domingo, 4 de dezembro de 2011

Dia de Santa Bárbara, padroeira dos bombeiros!

Festa foi considerada patrimônio imaterial da Bahia em dezembro de 2008.
Celebração é feita há mais de 300 anos no estado.

Há mais de 50 anos que Maria Bárbara de Oliveira mantém uma tradição realizada por muitos baianos no dia 4 de dezembro, data em que é celebrada a festa de Santa Bárbara. Nascida no dia da santa, a artista plástica vai oferecer um caruru neste domingo (4) em comemoração a mais um aniversário e em homenagem à santa que originou seu nome. Devota da mártir católica e de Iansã, divindade da religião de matriz africana associada a Santa Bárbara no sincretismo religioso, Bárbara conta que desde quando nasceu era oferecido um caruru no dia do seu aniversário. “Meu caruru vai completar 58 anos, assim como eu. Eu não convido ninguém, as pessoas já sabem que eu faço e aparecem. Visto sempre vermelho no dia”, diz a artista plástica, que costuma receber cerca de 40 pessoas no dia da festa.

Patrimônio imaterial, dia de Santa Bárbara é celebrado por baianos (Foto: Eric Luis Carvalho/Arquivo Pessoal)

Dona Aida exibe a imagem da santa que mantém na sala de casa. Todos os anos a aposentada faz o tradicional caruru para homenagear a padroeira dos bombeiros (Foto: Eric Luis Carvalho/Arquivo Pessoal)

Já a costureira aposentada Aida da Silva, diz que durante todo o mês de dezembro é tempo de homenagear Santa Bárbara. "A data nem sempre coincide com o dia 4, pois depende também do dia em que recebo meu dinheiro para comprar os ingredientes do caruru, mas sempre faço em dezembro. Este ano vou fazer no dia 7”, conta Dona Aida, de 72 anos, que há 65 anos mantém a tradição de oferecer o caruru de Santa Bárbara, iniciada pelo pai. Além do compromisso em ‘agradar’ a santa todo ano, Dona Aida conta que batizou uma das filhas com o mesmo nome da mártir católica. “Eu tenho cinco filhos, entre eles duas mulheres e uma delas chama-se Bárbara Cristina. Coloquei o nome dela em homenagem a Santa Bárbara”, orgulha-se Dona Aida.

“É uma festa que demonstra o poderio feminino. São as mulheres consideradas retadas, ousadas, que não dependem dos homens para se manter”

Jaime Sodré

Histórias como a de Bárbara e Dona Aida reforçam a importância da festa de Santa Bárbara na Bahia, especialmente em Salvador. Para o professor e pesquisador Jaime Sodré, a festa da santa católica, padroeira dos bombeiros, possui elementos do catolicismo que são aproveitados e transformados em manifestações da religião de matriz afro-brasileira. “Essa festa é uma marca católica, que é o culto à Santa Bárbara, parte do estoque de santas femininas da igreja. É importante dizer que esse rito foi complementado e ganhou a proporção que tem hoje por causa dos fiéis do candomblé. O próprio rito católico passou a incrementar elementos do candomblé”, relata Sodré. A culinária típica adotada na celebração para Santa Bárbara carrega uma forte influência da religião de matriz africana e, entre outras semelhanças, os devotos de Iansã e Santa Bárbara se vestem de vermelho para cultuar uma das figuras religiosas mais populares da Bahia.

Sincretismo

Apesar das semelhanças, segundo Jaime Sodré, não há possibilidade de associar a história pessoal de Santa Bárbara, que foi morta pelo pai por ser cristã, com a lenda da divindade Iansã. “Na verdade, as semelhanças são que ambas são mulheres, ambas portam uma espada, que é um dado de guerreira, e a vestimenta das duas tem a cor vermelha. As pessoas do candomblé sabem a dimensão das diferenças. O que se faz semelhante são alguns detalhes. Uma decorre do catolicismo, na Europa, e a outra na África, na religião de matriz africana, em épocas completamente distintas”, relata o especialista em história da cultura negra. Para ele, o sincretismo na verdade é uma ‘superposição’ religiosa. “A poligamia de Iansã (que, segundo a lenda, se relaciona com os orixás Xangô e Ogum) nada se assemelha à castidade de Santa Bárbara, e isso é tratado com naturalidade pelos fiéis do candomblé”, complementa o pesquisador.

Patrimônio Imaterial

A festa de Santa Bárbara foi considerada patrimônio imaterial da Bahia no dia 3 de dezembro de 2008 pelo governo do estado. O decreto que registrou a cerimônia reafirma a importância da diversidade cultural e religiosa que a festa reúne. “Santa Bárbara passa a ser uma santa cultuada dentro da religião católica, que ganhou uma versão baiana quando ela foi similarizada a Iansã. Todo rito dela passa a ter parâmetros com a religião de matriz africana”, diz o pesquisador. “Duas características principais da festa de Santa Bárbara são essencialmente do candomblé, que é a prática do transe [quando ‘filhos de santo’ manifestam Iansã na procissão] e da culinária, com o tradicional caruru”, complementa. A intensa participação do povo no dia 4 de dezembro caracteriza oficialmente a festa de Santa Bárbara como a celebração que marca o início do ciclo das festas populares da Bahia.

A festa

Realizada há mais de 300 anos, a festa de Santa Bárbara começa com uma queima de fogos, por volta das 5h, como a maior parte das comemorações religiosas. A concentração na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos marca a primeira missa celebrada às 8h e, por conta do número de fiéis, uma missa campal é realizada no Largo do Pelourinho, seguida de uma procissão com destino ao quartel do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro da Barroquinha. Segundo a tradição, a última parada da procissão é o Mercado de Santa Bárbara, onde é distribuído um caruru para a população. Para Sodré, a festa, acima de tudo, demonstra o poder da mulher na Bahia. “É uma festa que demonstra o poderio feminino. São as mulheres consideradas retadas, ousadas, que não dependem dos homens para se manter”, conclui o pesquisador.

Serviço:

5h – Centro Histórico: Alvorada de Fogos
8h – Largo do Pelourinho: Missa e Procissão
14h – Atrações Itinerantes: Swing do Pelô, Meninos do Pelô, Tambores e Cores, Filhos de Gandhy, Bandão Jurema e Bandão Status.
14h – Largo do Pelourinho: Jorginho Comancheiro, Afoxé Kori Nagô, Banda Didá, Ara Ketu e Ilê Aiyê
15h – Terreiro de Jesus: Catadinho do Samba, Afro Detona e Viola de Doze.

texto retirado do portal G1 http://g1.globo.com/bahia/noticia/2011/12/patrimonio-imaterial-dia-de-santa-barbara-e-celebrado-por-baianos.html

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