quarta-feira, 23 de maio de 2012

Naquela mesa

 

Naquela mesa

Naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída, não doía assim

Agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
e a saudade dele tá doendo em mim

Letra e música de Sérgio Bittencourt

Naquela Mesa

(1970)

Autor: Sergio Bittencourt

Samba canção

Letra e música: Sérgio Bittencourt

Sérgio Bittencourt, filho de Jacob Bittencourt, o genial Jacob do Bandolim, levava consigo a dificílima tarefa de ser filho do grande gênio, o maior autor de choros do Brasil e um dos maiores tocadores de bandolim; muito mais jornalista que músico Sérgio conseguiu ter sucesso em ambas carreiras, embora como compositor tivesse feito poucas músicas, algumas de sucesso, mas evidentemente nada que se comparasse com o imenso sucesso do pai.

Como jornalista Sérgio trabalhou na "Última Hora " no Rio de Janeiro, em algumas revistas semanais e como comentarista e jurado de programas de televisão sempre ligado à música popular brasileira. Suas grandes composições musicais foram "Naquela mesa" seu maior sucesso em homenagem póstuma a seu pai, "Modinha" (Olho a rosa na janela, sonho um sonho pequenino, se eu pudesse ser menino...) e "Eu quero".

No dia em que Jacob completaria 60 anos se vivo fosse, o editor do Segundo Caderno do jornal Última Hora do Rio de Janeiro, Jesus Rocha encomendou a Sérgio Bittencourt que fizesse um depoimento sobre o pai. Foi um dos mais comoventes e lindos relatos da música popular brasileira, cujo trecho trancrevemos: "Tenho certeza e assumo: não sou nada, porque, de fato, não preciso ser. Me basta ter a certeza inabalável de que nasci do Amor, da Loucura, da Irrealidade e da Lucidez de um Gênio".

Dárcio Fragoso

http://www.paixaoeromance.com/70decada/naquela_mesa72/hnaquela_mesa.htm

domingo, 20 de maio de 2012

a jovem Y.

 

 

Quando a jovem Y. perdeu a terceira criança, ainda no ventre, o velho W., seu dono, lhe disse que não teria quem cuidasse dela quando estivesse velha demais para trabalhar. o velho W. tinha muitos filhos, de modo que não se preocupava com o futuro. a jovem Y. desesperou-se e implorou ao velho W. que lhe fizesse outra criança. e ele fez, mas a criança, embora tenha nascido, era uma menina tão mirrada e doente que o velho W. disse à jovem Y., que, de seu útero doente, jamais nasceria um filho que crescesse o suficiente para ver o crepúsculo do dia. e sentindo-se desobrigado em relação à mãe e filha, mandou-as embora.
a jovem Y. andou por muito tempo em busca de trabalho, mas nada tendo conseguido, pediu abrigo à senhora O., a puta mais antiga da província de N., e na casa da senhora O., a jovem Y. ficou, oferecendo seu corpo de porcelana em troca de comida e teto. os homens da província de N. gostavam de se deitar com a jovem Y., porque, além de bonita, chilreava como passarinho. tamanha popularidade entre os homens da província de N., rendeu à jovem Y. três meninos robustos, os quais foram criados com leite, carne e mel. quando os meninos se tornaram rapazes, a jovem Y. mandou-os estudar na capital, não sem antes, porém, fazê-los prometer que retornariam um dia para buscá-la.
no entanto, os três filhos robustos da jovem Y. jamais retornaram, e ela, cujo corpo de porcelana já não mais atraia os homens da província de N., refletiu que, de seu útero doente, o único fruto sadio, ainda que mirrado, fora morto a troco do sustento de outros três.
quando a velha, muito velha Y., deu cabo da própria vida, ninguém sentiu sua falta.
estava velha demais para trabalhar.

Mariza Lourenço

 

Do livro: Dedo de moça - uma antologia das escritoras suicidas, Editora Terracota, São Paulo, 2009

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Prosa de Martha Medeiros e poesia de Lourdes Sarmento



Você é...


Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.
Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.

Martha Medeiros

...................................................................................


Suor de Fevereiro


Entrego-me
ao vazio que habito
oco, sem cor
que construí
quando a vida sumiu
na sala desaperceibda.
Olhei meus olhos
no espelho dos tue solhos
choravas o meu choro
como quem engole a saliva
                            do tempo. 
Não sei o coração
que resta
e a visão das feras
que me golpearam
sei o punhal cortando
pingos de suor de fevereiro.


                      Lourdes Sarmento
Do livro: Olhos de Tigre, Edições Bagaço, Recife/PE, 2001

segunda-feira, 14 de maio de 2012

COPY DESK, O ANÔNIMO EDITOR DE TEXTO



 

Fui copy a vida inteira. Chamava-se redator, uma função que sumiu na imprensa. Chegávamos mais tarde e saíamos por último, junto com o editor. Recebíamos os textos, copidescávamos, fazíamos o fechamento, como títulos, olhos, legendas etc. Hoje repórter faz tudo isso. A terceirização desses encargos liberava a reportagem da chatice de acertar o número exato de toques de um título sem cair no ramerrão muito comum hoje, de usar “diz que” ou verbos esdrúxulos como mirar (mira é curto, aparentemente resolve, mas fica estranho). Um bom copy é obrigatoriamente criativo, além de competente, e o primeiro a ler a matéria, o amigo dos leitores do jornal ou revista.

Os copys eram anônimos para o grande público, só conhecidos e valorizados no meio jornalístico. Chamavam um bom copy de “puta texto”, que extraía maravilhas de uma maçaroca de dados. Grandes copys ficam na História, como o legendário Miltainho, Mylton Severiano da Silva, que fazia dupla com repórteres antológicos como Hamilton Almeida Filho. Outros se revelaram escritores famosos, como o Fernando de Morais ou Humberto Werneck. E muitos ficaram naquele circulo compenetrado dos grandes fechadores, exímios artífices da língua, como Antenor Nascimento ou Genilson César. A relação com os editores costumava ser amigável, pois resolvíamos um monte de pepinos, mas com a reportagem havia tumulto.

“Foi você que mexeu no meu texto?” perguntou a repórter da Ilustrada, da Folha de S. Paulo, furiosa, com o jornal na mão, no meu segundo dia de copy no caderno. Fui, respondi. “Então da próxima vez não assine meu nome, porque eu não escrevi isso”. Ok, tornei a falar. Vou fazer isso. Não vou assinar seu nome e continuar copidescando. O texto da moça era muito ruim e em um mês ela ficou minha amiga. Descobriu que eu trabalhava a favor dela. Fazia questão de assinar tudo. O copy assumia uma espécie de missão cívica, com o mesmo espírito do trabalho solidário.

É preciso gostar de escrever, gostar do que os outros escrevem, admirar a reportagem, não causar problemas ao editor, não guardar ressentimentos, não querer brilhar com o trabalho alheio, nem colocar as patas nele. Um copy é um especialista em extirpar lugares comuns, descobrir furos na estrutura do texto, buscar informação para resolver impasses, entrevistar o repórter, checar as fontes, entregar tudo no prazo e retirar-se todos os dias para sua caverna nas montanhas. Lá no alto, ele medita esperando o sol nascer de novo para iluminar o vale das palavras.

A TV Guia, revista da Abril que durou sete meses em 1977, baseada na TV Guide americana, foi meu momento xis do copy. Trabalhava junto com dois craques: Macedo Miranda, Filho, que citei várias vezes em meus textos de memórias, e Ricardo Vespucci, o Bi, figura maravilhosa que já partiu pra o Outro Lado. Com eles aprendi a técnica do texto redondinho de revista, aquele que tem o desfecho sintonizado com o início e costura parágrafos sem dor, para que a leitura flua como veleiro em tarde tépida de outono. Não se trata de facilitar a vida de ninguém, mas de seduzi-la pela qualidade do trabalho, torná-la prazerosa, aventureira, com revelações. Tínhamos material para isso. Os textos vinham de gente pesada como Caco Barcelos ou Audálio Dantas, que nos entregavam grandes reportagens de uma dez laudas, o que era um despropósito para o formato da revista (do tamanho de uma meia Veja).

A TV Guia pagava muito bem, mas sofreu concorrência acirrada do grupo Manchete (que emplacou algo parecido nos seus veículos e que era dado de brinde). Era sofisticada, pois além da programação completa das TVs tinha belas reportagens. E havia chance de os copys assinarem artigos sobre temas variados, o que fiz algumas vezes. A revista tinha como editor o Woile Guimarães, que mais tarde foi para a Rede Globo. Macedo Miranda viera de lá e para lá voltou. Depois montou uma empresa própria e continua sendo um profissional respeitado e talentoso.

Na Ilustrada, um descanso para o copy chamava-se Paulo Moreira Leite, que depois ficou muitos anos na Veja, foi correspondente em Paris e hoje está na Época. Paulo tinha o texto perfeito e eu colocava a caneta de lado quando recebia uma reportagem dele. E na Ilustrada havia espaço para publicar tudo, diferente da TV Guia em que havia necessidade de inventar outro texto para caber as informações. O maior desafio situava-se no lead. Meu melhor lead, não canso de lembrar, foi sobre o Cyborg, o sujeito que era metade gente, metade máquina: “Todo mundo tem seu lado humano. O de Cyborg, é o esquerdo” .

Sinto falta, como leitor de jornais diários, principalmente nas versões on line, da função do copy. Noto erros grosseiros que seriam eliminados na primeira leitura. Passam lotado para a edição, que, parece, não lê mais nada. Se der erro, demita-se o repórter. Não deve ser assim. Jornalismo é como cinema, trabalho de equipe, com responsabilidade compartilhada. Tudo se soma para evitar transtornos aos leitores. Depois não se queixem da morte dos jornais. Não é a concorrência da internet que os leva à falência. É a falta de coisas básicas, como um bom copy-desk. Noto agora que meu afastamento das redações coincidiu com o fim da função que eu exercia. Fiz muita reportagem e fui editor várias vezes. Mas o que gostava mesmo era navegar nas matérias que vinham de todos os lados.

Não cuido mais de texto alheio. Quando me pedem, distribuo positivos, pois crítica hoje ofende e pode fechar o tempo. Tenho mais o que fazer. Mas posso ensinar o ofício, se é que existe gente que queira aprender uma função extinta. Copy é como o latim, que não é mais falado, mas é a base da língua. No mínimo, forma escritores. Ou pelo menos pessoas focadas na claridade e força das palavras.

RETORNO – 1. Dei uma copidescada no texto acima, ficou melhor, sem vários ruídos. Todo copy precisa também de um copy. 2. Acho que foram os preconceitos (além da eliminação de funções para aumentar os lucros) que derrubaram o copy. Achavam que o redator “dourava a pílula”, colocava cerejinha em cima do bolo da reportagem. Um soldado da Legião Estrangeira não doura pílula, afia adagas e azeita rifles. Outra iéia de jerico era confundir copy com revisor. Revisão é outro departamento, também importante, e que dá grande apoio ao copy. Mas as funções são diversas. O revisor não tem a autonomia do copy, não muda, apenas checa e corrige. Já o copy não pede licença. Deadline não espera.

Nei Duclós

domingo, 13 de maio de 2012

Feliz dia das Mães!!!

 



Dia das Mães         poesia           prosa
 

Dia da Abolição da escravatura (1888):           poesia               prosa





Mágica / Teatro
 A Magia do Riso, com Patrick, o Mágico, terá apresentação neste domingo, 

 às 15 horas, no SESC de Ramos. Entrada francaBlocos recomenda este 
 delicioso espetáculo, perfeito para homenagear as mães em seu dia.
Literatura

sábado, 12 de maio de 2012

Sapatos vermelhos





Bem que eu sabia que aquela história acabaria mal. Não deu outra.
Ah! Meu sapatinho tão lindo, bico fino, verniz novinho...
Não sou egoísta, juro, porém, desagrada-me emprestar sapatos.
Julgo-os mais pessoais do que as próprias calcinhas.
E também gosto de sapatos impecáveis, que não indiciem uso frequente.
No entanto, naquele fim de tarde, Beatriz – olhos pidões – precisava de uns sapatos vermelhos...
Sem eles não se sentiria segura para bem impressionar um amigo que conheceria naquela noite.
– Como? Chama de amigo alguém que nem conhece?
– Conheço-o pela Internet, ainda não nos vimos pessoalmente.
Fiz um bico de desolação, que desmanchei imediatamente antes que ela o notasse.
– Que roupa usará? – perguntei ainda na esperança de fazê-la desistir do vermelho.
– Ora, vou com a saia preta, blusa vermelha. Bolsa, tenho boa.
– Será que meu sapato servirá? Olhe, creio mesmo que lhe fique pequeno...
– Dou um jeito, amiga! Se ficar apertado, não me fará mal, vou ficar sentada.
Ai, meu Santo Antoninho! Não fará mal para ela, mas para o sapato... e eu que ainda nem o usara!
Antes que me esqueça, detesto que me chamem de amiga, nada me soa mais falso que o termo, em situações assim... de interesse unilateral.

Com dor no coração, fui ao armário e desloquei a caixa que continha o “xodó rubi”. Tratava -o assim porque só eu sabia o quanto me custara...valor que não revelaria a ninguém, ou me teriam como maluca. Sem contar o preço das passagens para Milão e as demais despesas da viagem (risinho nervoso).
Cuidadosamente, levantei a tampa e com a ponta dos dedos elevei o sapato até quase o nariz da moça.
Ele fez cara de espanto. Disse-me que nunca vira um par tão lindo quanto aquele.
Nem eu! – respondi com amargura.
Se por um lado achei bom ajudá-la, por outro, uma ruga de preocupação desenhou-se entre minhas sobrancelhas quando a vi sobre os saltos.
– Devolvo-lhe ainda hoje, na volta – disse ela, admirando-os. Deixo os meus aqui e depois passo para a troca, a menos que eu volte muito tarde... Nunca se sabe.
– Não, não, pode passar seja lá a hora que for. Estarei acordada, apanhei vários filmes. Quero vê-los todos, hoje.
– Veja lá, heim... detesto incomodar – disse, ao sair, como se já não tivesse incomodado o suficiente-.
E lá se foi e eu fiquei ouvindo: toque... terreque... toque... terreque...
A cada “terreque” sabia que os sapatos sofriam a inabilidade da moça para com a elegância; percebia que penavam com sua pouca desenvoltura em andar sobre saltos tão altos.
Entrei em casa para não me ocupar com o barulho que mesmo abafado persistia.
Tentei concentrar-me no filme.
O telefone tocou. Era Cecilinha, que com voz cantante, animada, convidava-me para a comemoração de seus quarenta anos. Uau! Programão!
Cecilinha era aquela com um quê de gente chique. Simpática, agradável, divertida. Delícia de presença e companhia. Decerto a festa seria um sucesso.
– Claro que irei, não a perderia por nada.
Enquanto lhe dava meu endereço para o tão bem-vindo convite, eufórica, já ia pensando no que usar, no que calçar... no que calçar... Ai!... O sapato. Todos os santos! Todos os deuses...
Desligado o telefone, do filme, não li mais frase nenhuma. Meus pensamentos apenas tinham uma direção.Olhei cinqüenta vezes para o relógio, que em meu pulso parecia parado.
Fiquei apavorada. Beatriz demorava. Quase meia-noite e quanto mais ficasse fora, mais riscos correriam meus sapatinhos.
Pensei, trêmula: "a moça deve pesar uns noventa quilos... Não, ela disse que emagreceu dois. Será que o sapato aguentará? É de boa qualidade, mas não sei se fora projetado para exagerados esforços, afinal, tão delicado..."
E, assim, com tais dados, preocupada, comecei a andar pela casa, abrindo e fechando portas e janelas. Foi aí que quase pulei de aflição:
Terreque... (Silêncio...). Terreque... (Silêncio...). Faltava o toque. Meu coração saltou.
Beatriz bateu de leve. Corri para abrir a porta. Minha percepção e intuição não me enganaram.
Lá estava ela. Calçava apenas um pé do sapato, que tinha o bico todo raladinho. O outro, sem o salto, trazia na mão esquerda...

------------------------------------------------

Quem, eu? Ir à festa da Cecilinha?
Nem pensar, Deus me livre!...
Maria da Graça Almeida

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Crônica de Maurício Cintrão e nascimento de Dalí, por Eliana Mora


Os chatos do engano

Não há limites para quem vive ao telefone. Depois do surgimento dos celulares, então, os incontinentes verbais alcançaram a glória. Já se escreveu muito sobre esses chatos. Falam durante as sessões de teatro ou cinema, brigam em voz alta no meio de restaurantes e lanchonetes, trocam intimidades nos corredores de shopping e banheiros públicos. De repente, é como se estivessem sozinhos. E quem estiver por perto que se lixe.
Sua inconveniência chega a extremos quando ligam errado. Meu celular é campeão em receber chamadas por engano. Tenho um quase xará telefônico que é meu karma. Chama-se Toninho. Deve ser xará no número do telefone. É a única explicação que encontro. Trabalha em alguma transportadora. Anda, vira e mexe, ligam no meu aparelho procurando por ele. E não adianta dizer que é engano. Ligam de novo. E de novo, e de novo. E reclamam comigo sobre a encomenda que não chegou!!!!
Desenvolvi uma técnica especial. Atendo. Perguntam pelo Toninho. Digo que este telefone não é dele e já recito o número do meu telefone. A seqüência é sempre um “ué, é esse número mesmo que eu tenho aqui”. Aí respondo “pois é, mas não é o telefone do Toninho”. Ouço ainda uns muxoxos, mas acaba a ligação.
Às vezes, a estratégia não funciona. Outro dia, depois de aplicá-la e desligar, o sujeito ligou de novo. “Toninho?”. Respondi paciente: “meu amigo, eu já disse que esse telefone não é do Toninho”. “Mas de onde é esse telefone?”  Estava bem humorado. Respondi: “este telefone é do Brasil”. Ficou um silêncio constrangedor do outro lado. Desliguei, é claro.
Mas é quando estou sem tempo que atraio os piores tipos de chatos. Como aquele cara que insistia em conseguir uma contribuição (do Toninho, é claro) para uma instituição de caridade. Para não perder a viagem, pediu prá mim, é evidente. Ou de uma senhora de voz gutural que dizia não ter paciência com essas brincadeiras e que urrava pela presença do meu xará numérico.
O caso mais exótico aconteceu com uma secretária amadora, que insistia em me chamar de “anjo”, “querido” e “meu amor”. Ela queria provar que eu estava errado. E que o número do meu celular pertencia ao Toninho. Dona de uma lógica de novela mexicana, ela insistiu uma, duas, três, quatro vezes. Eu já estava esperando as lágrimas.
Até que ela se excedeu: “não, amor, não é possível, eu anotei este número, foi ele mesmo quem me passou”. Como eu já não tinha mais nenhuma reserva de humor, dei a reposta definitiva: “então você não sabe escrever”.
Cheguei a ouvir o começo de um palavrão, mas desliguei. Sei que foi grosseiro, mas funcionou. A “anja” não ligou mais. E deve estar brava com o Toninho até hoje. Poxa, ele nem parecia ser tão malcriado.
Maurício Cintrão

...................º....................

Busco explicar um sonho em que pintei Dali
chamas dão-se ao vento em agonia
dissolução líquida
lúcida
tramas milenares transformam-se em contas
e se soltam desenham asas
para o tempo de um remoto dia

esquecidas
veias e luas em simbiose de vermelho
misturam-se a pedras destruídas e granito
flechas e facas atravessam tela e ar
renascem flor a explodir um sol escuro
estrela nova de um mundo estranho

impuro
pressentimento é caos e nuvem
radiativa
sopro derramado num corpo de mulher
coração a fraquejar risco e tecido
teares
tons distorcidos
[e o tempo escorre]

esta noite a delirar
diria ter pintado uns brilhos de cristal indestrutível
na loucura e no negror

do teu olhar
                                                          Eliana Mora
5/DEZ/2005
Para Salvador Dali

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Rogel, Olinto Gerônimo e concurso literário!

 

As portas do FNFi

A primeira pessoa que encontrei na porta da Faculdade foi Anísio Teixeira.

Mas eu não sabia. O primo de meu pai, Gervásio, me levou até bem perto do prédio e lá fui eu, com 18 anos de idade.

– Aqui é a Faculdade Nacional de Filosofia? – perguntei para aquele senhor mal-vestido, de óculos velhos de aros “de tartaruga”. Pensei que era o porteiro. Era Anísio Teixeira, conforme depois soube, meu professor de Filosofia da Educação.

Ele me orientou, da porta, e eu fui inscrever-me no Vestibular, recém-chegado de Manaus.

Não passei, naquele primeiro vestibular.

No dia da prova de francês, estava com febre de 40 graus e D. Marcella Mortara me reprovou, ou melhor, inutilizou minha prova com um risco diagonal e escreveu como nota: “Ilegível”, e aplicou um zero.

Sempre tive uma péssima letra. Até hoje. Eu devia ter estudado caligrafia, como se faziam os antigos.

Por isso, estudei ali no Curso Vestibular da própria Faculdade, gratuito, por um ano. E foi bom.

O curso era do Diretório Acadêmico (um ano depois eu era professor ali), e os professores eram os alunos... mas uns gênios.

Fui aluno do Antônio Pio (onde andará), de latim. Lia latim e grego como eu hoje leio jornal. Anos depois foi aposentado precocemente vitimado por misteriosa doença. Fui aluno de Antonio Augusto, depois assistente do Celso Cunha. Ali só havia gênios.

Eu morava em quartos alugados e comia no Calabouço, restaurante da UME, União Minicipal dos Estudantes, que ficava nas imediações do Aeroporto Santos Dumont.

O Aterro estava sendo feito.

Tive a sorte de passar em primeiro lugar (foi o que me disse depois Aluísio Trinta) para o Vestibular de Letras Clássicas. Pura sorte.

Havia 20 vagas, só passamos creio que 12. Provas escritas e orais.

Celso Cunha, na prova, mandou que justificássemos o verso de Camões: “Mas porém a que cuidados”. Ele queria se explicasse o “mas porém”.

E por aí foi.

O meu quarto, no Maracanã, dava para um beco e uma casa abandonada.

Dali eu só tinha a visão daquele muro velho e, à esquerda, uma árvore antiga daquela rua Eurico Rabelo.

Como eu precisava de mesa, comprei um “bureau” usado, antigo, de madeira preta, que pertencera a um ministério. Era gigantesco.

O Maracanã ficava em frente, e nos grandes jogos cada gol soava como uma onda que se elevasse saída de um vulcão furioso.

Era possível entrar no Maracanã vazio, ir até o gramado, olhar do centro para a periferia, para aquelas galerias monstruosas e vazias, descritas por Clarice Lispector num belo conto.

Passei a explorar o Rio, de ponta a ponta.

Nos dias livres tomava um ônibus e visitava Caxias, Meriti, São Gonçalo etc.

Chegava no fim da linha, pegava o ônibus de volta.

Foi aí que desenvolvi o espírito de viajante. Mais tarde percorri o Nordeste, o Sul, e depois o mundo, Katmandhu, Sydney, Paris...

O espírito de aventura. Que perdi, depois de velho.

A porta da FNFi foi minha entrada para o mundo.

Rogel Samuel

……………………)(………………………

Nascimento de Antonio Olinto (1919, Ubá/MG), Tânia Du Bois

Concurso literário:

 Poesias de Amor, Academia Alquimia das Letras (prazo: 1/11)

Literatura

Poesia

 Temática mensal: mulher, Sérgio Gerônimo

Prosa

 Coluna quinzenal de Rogel Samuel

segunda-feira, 7 de maio de 2012

"O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater" - Josh Billings

Dia do Silêncio

"O homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio" - Mahatma Gandhi

"O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater" - Josh Billings

Nascimento de Zanoto (In Memoriam)

Concurso literário:

Poesias de Amor, Academia Alquimia das Letras (prazo: 1/11)

Literatura

Poesia

Temárica mulher/mãe: Rudyard Kipling (Índia)

Prosa

Coluna trimensal de Marli Berg: "Livros em Blocos"

Se vivo, Zanoto faria aniversário hoje…

 

Zanoto, um grande amigo da literatura.

Escritor mineiro, Presidente de honra vitalício da Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências (AVLAC), poeta - livros publicados: Emoçoes (1994), e Desejos (1995) -, porém gostava de ser mais conhecido como jornalista: no Correio do Sul, jornal de Varginha, assinava a coluna "Diversos Caminhos" desde 1950. Desde a década de 80 tinha coluna fixa em Blocos - Jornal Cultural (impresso) e, a partir de 2004, mantinha a coluna "Diversos Caminhos em Blocos", em Blocos Online, único site a tê-lo como colunista, uma vez que era resistente a escrever na Internet. Faleceu em 21 de janeiro de 2011. Suas crônicas têm estilo inconfundível, por nelas ele reunir opiniões, trechos de livros, vivências diárias e cartas, poemas, fragmentos e informações sobre todas as tendências literárias contemporâneas. Foi um dos maiores divulgadores literários do país, de todos os tempos.

domingo, 6 de maio de 2012

Festa literária em Santa Teresa acontece neste fim de semana

 

Pelo quarto ano consecutivo, as ladeiras do tradicional bairro carioca de Santa Teresa, na região central dacidade do Rio de Janeiro, serão ocupadas por um megaevento de literatura, que unirá lançamentos de livros, debates e mesas-redondas a várias atividades artísticas. A edição 2012 da Festa Literária de Santa Teresa (Flist) promete atrair hoje (5) e amanhã (6) um público de 20 mil pessoas, segundo a estimativa dos organizadores do evento, promovido pelo Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat), com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura.

Como nas edições anteriores, a Flist 2012 tem um homenageado, que desta vez é Joel Rufino dos Santos. Historiador, professor e escritor, com extensa obra publicada e já agraciado com o Prêmio Jabuti, ele é considerado uma das referências sobre cultura africana no Brasil. No ano passado, Joel Rufino esteve no evento como espectador, para o lançamento do que seria o último livro de Bartolomeu Campos de Queirós, homenageado da Flist 2011 e que morreu este ano. Nas edições anteriores (2009 e 2010), as homenagens foram para os escritores Lygia Bojunga e Manoel de Barros.

Em um ano marcado por centenários de grandes nomes da literatura brasileira, a Flist vai homenagear também os de Nelson Rodrigues e Jorge Amado, além dos 90 anos de Darcy Ribeiro. Seis espaços culturais espalhados pelo bairro abrigarão as atividades da festa literária, das 9 às 18h, sábado e domingo. O principal deles é o Parque das Ruínas (Rua Murtinho Nobre, 169), onde ocorrerão a abertura e o encerramento do evento, oficinas de literatura, o café literário e os diversos tributos a escritores brasileiros.

Outros eventos serão realizados na Casa Amarela (Rua Hermegildo de Barros, 163), na vizinha Casa Paschoal Carlos Magno/ Teatro Duse (Rua Hermenegildo de Barros, 161) e na Biblioteca Popular Municipal de Santa Teresa (Rua Monte Alegre, 306). Todas as atividades são gratuitas. Para as crianças, a Flist terá, além do lançamento de diversos livros infantis, contação de histórias e sarau de poesias.

O evento atrai não só os moradores de Santa Teresa, conhecido reduto de artistas e intelectuais, mas também cariocas de outros bairros e visitantes da cidade, alguns especialmente para a Flist. “Nós já tivemos caravanas de professores que vieram da Região dos Lagos, em alguns casos com o objetivo específico de assistir a uma mesa redonda de seu interesse, ou conhecer um autor de sua preferência”, conta Estela Azevedo, do Ceat, uma das coordenadoras da Flist.

Segundo ela, a troca de experiências é uma das marcas da festa do evento.“Há muito intercâmbio entre os escritores já estabelecidos e os jovens interessados em literatura. Os mais novos aprendem com os mais velhos, e vice-versa. Cada um com sua experiência”, diz.  

Fiel à tradição boêmia e carnavalesca do bairro, a festa literária vai acabar em samba. O encerramento, às 18h de amanhã, será com um show do Cordão do Boitatá, conhecido bloco de rua do carnaval carioca.

A programação completa pode ser consultada no site www.flist.org.br.

http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/05/05/festa-literaria-em-santa-teresa-acontece-neste-fim-de-semana/

NA MAZURKA


Morava num palácio -— estranha Babilônia
De arcadas colossais, de impávidos zimbórios,
Alcovas de damasco e torreões marmóreos,
Volutas primorais de arquitetura jônia.
Assim, quando surgia em meio aos peristilos
Descendo, qual mulher de Séfora, vaidosa,
Envolta em ouropéis, em sedas, luxuosa,
Cercam-na do belo os místicos sigilos!
E quando nos saraus, assim como um rainúnculo,
O lábio lhe tremia e o olhar, vivo carbúnculo,
Vibrava nos salões, como uma adaga turca,
Ou como o sol em cheio e rubro sobre o Bósforo,
— nos crânios os Homens sentiam ter mais fósforo...
Ao vê-la escultural no passo da Mazurka...
      

Cruz e Souza

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Programação cultural nos últimos dias de Bienal do Livro Amazonas

 

Bienal do Livro conta com variedade de títulos e produtos

Bienal do Livro conta com variedade de títulos e produtos (Evandro Seixas)

A Bienal do Livro do Amazonas já recebeu mais de 100 mil pessoas e continua a receber mais visitantes até o próximo domingo (6), durante a programação cultural desta primeira edição. Além dos diversos de estandes de livros, a Bienal traz, também, conversas com autores, leituras de obras e até diversão para os pequenos. É só escolher o que mais agrada e curtir o mundo dos livros!

Nesta sexta-feira (4), para o público infantil, as apresentações dos contos acontecem a partir das 11h. O espaço super movimentado vai ter “O sapo e a princesinha”, “Juca e a serpente do rio”, “Ananse e o baú de histórias” e “A casa do coelho”.

Já às 19h30, a Literatura Amazonense contemporânea entra em pauta no “Tacacá Literário”. Allison Leão e Vera do Val falam sobre os motivos que levaram a alguns nomes literatura da região a fazer sucesso no País e no mundo.

A programação de sábado começa com lançamentos de livros, a partir das 10h, no estande da Secretaria do Estado de Cultura (SEC). A programação do local vai até às 20h30, com o “Café Literário”, no estande da Livraria Concorde.

Neste dia também acontecem a apresentação de “Gente dos Seringais”, de autoria de Álvaro Maia, no “Livro Encenado”. O ator Leonardo Vieira é quem vai ler um trecho da obra, a partir das 18h.

No “Tacacá Literário”, às 19h30, o tema é “A sedução da crônica”, com Arlindo Porto e Affonso Romano de Sant’Anna. Durante o bate-papo, será discutida, entre outras coisas, a importância das crônicas no periódicos.

Educação, leitura de poesias e debate prometem agitar o espaço “Território Livre”. Às 14h acontece a mesa mediada pela jornalista Ana Célia Ossame que discutirá sobre os pontos negativos e positivos do Enem, com Daniel Iliescu e Carlos Eduardo Gonçalves.

Às 16h, Sérgio Cardoso media a mesa que tem Antonio Calloni e Celdo Braga, que lerão poemas e poesias e vão conversar com o público sobre o estilo. A partir das 18h, tem “Saindo do Armário”, mesa mediada pela jornalista Mazé Mourão e com a presença de Regina Navarro Lins e João Silvério. Ali, os três falam sobre tudo o que permeia a homossexualidade.

Nesta sexta (4) tem lançamento de livros, a partir das 10h. O estande da SEC promete ser um dos mais movimentados, com o lançamento de obras de autores locais, como “A Diabólica Mary Spears”, de Denni Sales, às 20h.

http://acritica.uol.com.br/vida/Programacao-cultural-Bienal-Livro-Amazonas-Manaus-Amazonia_0_694130585.html

Noel Rosa, aniversário de morte

 

Falecimento de Noel Rosa (1937, RJ)

 Dia do Sertanejo, "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense

Literatura

Poesia

 Temática mensal: Campestres, Alberto Caeiro

Prosa

 Prosa poética: Karen Debértolis