segunda-feira, 25 de março de 2013

O CAMINHO QUE NÃO PODE SER EXPRESSO

 

O TAO TE KING diz assim:

“O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra
Com-Nome é a mãe de dez mil coisas
Assim, a constante não-aspiração é contemplar as Maravilhas
E a constante aspiração é contemplar o Orifício
Ambos são distintos em seus nomes mas têm a mesma origem
O comum entre os dois se chama Mistério
O Mistério dos Mistérios é o Portal para todas as Maravilhas”

É a tradução do Mestre Wu, do Mestre Wu Jyn Cherng, que foi meu professor de Chien Yi, uma espécie de luta chinesa.

Há outras traduções.

Mas aí está: o que pode ser traduzido não é o mesmo, já não diz o mesmo, o não-dito.

E a tradução deixa o miolo para trás.

Porque Lao Tsé falava de um caminho de liberdade e da liberdade do caminho.

E todos nós só conhecemos o caminho da busca.

Quem está buscando procura algo de que necessita. Não é livre, depende de “algo”.

E esse “algo” é certamente uma ilusão, um fantasma, uma alucinação.

De nada precisamos nós, do ponto de vista espiritual. Podemos estar em paz.

“O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante” significa, talvez, que tudo muda, e o próprio caminho também muda.

Porque todo caminho é a morte. A morte é o objetivo do caminhar, o fim do caminho.

O objetivo do caminho não é a morte, mas o próprio caminhar.

Quem busca nada encontra.

Um dia um Mestre Zen recebeu um discípulo que lhe perguntou:

– Mestre, como atinjo a Libertação?

– Quem te prende? – respondeu o Mestre.

“O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante” – é como:

“O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do céu e da terra”.

Se vamos por uma estrada e vemos uma flor, uma bela flor, e se logo pensarmos: “uma flor” – logo não, nada vemos, matamos o ver.

Se virmos uma flor e não a etiquetamos com um nome, então há uma explosão de beleza sem nome. É um espetáculo raro.

Se nossos pensamentos nos deixarem ver.

O mundo, com toda a sua glória, está mascarado de nossos pensamentos.

Tudo alumia quando os pensamentos param.

Mas eu estou rodopiando em frases sem sentido, falo apenas do que falo, sem nada saber.

Rogel Samuel

Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

obrigado, Amiga, por publicar este texto