quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Prosa de Flavio Gimenez

 

Acho que ser criança é ter uma janela para o Infinito. Quantas e quantas vezes não me olhei no espelho e ví nos inúmeros reflexos, senão nos túneis de luz propostos pelo outro espelho a permanencia de  minha vida e de meus outros eus? Certamente que não continuo aqui, senão como capricho, sendo que outros se foram e se aqui estiveram, foram de mim partes que me completavam, em infinitas eras. Lá adiante eu pude ver, aos meus onze anos, como seria aos cinquenta; em outra pedraria luminosa pude ver o que seria aos oitenta, talvez nem mais sendo sequer a sombra que me dissesse o que fui aos oito. Ah, aos oito, a descoberta do amor perfeito, a linda boca de Lucia, o sorriso perfeito de Telma, a sisudez de Marcia...Ah, isso foi aos oito? Ou aos dezoito? Mil reflexos de luz, em tons degradés de verde, nas águas do tempo que vivifica os sonhos...E a lua entrando em meu quarto numa noite solitária de Agosto, quase a completar Setembro... Realmente, não importa, porque (creio eu) o tempo não passa de uma ilusão, o que determina a descontinuidade somos nós; basta ver que lá adiante, alguém me acena de um reflexo âmbar que talvez traga de volta, a mim, esse contínuo de felicidade que somos quando temos a inocência ao nosso lado.

Flavio Gimenez

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