg percebe que esta é uma tarefa muito mais difícil do que ele imaginava e decide, então, mudar de estratégia,  se arriscando a tomar decisões de acordo com sua sorte. Mas conseguirá ele mudar o rumo dos acontecimentos, ou sua vida está destinada apenas a se tornar uma maré de azar? Um incrível conhecedor da psique do pré-adolescente, Jeff Kiney é um mestre da narrativa, que encanta todas as idades. E seus fãs já estão ansiosos, as próximas aventuras de Greg.

domingo, 27 de julho de 2014

Poesia de domingo




Fuga do centauro 

Surpreendi-a numa gruta,
O corpo fosforescente
Como uma Santa! Porém,
Rindo, quase com desdém,
Do meu êxtase inocente,
Toda nua e transparente,
Sob o véu, numa impudente
Postura de prostituta.

Receoso, tentei fugir.
Ela pegou-me das crinas,
Em minhas costas montou
E meus flancos esporeou.
Quis domar-me com mãos finas.
Ah, que tu não me dominas!
Logo aflaram-me as narinas
E comecei a nitrir...

Fui beijá-la e dei dentadas.
Havia sangue em seu gosto.
Espanquei-a com carícias,
Massacrei-a de delícias.
Arrastei-lhe o corpo exposto,
Nua, o gesto decomposto,
E pus-lhe as patas no rosto.
— Ela dava gargalhadas.

Estatelada no chão
Saía dela um calor
De forno, que a consumia,
Um hálito de agonia
E de esquálido suor.
E vendo-a perder a cor,
Sentia nela o sabor
De toda carne: extinção.

Afinal me libertei
Do seu espantoso abraço
E larguei-a quase morta,
Esvaída, a boca torta,
As mãos hirtas, o olhar baço.
Afastei-me, firme o passo,
Respirando um novo espaço,
Vitorioso como um rei.

Ela ergueu-se e de mãos postas
Pediu-me, ao ver-me partir,
Que jamais a abandonasse.
Tinha lágrimas na face.
A princípio eu quis sorrir:
Voltar, depois de fugir?
E fugi, mas a nitrir,
Com ela nas minhas costas...

                              Dante Milano 

Do livro Poesias (1948), in Poesias (prefácio Ivan Junqueira), Ed. Firmo, Petróplis, 1994.


sábado, 26 de julho de 2014

Morre no Rio o astrônomo carioca Ronaldo Mourão

Pesquisador tinha 79 anos e estava internado no Quinta D'Or. Suas pesquisas são destaque no campo das estrelas duplas.




Morreu na noite desta sexta-feira (25), aos 79 anos, o astrônomo carioca Ronaldo Mourão. Ele estava internado no Quinta D’Or, em São Cristóvão, Zona Oeste do Rio. As causas da morte ainda não foram divulgadas.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão foi um dos mais importantes astrônomos no Brasil. As suas principais contribuições astronômicas foram efetuadas no campo das estrelas duplas, asteróides, cometas e estudos das técnicas de astrometria fotográfica.


Mourão ingressou na Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) em 1956 e diplomou-se em Física quatro anos depois. No mesmo ano em que ingressou na universidade foi nomeado auxiliar de Astrônomo do Observatório Nacional.
Logo no início de suas atividades ele editou suas observações do planeta Marte feitas antes mesmo de sua admissão. Algumas delas foram reproduzidas em revistas estrangeiras importantes da astronomia.
Em 1967 ele concluiu o doutorado na Universidade de Paris com menção "Très Honorables". Em dezembro desse ano voltou para o Brasil, reassumindo suas funções como astrônomo no Observatório Nacional e de Pesquisador no Conselho Nacional de Pesquisa. No ano seguinte foi nomeado Astrônomo-Chefe da Divisão de Equatoriais.
Mourão também elaborou todos os verbetes sobre Astronomia e Astronáutica do Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1975 e 1986) de Aurélio Buarque de Holanda.
Em 1978, Mourão recebeu pelo conjunto de seus trabalhos, o Prêmio José Reis de divulgação científica, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Notícia retirada do portal G1: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/morre-no-rio-o-astronomo-carioca-ronaldo-mourao.html

Hoje é dia dos avós



Parabéns a todos os avós. Que tenham paz e a solidariedade e o amor de suas famílias e amigos!


Muito Macho na Cozinha - Rubens Shirassu Jr.




                         A cozinha hoje, é um anexo da sala e não mais o esconderijo dos escravos
            Vivemos em pleno universo das transformações na moda, nos costumes e consumo. Começaram a mudar com os novos “sujeitos” da culinária (homens principalmente) e a transformação da cozinha em parte nobre da casa. Uma evolução cultural ou nova sedução pelo paladar? Pela falta de emprego e outros problemas sociais que enfrentamos, surge uma figura polêmica no universo machista brasileiro: o homem doméstico. Qual seria a reação do personagem Leonardo, interpretado por Jackson Antunes, na novela A Favorita de João Emanuel Carneiro, se perdesse o emprego na fábrica. Um tipo grotesco, machista ao extremo e reacionário, um pai omisso e um marido execrável, que trata a mulher Catarina, como empregada e objeto.
            Como muitos, a sua mulher teria que assumir os compromissos com a casa e os filhos. Você sente uma mistura de complexo de inferioridade com doses de frio, que lembra medo e insegurança. Um homem que hiberna, feito urso polar. Você treme nas bases!
            O frio faz evocar nomes como massas, assados, vinhos e outras guloseimas, ou iguarias. Recentemente, o destaque que vem ganhando sobre a ajuda do homem nas tarefas da cozinha, mudou o conceito tradicional no reino do forno e fogão. Até algum tempo atrás a mandatária deste reinado era incontestavelmente a mulher. O cetro da rainha do lar não era mesmo o rolo de macarrão? Era ela a destinatária dos livros e manuais de cozinha, seguindo as estratégias de vendas das editoras. Nos últimos anos, contudo, parece que a cozinha, seus sonantes utensílios, vêm mudando de mãos.
            “Antigamente”, um termo que não gosto de falar porque lembra coisa antiga, nas festas, as mulheres trocavam receitas. Agora, são os homens que estão interessados em culinária, muito mais do que as mulheres. Se os homens passam a público da literatura culinária são eles, também, que mais aparecem na própria mídia como cozinheiros, mudando inclusive, novos “sujeitos” da culinária que são, o tom  adotado nas receitas: o tom impessoal com verbos no infinitivo (característica que deliberadamente omite o ou a agente da cozinha) vem sendo substituído pelo charme da primeira pessoa do singular, no caso do colunista Silvio Lancellotti, autor do Livro dos Molhos.
            A presença dos homens nas colunas de jornais, revistas e na televisão, não apenas comentando restaurantes, mas sugerindo cardápios e apreciando ingredientes, demonstra que a cozinha não pertence mais à área dos fundos da vida contemporânea. De fato, os projetos de apartamentos nos grandes centros estão privilegiando a cozinha como espaço altamente tecnologizado e eficiente. A cozinha hoje, é um anexo da sala e não mais o esconderijo dos escravos. A área destinada a ela é pequena, mas seu lugar é o coração da casa.
            Embora não soe como novidade que os homens andem trajando aventais de matelassée se havendo com escumadeiras e espremedores de alho, na verdade eles dominam o espaço da culinária há séculos. No reinado de Luis XV se distinguia “a cozinha da cozinheira”, feita de conhecimentos práticos e de tradição familiar, e a cozinha do cozinheiro, com ênfase na invenção e na reflexão”. O ato generoso de cozinhar produz a felicidade não só de comensais, mas, também, de cozinheiros. Como mostrar os dotes culinários demonstra um ato pequeno de arrependimento e necessidade, de nos redimir, perante os séculos de violência e desvalorização da mulher. Não pode ser outro, senão, um sedativo para a complexa, hipócrita e infeliz sociedade dos machos.

Rubens Shirassu Jr.
Do livro “Novas de Macho na Cozinha e Outros Ingredientes II”, Editora Clube de Autores, 2012, SP

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dia Nacional do Escritor


A poesia de Marcelo Mourão e a prosa de Rogel Samuel no dia do Escritor




VIDA PRÓPRIA
para Laura Esteves

a poesia não é ilha
nem terra prometida
é talvez vã tentativa
de caber não em si mesma
mas em quem a visita
a poesia não quer nada
a não ser casa, comida
e palavra lavrada
quer quem a beba de vez
e não só por partes
a poesia é cativa
de sua própria liberdade

Marcelo Mourão


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A MORTE SÚBITA DE AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT

No Soneto XLIX, escreveu ele:
Morrer, Senhor, de súbito, não quero!
Morrer como quem parte lentamente
Vendo o mundo perder-se pouco a pouco
E com o mundo as imagens da memória.

Morrer sabendo próxima e implacável
A hora de deixar o doce efêmero.
Morrer o olhar voltado para a altura
Para a Face de Deus, ardente e pura.

Morrer como quem vai se despedindo
A fixar as paisagens mais antigas
E os seres mais longínquos, já partidos.

Morrer levando a vida já vivida!
Morrer maduro, e não qual fruto verde
Por violência dos galhos arrancados.
Eu já escrevi sobre a sua morte, mas não me basta: Autran Dourado esperava à porta quando Schmidt apareceu.
– “Você e o Vinicius de Moraes desmoralizam qualquer clínica de repouso, disse ele ao poeta que lhe abria a porta do escritório. Veja você! Não tem nada. Está vendendo saúde!”
Foi que disse Ascendino Leite, em “As coisas feitas”, que eu reconto aqui, ou melhor, transformo em “conto”.
Schmidt costumava internar-se em clínicas de recuperação, alegava “estafa”. Era rico empresário. Tinha problemas cardíacos, como Guimarães Rosa, que temia assumir a Academia porque a emoção poderia matá-lo. Ninguém acreditava, diziam que era "charme". Mas Rosa morreu mesmo, 3 dias após.
Augusto Frederico Schmidt sempre acabava saindo da clínica por conta própria, contrariando prescrições médicas. Não aceitava recomendações, exercícios, dietas.
Naquele dia, fugira da clínica. E estava como sempre bem humorado e alegre, firme, almoçou com amigos, assumiu a direção de suas empresas.
Autran era dos seus amigos mais íntimos. Ao vê-lo protestou, que Autran era um ingrato, que não aparecia, não vinha vê-lo, não queria saber mais dele:
– “É isso! Não precisa de mim. Não é meu amigo. Se fosse, viria aqui mais vezes”, disse-lhe Schmidt (Ascendino Leite, idem).
– “Pois veja que eu estava justamente precisando falar com você”, disse Autran Dourado.
– “Comigo? Por quê? Está precisando de mim? O que você quer? Eu sempre andei a imaginar um meio de lhe ser útil, de lhe ser agradável!”
Autran Dourado sabia da tendência de Schmidt para o drama, para a catástrofe. Resolveu divertir-se um pouco. E disse:
– “Vim para pedir-lhe um conselho”...
– “Conselho? A mim? Sobre o quê?”
– Ora, Schmidt! A você só posso pedir que me fale das coisas sobre as quais você pode falar, pode dar conselhos. Por exemplo: sobre a vida, sobre a morte!”
Augusto Frederico Schmidt fez-se sério. Seu semblante mudou. Ele tinha escrito o soneto no fim do qual dizia: “E no seio da Morte a própria Vida”.
“Só quem Amor não venceu o amor conhece.
Só quem nas trevas vive e se alimenta
Da esperança de luz que é a luz suprema.
Só quem aspira a um bem e o não alcança,
Sabe o valor do objeto desejado
Cujo prestígio e preço não se altera
E resiste ao destino das terrestres
Coisas que, em se as tocando, se desfazem.
Força é sofrer prisão para ser livre,
E, por Ventura ter, da Desventura
Os passos ter seguido sem descanso.
Força é achar na renúncia a posse plena -
Nos caminhos da noite a luz da Aurora
E no seio da Morte a própria Vida.”
Continuando o relato de sua morte digo que, refazendo-se, sorrindo, em voz altissonante e forte, Schmidt rapidamente protestou, por não falar da morte:

– “Não! Isso não! Já falei, já escrevi muito, sobre isso, sobre ela, sobre a Morte! Agora, seu Autran, vamos pensar noutra coisa! vamos conversar sobre outros temas! outros assuntos. Vamos discorrer sobre a vida. Hoje, é a única coisa que interessa... A vida. A VIDA!”

Mas mudou. E depois, agora olhando fixo e preocupado para o seu amigo, para Autran Dourado, perguntou:

– “Por que você está pensando nisso? Por que falar da morte agora, você tão moço? Será que tem você alguma paixão”?

Naquele 8 de fevereiro de 1965 Autran Dourado tinha 39 anos e já tinha publicado “Uma vida em segredo”. Schmidt estava com 59.

– “Eu não, disse Autran. E você?”

Schmidt fez-se sério, enigmático. Respondeu:

– “Tenho. Sim, Autran, tenho uma paixão. Tenho uma paixão...”.

Mas nesse momento chegava o seu carro com chofer e o interrompeu.

Schmidt partiu. No meio do caminho passou mal e morreu.

Ele tinha escrito:
“Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
“A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
“Como as envolve agora neste instante.
“O vento fresco dobrará as árvores esguias
“E levantará as nuvens de poesia nas estradas...
“Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
“Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
“Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
“E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer..."
Mas sobre a morte mesmo, a sua própria morte súbita, é o Soneto XLIX:
Morrer, Senhor, de súbito, não quero!
Morrer como quem parte lentamente
Vendo o mundo perder-se pouco a pouco
E com o mundo as imagens da memória.
Morrer sabendo próxima e implacável
A hora de deixar o doce efêmero.
Morrer o olhar voltado para a altura
Para a Face de Deus, ardente e pura.
Morrer como quem vai se despedindo
A fixar as paisagens mais antigas
E os seres mais longínquos, já partidos.
Morrer levando a vida já vivida!
Morrer maduro, e não qual fruto verde
Por violência dos galhos arrancados.
Ele morreu jovem. Tinha 59 anos, em 1965. Morava bem, em Copacabana, na rua Paula Freitas. Tinha muitos amigos e admiradores como eu, que naquele ano vivia num apartamento em frente ao dele, de quarto e sala, em cima do restaurante francês “Le mazot”. Eu sabia que ele morava lá, mas nunca o vi.
Morreu naquele ano; mas, como poeta, é eterno.
Ele era um homem bom, amigo dos amigos, dono de um galo branco.
Habitava num apartamento grande, quase esquina de Av. Atlântica.
Nasceu no Rio e morreu jovem no mesmo Rio de Janeiro, trabalhou na década de 1920 como balconista na Livraria Garnier, no centro do Rio, foi caixeiro viajante de fabricante de aguardente e álcool.
Em 1931 fundou a editora Schmidt, que publicou obras importantes como Caetés, de Graciliano Ramos, e Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre.
Ele era um poeta perfeito, magnífico, como se lê neste famoso soneto:
O desespero de perder-te um dia
Ou de vir a deixar-te neste mundo,
Habita o coração inquieto e triste
Enquanto a noite rola e o sono tarda.
Olho-te, e o teu mistério me penetra;
Sinto que estás vivendo o breve engano
Deste mundo, e que irás também, um dia,
Para onde foram essas de que vieste.
– Essas morenas e secretas musas,
Tuas avós, ciganas de olhos negros
Que te legaram tua graça triste.
Lembro que esfolharás na eterna noite
A rosa de teu corpo delicado,
E ouço a noite chorar como uma fonte.
(SCHMIDT, Augusto Frederico. Antologia Poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Introdução de Bernardo Gersen. Rio de Janeiro: Leitura, 1962.)

ROGEL SAMUEL

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Morre no Rio o escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro, aos 73 anos


1941-2014 - (Foto: Flávio Moraes/G1)
Jornalista foi vítima de embolia pulmonar na madrugada desta sexta (18).
João Ubaldo era o 7º ocupante da cadeira número 34 da ABL.

O escritor era o 7º ocupante da cadeira número 34 da Academia Brasileira de Letras. Ele foi eleito em 7 de outubro de 1993, na sucessão de Carlos Castello Branco.
João Ubaldo Ribeiro ganhou em 2008 o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. Ele é autor de livros como “Sargento Getúlio”, “O sorriso dos lagartos”, “A casa dos budas ditosos” e “Viva o povo brasileiro”. Também ganhou dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1972 e 1984, respectivamente para o melhor autor e melhor romance do ano, por ‘Sargento Getúlio’ e ‘Viva o povo brasileiro".
Nascido em Itaparica (BA), Ribeiro viveu até os 11 anos com a família em Sergipe, onde o pai era professor e político. Passou um ano em Lisboa e um ano no Rio para, em seguida, se estabelecer em Itaparica, onde viveu aproximadamente sete anos.
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VÍDEOS: relembre a carreira do escritor João Ubaldo Ribeiro
João Ubaldo também se formou bacharel em Direito, em 1962, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas nunca chegou a advogar. Entre 1990 e 1991, o escritor morou em Berlim, na Alemanha, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio (DAAD – Deutscher Akademischer Austauschdienst).
Ele era pós-graduado em Administração Pública pela UFBA e mestre em Administração Pública e Ciência Política pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) .
O escritor foi professor da Escola de Administração e da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal da Bahia e professor da Escola de Administração da Universidade Católica de Salvador. Como jornalista, trabalhou como repórter, redator, chefe de reportagem e colunista do Jornal da Bahia; foi também colunista, editorialista e editor-chefe da Tribuna da Bahia.
Ribeiro trabalhou como colunista do jornal Frankfurter Rundschau, na Alemanha, e foi colaborador de diversos jornais e revistas no país e no exterior, entre os quais, além dos citados, Diet Zeit (Alemanha), The Times Literary Supplement (Inglaterra), O Jornal (Portugal), Jornal de Letras (Portugal), Folha de S. Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, A Tarde e muitos outros.
A formação literária de João Ubaldo Ribeiro iniciou ainda nos primeiros anos de estudante. Foi um dos jovens escritores brasileiros que participaram do International Writing Program da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.Trabalhando na imprensa, pôde também escrever seus livros de ficção e construir uma carreira que o consagrou como romancista, cronista, jornalista e tradutor.
Obras
Os primeiros trabalhos literários de João Ubaldo Ribeiro foram publicados em diversas coletâneas, como “Reunião”, “Panorama do Conto Baiano”. Aos 21 anos de idade, escreveu o seu primeiro livro, “Setembro não tem sentido”, que ele desejava batizar como “A Semana da Pátria”, contra a opinião do editor. O segundo foi “Sargento Getúlio”, de 1971. Em 1974, publicou “Vencecavalo e o Outro Povo”, que por sua vontade se chamaria “A Guerra dos Paranaguás”.
Consagrado como um marco do romance brasileiro moderno, "Sargento Getúlio" filiou o seu autor, segundo a crítica, a uma vertente literária que sintetiza o melhor dos escritores Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. A história é temperada com a cultura e os costumes do Nordeste brasileiro e, em particular, dos sergipanos. Esse regionalismo extremamente rico e fiel dificultou a versão do romance para o inglês, obrigando o próprio autor a fazer esse trabalho. A seu respeito pronunciaram-se, nos Estados Unidos e na França, as colunas literárias de todos os grandes jornais e revistas.
Em 1999, foi um dos escritores escolhidos em todo o mundo para dar depoimento, ao jornal francês Libération, sobre o Terceiro Milênio. E Viva o Povo Brasileiro foi o tema do exame de Agrégation, concurso para detentores de diploma de graduação na universidade francesa. Este romance e "Sargento Getúlio" constaram da maior parte das listas dos cem melhores romances brasileiros do século.
Prêmios
- Prêmio Golfinho de Ouro, do Estado do Rio de Janeiro, conferido, em 1971, pelo romance Sargento Getúlio;
- Dois prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, em 1972 e 1984, respectivamente para o Melhor Autor e Melhor Romance do Ano, pelo romances Sargento Getúlio e Viva o povo brasileiro;
- Prêmio Altamente Recomendável - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil,1983, para Vida e Paixão de Pandonar, o Cruel ;
- Prêmio Anna Seghers, em 1996 (Mogúncia, Alemanha);
- Prêmio Die Blaue Brillenschlange (Zurique, Suíça);
- Detém a cátedra de Poetik Dozentur na Universidade de Tubigem, Alemanha (1996).
- Prêmio Lifetime Achievement Award, em 2006;

- Prêmio Camões, em 2008.

Matéria retirada do portal G1 - http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/morre-no-rio-o-escritor-joao-ubaldo-ribeiro.html

Crônica de Raquel Naveira

Chá



                 
Louças de porcelana, xícaras e pratos decorados com desenhos de pássaros
O chá é a bebida mais consumida do mundo. A infusão mágica feita com raízes, ervas, frutas e água quente, que, ao mesmo tempo, ativa o metabolismo e acalma os nervos.
O primeiro parágrafo do romance "Retrato de uma Senhora", de Henry James, descreve uma cena típica inglesa: uma casa com fachada de tijolos vermelhos à beira do rio Tâmisa; um gramado verde entre carvalhos e faias; a mesa posta para o chá.
Comenta o autor: “Há poucas horas na vida mais agradáveis do que aquela dedicada à cerimônia conhecida como chá da tarde... Das cinco às oito horas é, em certas ocasiões, uma pequena eternidade, mas numa ocasião como esta, o intervalo só podia ser uma eternidade de prazer.”
E daí para frente as personagens nos são apresentadas entre sorvos de chá de jasmim e pimenta preta, acompanhado de geleias e confeitos de mel e limão. Há também um olhar especial sobre o aparelho de chá: as louças de porcelana, xícaras e pratos decorados com desenhos de pássaros e cores brilhantes.
Fecho o romance e o guardo na prateleira. Dizem que os ingleses aprenderam a tomar chá com a princesa portuguesa Catarina de Bragança, que se casou com um rei britânico. E que os portugueses, por sua vez, foram os primeiros europeus a tomar contato com o chá, quando chegaram ao Japão, lá pelos idos de 1500.
Japão... que país poético. Já sei. Vou convidá-lo para tomar um chá comigo esta tarde. Colocarei a mesa perto da varanda; vestirei um quimono de seda e meias brancas; acenderei grãos de incenso; farei um arranjo de flores, talvez orquídeas. Na estante baixa encostarei uma gravura: um noturno de lua, neve e folhas de plátano.
Não deixarei que meu rosto transpareça nenhuma tristeza, nenhum pesar, nenhum aborrecimento de pobreza. Demonstrarei cortesia e paz. Sentaremos de frente um para o outro. Nesta estação de outono, prepararei um chá verde espumoso, que tomaremos aos poucos, em silêncio, desligados do mundo e do tempo. Várias vezes pegarei o bule do braseiro, as mãos em gestos de um delicado balé. Colocarei mais chá, mais açúcar com uma concha de bambu. Serei uma espécie de monja e gueixa. Minha filosofia, a do equilíbrio e da purificação.
Convido-o a tomar um chá comigo esta tarde. Prometo que jamais haverá um momento igual. Olharemos da varanda os prédios, os espigões altos e cinzentos, palitos fincados na terra. O sol baixará no horizonte, numa claridade frouxa de crepúsculo e agonia. A noite envolverá tudo com sua opressão vitoriosa, seu negror de luto. Luzes se acenderão nas janelas como tochas. Lanternas vermelhas. Eu terei chorado depois do beijo e meu olhar derramará estrelas.
O chá... sempre pode ser um encontro ou uma despedida.

Raquel Naveira