Leila Míccolis tem publicado uns novos poemas com seu padrão (nem é preciso assinar, logo se sabe que é dela).
Alguns poetas (raros) são assim. Tem um “estilo”, ou seja descobrem o novo, reinventam o velho, recriam a arte. Criam a sua “assinatura”.
Quando a gente pensa que já tudo viu, eis que surgem eles/elas, os criadores.
Mesmo os instrumentistas. Um grande pianista, por exemplo, deixa a sua marca, a sua personalidade. Quem sabe ouvir logo logo descobre quem está tocando.
O mesmo o cantor.
Certa vez um amigo meu foi a uma gravadora no Rio e ouviu algumas pessoas conversando numa sala anexa: lá se podia distinguir o Fagner, falando tal como ele canta, com o mesmo timbre, com o mesmo acento inconfundível.
Mas o mundo dá muitas voltas.
A vida passa rápida.
Leila escreveu:
Missão cOmprida
Você conseguiu tudo na vida:
uma grande barriga bem alimentada
uma amante infiel
uma esposa comportada
carro do ano
filhos rebeldes ao teu jugo tirano
casa própria, emprego com crachá
um sítio em Visconde de Mauá
um ufanista amor pelo país
tudo como manda o figurino
(de Paris).
E morrerá, cumprindo a sua parte,
de tensão ou de enfarte,
de repente,
sem nem ao menos de longe perceber
que podia ter sido diferente.
O seu poema – budista é claro, ou sei lá... – me lembra um refrão: “Há duas tragédias: uma é nunca conseguir o que se quer; outra, é consegui-lo”.
Seu poema toma a vida pelo avesso, vida da pequena ou pseudo-burguesia. Seu poema diz tudo.
Leila Míccolis ri.
E seu poema dá conta de sua missão. Cumprida.
Diz o que é viver.
Rogel Samuel
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