terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Concursos literários, poesia e prosa de Rubens da Cunha

 

A Casa do Sol

 

Casa do Sol. Fim de tarde. O sol entra pelas janelas, delicado, como que se despedindo, toca as paredes, os móveis, os quadros, os pequenos e grandes objetos que um dia foram tocados por Hilda Hilst. Faz três dias que estou aqui, ficarei mais três, ambientando-me, abrindo livros, buscando pistas, estabelecendo um contato físico com esta Casa. Há anos leio e estudo Hilda Hilst, fiz de sua obra uma companheira diária, a Casa do Sol era pra mim uma personagem, uma ficção que se estendia por seus textos. “Se és poeta, entendes, Casa é ilha”, talvez por isso sempre considerei essa Casa um distanciamento, um espaço longínquo que se presentificava na sua escrita aterradora e sublime. Era uma casa em que a rotina era outra, não haveria por aqui vazamentos, entupimentos, pequenos reparos, cuidados que toda casa precisa. A Casa do Sol seria apenas o lugar onde o texto de Hilda Hilst se solarizava para poder solarizar seus leitores.

Pela primeira vez entrei no mundo que Hilda criou em torno de si: “a minha Casa é guardiã do meu corpo e protetora de todas as minhas ardências e transmuta em palavra paixão e veemência”. Uma casa construída longe da cidade, erguida para ser cenário de seus novos caminhos literários: Hilda, que sempre foi tão urbana, veio exilar-se, ou aproximar-se ainda mais da literatura num lugar ausente de qualquer urbano. Hoje não mais, que a cidade avizinha-se da Casa do Sol.

Chegar aqui é conviver com os arcos no pátio interno, com a figueira que, reza a lenda, realiza desejos: “e entre o pátio e a figueira converso e passeio com meus cães”, convive-se com os cães também. Alguns deles ainda estão por aqui, outros, “não os mesmos, outros, de igual destino, loucos, tristes” vieram depois que Hilda foi, mas também apossados do espírito da casa. Chegar aqui é sentar-se neste banco, acarinhar a mesa onde escrevo esse texto sobre a poeta que um dia me fez parar de escrever. Estar aqui é perceber os elefantes e budas de porcelana e, sobre a lareira, um altar repleto de santos católicos. Na biblioteca também se chocam filosofia, esoterismo, teologia, literatura, ciência: “os livros são criaturas, cada página um ano de vida, cada leitura um pouco de alegria”, escreveu anos antes de vir para a Casa. Estar aqui é tatear as dobras de “mistério nunca desvendado” e o “todo corajoso de poesia” que permeiam cada canto. É ver as fotografias pelas paredes, muitas delas estão os amigos que por anos frequentaram a casa, acompanharam de perto a rotina solar de Hilda Hilst: “meus amigos sabem de tudo o que eu sei.” São estes amigos que hoje mantém a casa viva e vivendo cada vez mais, tombada pelo patrimônio municipal, aberta a pesquisadores, artistas, pessoas que vem aqui residir por alguns dias nesse lugar onde Hilda residiu por mais de quarenta anos, e que se tornou um dos lugares mais míticos e instigantes da recente literatura brasileira.

Rubens da Cunha

 

Concursos Literários

 

Regulamento do I Concurso de Minicontos Autores S/A: Prazo: 20/3

 

Literatura

 

Poesia

 

Enciclopédia Virtual Blocos de Poesia Contemporânea Brasileira: Juliana Meira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Rogel Samuel, Rio de Janeiro, Mário de Andrade e Blocos

 

O HAMLET DE KOZINTSEV

 

 

 

Minha encomenda do DVD levou um ano para chegar. O filme é de 1964, foi lançado na primavera de 64, no fim da era Stalin e da nossa ditadura militar. Mas durante cerca de dez anos Grigori Kozintsev já vinha trabalhando nele.

Nós o assistimos no Brasil, logo que saiu, afinal ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza. Eu me lembro bem que ainda estava na Faculdade, na FNFi, pois Dr. Cleonice Berardinelli o comentou em sala de aula, salientando a dança quase mecânica de Ofélia.

O filme só foi possível porque reuniu alguns dos gênios daquele tempo, como Pasternak e Shostakovich.

A música de Shostakovich vale o filme, é uma obra belíssima, composta especialmente para a obra, ainda que alguns especialistas encontram ali semelhanças com suas duas sinfonias.

Kozintsev disse que o filme não teria sido possível sem aquela música, que desempenhou um papel crucial neste filme, música que se balança entre solenidade e ansiedade.

Kozintsev criou um Hamlet que diz “não a toda sorte de mentiras” como ele disse para um repórter.

Alguns atores ali não são russos. Kozintsev teve dificuldade em escolher o elenco, enfrentou alguns problemas. Mas a principal dificuldade foi a escolha do próprio príncipe, vivido por Smoktunovsky, que era um ator de teatro. Seu desempenho foi notável, mas discreto e tradicional, como queria o diretor, sem afetação.

A fotografia, em preto e branco, exerce um papel decisivo: O mar e o castelo de Elsinore aparecem no início e no fim do mesmo modo. O mar insinua o transitório do mundo da política, o mar, com suas ondas regulares, em diagonal. O castelo é a sede do poder e é o próprio poder. A sobra do castelo ameaça como o fantasma do pai.

Um crítico russo observou que frequentemente Hamlet fala em monólogo porque está absolutamente sozinho. O diretor preferiu solilóquios e silêncios. Por exemplo, no “ser ou não ser” o ator não abre a boca. Só pensa.

O castelo de Elsinore na realidade parece uma prisão, e em todos os lados aparecem guardas pesadamente armados. Por isso as cenas de liberdade estão do lado de fora, e é fora do castelo que o Príncipe morre, no fim. E há cenas em que o príncipe abre portas sucessivas.

Há uma grande quantidade de velhas com cara de morte, como as que aparecem sempre de preto com bandeiras negras. E a intriga palaciana aparece atrás de portas e cortinas.

Aquele relógio que se vê e se ouve algumas vezes com os bonecos do rei, da rainha, do soldado e da morte, aqueles sons de sino, o vento, as ondas, as sonoridades do tempo.

O filme foi visto no fim das ditaduras militares lá e cá, mas não é datado: não são as ditaduras somente que nos parecem cruéis, a própria vida é incompreensível.

Por isso, o sentido daquelas sombras que acompanham o filme inteiro.

No final, a sombra do corpo morto do príncipe ao ser carregado e passar pela ponte do castelo decide tudo.

Ao passar, observamos um garoto que brinca após o cortejo.

E o mar. O mar recomeçando tudo.A sombra do castelo de Elsinore sobre o mar é revolucionária, como que diz: tudo passa. A sombra do castelo se projeta sobre o mar como a sombra do mal.

O filme é raro. Quem quiser ter uma ideia do que representa, assista a versão original em russo no nosso blog: http://arquivoprecioso.blogspot.com.br/

Obs: ODVD de que falo está legendado em inglês, e é difícil de acompanhar. Mas é uma obra-prima que não se pode deixar de curtir. A qualidade desta versão na Internet está melhor do que a do DVD. O DVD, inclusive, cortou alguns segundos do filme, no fim.

ROGEL SAMUEL

 

************************************************

 

 

Frases da semana (homenageando o aniversário do Rio de Janeiro)

 "O Rio de Janeiro continua lindo!" - Gilberto Gil

"Rio de Janeiro não é apenas Maracanã e Ipanema. É também Caxias, Japeri e Saquarema..." - Leila Míccolis

 

Falecimento de Mário de Andrade (1945, São Paulo/SP)     poesia prosa

Falecimento de Caio Fernando Abreu (1996, POA/RS), Belvedere

 

Poesia

Temática saudade: Mara Senna

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Rascunho de poeta da 1ª Guerra revela corte de versos polêmicos de poema

 

 

Foi encontrado um rascunho de um dos mais célebres poemas antibelicistas de Siegfried Sassoon (1886-1967), poeta e capitão do Exército britânico, revelando que os versos mais controvertidos foram cortados e outros foram suavizados antes de o poema ser publicado.

O manuscrito de "Atrocities" --que trata da matança brutal de prisioneiros alemães por soldados britânicos-- é acompanhado por uma carta inédita em que Sassoon fala do horror que sentiu ao descobrir que soldados de seu lado tinham cometido tais barbáries.

 

George Charles Beresford/Reprodução

O poeta e capitão do Exército britânico Siegfried Sassoon em foto de George Charles Beresford, em 1915

 

O poeta e capitão do Exército britânico Siegfried Sassoon em foto de George Charles Beresford, em 1915

A versão original do poema inclui as frases "vocês são hábeis assassinos" e "sorver o sangue deles em sonhos vampirescos", deletadas mais tarde.

Depois da descrição de prisioneiros "massacrados", na primeira estrofe, a segunda estrofe impressa prossegue: "Como você deu cabo deles...?". Mas, na versão inicial, Sassoon escreveu: "Como você os matou...?".

O editor de Sassoon hesitou em incluir "Atrocities" no livro de poemas de guerra "Counter-Attack", de 1918, e o poema foi publicado no ano seguinte em versão revista.

Na carta que acompanha o rascunho do poema, Sassoon expressa desespero pelo fato de "canadenses e australianos divulgarem suas façanhas como assassinos", acrescentando: "Sei de casos muito atrozes. Outro dia um oficial de um regimento escocês estava me presenteando com histórias de como seus homens colocavam bombas nos bolsos de prisioneiros e então os enfiavam em buracos de bomba cheios de água. Mas é claro que essas coisas não são atrocidades quando nós a fazemos. Mesmo assim, revelam o que é a guerra; algumas pessoas não conseguem impedir-se de ser assim quando estão lá fora."

Os materiais encontrados estão entre mais de 520 manuscritos de poemas e retratos de poetas colecionados ao longo de 40 anos por um estudioso literário, Roy Davids, e serão leiloados pela Bonhams, que descreve a coleção como a melhor coletânea de poesia jamais oferecida em leilão.

Entre os materiais de Sassoon há um caderno com quase 50 poemas ainda inéditos.

Datados em sua maioria da década de 1920, eles incluem "Companions" (Companheiros) ("O silêncio e a solidão são meus companheiros / Mas sou autodidata em estar só..."), "The Fear of Death" (O medo da morte) ("Corra como o vento para encontrá-la em sua mente / E você verá que já não se choca / Com a morte, a quem a vida supera em coragem com cada respiração...") e "Max Gate", lamentando a morte de Thomas Hardy, seu amigo.

TESOURO

Sassoon recebeu a Cruz Militar, mas os horrores que viveu o levaram a jogar sua medalha no rio Mersey e recusar-se a continuar prestando o serviço militar. Diagnosticado como traumatizado de guerra, deixou de ser submetido à corte marcial e foi internado para tratamento psiquiátrico no Hospital de Guerra Craiglockhart, em Edimburgo, de onde, em 1917, enviou a carta inédita a seu amigo C.K. Ogden, psicólogo e editor da "Cambridge Magazine", que publicava opiniões dissentes sobre a guerra.

A biógrafa de Sassoon, Jean Moorcroft Wilson, comentou: "Estes são materiais muito instigantes. Quero reescrever a biografia que fiz, e provavelmente conseguirei incluir alguns destes textos. São um tesouro."

 

Divulgação

O poeta e capitão do Exército britânico durante a 1ª Guerra Siegfried Sassoon em foto não datada

 

O poeta e capitão do Exército britânico durante a 1ª Guerra Siegfried Sassoon em foto não datada

 

A respeito do rascunho de "Atrocities", ela comentou: "A editora, Heinemann, não o deixou publicar o poema. Agora entendo ainda mais claramente por quê. Ogden era um dos poucos editores que ousavam publicar poemas contrários à guerra. A sede de sua revista foi depredada por pessoas que achavam que ele não era patriota. E havia censura, de certo modo. O editor deve ter imaginado que o texto não seria aceitável. A Heinemann provavelmente percebeu que teria que agir com cuidado."

O caderno de Sassoon é "prova de sua busca incansável por um tema", disse a biógrafa. "Ele encontrou um tema maravilhoso na Primeira Guerra Mundial. Terminada a guerra, tornou-se um poeta em busca de um assunto."

Wilson descreveu o poema sobre a morte de Hardy como "muito comovente", dizendo: "Sassoon foi ajudar Florence Hardy, a viúva, quando Hardy morreu, porque era íntimo do escritor. Eu imaginava que ele tivesse escrito algo sobre a morte de Hardy, e aqui está."

Roy Davids, 70 anos, é ex-leiloeiro e marchand; dirigiu o departamento de manuscritos da Sotheby's por muitos anos. Ele comentou sobre o rascunho de "Atrocities": "Quando primeiro li este poema, mal pude acreditar que era um oficial inglês dizendo essas coisas sobre seu próprio lado. Não surpreende que não tenham querido publicar. É claro que fazia parte daquela coisa toda de fazer resistência aos generais. Eles sabiam que não poderiam executá-lo, então o mandaram ao hospício."

A coleção de Davids se lê como um manual de A a Z de literatura inglesa, abrangendo Tennyson, Ted Hughes e T.S. Eliot. É tão grande que o leilão da Bonhams terá lugar em dois dias, 10 de abril e 8 de maio.

Desmond Clarke, presidente da Sociedade de Livros de Poesia, falou que haverá grande interesse no material oferecido no leilão. "'Atrocities' é uma crítica intransigente aos colegas soldados de Sassoon. Deveria ser leitura obrigatória para todos os cadetes de [a academia militar] Sandhurst."

 

VISÃO DE CRUELDADE

 

O texto publicado de "Atrocities"

 

Você me contou, em seu momento de jactância bêbada

De como massacrou prisioneiros, certa época. Era bom!

Com certeza não sentiu pena ao vê-los

Pacientes, acovardados e assustados, como prisioneiros devem ficar.

Como deu cabo deles? Vamos lá, não seja tímido:

Você sabe que eu adoro ouvir sobre como morrem alemães

Lá embaixo, em trincheiras. "Camaradas!", eles berram,

E então gritam como arminhos quando as bombas começam a voar.

E você? Conheço sua ficha. Você se declarou doente

Quando as ordens pareceram perigosas; e depois, com truques e mentiras

Deu um jeito de ser mandado para casa. E aqui está,

Ainda contando vantagem e bebendo todas num bar.

 

O original, em inglês

 

You told me, in your drunken-boasting mood,

How once you butchered prisoners. That was good!

I'm sure you felt no pity while they stood

Patient and cowed and scared, as prisoners should.

How did you do them in? Come, don't be shy:

You know I love to hear how Germans die,

Downstairs in dug-outs. "Camerad!" they cry;

Then squeal like stoats when bombs begin to fly.

And you? I know your record. You went sick

When orders looked unwholesome: then, with trick

And lie, you wangled home. And here you are,

Still talking big and boozing in a bar.

 

Tradução de CLARA ALLAIN.

 

DALYA ALBERGE
DO "GUARDIAN"

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1227464-rascunho-de-poeta-da-1-guerra-revela-corte-de-versos-polemicos-de-poema.shtml

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Alex Sens Fuziy vence Prêmio Governo Minas Gerais de Literatura

 

Jovem escritor foi premiado na categoria jovem escritor com R$ 7 mil

 

 (Reprodução / Facebook)

Entusiasmo é o que não falta a Alex Sens Fuziy, de 24 anos, que acaba de receber o Prêmio Governo Minas Gerais de Literatura na categoria jovem escritor. Ele receberá bolsa mensal de R$ 7 mil para desenvolver o romance 'O frágil toque dos mutilados'. Francisco Maciel venceu na categoria contos, com o livro 'Não adianta morrer'; o paranaense Otto Leopoldo Winck ganhou o prêmio de poesia, com 'Desacordes'; e o romancista mineiro Rui Mourão foi contemplado pelo conjunto de sua obra.

Nascido em Florianópolis, Alex mora em Lavras, no Sul do estado. Para ele, o prêmio representa atravessar um imenso portão de luz. “O que se desdobra e avança por detrás dele só o tempo e as páginas do livro dirão”, afirma. Revisor, tradutor e autor de dois volumes de contos já publicados, 'Exdrúxulas' e 'Trincada', o catarinense participou de sete coletâneas. Também colabora com sites e com as revistas 'Germina', 'Cronópios' e 'Releitura'.

A partir de agora, Alex só pensa em terminar o romance. De acordo com ele, iniciativas como a do governo de Minas de premiar jovens autores são indispensáveis e merecem elogio. “Isso demonstra atenção e apreço por essa miríade de escritores talentosos em busca de reconhecimento, tão necessário”, diz.

Francisco Maciel participa de concursos literários desde os 12 anos. Já venceu alguns, como o promovido pela Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, que premiou a novela Na beira do rio, ainda inédita. O autor, que integrou antologias como 'Literatura e afrodescendência no Brasil' (Editora UFMG), diz que o Prêmio Minas chegou na hora certa. “Já estava me sentindo um inconfidente condenado à morte literária, pronto para o grande exílio nas luas de Saturno”, diz.

O fluminense Maciel é jornalista e trabalha na revista 'Pesca & Mar', editada pelo Sindicato dos Armadores de Pesca do Estado do Rio de Janeiro. O livro 'Não adianta morrer' lhe deu o novo prêmio. Seus contos se passam no limite, na fronteira. “É um fio de navalha entre a vida, a morte, o sonho, a realidade e a ficção”, afirma Francisco Maciel.

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2013/02/12/noticia_arte_e_livros,140353/alex-sens-fuziy-vence-premio-governo-minas-gerais-de-literatura.shtml

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

UM POETA SE FOI, A LUZ APAGA

 

A morte de Lêdo Ivo me abala. Tantos textos em tantos anos que li, estava acostumado com a sua existência. Durante a vida temos companheiros de leituras prediletas.

Ele era para mim um daqueles poetas que o Brasil dispunha dignos de um Prêmio Nobel. Foi especialmente para mim que ao longo da vida o imitei. Na sua VÃ FEITIÇARIA eu sinto que para tê-la temos de inventá-la, a vida, a flor, o amor. É só no invento, na magia que a felicidade se nos vem com sua bênção, com o seu orvalho, a sua aurora. Se não soubermos inventar, a alegria seca, a flor não medra, o mundo é vão. Só a flor inventada, e por isso inexistente, pode ser autêntica testemunha da nossa ressurreição diária, da respiração da nossa aventura.  Porque todo amor é Narciso solitário à beira de seu lago em busca de si mesmo. Porque sem amor o mundo acaba, mesmo vivo, num sarcófago. Temos de ter o espelho mágico do viver, do ver, do encontrar, do imaginar, e de lá, de dentro do espelho, revelar a flor que nos constrói. É no espelho, é só no espelho, que a vida vive e é ali reinventada, e é de lá que ela sai de seu sarcófago para florir a sua floração e acender as suas luzes. Ai, amor, quão tênue é seu existir, quão vago o seu abraço inexistente! Mundo espelhar, mundo invertido num espelho, mundo vão, ilusório, fictício, fátuo. É desse galpão escuro do segredo que tiramos os sortilégios das palavras, das navalhas, das pratas, das asas do viver. Vivemos por um triz, no fio dessas lâminas aladas, equilibrando-nos no existir de tais teias de aranhas inexistentes. A vida eu a tenho de inventar com as palavras, com meus tristes dragões vencidos pela minha mágica. Se não os inventar, tudo vai sumir num instante, de súbito. Porque sou pó, sou pó mortal, sujeito à injúria do nada, tenho de colher essas flores fictícias e cobrir-me dessas rosas falsas, de coroar-me de flores invisíveis, flores eternas, flor só encontrável nessa flora efêmera, sonho de sonho que é como a vida se escoa em vãs lembranças, e onde a minha rosa eterna morre porque é eterna, morre porque o mundo morre, morre porque o mundo é vão.

 

A VÃ FEITIÇARIA

 

Lêdo Ivo

 

Invento a flor e, mais que a flor, o orvalho
que a torna testemunha desta aurora.
Invento o espelho e, mais que o espelho, o amor
onde eu me vejo, vivo, num sarcófago.
E a vida, este galpão de sortilégios,
deixa que eu a invente com palavras
que são dragões vencidos pela mágica.
E não me espanta que eu, sendo mortal,
sujeito à injúria de tornar-me em pó,
crie uma rosa eterna como as rosas
inexistentes nesta flora efêmera.
Sonho de um sonho, a vida, ao vento, escoa-se
em vãs lembranças. Minha rosa morre
por ser eterna, sendo o mundo vão.

Rogel Samuel

domingo, 10 de fevereiro de 2013

É Carnaval!!!

 

 

"Confete pedacinho colorido de saudade/ ao te ver na fantasia que usei/
                                      confete confesso que chorei" - David Nasser

 

 

Receitas naturalistas para os dias de folia

Poesia

Temática meses do ano: fevereiro, Mara Senna

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Marli Berg

 

 

 

1 - Negócios / Autoajuda
Fruto de mais de dois anos de entrevistas com empreendedores das mais diversas áreas, que atingiram o sucesso por conta própria, A Educação dos Futuros Milionários (Leya) do americano Michael Ellsberg, que mantém um blog sobre empreendedorismo, desenvolvimento de carreira e educação no site Forbes.com, é um livro da maior importância para quem quer entender, de forma correta, o que significa educação, sucesso profissional e prosperidade. Segundo Ellsberg, o sucesso depende da iniciativa, inteligência prática e educação continuada, independentemente de se ter ou não uma faculdade. Ele entrevistou diversos empreendedores bem sucedidos, e dos depoimentos que tomou, extraiu 7 conselhos que são a chave para atingir o sucesso profissional. Partindo de histórias reais, Ellsberg mostra o Caminho trilhado por gente de sucesso, aponta seus erros e acertos, e enfatiza a importância de aprender na prática.

Segundo ele, para ter êxito na carreira, é preciso, primeiro, ter uma habilidade, depois usar sua capacidade para transformá-la numa forma de ganhar dinheiro, e, por último, transformar tudo em aprendizagem. Um livro excepcional, uma verdadeira aula para empreendedores que queiram atingir o sucesso, que enfatiza a importância de ter iniciativa. Mais que uma lição de empreendedorismo, o livro de Ellsberg é uma aula de vida, pois mostra de que forma podemos nos tornar donos de nossa própria existência. Indispensável para todos que querem se tornar empreendedores.

2– Biografia / Espiritualismo / Budismo
Fuga da Terra das Neves – A Fuga do Jovem Dalai Lama Para a Liberdade
(Gaia) texto biográfico escrito pelo jornalista americano Stephen Talty, conta uma importante passagem da vida do Dalai Lama, no final da década de 1950. Sob muitos aspectos, o 14º. Dalai Lama, Tenzin Gyatso não estava preparado para a jornada épica que o aguardava, em março de 1959 . Vinte e dois anos antes, grupos de busca do governo, guiados por profecias e presságios, haviam chegado à humilde morada camponesa do menino de 2 anos,que foi submetido a uma série de testes. Após ser declarado a reencarnação do governante anterior do Tibete, a criança foi levada para Lhasa, para aprender os segredos do Budismo e os caminhos do poder máximo.

Durante as duas décadas seguintes, foi obrigado a aguentar uma solidão dolorosa, rituais frequentemente sufocantes, e obrigado a reprimir sua personalidade travessa. Mas valeu o sacrifício, pois se revelou um líder capaz. Esta biografia do Dalai Lama é narrada desde 1937, - época em que ele foi reconhecido como Dalai Lama – até os dias atuais, concentrando o foco no final da década de 1950, quando o exército chinês invadiu o Tibete, obrigando-o a exilar-se na Índia. Uma excelente, detalhada e sensível biografia da figura eminente que conhecemos, um carismático defensor da liberdade de pensamento e da compaixão universal. Leitura obrigatória para todos que amam a paz e o poder da força do espírito.

3 - Romance Americano

Uma das mais famosas, respeitadas e prestigiadas autoras americanas contemporâneas, Gail Godwin, detentora de diversos e importantes prêmios literários (foi, três vezes, finalista do National Book Award, o prêmio literário norte-americano de maior relevância), é autora de mais de dez livros aclamados pela crítica. Ela chega ao Brasil com Desejos Inacabados (Bertrand Brasil) uma história de amizade, lealdade, mentiras que se tornam verdades absolutas, e desejos não realizados, que nunca terminam.

Ao escrever a história De uma escola de moças, da qual foi diretora, a pedido de suas ex-alunas, Suzanne, aos oitenta anos, relembra uma noite fundamental na escola, e tenta conciliar passado e presente. Mas a jornada que ela propõe é acidentada, e poderá trazer à tona acontecimentos que estavam muito bem guardados. Gail Godwin domina a arte da escrita, com talento, sensibilidade e sofisticação, mas sem deixar a clareza e simplicidade de lado, o que permite ao leitor um mergulho profundo numa história envolvente, cheia de mistérios, amor, fidelidade, segredos, rivalidades e fé, dentro de um universo rico, com um conjunto de personagens encantador. Uma leitura que deixa marcas e saudade.


4 - Literatura Juvenil / Jovens Adultos

Segundo volume da série, Abafa! Segredos Que os Meninos Não Contam (V&R Editores) traz de volta Sofia, a blogueira que produz o mais incrementado diário sobre suas descobertas, aventuras, fofocas e os bastidores da rotina escolar.

Neste volume, os garotos vão se preocupar, pois Sofia está de olhos e ouvidos super atentos aos buchichos do banheiro dos meninos. Criada, escrita e ilustrada por Rose Cooper, a série retrata as peripécias de uma adolescente, que resolve criar um caderno “pré-blog” para fazer o rascunho dos acontecimentos e fofocas que serão, posteriormente, publicados em seu blog. . E é nele que Sofia vai tratar de temas, anseios e conflitos que fazem parte da vida de todo adolescente, e, em particular, dela mesma, que, infelizmente, não é a garota mais bonita nem a mais popular da escola. Divertida, muito real, a série faz rir enquanto mostra o que é o deliciosamente terrível mundo adolescente, onde emoções e conflitos se entrelaçam e multiplicam, numa corrida deliciosamente cansativa rumo à idade adulta. Simplesmente delicioso.

Voltar

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Aqui onde moro

 

 

Aqui onde moro
quero-queros logo gritam
se alguém se aproxima.
A coruja à tarde observa
pra de noite começar.

 

Tartarugas no verão
primavera por que não?
Correm lépidas pra chuva
atrás de água pra beber
cantinho pra namorar.

 

Beija-flores nas grevilhas
russélias brancas, vermelhas
aguardam carinhos e beijos
enquanto ixoras sorriem
esperando sua vez.

 

Jasmins de todas as cores
com suas formas variadas
exalando olores diversos
perfumam o ar, dançam ao vento
trazem paz, doces alentos.

 

Jerivás e guarirobas
reais e imperiais
arecas e washingtônias
palmeiras aqui não faltam
pra brindar as helicônias.

 

Aqui onde moro me integro
entrego-me às plantas e aos bichos.
Mensageiros do vento tilintam
alertam pra chuva que vem
e pra que vai embora também.

 

Os bichos que aqui trafegam
não precisam de controle
seja em terra ou no ar...
Não se agridem como os homens
vivem em total sintonia.
                                         

                                                          Márcia Sanchez Luz

 

*Do Livro "No Verde dos Teus Olhos" - Editora Protexto, PR - 2007

Cândido Portinari

 Mulatinha com laço vermelho - Candido Portinari

Mulatinha com laço vermelho (Cândido Portinari)

 

Falecimento de Cândido Portinari (1962, RJ)

 

Poesia

 Registro: O incêndio em Santa Maria, Ulisses Tavares

 

Prosa

 Coluna quinzenal de Vânia Moreira Diniz