Confesso que ficava todo orgulhoso por saber que vivia – faz apenas 20 dias hoje – na mesma cidade que Ivan Lessa escolhera para morar, o que acontecia desde 1978. Se tiro um sarro que sou um lobo solitário por aqui, fiquei muito mais agora depois que soube de sua morte.
Pode ser que a moçada que lê um site como o da ESPN, com o conteúdo voltado muito mais para os esportes, nunca tenha ouvido falar em Ivan Lessa. Lido, muito menos. Mas, antes de qualquer estranheza, quero informar que Ivan Lessa foi craque de futebol de praia nos anos 50 e que era torcedor fanático do Botafogo. E mais: acompanhava, mesmo daqui de Londres, tudo sobre futebol brasileiro e mundial.
Não fui seu amigo, mas conhecia-o de vista na época do “Pasquim” e da boemia desenfreada no Jangadeiros, Álvaro’s, Degrau e Cia. Quando jovem, mas já repórter do Jornal do Brasil, devorava seus textos no Gip-Gip Nheco- Nheco, e com seu heterônimo Edélsio Tavares nos “Diários de Londres.”, ambos nas páginas do “ Pasquim.” Mais tarde, acompanhava seus textos onde pintassem; em revistas mensais, cadernos especiais e suplementos literários.
Por uma desses acasos da vida, fui seu companheiro – ele nunca soube disso e não tem a menor importância -- no jornal Canja, especializado em música, que abri e fechei com meu mestre Sérgio de Souza. Não sei se foi Carlito Maia, acredito que sim, que conseguiu que ele escrevesse para a gente. E assim foi feito durante alguns meses, até o bravo “Canja” bater as botas.
Era uma honra ter Ivan Lessa nas páginas do jornal. Além de escrever admiravelmente bem, conhecia muito de música. De Francisco Alves a música pop inglesa. E adorava Aldir Blanc e mais recentemente o Guinga. Predileções que faziam eu gostar ainda mais dele, porque batem com as minhas.
Andava meio sumido, muito doente e sem sair de casa. Com enfisema pulmonar e sérios problemas respiratórios. Mas manteve até o fim a coluna três vezes por semana no site da BBC. Foi cobrado até sua morte, sexta-feira passada, por nunca ter voltado ao Brasil e por não ter escrito “ o romance de sua geração.” Numa entrevista que deu ao excelente Geneton de Moraes Neto, em 2000, ele explica os porquês ( entre na internet que você encontra, vale a pena).
De seus livros, li apenas “Garotos da Fuzarca”, de 1986, contos divertidíssimos e uma aula de bom gosto e erudição. Agora, irei atrás de dois outros que escreveu: “Ivan vê o mundo” e “ O luar e a rainha.”
Se não estivesse vivendo aqui em Londres, talvez não escrevesse sobre Ivan Lessa. Mesmo porque eu não escrevia havia algum tempo. E também porque escrever sobre um cara assim, é um atrevimento. Mas, com certeza, o vazio que sinto no peito seria o mesmo.
Lamento, morando aqui em Londres, ter perdido a chance – sei que Ivan era meio arredio e não dava trela a qualquer um – de trocarmos figurinhas principalmente sobre musica e futebol, duas paixões onde, acredito, não faço feio. Uma pena! Como disse Geneton, “ a taxa de mediocridade acaba de dar um enorme salto: Ivan Lessa saiu de cena .E, com ele, um Brasil que ele criou, em Londres, para o consumo próprio.”
Valeu Ivan!
por José Trajano, de Londres (Inglaterra), blogueiro do ESPN.com.br
http://espn.estadao.com.br/josetrajano/post/261861_MORRE+IVAN+UM+GAROTO+DA+FUZARCA
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