Você é...
Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.
Martha Medeiros
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Suor de Fevereiro
Entrego-me
ao vazio que habito
oco, sem cor
que construí
quando a vida sumiu
na sala desaperceibda.
Entrego-me
ao vazio que habito
oco, sem cor
que construí
quando a vida sumiu
na sala desaperceibda.
Olhei meus olhos
no espelho dos tue solhos
choravas o meu choro
como quem engole a saliva
do tempo.
no espelho dos tue solhos
choravas o meu choro
como quem engole a saliva
do tempo.
Não sei o coração
que resta
e a visão das feras
que me golpearam
sei o punhal cortando
pingos de suor de fevereiro.
Lourdes Sarmento
que resta
e a visão das feras
que me golpearam
sei o punhal cortando
pingos de suor de fevereiro.
Lourdes Sarmento
Do livro: Olhos de Tigre, Edições Bagaço, Recife/PE, 2001
3 comentários:
Belíssimo poema da Lourdes. Trabalhamos na mesma empresa na década de 90, na antiga TELPE, quando eu tinha meus 14 anos. Me conheceu pequeneninha, era amiga de mamãe e frequentou algumas vezes minha casa. Foi um tempo...
Martha Medeiros arrebentou! Adorei! Um espetáculo em palavras!...
Guardarei comigo, este texto.
Cecília, que bom. Você teve duas coisas boas numa mesma postagem.Grande abraço!
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