Murilo Eugênio Rubião nasceu em Silvestre Ferraz que, em
1953, passou a se chamar Carmo de Minas. Fez seus primeiros estudos nas cidades
de Conceição do Rio Verde e Passa Quatro e conclui-os no Grupo Escolar Afonso
Pena e no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. Bacharelou-se em Direito em 1942
pela Universidade de Minas Gerais, atualmente Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). O jornalismo sempre o seduziu, tornou-se redator da Folha de
Minas e diretor da Rádio Inconfidência.
Em 1947, lançou seu primeiro livro de contos, O ex-mágico,
que não teve grande repercussão na época. A partir de então, ingressou no mundo
da política, sempre como assessor. Em 1951, ocupou a função de chefe de
gabinete do governador Juscelino Kubitschek. Entre 1956 e 1961, exerceu o cargo
de adido cultural do Brasil na Espanha. Em 1966 foi designado para organizar o
Suplemento Literário do Diário Oficial Minas Gerais, que se tornou um dos
melhores órgãos de imprensa cultural já surgidos no país. A publicação de O
pirotécnico Zacarias, em 1974, deu súbita fama a Murilo Rubião.
Nos anos subsequentes, a sua exígua obra passou a ser vista
como a mais significativa manifestação da literatura fantástica no Brasil.
Murilo Rubião influenciou diversos autores brasileiros, dentre eles, José J.
Veiga e Moacyr Scliar.
“ Auto-retrato
No livro de registro de nascimento da matriz de Silvestre
Ferraz, hoje Carmo de Minas, encontro, ao lado meu, os nomes de meus pais:
Eugênio Alvares Rubião e Maria Antonieta Ferreira Rubião. 1916. Meu pai, homem
de boa cultura humanística, era filólogo e pertenceu à Academia Mineira de
Letras. Escrevia com rara elegância, apesar de gramático. Dele herdei a timidez
e um certo ar cerimonioso, que me tem privado da simpatia de numerosas pessoas.
Algumas delas mulheres, o que é lamentável.
Em Belo Horizonte residi vinte e cinco anos. Alguns alegres,
outros tristes. Lá pretendo morrer. No cemitério do Bonfim, se não for incômodo
para os que me sobreviverem. Cursei grupo escolar, ginásio, Faculdade de
Direito, e posso afirmar, sem sombra de orgulho, que jamais fui primeiro aluno
em qualquer disciplina. Como escritor, alcancei algum êxito na burocracia das
letras. Três vezes presidente da Associação Brasileira de Escritores (Secção de
Minas Gerais) e vice-presidente do I Congresso Brasileiro de Escritores.
Sete anos levei para escrever e publicar o meu primeiro
livro "O Ex-Mágico". Nem por isso ele saiu melhor.
Comecei a ganhar a vida cedo. Trabalhei em uma baleira,
vendi livros científicos, fui professor, jornalista, diretor de jornal e de uma
estação de rádio. Hoje sou funcionário público.
Celibatário e sem crença religiosa. Duas graves lacunas do
meu caráter. Alimento, contudo, sólida esperança de me converter ao catolicismo
antes que a morte chegue.
Muito poderia contar das minhas preferências, da minha
solidão, do meu sincero apreço pela espécie humana, da minha persistência em
usar pouco cabelo e excessivos bigodes. Mas, o meu maior tédio é ainda falar
sobre a minha própria pessoa.
”
Obras e crítica[editar | editar código-fonte]
O ex-mágico (1947)
A estrela vermelha (1953)
Os dragões e outros contos (1965)
O pirotécnico Zacarias (1974)
O convidado (1974)
A casa do girassol vermelho (1978)
A Armadilha (1984)
O homem do boné cinzento e outras histórias (1990)
Contos reunidos (2005)
Quando Murilo Rubião estreou com O ex-mágico, um crítico
apontou a semelhança dos contos que compunham o livro e certas obras de Franz
Kafka, especificamente A metamorfose. Embora o autor mineiro não conhecesse, na
ocasião, o autor tcheco, havia de fato alguns traços comuns que permitiriam
incluí-los numa mesma família estética, a da literatura fantástica.
Entende-se por literatura fantástica aquelas narrativas em
que ocorrem fatos inconcebíveis, inexplicáveis, surreais e que produzem uma
grande sensação de estranhamento nas pessoas. Normalmente, esta atmosfera de
irrealidade tem uma dimensão alegórica, ou seja, por meio do absurdo e do
inverossímil, ela alude à realidade concreta da existência, cabendo ao leitor
escolher um sentido realista para eventos aparentemente sobrenaturais.
Todos os contos de Murilo Rubião trazem esta perspectiva que
inválida a lógica e a racionalidade. Mas o absurdo das situações é apenas um
artifício do escritor para questionar a realidade. Alguns de seus mais
conhecidos contos apresentam – sob a forma de fantasias surrealistas – uma
visão desencantada do homem. O ex-mágico é uma sátira à burocracia e à mesmice
do cotidiano. Alfredo, uma fábula sobre a não aceitação das diferenças entre os
seres. Os dragões, um minitratado sobre a corrupção humana. A noiva da casa
azul, uma reflexão sobre a passagem do tempo e o caráter vão de todos os amores.
O pirotécnico Zacarias, uma narrativa de humor negro a respeito da vacuidade e
da fugacidade da existência. O convidado, uma aterradora alegoria da solidão
dos seres e, talvez, da morte. Assim, de cada relato pode-se extrair um ou mais
significados ocultos, o que indica a natureza aberta e polissêmica da obra de
Murilo Rubião.
Um crítico viu nestes contos, especialmente a partir dos
livros O pirotécnico Zacarias e O convidado a criação de um “mundo denso e
fantasmagórico em que espectros alienados vivem num universo agoniante. Nele, o
homem acaba sendo condenado à esterilidade pela própria incapacidade de
modificar o mundo sem saída no qual convive.” (Jorge Schwartz). De fato, a
exemplo do que ocorre na obra de Franz Kafka, o absurdo das histórias de Murilo
Rubião é apenas uma metáfora do absurdo da condição humana. Apesar do ceticismo
do autor, é grande literatura. De forma paradoxal, a linguagem usada para
relatar estes acontecimentos surpreendentes é simples e clara.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Murilo_Rubi%C3%A3o
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