segunda-feira, 5 de julho de 2021

Dr. Leila Míccolis Sessão Plenária / Plenary Session

 



Leila Mìccolis na Universidade de Miami, falando sobre o acervo que leva o nome dela na Universidade de Miami.

Eis a minha palestra sobre "O acervo que leva o meu nome", em 13 de abril deste ano, para quem se interessa pelo assunto (imprensa alternativa). Meus agradecimentos pelo envio do vídeo ao Prof. Dr. Steven Butterman, curador do acervo e Diretor do Programa de Letras/Português daquela Universidade.

domingo, 27 de junho de 2021

Recomeçando o blog de Blocos com o aniversário de nascimento de João Guimarães Rosa (113 anos)

O blog de Blocos, volta à carga, aproveitando o aniversário de João Guimarães Rosa. O blog reinicia sua jornada literária. Com um perfil voltado exclusivamente para a Literatura. Dicas de livros, resenhas, curiosidades, cursos e concursos que estiverem acontecendo, os livros do momento e links que mostrem ao leitor, o caminho da boa leitura e novas descobertas. Um brinde ao nosso saudoso Guimarães Rosa! Parabéns, João Guimarães Rosa!

 

            João Guimarães Rosa
vive encantado no mundo da literatura e em nossos corações

 

João Guimarães Rosa (Cordisburgo, 27 de junho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1967) foi um escritor, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, considerado por muitos o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Foi o segundo marido de Aracy de Carvalho, conhecida como "Anjo de Hamburgo".

Os contos e romances escritos por Guimarães Rosa ambientam-se quase todos no chamado sertão brasileiro. A sua obra destaca-se, sobretudo, pelas inovações de linguagem, sendo marcada pela influência de falares populares e regionais que, somados à erudição do autor, permitiu a criação de inúmeros vocábulos a partir de arcaísmos e palavras populares, invenções e intervenções semânticas e sintáticas.

Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 6 de agosto de 1963, sendo o terceiro ocupante da cadeira nº 2, que tem como patrono Álvares de Azevedo. Morreu em 1967, ano em que foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, vítima de um ataque cardíaco.

Foi o primeiro dos seis filhos de Florduardo Pinto Rosa ("Flor") e de Francisca Guimarães Rosa ("Chiquitita").

Começou ainda criança a estudar diversos idiomas, iniciando pelo francês quando ainda não tinha 6 anos. Em entrevista concedida a uma prima, anos mais tarde, afirmou:

             Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.             

Ainda pequeno, mudou-se para a casa dos avós, em Belo Horizonte, onde concluiu o curso primário. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, mas logo retornou a Belo Horizonte, onde se formou. O tio Adonias, fazendeiro muito rico, dono da fazenda Sarandi, patrocinou os estudos de Guimarães Rosa no colégio Arnaldo. Em 1925 matriculou-se na então "Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais", com apenas 16 anos.

Em 27 de junho de 1930 casou-se com Lígia Cabral Pena, de apenas 16 anos, com quem teve duas filhas: Vilma e Agnes. Ainda nesse ano se formou e passou a exercer a profissão em Itaguara, então distrito de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Foi nessa localidade que passou a ter contato com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração a sua obra.

De volta de Itaguara, Guimarães Rosa serviu como médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932, indo para o setor do Túnel em Passa Quatro (MG) onde tomou contato com o futuro presidente Juscelino Kubitschek, naquela ocasião o médico-chefe do Hospital de Sangue. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933 foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado no concurso do Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina.

No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de cônsul-adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. Lá, conheceu e veio a casar-se com Aracy de Carvalho, funcionária da Itamaraty que, no contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas. Por essa razão, Aracy de Carvalho ganhou, por essa ação humanitária e de coragem, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. É a única mulher brasileira homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Yad Vashem, que é o memorial oficial de Israel para lembrar as vítimas judaicas do Holocausto.

Depois de servir em Hamburgo, Guimarães Rosa serviu ainda, como diplomata, nas embaixadas do Brasil em Bogotá e em Paris.

No Brasil, Guimarães Rosa, na segunda vez em que se candidatou para a Academia Brasileira de Letras, foi eleito por unanimidade (1963). Temendo ser tomado por uma forte emoção, adiou a cerimônia de posse por quatro anos. Em seu discurso, quando enfim decidiu assumir a cadeira da Academia, em 1967, chegou a afirmar, em tom de despedida, como se soubesse o que se passaria ao entardecer do domingo seguinte: "…a gente morre é para provar que viveu."[8] Faleceu três dias mais tarde na cidade do Rio de Janeiro, em 19 de novembro. Seu laudo médico atestou um infarto. Sua obra mais marcante foi Grande Sertão: Veredas, romance qualificado por Rosa como uma "autobiografia irracional".[6] Talvez a explicação esteja na própria travessia simbólica do rio e do sertão de Riobaldo, ou no amor inexplicável por Diadorim, maravilhoso demais e terrível demais, beleza e medo ao mesmo tempo, ser e não-ser, verdade e mentira, estar e não estar. Diadorim-Mediador, a alma que se perde na consumação do pacto com a linguagem e a poesia. Riobaldo (Rosa-IO-bardo), o poeta-guerreiro que, em estado de transe, dá à luz obras-primas da literatura universal. Biografia e ficção se fundem e se confundem nas páginas enigmáticas de João Guimarães Rosa, morto prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática.[7] Foi sepultado no panteão da Academia Brasileira de Letras no Cemitério de São João Batista na cidade do Rio de Janeiro.

Guimarães Rosa foi ainda indicado ao prêmio Nobel de Literatura, pouco antes de falecer de ataque cardíaco.

 

                     Guimarães Rosa em sua posse na Academia Brasileira de Letras (1967).



CONTEXTO LITERÁRIO

Realismo mágico, regionalismo, liberdade de invenções linguísticas e neologismos são algumas das características fundamentais da literatura de Guimarães Rosa, mas não as suficientes para explicar seu sucesso. Guimarães Rosa prova o quão importante é ter a linguagem a serviço da temática e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o traria de novo ao centro da ficção brasileira.

 

Guimarães Rosa também seria incluído no cânone internacional a partir do boom da literatura latino-americana pós-1950. O romance entrara em decadência nos Estados Unidos (onde à época era vitrine da própria arte literária, concorrendo apenas com o cinema), especialmente após a morte de Louis-Ferdinand Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Ernest Hemingway (1961), William Faulkner (1962). E, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período escritores como Mario Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba) e, mais recentemente Ángel Rama (Uruguai).

Obras

 

Academia Brasileira de Letras

Leia na íntegra o discurso da posse de João Guimarães Rosa:

https://www.academia.org.br/academicos/joao-guimaraes-rosa/discurso-de-posse

 

Perfil do Acadêmico

Terceiro ocupante da Cadeira 2, eleito em 8 de agosto de 1963, na sucessão de João Neves da Fontoura e recebido pelo Acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 16 de novembro de 1967.

Cadeira: 

2

Posição: 

3

Antecedido por:

João Neves da Fontoura

Sucedido por:

Mário Palmério

Data de nascimento: 

27 de junho de 1908

Naturalidade: 

Cordisburgo - MG

Brasil

Data de eleição: 

8 de agosto de 1963

Data de posse: 

16 de novembro de 1967

Acadêmico que o recebeu: 

Afonso Arinos de Melo Franco

Data de falecimento: 

19 de novembro de 1967

Três dias após a posse na Academia Brasileira de Letras, Rosa sofre um infarto fulminante. E, ele já previra que isso aconteceria devido à forte emoção.

 

Foi o terceiro ocupante da cadeira 2, eleito em 6 de agosto de 1963, na sucessão de João Neves da Fontoura e recebido pelo acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 16 de novembro de 1967.

Referências

    

·  https://www.santamaria.rs.gov.br/noticias/12395-concurso-literario-felippe-doliveira-esta-com-inscricoes-abertas-ate-29-de-abril-confira-o-edital

·  ·  «Viúva de Guimarães Rosa morre aos 102 anos». SRZD | Sidney Rezende. Consultado em 13 de novembro de 2016

·  ·  «João Guimarães Rosa | Academia Brasileira de Letras». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 17 de agosto de 2017

·  ·  Klick Educação. «Guimarães Rosa - Biografia». UOL - Educação. Consultado em 27 de junho de 2012

·  ·  «João Guimarães Rosa | Academia Brasileira de Letras». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 15 de junho de 2017

·  ·  Sabrina Vilarinho. «Guimarães Rosa - Vida e Obra». Brasil Escola. Consultado em 27 de junho de 2012

·  ·  Cristiana Gomes (12 de novembro de 2007). «Guimarães Rosa». InfoEscola. Consultado em 27 de junho de 2012

·  ·  «João Guimarães Rosa - Biografia». Arquivado do original em 15 de janeiro de 2016

·  ·  «Guimarães Rosa»

10.  ·  «Discurso de posse». Academia Brasileira de Letras. Consultado em 3 de maio de 2018

Bibliografia

  • ARRIGUCI JR., Davi. O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, no 40, p. 7-29, Nov. 1994.
  • BARBOSA, Fábio Luís Chiqueto. A imagem do sertão na tradução alemã de Grande Sertão: Veredas. (Dissertação de Mestrado em Língua e Literatura Alemã). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.
  • BARBOSA, Fábio Luís Chiqueto. A recepção da tradução alemã de Grande Sertão: Veredas e a perspectiva da Weltliteratur de Goethe. (Tese de Doutorado em Língua e Literatura Alemã). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
  • BELÚZIO, Rafael Fava. "'Corpo de baile', João Guimarães Rosa & forma trina-unitária". Em Tese, [S.l.], v. 22, n. 1, p. 41-65, nov. 2016. ISSN 1982-0739. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/emtese/article/view/11162>. Acesso em: 06 fev. 2017. doi:http://dx.doi.org/10.17851/1982-0739.22.1.41-65.
  • BOLLE, Willi. Grande sertão: cidades. Revista USP. São Paulo, no 24, p. 80-93, Dez./ Jan./ Fev. 1994/ 1995.
  • BOLLE, Willi. grandesertão.br: o romance de formação do Brasil. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2004, p.
  • BUSSOLOTTI, Maria Aparecida. Proposta de edição da correspondência entre João Guimarães Rosa e seu tradutor alemão Curt Meyer-Clason (23 de janeiro de 1958 a 27 de agosto de 1967). 1997, 487 p. (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Estadual de São Paulo, São Paulo, 1997.
  • COUTINHO, Eduardo. (Org.) Guimarães Rosa. 2a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p. 62- 97. (Coleção Fortuna Crítica)
  • DUARTE, Lélia Parreira; ALVES Maria Theresa Abelha. (Org.) Outras margens: estudos sobre a obra de Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Autêntica/ PUC Minas, 2001, p. 317- 330.
  • DUARTE, Lélia Parreira et al. (Org.) Veredas de Rosa II. Belo Horizonte: PUC Minas, CESPUC, 2000.
  • FINAZZI-AGRÒ, Ettore. Um lugar do tamanho do mundo: tempos e espaços da ficção em João Guimarães Rosa. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001, 201 p.
  • GALVÃO, Walnice. As formas do falso: um estudo sobre a ambiguidade no Grande sertão: veredas. 2a ed. São Paulo: Perspectiva, 1986, 132 p. (Coleção Debates)
  • HANSEN, João Adolfo. O o: a ficção da literatura em Grande sertão: veredas. São Paulo: Hedra, 2000, 198 p.
  • KUTZENBERGER, Stefan. Europa in Grande Sertão: Veredas. Grande Sertão: Veredas in Europa. Armsterdam: Rodopi, 2005.
  • M. CAVALCANTI PROENÇA. Alguns aspectos formais de "Grande Sertão Veredas". (Revista do Livro, Rio de Janeiro, 5, março de 1957)
  • MARINHO, Marcelo. GRND SRT~: vertigens de um enigma. Campo Grande: Letra Livre / UCDB, 2001, 204 p.
  • MARINHO, Marcelo. João Guimarães Rosa. Paris: L'Harmattan, 2003, 168 p.
  • ROSENFIELD, Kathrin. Grande sertão: vereda: roteiro de leitura. São Paulo: Ática, 1992, 111 p. (Princípios, 224).
  • ROSENFIELD, Kathrin. Os descaminhos do demo: tradição e ruptura em Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo: EDUSP, 1993, 217 p. (Biblioteca Pierre Menard)
  • Scripta, Belo Horizonte, v. 2, no 3, p. 190- 204, 2o semestre, 1998.
  • SELIGMANN-SILVA, Márcio. "Grande Sertão: Veredas como gesto testemunhal e confessional" Alea : Estudos Neolatinos, vol.11 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2009, pp. 130-147. ISSN 1517-106X.
  • Seminário de ficção mineira: de Guimarães Rosa aos nossos dias, Belo Horizonte, no 2, 1983.
  • SIQUEIRA, Ivan. A música na prosa de Guimarães Rosa. (Tese de Doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada). FFLCH,USP, São Paulo, 2009.[1]
  • UTÉZA, Francis. João Guimarães Rosa: metafísica do Grande sertão. São Paulo: Edusp, 1994, 536 p. Original francês.
  • VERLANGIERI, Iná Valéria. J. Guimarães Rosa: correspondência inédita com a tradutora norte-americana Harriet de Onís. 1993, 357 f. (Mestrado em Estudos Literários)– Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 1993.

Ligações externas

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:

 

 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es_Rosa

e  https://www.academia.org.br/academicos/joao-guimaraes-rosa


terça-feira, 3 de setembro de 2019



Crônica: "A poesia de cada dia"



        


O título da crônica deste mês refere-se a um verso de Oswald de Andrade, um dos nossos mais famosos escritores Modernistas brasileiros. O poema no qual ele se insere intitula-se “Escapulário” (foi musicado por Caetano Veloso) e, roga, como proteção divina, a presença da “santa” e poderosa poesia diária, aquela que nos desenvolve a sensibilidade, a contemplação meditativa, a fé em nós mesmos, a criatividade e o senso crítico. No entanto, a Geração Poética de 70 foi duramente criticada justamente por ela ter desmitificado o fazer poético como a procura do belo inacessível e sublime, abordando assuntos considerados comezinhos e “prosaicos” (no sentido de triviais), focalizando (e perdendo tempo com) questões “de somenos”. Este deslocamento radical do altar em que a veneravam os vates beletristas e suas musas diáfanas para o “rés do chão” (poesia com os pés no chão, sem sombra de dúvida), fez com que esta produção fosse desvalorizada e até estigmatizada em nosso país, condenada principalmente pela temática, como se fôssemos nós a criar esta proposta – sociologicamente denominada “estética da banalidade” por Maffesoli, que a analisa com seriedade, por ela ser um componente marcante e presente em todas as artes contemporâneas. Esquecem os detratores da poesia coloquial de que o cotidiano apresentado como contraplano contextual não foi inovação do Modernismo, nem tampouco da Geração 70. Veio muito antes da sociedade de consumo, recua até os ensinamentos filosóficos do zen budismo (séculos XIII-XVII, ou até mesmo antes) através dos quais tudo o que acontece na natureza, em qualquer um dos seus reinos, motiva a reflexão – até mesmo as moscas pousadas nas mãos de um velho, em Issa, ou uma simples pimenta, em Bashô:

Bando de moscas –
Que gosto pode haver
Nestas mãos enrugadas?
Issa

Uma pimenta.
Colocai-lhe asas:
Uma libélula rubra.
Bashô



Paladares... Gostos... Alimentos... No Budismo, a atenção dirigida ao próprio sustento é importante, por ser a comida uma forma de praticar a não violência, de reverenciar o preceito do  ahi?s?, que preconiza não se cometer crueldades/atrocidades contra outros seres, portanto de praticar a compaixão; na “cozinha de devoção” (sh?jin ry?ri) japonesa, na cozinha budista (zh?icàie) chinesa, todos os atos anteriores, durante, e posteriores à refeição são igualmente significativos e relevantes. Há muitos koans contados a este respeito. Talvez o mais conhecido deles seja a de um monge que certa vez, na hora do café da manhã, veio até Joshu (japonês sagrado mestre em idade precoce, aos treze anos) e disse: – "Acabei de entrar neste mosteiro. Por favor, ensine-me." – "Você já tomou seu mingau de arroz?", perguntou Joshu. – "Já, sim", replicou o monge novato. – "Então é melhor lavar sua tigela", disse o mestre. Esta foi a primeira lição que o neófito recebeu no mosteiro – simples e objetiva, mas também repleta de sutilezas: a prática “vulgar” de lavar a louça, do desjejum ao famoso ritual do chá, reveste-se de transcendência: envolve, para além da limpeza (sua finalidade imediata), vários tipos de atividades perceptivas, tais como: a observação do tato em contato com diversas texturas, do entorno, a concentração no aqui-agora, a reflexão e valorização da nutrição, o agradecimento por ela, etc.. Ensina o Hexagrama 62 do “I Ching – Livro das Mutações” (texto clássico chinês anterior à dinastia Chou (1150-249 a.C.): “EXCEDENDO-SE SENDO PEQUENO se exerce influência. É conveniente insistir, mas só em assuntos restritos e não importantes. Um pássaro voando deixa sua mensagem: ‘não é apropriado subir, o certo é descer’; nesse caso haverá grandes benefícios!”. Viver, sem grandes pretensões, mas equilibrada e intensamente; voar o mais alto possível (sem chegar muito perto do sol se tiver asas de cera, como Ícaro), e saber quando pousar para descansar. Transpondo para nosso dia a dia ocidental: nenhuma tarefa é enfadonha em si mesma, nós é que a rotulamos como entediante.



A filosofia zen mergulha na prática de cada ato simples da vida para dela apreender o significado da existência em sua unidade. Paulo Leminski (amigo curitibano e companheiro da minha geração poética) escreveu em seu livro “Vida”: “Bashô elevou a prática cotidiana, no haicai, a um patamar altíssimo, a uma arte (haiku-dô). (...) Os pensamentos mais sutis revelam-se nas condições materiais. E a mais alta poesia, nas circunstâncias mais pedestres e corriqueiras. Assim, Bashô transformou uma prática de texto, uma produção verbal, em ‘caminho’ para o zen”.



Nesta dimensão, tendo Bashô e Issa como exemplos, esvazia-se o argumento pejorativo que amesquinha na poesia a relevância do debate das questões cotidianas, alijando-as da Estética – do estudo do belo em suas manifestações artísticas – e da Filosofia – investigação da dimensão essencial e ontológica do mundo real, segundo Platão, em direção ao entendimento do Holos: o todo. O “tema central do zen é a superação das dualidades. A dissolução dos maniqueísmos”; e a poesia alternativa da época rompeu com a visão separatista do que era ou não tematicamente adequado a ela, ao mesmo tempo fazendo emergir o microcosmo e transcendendo-o ao mostrar, implícita e sutilmente nas entrelinhas, que os gestos mais comuns e rotineiros podem ser celebrados enquanto fonte inesgotável de vivências plenas. Nesta mesma direção, eis o belo haicai de outro famoso escritor paranaense:

Montanha que brilha
a louça lavada
empilhada na pia
Domingos Pellegrini



A poesia da década de 1970 despertou uma práxis mais consciente e holística (com maior impacto ainda na escrita das mulheres), lidando com sentimentos, sensações e emoções não apenas como transbordamentos individualistas, intimistas, porém inserindo-os no contexto sociopolítico do nosso tempo. Como explana brilhantemente o ensaio leminskiano, “os sentimentos são históricos – não dá para abandoná-los no meio do caminho, rumo à trajetória das transformações sociais”.


Aprendemos na escola que, em poesia, palavras pertencentes à mesma categoria gramatical são classificadas como rimas pobres – no caso, pias e poesias. Seriam? Serão? Sejam ou não, parafraseando Oswald, peço contrita e fervorosa: dai-nos, Senhor, a poesia de cada dia dessas ricas rimas pobres!


Texto retirado do site: http://www.incomunidade.com/v83/art.php?art=250&fbclid=IwAR1MelhNcEs1mZzHEdq1F3cQQ4K1DfORvEu2qA6xwWgWZoVxoUnFV94RX3w





sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Poesia para mudar o mundo





Trinta e três poetas dispostos a mudar o mundo através da poesia.
Com grande sensibilidade, todos agregam valor ao planeta, mostrando que palavras poéticas, seduzem a humanidade para um bem maior.
Confiram no link: poesia para mudar
Vejam também em: Post Blog

Post Blog, mais um portal de Literatura





O portal de literatura Post Blog é mais um agregador de cultura que junto com o portal Blocos, disseminam condições para um mundo com mais informação e poesia.
Concursos literários, resenhas, notícias de cunho exclusivamente cultural, filmes clássicos, poesia, prosa, viagens, fotografia e etc.
Venha conhecer e participar com seus comentários e nos enviando material cultural. 
A sua participação é muito importante.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Nascimento do criador de Alice no País das Maravilhas!





Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo seu pseudônimo Lewis Carroll (Daresbury, 27 de janeiro de 1832— Guildford, 14 de Janeiro de 1898), foi um romancista, contista, fabulista, poeta, desenhista, fotógrafo, matemático e reverendo anglicano britânico. Lecionava matemática no Christ College, em Oxford. É autor do clássico livro Alice no País das Maravilhas, além de outros poemas escritos em estilo nonsense ao longo de sua carreira literária, que são considerados políticos, em função das fusões e da disposição espacial das palavras, como precursores da poesia de vanguarda.

Alice

Alice Liddell (foto) foi a inspiração de Carroll para criar Alice no País das Maravilhas.
A história de Alice no País das Maravilhas originou-se em 1862, quando Carroll fazia um passeio de barco no rio Tâmisa com sua amiga Alice Pleasance Liddell (com 10 anos na época) e as suas duas irmãs, sendo as três filhas do reitor da Christ Church. Ele começou a contar uma história que deu origem à atual, sobre uma menina chamada Alice que ia parar em um mundo fantástico após cair numa toca de um coelho. A Alice da vida real gostou tanto da história que pediu que Carroll a escrevesse.

Dodgson atendeu ao pedido e em 1864 surpreendeu-a com um manuscrito chamado Alice's Adventures Underground, ou As Aventuras de Alice Embaixo da Terra, em português. Mais tarde ele decidiu publicar o livro e mudou a versão original, aumentando de 18 mil palavras para 35 mil, notavelmente acrescentando as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro.

A tiragem inicial de dois mil exemplares de 1865 foi removida das prateleiras, devido a reclamações do ilustrador John Tenniel sobre a qualidade da impressão. A segunda tiragem esgotou-se nas vendas rapidamente, e a obra se tornou um grande sucesso, tendo sido lida por Oscar Wilde e pela rainha Vitória e tendo sido traduzida para mais de 50 línguas.

Em 1998, a primeira impressão do livro (que fora rejeitada) foi leiloada por 1,5 milhão de dólares americanos.

Faleceu em Guildford em 14 de janeiro de 1898. Encontra-se sepultado no Cemitério de Guildford, Surrey na Inglaterra.