sábado, 20 de agosto de 2011

Os caminhos da poesia

Sargento Di Freitas, policial poeta em Campo Grande (Foto: Hélder Rafael/G1 MS)

Sargento De Freitas escreve e declama poesias
em Campo Grande (Foto: Hélder Rafael/G1 MS

Sargento da PM procura patrocínio para publicar poesias em MS. Sargento encontrou inspiração no dia a dia policial para escrever. A partir da literatura, militar passou a desenvolver ações sociais.

Há dois anos, o 2º sargento da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Sidnei Garcia de Freitas, de 39 anos, descobriu a vocação para escrever poesias. Desde então, o militar dedicou-se à literatura e já publicou textos em duas antologias. Agora, ele busca patrocínio para editar uma obra de sua autoria, intitulada "A magia da poesia".

O despertar para as letras ocorreu durante o atendimento de uma ocorrência em Campo Grande. "Fomos atender a uma moça que havia sofrido tentativa de estupro. Ela era poetisa e estava muito revoltada com aquela situação, dizendo que queria ser policial para correr atrás do criminoso. Para tentar acalmá-la eu declamei uma poesia de Carlos Drummond de Andrade. Ela gostou, depois trocamos algumas dicas sobre poesia e aí comecei a me dedicar", contou o policial ao G1.

Freitas relata que o processo criativo é espontâneo, e as ideias podem surgir até na viatura. "Teve uma vez que eu e minha esposa brigamos em casa, e na viatura veio a inspiração para os versos. Escrevi ali mesmo e declamei para o meu colega, que achou legal", diz o sargento.

E a reação dos colegas de farda quando ouvem falar da vocação do policial? Segundo Freitas, a maioria fica surpresa mas admira o empenho. O sargento diz que a poesia em sua vida serve para dar vazão à crítica social, pois ele é frequentemente submetido a situações de degradação do ser humano. "Já vi casal que há dias não tinha o que dar de comer ao filho pequeno. Aquilo me comoveu tanto que juntei uns trocados com meus colegas para comprar comida e levar até eles", afirma.

Atualmente, o sargento não atua diretamente no combate à criminalidade. Ele integra o 9º Batalhão de Policiamento Comunitário em Campo Grande, que adota estratégias de aproximação das comunidades e prevenção da violência. A partir dessa mudança, segundo Freitas, foi possível dedicar mais tempo às causas sociais, mobilizando parceiros em torno de projetos de assistência social.

Entre os trabalhos, estão a criação de um grupo de escoteiros no bairro Jardim Noroeste, onde moram 13 mil habitantes e existe carência de locais de lazer. Mais de 80 crianças e adolescentes já aderiram à iniciativa e se preparam para assumir o compromisso com o escotismo. Em parceria com empresários da cidade, o sargento viabilizou ainda a doação de alimentos e roupas a uma comunidade indígena que vive em um assentamento.

Sargento Di Freitas, policial poeta em Campo Grande (Foto: Arquivo pessoal)

Sargento Di Freitas ajuda a distribuir kits escolares a crianças carentes (Foto: Arquivo pessoal)

Link:http://g1.globo.com/mato-grosso-do-sul/noticia/2011/08/sargento-da-pm-procura-patrocinio-para-publicar-poesias-em-ms.html

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

LIVROS EM BLOCOS, POR MARLI BERG

 

(Marli  Berg é jornalista, crítica teatral, colunista literária de "Ele Ela",
"Manchete", "O Globo" e autora de romances de ficção).

 Coluna de 17/8/2011 - nº 310
(próxima coluna: 27/8/2011)

LITERATURA AMERICANA: O PONTO ALTO DE UM PAÍS COM ECONOMIA EM BAIXA

A economia americana vai mal, e enquanto países credores ficam assustados com a possibilidade de calote, os leitores se deliciam com a produção cultural dos Estados Unidos. Sim, felizmente, a grande literatura americana não foi afetada pela falta de dinheiro, e continua criativa, bela e abrindo horizontes para todos os que amam os livros e o prazer da leitura. Livros em Blocos selecionou, para você, nesta edição, alguns dos melhores lançamentos vindos, diretamente, da terra de Tio Sam. Esperamos que nosso irmão do norte saia, de forma rápida e indolor, desta crise angustiante, e volte a florescer, continuando a dar seu exemplo de igualdade, oportunidades para todos e criatividade ao mundo.
Confira os lançamentos norte-americanos que selecionamos para você, e veja a força e beleza da literatura deste grande povo.

1 - Romance Americano/Best Seller

Nora Roberts, autora que mais vende livros no mundo, faz sua primeira incursão no gênero sobrenatural, com a série Trilogia do Círculo. No primeiro volume, A Cruz de Morrigan, é travada uma batalha entre as forças do bem e do mal, e Lilith, a vampira mais poderosa do universo, reúne seu exército sombrio. O segundo volume, que está sendo lançado no Brasil, é O Baile dos Deuses (Bertrand Brasil) e nos apresenta ao círculo de seis se preparando para o confronto final contra o exército de Lilith. Mas quem será o vencedor do confronto final entre o bem e o mal? Uma série emocionante, uma grande novidade na carreira de Roberts, que lança mão de elementos sobrenaturais e toques de suspense e sedução para penetrar num mundo mágico, que está fascinando todos os que acompanham esta excelente trilogia. E agora, vamos aguardar, ansiosamente, o terceiro volume da série, que, certamente, não está sendo afetada pela crise financeira americana, pois já está na lista dos mais vendidos nos EUA.. Mais um grande momento imperdível de Nora Roberts.

2 - Ficção Americana / Romance Histórico

Romance de estréia da americana Traci L. Statton, Imortal (Bertrand Brasil) se passa no século XIV, em Florença, num período turbulento de sua história,quando houve vários acontecimentos trágicos e marcantes: a Peste Negra, a Inquisição e a ascensão ao poder dos Médici - tudo isto em plena Renascença. A autora conta, com sutileza e profundo embasamento histórico, a história de Luca, um lindo menino de cabelos dourados, mas abandonado a própria sorte.Ele não é um menino comum e, ao longo de dois séculos de vida, descobrirá um dom surpreendente, que o fará abraçar os mistérios da alquimia e das cura (ele se torna, também, o confidente fiel dos poderosos Médicis.) Muitos mistérios rondam Luca, formando uma tessitura extremamente original para uma história que tem elementos de fé, arte e alquimia, mas na qual o amor desempenha um papel fundamental,que se torna tão importante que, muitas vezes,seu valor se sobrepõe ao da própria vida. Um maravilhoso romance histórico, escrito com o requinte de uma grande autora e pesquisadora e que, com a alta vendagem do livro, não deve estar sentindo os efeitos da crise financeira em seu país. Uma recompensa merecida.

3 - Ficção Americana / Romance Feminino

A americana Leslie Daniels estréia, brilhantemente, na ficção, com um romance que focaliza o mundo feminino, em especial o da mulher divorciada, que chegando aos quarenta anos vê seu mundo virar de cabeça pra baixo quando resolve terminar um casamento sem amor. Em Casa Com Nabokov(Leya) conta a história de Barb que, ao se divorciar, perde a segurança financeira e a presença dos filhos, e vai morar numa casa que um dia foi do famoso escritor Vladimir Nabokov, autor do lendário Lolita. Lá, ela descobre um manuscrito, que pode ser um trabalho perdido do escritor e tem uma idéia, que poderá mudar sua vida. Mas até que ponto esta idéia tem relação com a realidade? E será ela forreta: Um romance original, divertido, que mistura drama, família e alta literatura, e nos dá de presente uma anti-heroína sedutora e sarcástica, que, ao conceber um plano de negócios inusitado, atrai os leitores, que a acompanham, de muito boa vontade e humor alegre, para uma aventura prá lá de original. Quem já leu está amando a história e, certamente, para Leslie Daniels, graças as vendas crescentes de seu adorável romance, a crise americana não deixará marcas. Uma delícia.

4 - Ficção Americana / Romance / Clássico

Joyce Carol Oates é um dos nomes mais expressivos da literatura americana e é prova viva de que a cultura de nossos irmãos do norte é um grande capital, que ajudou a nação a alcançar índices elevados de desenvolvimento. Minha Irmã, Meu Amor(Alfaguara / Objetiva) é um dos mais ambiciosos livros de Oates, onde elementos trágicos da vida humana, como fama, obsessão e morte ocupam lugar de destaque. Baseado numa história real, o romance narra a saga de uma família americana, envolvida pela desgraça, quando sua pequena filha, Bliss, de seis anos, é brutalmente assassinada, no momento em que se torna uma estrela da patinação no gelo. Quem conta a história, dez anos depois do acontecido é o irmão mais velho da menina,Skyle, que reconta o crime, transformando a saga da família numa história brilhante, desta fantástica escritora que já escreveu contos,ensaios, peças de teatro, críticas literárias e mais de 30 romances.além, de ter recebido vários prêmios e ser membro da Academia Americana de Artes e Letras. Uma nação que tem Joyce Carol Oates como uma de sua mais representativas escritoras, jamais será pobre.

5 - Ficção Americana / Suspense / Terror

Stephen King já escreveu mais de quarenta romances e duzentos contos, foi agraciado com diversos prêmios significativos da literatura americana e, em 2007, foi nomeado Grande Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados unidos. Sua obra singular, extremamente criativa e inovadora na clássica literatura de terror, tem batido, ao longo dos anos, recorde de vendas, mostrando um escritor de fôlego sempre renovado num gênero literário bastante difícil. Ao Cair da Noite (Suma de Letras/ Objetiva) é uma coletânea de contos do grande King que, como sempre, nos levam a passeios assustadores e fantásticos, que farão nosso coração bater mais forte, e incendiarão nossa imaginação, que irá, sôfrega, em busca de mais mistério. São 13 contos de alta qualidade, assinados pela grife milionária que não conhece recessão em suas finanças pessoais: Stephen King. Um delicioso delírio.

6 - Ensaio Americano / Escrita Poética

Após ganhar o prêmio Pulitzer de ficção e o National Book Award, e ser considerada pela revista Forbes, em 2011, uma das escritoras mais influentes da atualidade, Alice Walker, autora do famoso romance A Cor Púrpura, lança, entre nós, Rompendo o Silêncio (Bertrand Brasil), ensaios comoventes da autora negra que teve uma infância difícil nos Estados Unidos, quando sofreu com o racismo vindo dos brancos e ricos. No livro, que apresenta a história de mulheres e crianças mutiladas – física e psicologicamente – pela guerra, Alice descreve as impressões colhidas durante viagens a Ruanda, Congo, Palestina e Israel. Engajada em movimentos de direitos civis, Alice Walker mostra que o silêncio não pode, jamais, ser instrumento para combater injustiças, e as denuncia, como poeta e ativista, convidando o leitor a refletir sobre elas. Um livro importante para repensar o mundo e o tratamento que ele dá aos mais fracos e desfavorecidos. Certamente, a cor da pele não é obstáculo, nos Estados Unidos, à ascensão social. Vide o exemplo de Barak Obama, negro que se tornou presidente da nação, Oprah Winfrey, apresentadora negra e uma das mulheres mais ricas do mundo, segundo a revista Forbes e a escritora e poeta Alice Walker, em ótima situação financeira graças a sua obra a os produtos que dela se originaram. A crise não os atingirá.

Poesia, poesia e poesia!

canto para descansar

Inverno em Nova Iorque
Em cima
de quase meio metro de neve,
debaixo
de 15 a 20 graus abaixo de zero
no meio
de uma semana daquelas que não rende
sobre
centenas de papéis para organizar
debruçado
em mais de dez livros pra ler
cercado
de dezenas de mensagens pra responder
envolto
em muitas idéias pra pensar e escrever
olho
meu balcão todo branco, frio adjacente,
minhas árvores cristalizadas pelo gelo,
uma luz intensa do sol brilhante
e me preparo para um sábado
cheio de poesia .

                Fernando Tanajura Menezes

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Tiradentes, Madonna, Oscarito, Bukowisky e Millôr - aniversários!

 

 caremewriter_cookingforkings

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Comemorações, festas e independências...

 

castelo e lago

Nascimentos

.x.x.x.x.x.x.x.x.x.

1057 - Rei Macbeth é morto na Batalha de Lumphanan pelas tropas de Malcolm III.

No Ferragosto (do latim: Feriae Augusti) é comemorado a Assunção de Maria pelos italianos no dia15 de agosto. É também ponto de partida das férias na Itália.

1824 - Escravos libertos do Estados Unidos da América fundam a Libéria.

  • 1914 - É inaugurado oficialmente o Canal do Panamá
  • 1939 - Estréia de O Mágico de Oz.
  • 1947 - Independência da Índia.
  • 1948 - A Coréia é dividida em duas a Coréia do Sul e a Coréia do Norte, separadas pelo paralelo 38º N.
  • 1960 - A República do Congo declara a sua independência da França.
  • 1965 - Os Beatles fazem a sua famosa apresentação no Shea Stadium
  • 1969 - Abertura do Festival de Woodstock.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Saciedade dos poetas vivos digital volume 12

 

                              

Envie seu comentário para: blocos@blocosonline.com.br

AUTORES

Carlos Nejar Carlos Nejar
Eunice Arruda Eunice Arruda
Flavio Gimenez Flavio Gimenez
Flávio Mota Flávio Mota
Gerson Ney França Gerson Ney França
Graça Graúna Graça Graúna
Jania Souza Jania Souza
Jayme Benassuly Jayme Benassuly

João Justiniano Fonseca João Justiniano Fonseca
João Nilo João Nilo

Josefina Neves Mello Josefina Neves Mello

Leninha Leninha

Márcia Sanchez Luz Márcia Sanchez Luz

Pedro Du Bois Pedro Du Bois
Rizolete Fernandes Rizolete Fernandes

Salgado Maranhão Salgado Maranhão
Sidnei Olivio Sidnei Olivio
Veronica Benesi Veronica Benesi

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Rememória — Elogio a Itamar Franco

Morávamos em Juiz de Fora e eu trabalhava na hoje extinta Gazeta Comercial, quando Itamar Franco foi Prefeito, por duas vezes - de 1967 a 1971 e retornando em 1973.
Eu costumava  acompanhar suas inaugurações  e eventos, lembro-me de um março onde ele inaugurou o parque infantil dentro do Museu Mariano Procópio-e a criançada gritando seu nome — ele cortando a fita inaugural das expôs na Sociedade de Belas Artes Antonio Parreiras, onde eu estudara com o Presidente da mesma, o Pimpinela, revejo na lembrança dos sábados onde o encontrava na Rua Halfeld, um calçadão famoso em Juiz de Fora, ou em coquetel no Museu Mariano Procópio. Uma vez, chamou-me para agradecer um poema que lhe dedicara, em seu aniversário, fazendo uma alegoria com a palavra indígena “Ita”, que é pedra, para sinalizar sua fortaleza e mar, para a persistência contínua (“água mole em pedra dura”...).
Quando sua  primeira filha nasceu, Georgiana, eu, com a irreverência dos jovens, mas afetuosamente, publiquei na primeira página, a manchete Itamar, é Mãe! Na Manchester Mineira ele era conhecido assim: o Itamar. E eu, quando ia com D. Didi sua prima, tomar chá ou café em casa de sua mãe, D. Itália, muito educada e fina,  ouvia apenas “Itamarzinho” aqui, “Itamarzinho” ali. Dizem que ele não gostava de continuar sendo chamado publicamente pelo diminutivo. Ela era louca por ele, filho amoroso e que tantos orgulhos lhe deu  — em pequeno, entregava as marmitas que ela fazia, viúva de um engenheiro. D. Itália era encantadora, com uma fitinha de cetim no cabelo, da cor da roupa, um lacinho de lado sobre a “brancabeleira”, prata pura. A irmã, pintora Matilde Franco, morava no Rio, artista plástica, eu me  encontrava com ela em salões da SBAAP – e também referia-se ao mano como Itamarzinho. Tempos atrás,  D. Didi mandou-me, de Campo Grande, onde mora atualmente, um livro-álbum com as telas da Matilde. E o mano renomado ali está retratado vários vezes, por seus pincéis.pelas fotos, vê-se o belo homem que foi na juventude. O famoso “topete” era um redemoinho de nascença, que à juventude, quando tinha muitos fios de cabelo, não se destacava. Os cartunistas aproveitaram esse traço e as charges sobre ele  exploraram muito  o famoso topete.
Sobre o amor imensurável às duas filhas, falou-me muitas vezes, talvez porque eu cursasse Psicologia. Era um pai extremado.
Certa feita, já nos anos 70, eu estava em  frente ao palanque de um comício, onde ele, senador, já discursara pelo candidato a prefeito, seu correligionário. Calor e sol sobre a massa humana,  quando vi um assessor ou correligionário chegar e dizer-me que ele mandara me chamar. Foi receber-me na lateral e quando agradeci, disse, “daqui de cima, você parecia uma garça ou um anjo, todas essas peninhas, não ia deixá-la ao sol”. É que eu vestia uma bata cujo decote era ornado de penas brancas. Ri e daí para frente, seguindo suas instruções, chegava para fazer alguma reportagem e já me apresentava na entrada do  palanque. Se era galante, era também extremamente respeitoso.
Meu chefe de redação, Gilson Guilhon Loures, autor de um livro sobre  ele, era amigo e fã de carteirinha de seu trabalho e chegava à redação com noticias frescas de seus projetos, atos e coragem.
Itamar Augusto Cautiero Franco sempre quis governar Minas Gerais, mas antes, foi ao topo, sendo o 37º presidente da República Federativa do Brasil. Substituindo Collor, depois do impeachment deste. Notável registrar que nada pode ser levantado contra ele.Em redações de jornal, ouve-se falar de tudo que há nos bastidores do Poder, mas nunca se falou absolutamente nada contra sua honradez. Mais tarde, realizou o sonho, foi Governador de Minas e era de uma mineiridade inconteste-tanto que chamaram seu Governo Federal de... de República do Pão de Queijo-acepipe mineiro que não faltava em suas reuniões com amigos, mesmo em Brasília. Sua naturalidade era baiana porque D. Itália deu-o  à luz em um navio, nas costas baianas.
Certa feita, recebi um recado do amigo trovador Sinval Emílio da Cruz, dono da Folha Mineira, convocando-me a entrevistar Itamar — então senador da República — que queria dar uma entrevista sobre seu projeto de Denúncia Vazia, “mas só quer você, pois disse que voce é uma repórter que nunca distorceu o que ele diz”. Reservaram uma sala na Prefeitura, curiosamente com as paredes toda forradas de roxo, acho que veludo. Ficamos um bom tempo nesse colóquio. Não era época de Internet, de forma que não tenho mais a página com essa reportagem. O  querido jornal  fechou e soube, já morando fora, que ele comprara, para ajudar o velho amigo Theo Sobrinho, a Gazeta Comercial, que era o órgão oficial da Prefeitura. Esta, já fora de moda, pois enquanto os Diários Associados estavam na época da rotatórias, ainda imprimíamos tudo com linotipos, as imagens eram obtidas através de clichês. No entanto, o tradicional jornal era ao órgão oficial da Prefeitura.
Lembro-me que, na biblioteca do Parque Municipal, ficavam suas grandes encadernações em capa dura .Qualquer dia, vou a Juiz de Fora fotografar digitalmente, essas preciosidades. Na verdade, eu tinha a coleção toda de meus anos de trabalho ali, mas uma enchente na Ilha do Amor — S.Luiz do Maranhão, nos Anos 80, onde morei, casada com o Engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva, inundou  a linda casa que alugáramos e os jornais colaram-se uns aos outros. Colocávamos  no muro para secar, vinha mais chuva...
Universitários o adoravam.Ele fora estudante destacado na Escola de Engenharia, da UFJF, ia aos eventos dos DA, mantinha-se perto dos mais jovens.
O testemunho que quero dar, todavia, não é bem conhecido dos demais. Refere-se ao grande coração desse mineiro ilustre: eu lecionava no Grupo Escolar José Freire, no Bairro Industrial, que funcionava em uma casa de dois andares, um sobradinho velhíssimo. Estávamos dando aula e o reboco caía sobre a cabeça das crianças, da nossa, as "professorinhas". A Diretora, D. Hyrtes Felga, tentou paliativos: começamos a lecionar nos salões da paróquia  e no Clube Industrial, as divisórias entre s classes, eram de pano, de forma que se uma professora chamasse um nome comum — Terezinha ou Aparecida, por exemplo — várias vozes respondiam, tínhamos de murmurar, para uma aula não se misturar com a da colega ao lado.
Então, fiz uma reportagem a respeito. Minha missão de jornalista...
Para minha surpresa, Itamar chamou-me para dizer que a Prefeitura mandaria para o grupo escolar,  que era estadual, dois prédios pré fabricados. E o fez, nas férias. Lindas salas, onde jamais dei aula, porque naquele ano, D. Hyrtes colocou-me para desenhar provas escolares feitas no mimeográfo e  manuscritas, na Diretoria. Tive outra surpresa: dois vereadores, na Câmara Municipal, fizeram um “Ato de Louvor” pela coragem que eu demonstrara. Coragem? Sim, pois estávamos em plena Ditadura Militar, toda eivada pela Censura, explicou-me o grande amigo e mentor jornalista Paulo Lenz, irmão do Sr. Theo Sobrinho. ”Você ousou denunciar o Estado, tenha cuidado“, disse-me ele. Mas eu só pensara no bem estar das crianças, não estava fazendo oposição alguma, no verdadeiro sentido da época, queria apenas melhorar o status físico-espacial da escola. Era uma atitude jornalística e assertiva, também por amor ao magistério. Jamais esqueci isso, pois, apesar de merecer tanta atenção e respeito de Itamar, eu nada lhe pedira.
Noutra feita, eu estava no INAMPS, onde trabalhava no Setor de Estatística, quando a colega Madalena  — que tinha diariamente uma terrível cefaléia  de hora certa, no que era muito criticada porque ia para casa mais cedo, menos por mim, que cursando Psicologia, arvorava-me em querer conhecer melhor os seres humanos — pediu-me que saísse com ela porque iria conversar com Itamar, em sua firma de Engenharia. Ela era apaixonada por Cristo.Todos os meses eu desenhava um novo para ela, que colava a série dentro da porta do armário de seus jalecos brancos e cor de rosa – ela ia pedir-lhe material de construção;
Àquela época, compráramos, por sorteio de lotes, pela cooperativa dos funcionários, terrenos perto do aeroporto. Ela ali construía uma casa, mas queria uma capelinha pelo “seu” Jesus. Auxiliar de enfermagem, trabalhava na  Dermatologia e andava com o dinheiro curto. Fui e ele, sorridente — estava em visita à cidade — prometeu mandar o material de presente. E o fez. Anos depois, recebi contristada a notícia de sua morte: a cefaléia era causada por um hemangioma, soube-se então.
Em outra ocasião, estávamos no Museu Mariano Procópio e ele ao lado do fiel escudeiro Guilhon Loures. Meu chefe de redação me chama e diz sorrindo :”Itamar disse aqui que você é uma borboletinha repórter, fica daqui para ali, borboleteando... Quando todos param e vão relaxar, você continua entrevistando, anotando”. Olhei para o Prefeito,  meio sem jeito, pois era tímida. E surpreendi o político com o rosto rosado  todo vermelho...
Gosto de lembrar as tantas reportagens feitas. Jamais ouvi nada contra sua honestidade. Mesmo os partidaristas contrários jamais o criticavam em tão importante aspectos. Então, não quero realçar aqui seu savoir-faire de engenheiro e político experiente que se foi. Mas esse seu caráter, que abraçava o “ser honesto”, algo que de que todos os seres humanos jamais deveriam abrir mão e que nele era natural, genuíno. O exemplo fica. Que muitos possam seguir-lhe as pegadas, num país onde as falcatruas se sucedem e não se passa um dia em que não tenhamos notícia de alguma desonestidade de políticos ou asseclas. Milhões de brasileiros e, entre eles, um homem se destaca por uma longa vida de brasileirismo, honradez, sobretudo, essa honestidade necessária e vital ao desenvolvimento de um país. Tenho orgulho em ter privado de sua confiança, nas entrevistas que me concedeu. E esperança de que as pessoas do Bem assim possam permanecer sem ceder às armadilhas do Poder Público.

Clevane Pessoa