quarta-feira, 23 de março de 2011

Atriz Elizabeth Taylor morre aos 79 anos em Los Angeles

By Portal Terra

Elizabeth Taylor ficou famosa por seus olhos violeta e pelos oito casamentos, além de uma extensa filmografia
Foto: Getty Images

 

A atriz Elizabeth Taylor morreu vítima de insuficiência cardíaca aos 79 anos nesta quarta-feira (23) em Los Angeles, informou a imprensa internacional como ABC News eCNN. Ela estava internada no hospital Cedars-Sinai Medical Center havia dois meses.

"Atriz lendária, mulher de negócios e ativista sem medo, Elizabeth Taylor morreu de maneira tranquila hoje no Hospital Cedars-Sinai de Los Angeles", afirma um comunicado, de acordo com a agência AFP. "Ela estava cercada pelos filhos - Michael Wilding, Christopher Wilding, Liza Todd e Maria Burton", acrescenta o texto, que também lembra que a artista tinha dez netos e quatro bisnetos.

Elizabeth Rosemond Taylor nasceu em 1932, em Londres, Inglaterra. Conhecida como Liz Taylor, iniciou a carreira artística aos dez anos, logo depois de se mudar para os Estados Unidos.

Liz participou de filmes infanto-juvenis e descobriu o amor pelos estúdios de filmagem, de onde não quis mais sair. Evoluindo como atriz talentosa e respeitada pela crítica, nos anos 50 filmou dramas, como Um lugar ao Sol, com o ator Montgomery Clift; Assim Caminha a Humanidade, com Rock Hudson. Nessa década fez ainda A Última Vez Que Vi Paris, ao lado de Van Johnson e Donna Reed.

Elizabeth foi reverenciada como uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos. Sua marca registrada sempre foram os traços delicados e os olhos cor azul-violeta, que encantaram gerações.

A atriz também ficou famosa pelos inúmeros casamentos (oito ao todo), sendo o mais conhecido com o ator inglês Richard Burton, com quem se casou duas vezes e fez duplas em vários filmes nos anos 60, como o antológico Cleópatra e o dramático Quem tem medo de Virgínia Woolf?, em que ela ganhou o segundo Oscar. O primeiro prêmio veio em 1960 por O Número do Amor. Nessa época, Liz sagrou-se a atriz mais bem paga do mundo.

Em 1985, com a morte de seu grande amigo, o ator homossexual Rock Hudson, Elizabeth Taylor iniciou uma cruzada em favor dos portadores de aids. Em 2004, a diva passou vários meses de cama devido aos efeitos de uma grave escoliose, uma fratura na espinha, falência cardíaca congestiva, úlceras, além de episódios de bronquite aguda e pneumonia.

Em 1997, a atriz passou por uma delicada cirurgia para remover um tumor do cérebro. No passado, a estrela também já teve problemas com o vício em álcool e drogas.

Confira a filmografia:
Searching for Debra Winger (2002)
Get Bruce (1999)
The Flintstones - O Filme (1994)
Common Threads: Stories from the Quilt (1989)
Michael Jackson: The Legend Continues (1988)
Moonwalker (1988)
Genocide (1982)
A Little Night Music (1978)
Ana dos Mil Dias (1969)
A Megera Domada (1967)
O Pecado de Todos Nós (1967)
Os Farsantes (1967)
Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966)
Adeus às Ilusões (1965)
Cleópatra (1963)
Gente Muito Importante (1963)
Disque Butterfield 8 (1960)
De Repente no Último Verão (1959)
Gata em Teto de Zinco Quente (1958)
A Árvore da Vida (1957)
Assim Caminha a Humanidade (1956)
A Última Vez que Vi Paris (1954)
No Caminho dos Elefantes (1954)
O Belo Brummel (1954)
Ivanhoé - O Vingador do Rei (1952)
Quo Vadis (1951)
Um Lugar ao Sol (1951)
O Pai da Noiva (1950)
Quatro Destinos (1949)
Príncipe Encantado (1948)
As Delícias da Vida (1947)
Nossa Vida com Papai (1947)
A Mocidade é Assim Mesmo (1944)
Evocação (1944)
Jane Eyre (1944)
A Força do Coração (1943)

terça-feira, 22 de março de 2011

Água em prosa e verso!

Dia Internacional da Água, diversos autores POESIA  PROSA

Falecimento de Goethe (1832, Alemanha)

ABL Em Blocos

1º Ciclo de Conferências: "Gêneros literários: um olhar atual". Conferencista: Eduardo Portela:
"O gênero policial no Brasil hoje". Entrada franca.

Eventos Culturais

 Centenário de Afrânio Coutinho, amanhã (dia 23) na UFRJ, homenageie-o, participe!

Nota de falecimento

 Faleceu no dia 15 de março o poeta Fernando Allah Moreira. Leia-o em Blocos

Literatura

Poesia

Temática artes irmãs: Marcelo Dolabela

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Dríope

Narrativas sobre metamorfoses já ocorriam nos poemas homéricos, como a transfiguração dos companheiros de Ulisses em porcos pela feiticeira Circe. Na obra “Metamorfoses”, de Ovídio, os deuses se transformam em humanos e, desse modo, provam a superioridade diante dos mortais e realizam seus próprios desejos.

Zeus utilizava a metamorfose como disfarce para suas aventuras ou para se aproximar de mortais e deusas. Ele se mostrou a Dânae como chuva de ouro e teve com ela o herói Perseu. Com Leda, rainha de Esparta, foi em forma de Cisne, e tiveram os gêmeos Castor e Pólux;Clitemnestra e Helena. Assumiu a aparência do marido de Alcmena e nasceu Hércules. Sob a forma de Ártemis, amou Calisto, ninfa que acompanhava a deusa. Raptou Europa na forma de touro e teve com ela Minos, Radamante e Sarpédon. Diante de Hera, a legítima esposa, aproximou-se disfarçado de cuco e se abrigou em seu colo durante uma tempestade. Os dois tiveram Ares, Hebe e Ilítia.

Existem variadas descrições de transformações, entre elas a transmutação em plantas nos mitos de Dafne, Narciso, Jacinto e Adônis. Nesse caso também entra a metamorfose de Dríope, esposa de Andrêmon. Um dia, ela caminhava com sua irmã Iole pela margem de um rio com a intenção de colher flores para tecer guirlandas para os altares das ninfas. Dríope levava o filho no colo e, enquanto caminhava, ela o amamentava.

Quando chegou perto da água, Dríope viu muitas flores próximas de um lótus e colheu algumas. Iole ia fazer o mesmo, mas avistou sangue no lugar onde a irmã acabara de colher as flores. A planta era a ninfa Lótis, que, ao fugir de um perseguidor, fora metamorfoseada em planta.

Dríope ficou horrorizada, mas não pôde sair do lugar, pois logo sentiu seus pés enraizados ao solo. Até tentou arrancá-los, mas só dava para mover os membros superiores. A dureza da madeira foi subindo aos poucos pelo seu corpo; quando tentou arrancar os cabelos, apenas folhas vinham em suas mãos. O seio materno começou a se enrijecer e o leite que a criança sugava parou de sair.

Iole não podia fazer nada para interromper a metamorfose, então apenas abraçou o tronco que não parava de crescer. Quando o marido de Dríope e o pai apareceram, Iole apontou-lhes o que restara da irmã. Abraçaram o tronco e beijaram as flores. Só restava de Dríope o rosto, do qual escorriam lágrimas que caíam sobre as folhas. Enquanto era possível, ela falou que não era culpada, nem merecia tal destino, depois pediu que sempre levassem seu filho para ser nutrido sob seus ramos e brincar sob sua sombra.

Dríope despediu-se da família e implorou que não deixassem que algum machado a ferisse, nem que rebanhos dilacerassem seus galhos. Também pediu para que ensinassem seu filho a ser cauteloso ao andar pelas margens dos rios e colher flores, lembrando-se de que cada arbusto pode ser uma deusa disfarçada.

Solange Firmino

terça-feira, 15 de março de 2011

"DIVERSOS CAMINHOS EM BLOCOS", POR ZANOTO

 


Jornalista famoso do Correio do Sul (Varginha/MG), desde 1950 mantém a coluna lítero-poética "Diversos Caminhos" naquele jornal.
Manteve coluna em Blocos Online de janeiro de 1998 a dezembro de 1999, e agora retorna à Internet, novamente através de nosso site.
FALECIDO EM 21 DE JANEIRO DE 2011

CLIQUE AQUI PARA ACESSAR O ÍNDICE ONOMÁSTICO, POR NOME DOS AUTORES CITADOS E RESPECTIVAS COLUNAS

Coluna nº 70, de 15/3/2011
(IN MEMORIAM)

1. No dia 21 de janeiro de 2011, faleceu nosso queridíssimo colunista Zanoto. Coloquei uma observação na coluna anterior, que foi disponibilizada depois do falecimento dele, é, pois, uma coluna póstuma (já que ele me enviava várias delas, antecipadamente). A de hoje, porém, é in memoriam, homenageando o amigo de trinta anos, que nos escreveu até poucos dias antes de falecer. Posteriormente à notícia repassada por Selmo Vasconcellos, no dia 3 de fevereiro, recebemos do Dr Luiz Henrique de Souza Pinto, um dos filhos de Zanoto, a comunicação de sua morte. A ele, também, portanto, os nossos agradecimentos pela consideração (Leila Míccolis).

2. FLORINDO A ESTRADA
       Para o sempre querido ZANOTO

No sentido de ida
encontramos a vida.
No sentido de volta
não evitamos a morte.
Indo para o Sul.
Indo para o Norte.
É pura sorte
viver um pouco mais.
Mas,
vou florir
todas as estradas
que me levam até você.
    Selmo Vasconcellos

Palavras de Selmo, em resposta às minhas, no Orkut: "Também senti uma dor muito forte no peito. Amava Zanoto. Somos felizardos em conhecê-los. Beijos minha querida. Ele está serenamente m paz. Zanoto agora é tema. É poema".

3. Alguns links de matérias e artigos homenageando Zanoto:
http://leilamiccolis.blogspot.com/2011/03/o-jornalismo-literario-esta-de-luto.html
http://www.blogdomadeira.com.br/uncategorized/morre-zanoto/
http://www.fotolog.com.br/vivacultura/27477784
http://poesiaemtodaparte.blogspot.com/2010/01/zanoto.html
Clique naqui para ler suas colunas em Blocos Online (Diversos Caminhos em Blocos).
Clique aqui para ler sua poesia.

4. A grande despedida
   (dedicado a Zanoto)
Em despedida triste, que jamais previste,
ou que em futuro bem distante sempre lanças,
talvez avances sem saber por onde avanças,
usando trajes que nem mesmo tu vestiste...
Na despedida, uns vão dizer como partiste,
outros  rirão dos teus projetos e esperanças...
e todos te ouvirão, nas vívidas lembranças,
num riso vão, que em cada rosto há de ser triste!
Mas, muito alegre, alcançarás um grande vale,
deixando o corpo inerte entregue a gente tensa,
meio assombrada com tão grande despedida!
Se foste justo, a morte ao fim não se equivale!
Descobrirás, no vale, então, doce Presença,
num belo encontro em que começa a própria vida!
  Josafá Sobreira da Silva
(Enviado por Sérgio Gerônimo)
5.   Três comentários sobre Zanoto:
      "Zanoto, a quem não conheço pessoalmente que mora em Varginha, faz-me a delicadeza de publicar meus versos, textos em prosa, capas de livro, comenta meus lançamentos, publica o que mando de amigos.Gosto de uma característica de sua página:vem cheia de anotações manuscritas, ao lado das letras impressas, o que dá um cunho pessoal de participação e acolhimento" (Clevane Pessoa).
      "Quando cheguei a esta Varginha, há mais de vinte anos, Zanoto foi meu primeiro amigo. Ele me introduziu no mundo das Letras Sul-mineiras, levou-me para a Academia Varginhense e pronunciou o discurso de recepção. Fundamos, com outros três poetas de Três Corações, o GRUPO SUL-MINEIRO DE POESIA,
que ele e eu presidimos, e que tem organizado os concursos em PROSA & VERSO, já em sua edição 15 (Aníbal Albuquerque).
     "Leilinha, eu li [seu depoimento no blog] e, confesso: chorei! Apesar de nao ter tido mais contato com o mesmo, pelo fato de ter saido da direção da Casa do Escritor de São Roque, com sede no Rio de Janeiro, pela minha transferência para a Alemanha, guardo de Zonoto uma excelente recordação! O mais engracado é que cerca de duas semanas atrás, estava com o pensamento muito voltado para ele!!! Agora só nos resta pedir a Deus que lhe dê paz. E desejar que surja no mundo literário pessoas de igual quilate!" (Manni).

6. ZANOTO ETERNO AMIGO

ILUSTRÍSSIMO ZANOTO,
VOU DIZER NOS VERSOS MEUS:
EU NÃO SOU NADA DOS OUTROS,
MAS SEI QUE SOU UM DOS TEUS.

ZANOTO, MEU CARO AMIGO,
DEVO CHAMAR-TE IRMÃO .
POR QUANTO FAZES POR MIM,
MORAS EM MEU CORAÇÃO.

DEPAREI-ME COM UM PEIXOTO
NAS RUAS DE CATAGUASES.
SUSSURREI PARA O ZANOTO:
- É DA FAMÍLIA DOS ASES.

ZANOTO PASSOU A VIDA
CULTIVANDO AMIGOS SEUS.
FELIZ COM A MISSÃO CUMPRIDA,
QUIS NOVAS ORDENS DE DEUS.

ANTONIO CABRAL FILHO
12/03/2011

07. "Na minha coluna "Diversos Caminhos" eu sempre achei que devia divulgar todos os poetas, especialmente os inéditos, aqueles que não tinham espaço na imprensa para mostrar-se. Era necessário encontrar um caminho para os independentes, que não tinham o livro, a revista e os jornais como suporte para o seu trabalho, para saírem da marginalidade, para que a penetrabilidade de suas inspirações se fizesse sensível em âmbito maior literário. (...) Infelizmente, o econômico costuma degradar a capacidade de produção da maioria das publicações alternativas. (...) Nestes quarenta e cinco anos, na atividade literária e no segmento alternativo, absolutamente não foi um ideal vazio, obtive centenas e centenas de compensações favoráveis e agradáveis" ZANOTO, em 6 de janeiro de 2005, Correio do Sul, Varginha/MG, Cad. 2, fls. 2.

Este era Zanoto... E continuará sendo. (Leila Míccolis)

terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da mulher

meninaprendadaparaomeublog

A ideia da existência de um dia internacional da mulher surge na virada do século XX, no contexto da Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a incorporação da mão-de-obra feminina, em massa, na indústria. As condições de trabalho, frequentemente insalubres e perigosas, eram motivo de frequentes protestos por parte dos trabalhadores. Muitas manifestações ocorreram nos anos seguintes, em várias partes do mundo, destacando-se Nova Iorque, Berlim, Viena (1911) e São Petersburgo (1913).

O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado em 28 de Fevereiro de 1909 nos Estados Unidos, por iniciativa do Partido Socialista da América em memória da greve das operárias da indústria do vestuário de Nova York, em protesto contra as más condições de trabalho.

Em 1910, ocorreu a primeira conferência internacional de mulheres, em Copenhague, dirigida pela Internacional Socialista, quando foi aprovada proposta da socialista alemã Clara Zetkin, de instituição de um dia internacional da Mulher, embora nenhuma data tivesse sido especificada.

No ano seguinte, o Dia Internacional da Mulher foi celebrado a 19 de Março, por mais de um milhão de pessoas, na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.

Poucos dias depois, a 25 de Março de 1911, um incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist mataria 146 trabalhadores - a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício. Este foi considerado como o pior incêndio da história de Nova Iorque, até 11 de setembro de 2001. Para Eva Blay, é provável que a morte das trabalhadoras da Triangle se tenha incorporado ao imaginário coletivo, de modo que esse episódio é, com frequência, erroneamente considerado como a origem do Dia Internacional da Mulher.

Em 1915, Alexandra Kollontai organizou uma reunião em Christiania (atual Oslo), contra a guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a mulher.

Na Rússia, as comemorações do Dia Internacional da Mulher foram o estopim da Revolução russa de 1917. Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro pelo calendário juliano), a greve das operárias daindústria têxtil contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que resultaram na Revolução de Fevereiro. Leon Trotsky assim registrou o evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A DANÇA DE BEETHOVEN

 

 

Beethoven conducting

 

Quando a Sétima Sinfonia apareceu, em 8 de dezembro de 1813, um crítico, creio que Weber, o compositor, escreveu mais ou menos o seguinte: "o mestre está completamente louco, sua sétima sinfonia é inexecutável".
Parece que confusões e dificuldades houve, entre os músicos, durante os ensaios. A sinfonia, aliás, exige um conjunto de virtuoses para ser bem 'vivace', desde os seus opulentos 62 compassos iniciais, e nela Beethoven faz o peso do mundo dançar. Além de ser 'dançante', inventa a Sétima algo inusitado em matéria de música sinfônica, uma espécie de voragem instrumental, um sorvedouro de ritmos meio enlouquecidos, excitados, sonoros turbilhões. Beethoven está rindo por trás da música, em gargalhadas de mago ensandecido, ruidosas ufanias de liberdade espiritual, nunca antes ouvidas, imaginadas. Histérica, a orquestra chega a um clímax final, delírio apoteótico de grande esplendor. Sim, só grandes orquestras, com grandes maestros, podem executar aquilo, e a observação de Weber estava certa - esta sinfonia não se pode executar facilmente, ou seja: poucos saberão – mas todos sabem ouvir, se ainda sentem a alegria da dança espiritual de suas mais elevadas aspirações.
"Desejo falar aos que sofrem..." escreveu o compositor, que era "socialista". Via em Napoleão a redenção das massas (depois mudou, que Napoleão sagrou-se a si mesmo imperador). Ele exprime paixão das massas, paixão romântica, as mesmas perplexidades, os encantamentos e emoções que sentimos hoje. Suas sinfonias são música de massa, para grandes salas. Contêm hinos, triunfo e regozijo. Manifesta a onipotência adolescente, desperta o jovem que ainda vive em nós. Nada melhor exprime os sentidos das sinfonias do que aquela Ode de Schiller na qual se inspirou Beethoven para compor a Nova:

Oh! Júbilo, centelha clara e ardente
Do divino fulgor, luz essencial!
Ébrios do teu clarão onipotente,
Penetramos em teu santuário ideal.
Une-se ao teu prestígio, novamente,
Tudo o que separou, na vida, o mal.
De novo os homens trêmulos se irmanam
Ao resplendor de tua chama celestial!

Desde a Terceira Sinfonia, o libelo romântico em favor das ilusões sociais perdidas e românticas, até a música moderna, ouvimos os ecos de uma cultura que luta contra formas mecânicas de viver.
Na sua Teoria Política, Adorno via a sociedade tecnocrática moderna com certo pessimismo, acreditando ser muito difícil humanizar o capitalismo. Ele critica a manipulação de que é vitima a produção artística contemporânea.
Para ele, a arte traduz os antagonismos sociais. Diz que as condições sócio-econômicas do mundo moderno impedem a esperança de uma liberação da arte, como elemento de superestrutura, já que a arte não consegue escapar do domínio exercido pela ideologia dominante. Na atual sociedade capitalista, a música também é um elemento da superestrutura, e por isso se encontra hoje num impasse dentro do capitalismo. Ela foi liberada das funções culturais que lhe eram atribuídas, e transformou-se num produto industrial, numa mercadoria que se consome e que não se liberta como elemento industrial, ou "cult", já que não consegue escapar do domínio exercido pela ideologia dominante. Na atual sociedade capitalista, ela se encontra num impasse, dentro do capitalismo.
Mas "toda música... teve sua origem em execuções coletivas do culto e da dança, fato que nunca foi superado ... mesmo que a música tenha rompido há tempos com toda execução coletiva. [Mesmo] a música polifônica diz "nós"..." (Adorno, Filosofia da nova música, p. 24).

Rogel Samuel

domingo, 6 de março de 2011

Nascido nas estrelas…

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (Caprese, 6 de Março de 1475Roma, 18 de Fevereiro de 1564), mais conhecido simplesmente como Miguel Ângelo ou Michelangelo,foi um pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente.

Ele desenvolveu o seu trabalho artístico por mais de setenta anos entre Florença e Roma, onde viveram seus grandes mecenas, a família Medici de Florença, e váriospapas romanos. Iniciou-se como aprendiz dos irmãos Davide e Domenico Ghirlandaioem Florença. Tendo seu talento logo reconhecido, tornou-se um protegido dos Medici, para quem realizou várias obras. Depois fixou-se em Roma, onde deixou a maior parte de suas obras mais representativas. Sua carreira se desenvolveu na transição doRenascimento para o Maneirismo, e seu estilo sintetizou influências da arte da Antiguidade clássica, do primeiro Renascimento, dos ideais do Humanismo e do Neoplatonismo, centrado na representação da figura humana e em especial no nu masculino, que retratou com enorme pujança. Várias de suas criações estão entre as mais célebres da arte do ocidente, destacando-se na escultura o Baco, a Pietà, oDavid, as duas tumbas Medici e o Moisés; na pintura o vasto ciclo do teto da Capela Sistina e o Juízo Final no mesmo local, e dois afrescos na Capela Paulina; serviu como arquiteto da Basílica de São Pedro implementando grandes reformas em sua estrutura e desenhando a cúpula, remodelou a praça do Capitólio romano e projetou diversos edifícios, e escreveu grande número de poesias.

 

Noite - MICHELANGELO

sábado, 5 de março de 2011

Patativa do Assaré, aniversário!

 

Mother and Child  de Don Kendig

 

    Mãe Preta

    O coração do inocente, É como a terra estrumada, Qui a gente pranta a simente E a mesma nace corada, Lutrida e munto viçosa. Na nossa infança ditosa, Quando o amô e a simpatia Toma conta da criança, Esta sodosa lembrança Vai batê na cova fria.

    Quem pela infança passou, O meu dito considera, Eu quero, com grande amô, Dizê Mãe Preta quem era. - Mãe Preta dava a impressão Da noite de iscuridão, com seus mistero profundo, Iscondendo seus praneta; Foi ela a preta mais preta Das preta qui eu vi no mundo.

    Mas porém, sua arma pura, Era branca como a orora, E tinha a doce ternura Da Virge Nossa Senhora. Quando amanhecia o dia, Pra minha rede ela ia Dizendo palavra bela; Pra cuzinha me levava E um cafezim eu tomava Sentado no colo dela.

    Quando as minha brincadêra Causava contrariedade A minha mãe verdadêra Com a sua otoridade, As vez brigava comigo E num gesto de castigo, Botava os óio pra mim, Mas porém, não me batia, Somente pruque sabia Qui mãe preta achava ruim.

    Por isso eu não tinha medo, Sempre contente vivia Mexendo nos meus brinquedo E fazendo istripolia. Dentro de nossa morada, Pra mim não fartava nada, O meu mundo era Mãe Preta; Foi ela quem me ensinou Muntas cantiga de amô, E brincá de carrapeta.

    Se as vez eu brincando tava De barbuleta a pegá, E impaciente ficava Inraivicido a chorá, Ela com munta alegria, Um certo jeito fazia, Com carinho e com amô, Apanhava as barbuleta; Foi ela uma santa preta, Que o mundo de Deus criou.

    Se chegava a noite iscura Com seus negrume sem fim, Ela com toda ternura, Chegava perto de mim Uma coisa cochichava E depois qui me bejava, Me levava pra dromida Sobre os seus braços lustroso. Aquilo sim, era gozo, Aquilo sim, era vida.

    E despois de me deitá Na minha pequena rede, Balançava devagá Pra não batê na parede, Contando estes lindos verso Qui neste grande universo Ôtros mais belo não vi, E enquanto ela balançava E estes versinho cantava, Eu percurava dromi.

    - Dorme, dorme, meu menino, Já chegou a escuridão, A treva da noite escura Está cheia de papão.

    No teu sono terás beijos Da rosa e do bugari E os espíritos benfazejos Te defendem do saci.

    Dorme, dorme, meu menino, Já chegou a escuridão A treva da noite escura Está cheia de papão.

    Dorme teu sono inocente Com Jesus e com Maria, Até chegar novamente O clarão do novo dia.

    Iscutando com respeito Estes verso pequenino, Eu sintia no meu peito Tudo quanto era divino; Nem tuada sertaneja, Nem os bendito da igreja, Nem os toque de retreta, In mim ficaro gravado, Como estes versos cantado Por minha boa Mãe Preta.

    Mas porém, eu bem menino, Qui nem sabia pecá, Os ispinho do destino Começaro a me furá. Mãe Preta qui era contente, tava um dia deferente. Preguntei o que ela tinha E assim que ela oiô pra eu Dois pingo d'água desceu Dos óio da coitadinha.

    Daquele dia pra cá, Minha amorosa Mãe Preta, Não pôde mais me ajudá Nas pega de barbuleta, Sem prazê, sem alegria Dentro de um quarto vivia, O dia e a noite intêra, Sem achá consolação, Inriba de seu croxão De foia de bananera.

    Quando ela pra mim oiava, Como quem sente um desgosto, A minha mão apertava E o pranto banhava o rosto. Divido este sofrimento, Naquele seu aposento, No quarto onde ela viva, Me improibiro de entrá, Promode não magoá As dô que a pobe sintia.

    Eu mesmo dizê não sei Qual foi a surpresa minha, Quando um dia eu acordei, Bem cedo domenhãzinha Entrei na sala e dei fé Qui um magote de muié Tava rezando oração; E vi Mãe Preta vestida Numa ropona comprida, Arva, da cô de argodão.

    Sinti no peito um cansaço, Depois uns home chegaro Levantaro ela nos braço E numa rede botaro. A rede tava amarrada Numa peça perparada De madêra bem polida, E naquela mesma hora, Levaro de estrada afora Minha Mãe Preta querida.

    Mamãe com todo carinho, Chorando um bêjo me deu E me disse - meu fiinho, Sua Mãe Preta morreu! E ôtras coisa me dizendo, Sinti meu corpo tremendo, Me jurguei um pobre réu, Sem consolo e sem prazê, Com vontade de morrê, Pra vê Mãe Preta no céu.

    O coração do inocente, É como terra estrumada Que a gente pranta a semente, E a mesma nasce corada Lutrida e munto viçosa; Na nossa infança ditosa, Quando o amô e a simpatia Toma conta da criança, Esta sodosa lembrança Vai batê na cova fria.

      Patativa de Assaré/Antônio Gonçalves da Silva

sexta-feira, 4 de março de 2011

O adeus de Zanoto

NOTA DE FALECIMENTO - Somente hoje (3/3) soubemos do falecimento de nosso colunista Zanoto (José de Souza Pinto), no dia 21 de janeiro de 2010. Desde 1950, Zanoto mantinha a coluna "Diversos Caminhos", no Correio do Sul, de Varginha, e, desde 15 de maio de 2004, escrevia sua coluna quinsenal e depois mensal em Blocos, "Diversos Caminhos em Blocos". Em suas crônicas introduzia frases e pensamentos de alguns de seus heterônimos como P. H. Xavier e. Krug Pilard. Era Presidente de honra vitalício da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC).


Publicado no blog de Leila Míccolis

Na foto, Zanoto e Lélia

Conhecemos — eu e Urhacy — Zanoto, pessoalmente,no Encontro Nacional de Arte e Cultura, organizado pela Prefeitura Municipal de Registro e pela União Brasileira de Escritores de Registro/SP, em 1990. Ele e Lélia, sua amada esposa. Porém já nos correspondíamos desde 1981, pois Zanoto era extremamente democrático, publicando todos os escritores em sua coluna "Diversos Caminhos", no Jornal Correio do Sul, sem quaisquer distinções. Iniciantes e escritores consagrados se cruzavam nestes seus "Diversos Caminhos, que desde 1950 ele mantinha no jornal mineiro. Anos depois, participando da noite de autógrafos do poeta Cícero Acaiaba, outro poeta de varginhense, grande amigo de Zanoto e falecido em 2009, conhecemos sua casa, sua biblioteca, seus arquivos fabulosos, com escritores de todo o Brasil, e acabamos a noite jantando em um de seus restaurantes favoritos. Uma noite memorável e inesquecível, em que Zanoto e Lélia foram "só nossos"...

Zanoto era a simplicidade e a modéstia em pessoa. Era poeta, Presidente de honra vitalício da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências, mas preferia ser conhecido apenas como jornalista. Tinha uma coluna no Jornal Blocos (impresso), "Caminhos em Blocos", e em 15 de maio de 2004, Zanoto começou a escrever para Blocos Online a coluna que intitulou de "Diversos Caminhos em Blocos", enviando sempre várias delas por antecipação, o que permitiu que eu divulgasse a de fevereiro, sem ter ainda notícia de seu falecimento, no dia 21 de janeiro. Temos muito orgulho de ser o único site a tê-lo como colunista, já que não se dava bem com a Internet. Seu último bilhetinho para mim, escrito a mão — como sempre fazia — foi de janeiro, poucos dias antes de sentir-se mal, enquanto atravessava a rua entre a Praça Champagnat até o Varginha Tênis Clube, e morrer no dia seguinte, de infarto. On line, iguais às colunas impressas, suas crônicas são um misto de ficção e realidade, fragmentos de textos de escritores, poesias, reminiscências pessoais. Seu estilo era inconfundível. Publicarei ainda a coluna de março, como singelíssima homenagem a uma pessoa que eu tanto admirava e continuarei admirando por sua postura literária libertária, pelo respeito com que tratava todos os que dele se aproximava, fosse quem fosse.

30 anos de correspondência e amizade ininterruptas. Estou profundamente emocionada e triste. Não é apenas Varginha que perde um intelectual ilustre, mas o jornalismo literário brasileiro, exercido por Zanoto com muito amor, carinho, criatividade e integridade.

Clique aqui para ler uma homenagem pessoal ao nosso querido amigo e colunista.
Outras matérias podem ser lidas em:
http://www.blogdomadeira.com.br/uncategorized/morre-zanoto/
http://www.fotolog.com.br/vivacultura/27477784
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Notícia enviada por Selmo Vasconcellos

quinta-feira, 3 de março de 2011

Começa o ano do coelho...

 

2011 – Início do ano 4648 da era chinesa (Ano do Coelho).

Segundo a Astrologia Chinesa, de 3 de fevereiro de 2011 a 22 de janeiro de 2012, teremos a influência do COELHO de Metal, portanto um ano será bem mais tranqüilo do que 2010, influenciado pela ferocidade do TIGRE.
O novo ano promete harmonia, diplomacia, menos conflitos, afinal o Coelho não é de briga, não! O negócio do Coelho é a família, é curtir a vida.
Cheio de graciosidade, boas maneiras, bom gosto, espalhando alegria, otimismo, o Coelho vem nos ensinar que fazer concessões razoáveis, ou seja, às vezes deixar de ter razão pra ser feliz, será uma boa pedida.

Marco Lucchesi é o novo imortal da Academia Brasileira de Letras

 

O poeta, ensaísta e tradutor Marco Lucchesi assumiu nesta quinta-feira (3) uma vaga na ABL (Academia Brasileira de Letras). Com 47 anos, o carioca passa a ser o mais jovem integrante da entidade. Ele entra na vaga deixada pelo Padre Fernando Bastos de Ávila, que morreu em novembro do ano passado.
Lucchesi é professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Formado em história pela UFF (Universidade Federal Fluminense), doutor em ciência da literatura pela UFRJ e pós-doutor em filosofia da renascença na Universidade de Colônia, na Alemanha, ele publicou livros em italiano e português.
A cadeira de número 15, agora ocupada por Lucchesi, foi fundada pelo poeta Olavo Bilac. O novo integrante da ABL foi escolhido com 34 dos 38 votos possíveis.
Nesta semana, morreu o escritor gaúcho Moacyr Scliar, também membro da entidade. A vaga deixada por ele ainda não foi preenchida. FONTE: Agência Brasil

quarta-feira, 2 de março de 2011

O viés da alta-costura de Maria Adelaide Amaral.

Dificilmente acompanho novela. Raras exceções como “Ciranda de Pedra” de Alcides Nogueira, pela delicadeza e elegância que conduziu a trama baseada no romance de Lygia Fagundes Telles. E atualmente a nova versão de Ti Ti Ti, de Maria Adelaide Amaral que deu vida nova aos personagens das novelas Ti ti ti e Plumas e Paetês, ambas de Cassiano Gabus Mendes e ambas da Rede Globo.

Nesta trama, Adelaide conduz, de forma muito bem humorada, a trama principal (Valentin e Jacques Leclair), como, também, as paralelas são muito bem cuidadas e construídas, mas o que me leva a escrever é a trama: Thales versus Julinho. Maria Adelaide está construindo estes dois personagens com um grande esmero e veracidade. Parecem pessoas da vida real. Parece com a vida daquele meu amigo que na adolescência era o maior pegador e depois se deparou com uma nova realidade. Que se assustava por eu me qualificar como sexual e não dentro de uma das duas gavetas hetero ou homo. Como se a vida não tivesse possibilidades. E Num dia qualquer de sol assim, numa noite qualquer de lua assim, e assim, de repente, ele se dá conta de que está amando o nosso amigo de baladas.

Sabe o cara machão que jamais ousaria pensar: nossa será que sou gay? Que jamais permitiria olhar para outro cara e ter tesão? Pois é, Thales é assim, o cara lindo, cobiçado por todas, desejado por todas e, num belo dia escuta o coração batendo acelerado: você está apaixonado e não é pela garota linda e gostosa da faculdade e sim pelo seu cabeleireiro. O mundo para! Pode ter certeza de que para. Adelaide não esta exagerando. Está sendo extremamente coerente e levando ao ar uma ótima discussão. O preconceito está, em primeiro lugar, dentro de nós mesmos.

O contraponto é, sem dúvida, perfeito: o carinha assumido, bem resolvido, que está sofrendo e odiando estar apaixonado por um (ex) hetero, ou um quase homo, enfim o cara que ainda está em cima do muro e não tem certeza para que lado vai pular ou melhor não sabe como pular sem se machucar. Por que a escolha já esta feita. Não há volta.

Está sendo muito bom assistir a construção desta trama. Armando Babaioff encarna com total entrega o Thales. Ora sensível e apaixonado, ora sem saber como resolver isso dentro de si mesmo. Suas dúvidas, seus desejos, seus receios, sua falta de coragem de ser quem realmente é. E, principalmente, o medo de não saber como o novo Thales vai ser visto e aceito. A angústia de querer o Julinho, o encanto de ter o Julinho, o desespero de perder o Julinho, o seu primeiro amor assumido.

Enfim esperamos que nesta novela a Rede Globo permita que Adelaide leve o romance dos dois às ultimas consequências, que aconteça de vez beijo gay em novela, porque isso ajuda a clarear o mundo gay, contribui para a aceitação dos gays na família, ameniza preconceitos, porque em quase toda família tem gay. O mundo está bastante gay e os gays pagam impostos, os gays fomentam vendas em shoppings, os gays estão em todas as profissões e, espantosamente, em pleno, século XXI ainda é tabu um beijo entre pessoas do mesmo sexo. Temos que descortinar os olhos, temos que abrir para o novo, visto que nem é novo, pois sempre existiram pessoas amando pessoas do mesmo sexo. Vide Alexandre o grande, ou a vida de Rimbaud e Verlaine. Enfim, no mais a vida é bela e nós somos dúvidas, incertezas e divagações...

 

Texto de Urhacy Faustino

(também publicado no blog: urha.blogspot.com)

Scliar: mais que um nome

             

Em meio à solidão dos meus dias paulistanos, o domingo me chega nublado. Recebo dezenas de e-mails acerca de um homem batalhador que nos deixa de luto.
               Domingo: em meio a tantas buscas e repensando os (des)lugares, não imaginei que – repentinamente - me vestiria de uma saudade tão forte, imortal. A saudade, a luta, o luto sugerem (nas boas palavras de Daniel Munduruku) que Scliar é mais que um nome.
               Domingo: uma lembrança me chega. Vi o Scliar apenas uma única vez. Recordo que me sentei ao seu lado, quase desacreditando do momento mágico que Ñanderu/Deus/Tupã e todos os deuses me permitiram vivenciar. Dou graças pela oportunidade que tive ao compartilhar da mesma mesa com Moacyr Scliar, Daniel Munduruku, Darlene Taukane, Cícero Sandroni e Alberto Costa e Silva no I Colóquio Tradição Oral e Literatura Brasileira, na Academia Brasileira de Letras (ABL), à tardinha do dia 15 de junho de 2009, no Rio de Janeiro, dentro da programação do VI Encontro de Escritores Indígenas.
              Domingo – tarde da noite escrevi ao parente Munduruku para falar da falta que o Sclair nos faz. Ele, Scliar, era um judeu imigrante que distendeu seu olhar de médico sanitarista aos índios; um olhar demasiadamente humano e que a exemplo de Nutles, ele também descobriu que nós indígenas sofremos a dor do holocausto a que fomos submetidos, quando nos fizeram vestir roupas de variolosos. Ao vestir essas roupas – como denuncia Scliar – muitos índios morreram para que os posseiros dominassem a nossa Mãe-Terra. No I Colóquio Tradição Oral e Literatura Brasileira, Scliar revelou que a sua identificação com o índio se deve ao fato de que ele também faz parte de um grupo humano perseguido.  E é reiterando seu pensamento em torno da construção de um mundo possível que destaco o seguinte:
         “Nosso parentesco deriva da consciência da marginalização. Somos povos de memória e isso nós temos em comum. Nosso testemunho é, portanto, para que a gente seja um país melhor” - Scliar.
São Paulo, tempo nublado, 28 de fevereiro de 2011.

Graça Graúna

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Poesia

Temática autobiográfica: Cida Jappe

 Temáticas mensais: Carnaval e Poetas/Poesia