terça-feira, 14 de outubro de 2025

Desenterrar os ossos, de Priscila Branco - 80 páginas de pura imersão

 






Órfãs ou viúvas

Chegando a hora da morte,
entendi:
Sempre estivemos sós.





Foto de Urhacy Faustino

Ler "Desenterrar os ossos" é como aceitar um convite para uma escavação onde não se usa luvas. Priscila Branco não nos entrega apenas os poemas; ela nos mostra a terra ainda sob as unhas, o cheiro de húmus e de memória que se desprende de cada página. Sua poesia funciona como um bisturi que separa a pele do tempo, revelando o que há por baixo: não a beleza idealizada, mas a arquitetura crua da dor e da persistência. Cada verso parece polir um fragmento de osso, não para torná-lo belo, mas para que sua forma original e sua verdade sejam compreendidas. O livro não oferece redenção fácil, e talvez esse seja seu maior mérito. Ele nos ensina que a verdadeira força não está em superar o passado, mas em ter a coragem de carregá-lo à luz do dia, transformando o peso em testemunho. É uma obra que pulsa com uma honestidade que incomoda e, por isso mesmo, se torna inesquecível.

Desenterrar os ossos é um ato de coragem. Cada poema é um convite para olhar aquilo que, por instinto, escondemos sob a terra do dia a dia. A escrita da Priscila não te dá a mão com delicadeza; ela te entrega a pá e te mostra onde cavar.

É um livro que nos lembra que somos feitos de camadas de tempo, de carne e de memória, e que ignorar os ossos não os faz desaparecer. Pelo contrário, eles continuam a sustentar a nossa estrutura, mesmo quando nos esquecemos deles. É uma poesia que dói onde precisa doer, mas que, no fundo, é um profundo ato de libertação. A sensação final é a de que, ao tocar nessas feridas, algo finalmente pode começar a respirar.

                                                                                                                 Urhacy Faustino

Pedidos para: https://www.macabeaedicoes.com/pagina-de-produto/desenterrar-os-ossos



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