sexta-feira, 29 de julho de 2016

LITERATURA DE CORDEL: A MEMÓRIA DO SERTÃO EM FOLHETOS

Ai! Se sêsse!…
(Zé da Luz)
Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?


Versos despreocupados, linguajar informal e livretos coloridos. Esses são os ingredientes principais para compor uma boa literatura de cordel.
Inspirada na literatura de cordel portuguesa, onde os autores declamavam seus textos para o público acompanhados do som de uma viola, e também na literatura francesa de colportage do século XVII, que tinha o objetivo de difundir a linguagem popular, a nossa literatura de cordel veio com os próprios colonos portugueses e nasceu no Nordeste do Brasil. Seus versos falam sobre a trajetória do povo do sertão.
Os textos são poéticos, rimados e publicados em pequenos livros de papel feitos manualmente pelos próprios autores. Eles são feitos com apenas uma folha dobrada estrategicamente para formar oito páginas, mas alguns podem chegar até 32. A venda também é feita pelos autores, geralmente em feiras nordestinas ou nas ruas, onde são expostos em um fio de barbante.
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Os temas são variados e representam, principalmente, a opinião do autor a respeito de algo na sociedade e no seu cotidiano. A linguagem não é impessoal e muito menos imparcial, são utilizadas várias técnicas de persuasão para convencer o leitor a acreditar nos acontecimentos narrados nos cordéis.
Os assuntos transitam entre aventuras, mitos, lendas, romances, boatos e histórias cômicas. É muito comum encontrar também cordéis que reproduzem desafios de ícones nordestinos como Lampião, Padre Cícero e Frei Damião. Os temas mais sérios como os religiosos, políticos e sociais também estão muito presentes. Grande parte dos autores aproveita para criticar a realidade e as condições em que vivem, sempre abusando da ironia e do sarcasmo.
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Podemos dizer que o cordel também tem caráter jornalístico, já que os desastres, as inundações, as secas, os cangaceiros, as reviravoltas políticas são retratadas em centenas de títulos por ano. Um bom exemplo disso é o cordel intitulado “A lamentável morte de Getúlio Vargas", que foi feito imediatamente após o cordelista Delarme Monteiro da Silva escutar a notícia do suicido do ex-presidente no rádio. O sucesso foi tanto que ele vendeu 700 mil exemplares em apenas dois dias. Outros assuntos da mídia que tiveram grande repercussão foram "O trágico romance de Doca e Ângela Diniz" e "Carta do Satanás a Roberto Carlos”, este último inspirado na música "Quero que vá tudo pro inferno”, do rei da Jovem Guarda.
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Entre os autores principais estão Leandro Gomes de Barros e João Martins de Atahyde. Leandro foi o pioneiro na publicação, edição e venda dos poemas e lançou o primeiro cordel em 1893. Ele foi o mais famoso e importante cordelista e vendeu mais de um milhão de exemplares do seu livreto “O Cachorro dos Mortos”.
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Já João, foi o que mais produziu, além dos seus inúmeros escritos, ainda comprou os direitos autorais das obras de Leandro quando ele faleceu. Cuíca de Santo Amaro, também foi um importante autor e talvez o mais radical de todos. Fazia denúncias contra corruptos de sua época e era amigo íntimo de Jorge Amado, que o incluiu como personagem em alguns de seus contos, como o famoso “A Morte de Quincas Berro D’água”.
Outra característica marcante da literatura de cordel são as xilogravuras. Esse método de ilustração é primeiramente esculpido em madeira e depois impresso no papel. As capas dos livretos são sempre ilustradas com esses desenhos e, atualmente, muitos xilógrafos nordestinos vendem suas gravuras individualmente.
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Esta manifestação popular já foi muito estigmatizada e sofreu muitos preconceitos pela informalidade de sua estrutura e linguagem. Com o passar dos anos, passou a ser cada vez mais respeitada e hoje é admirada por muitas pessoas em diferentes lugares do país, tendo ganhado, inclusive, uma Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
Juntando poesia, gravura e protestos, a literatura de cordel representa uma das mais interessantes expressões da arte brasileira. Além disso, influenciou renomados escritores brasileiros como Jorge Amado, Guimarães Rosa e José Lins do Rego, mostrando que nem sempre o que é popular é de baixa qualidade.
Ave-Maria da Eleição 
Leandro Gomes de Barros
No dia da eleição
O povo todo corria
Gritava a opposição
Ave Maria.
Via-se grupos de gente
Vendendo votos nas praças
E a arna dos governos, [a urna do governo]
Cheia de graça.
Uns a outros perguntavam
O Sr. Vota comnosco
Um chaleira respondia
Este é com vosco.
Eu via duas panellas
Com miudo de 10 bois
Comprimentei-a dizendo
Bemdita sois.
Os eleitores com medo
Das espadas dos alferes
Chegavam a se esconderem
Entre as mulheres.
Os candidatos chegavam
Com um ameaço bruto
Pois um voto para elles
E' bemditos fructos.
O mesario do governo
Pegava a urna contente
E dizia eu me gloreio
Do teu ventre.
A opposição gritava
De nós não ganha ninguem
Respondia os do governo
Amen.


© obvious: http://lounge.obviousmag.org/memorias_do_subsolo/2013/01/literatura-de-cordel-a-memoria-do-sertao-em-folhetos-de-papel.html#ixzz4FojBMrtR 
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3 dicas para ler mais todos os dias



Fonte: Shutterstock
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Vinte e quatro horas não parecem suficientes para dar conta de todas as suas atividades diárias, não é mesmo? E, por isso, torna-se cada vez mais comum na sua vida abandonar algumas atividades que você tanto ama, como ler um bom livro. Pensando nisso, a Universia Brasilreuniu três dicas para que você leia mais, apesar da rotina corrida. Confira-as a seguir:


 1 – Se não puder ler, escute
Depois de um longo dia de trabalho é comum você não se sentir motivado para ler um livro ou até você simplesmente não ter tempo para sentar e ler com calma. Por isso, uma boa alternativa são os audiobooks. Seja no carro, no celular ou simplesmente no rádio da sua casa, por meio dos audiobooks, você consegue ouvir a história daquele livro e aproveita-la da mesma forma.

2 – 10 páginas por dia
Se você não é muito fã dos audiobooks, a melhor maneira de ler mais é criar uma rotina regrada de leitura. Estabeleça que você lerá dez páginas todos os dias, por exemplo, e tente cumpri-la. Escolha um número de páginas que sacie sua vontade, mas que também não te sobrecarregue. Assim, você tem o prazer de ler, mas não a dor de cabeça de ficar ainda mais cansado.

3 – Volte aos tempos de criança
Ler em voz alta pode parecer bobo agora que você é mais velho, mas a verdade é que estimula a sua vontade de continuar a leitura. É só você lembrar-se de quando era criança e fazia seus pais lerem a mesma história duas ou três vezes no dia. Por isso, se estiver um pouco desanimado para pegar um livro, tente usar essa técnica. Ela pode te ajudar bastante.

Voltando a postar coisas de Blocos e o que mais vier!

Blocos , está completando 20 anos em Julho e as felicitações vêm de todos os lugares do Brasil e do mundo.
Só temos a agradecer a todas as gentis palavras!