sexta-feira, 16 de março de 2012

Professores e poetas…

 

 

 

o poeta e o relógio

os bicos das manhãs
à espera do poeta
o ofício exercido de unhas
à espera do poeta

a rua entreaberta de vespas
à espera do poeta

O sol-pôr líquido de nuvens
à espera do poeta

a lua embriagada de amores
à espera do poeta

: canções

o poeta espera o silêncio
o relógio vigia os homens

Merivaldo Pinheiro

Do livro: Caminhos de poe(a)mar, Ed. autor, 2007, RJ

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CARTA DE UM PROFESSOR (*)

Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)

Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre , onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio.   Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir à aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para  “fazer uma social”.  Para rever os conhecidos.
Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos.
Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar.
Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.
Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.
Qual passo dado pela mãe?  Polícia Civil!... Isso mesmo!... tive que comparecer no dia 13/07/11, na  8ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.
Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.

Maurício Girardi

(*) Carta publicada no jornal Correio do Povo, Porto Alegre (RS) em 16 de julho de 2011
Enviado por Astrid Cabral

2 comentários:

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Tão bom que a poesia chegasse às salas de aula.

Hoje os professores têm medo de exigir o mínimo para realizar seu trabalho, porque a inversão de valores está de um jeito que, quando se faz o correto, parece que é o contrário.

Muita pena desse professor, por viver essa terrível experiência. Mais pena ainda dessa aluna "tadinha, tão constrangida" que ainda não compreende o valor do tempo perdido na idade em que está!

Abraço do Pedra do Sertão

Anônimo disse...

Obrigada pelo seu comentário. Realmente, a situação da educação está uma lástima.