segunda-feira, 13 de agosto de 2012

“LA GIOCONDA” NA INAUGURAÇÃO DO TEATRO AMAZONAS

 

“La Gioconda”, que inaugurou o Teatro Amazonas, é um dramalhão no estilo de Victor Hugo, seu libreto é inspirado num conto de Hugo, o “Angelo, tirano de Padoue”, mas o enredo é confuso e complexo. E longo. O cenário está em Veneza do Século XVII.

Logo na Introdução há um grande baile comemorativo à vitória de um nobre na corrida de barcos. Todos dançam e bebem, uma população inteira. Muitos atores. É o exemplo da Grande Ópera italiana. Com vários papéis principais, um para cada voz.

Há uma verdadeira população no palco e um corpo de baile. Ópera caríssima.

A inauguração do teatro não foi simples.

A inauguração do TA foi ameaçada pela boataria dos inimigos do Governador Fileto Pires Ferreira, que espalharam a mentira de que a estrutura do teatro era perigosa e que o prédio estava prestes a desabar.

Mas até hoje está de pé.

O povo se retraiu. Houve medo. O Governo teve de reduzir o preço dos ingressos para conseguir lotar o teatro.

Houve uma estranha “frieza” na população, que antes brigava na disputa de cadeiras do Éden Teatro, agora se recusava a ir ao novo teatro.

Mas, apesar de tudo, a inauguração do teatro foi um sucesso de público.

Não consegui ler nenhuma crítica teatral da época que me descrevesse a estreia.

Com os dados de que dispus, descrevi a inauguração, no meu romance Teatro Amazonas.

A ópera de Amilcare Ponchielli fica mais interessante do meio para o fim.

O balé introduzido no espetáculo – a dança das horas – ganhou muita popularidade até hoje.

Assiste-se ali a luta do dia contra a noite.

O único “problema” de “La Gioconda” é sua duração.

Ela é muito longa.

O que não era problema para a classe dominante europeia daquela época, que não trabalhava e ia ao teatro para exibir-se e encontrar os amigos nos longos intervalos.

Ninguém ia à ópera somente para assistir a um espetáculo, mas para cumprir um ritual da alta sociedade mundana, exibir seus novos vestidos, usar suas joias, bisbilhotar as cortesãs da moda, fofocar nos ouvidos das amigas e inimigas, e espalhar boatos maliciosos.

Em “Guerra e paz” de Tolstói fica isso muito bem descrito.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

100 anos de Jorge Amado




Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.
Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões.

Gonçalves Dias


Nascimento de Gonçalves Dias (1823, Caxias/MA) 
   
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 Temática vida!: Luiz Roberto Júdice 
   
 Prosa 
 Coluna quinzenal de Rogel Samuel 
  

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Rubens da Cunha e Novais Neto

 

 

A máscara

                 Pessoa vem de personae que é mascara em latin. Máscara vem do árabe sáhara,que é trapaça, burla, ou palhaço. Pessoa, personagem, máscara, palavras cujas origens se confundem num passado remoto e que, ainda hoje, andam grudadas. Somos todos máscaras. Somos todos personagens a cada instante. Tolos personagens feitos pelos discursos, ora mentirosos, ora propensos a uma sinceridade também fictícia. Somos todos máscara, esse objeto ancestral. Esse segundo rosto que inventamos para chamar a atenção dos deuses. Ainda hoje, em recônditos perdidos, velhos mascareiros entram em transe ao compor uma máscara. É como se fosse um ritual sagrado, um espaço de magia que se instaura entre o homem e a imagem que logo será seu rosto. É como se o rosto não fosse suficiente, como se a máscara natural que carregamos fosse muito frágil para dar conta do mistério: é preciso aumentar o rosto, enfeitá-lo, endurecê-lo com madeira, couro, tecido, ou outro material que vá além da carne.
                 No teatro a máscara exerce um papel grandioso. A máscara acompanha a milênios a história dos palcos: dos gregos aos personagens da Comedia dell'Arte, a máscara é um objeto cênico difícil, quase aterrorizante para os atores que tem que se esconder atrás delas e, ao mesmo tempo revelar-se, expor-se, pois que a máscara é poder, libera o poder que carregamos dentro. Não apenas o ator. Qualquer um que coloque uma máscara, que seja destituído de sua identidade principal ganha poder. Não é por acaso que a máscara acompanha bandidos e heróis. Os bandidos mascaram-se para que o crime seja efetuado sem identificação. Os heróis mascaram-se para que, no anonimato, a justiça seja feita e os louros não sigam para um homem ou mulher, mas para a máscara. É assim com o Máscara, o Zorro, o Batman, o Homem Aranha e dezenas de outros heróis da cultura pop. Heróis mascarados, heróis como o Super Homem que consegue mascarar-se com um óculos, justamente quando não quer ser um herói. Se o nariz vermelho do clown é a menor máscara do mundo e, ao ser colocado por um bom ator, a pessoa física desaparece, surgindo então um dos personagens mais fascinantes da arte, não é de surpreender que o óculos de Clark Kent tenha o mesmo poder de fazer desaparecer o homem mais poderoso do mundo, afinal é o poder transformador e hipnotizante da máscara.
                 A mesma máscara que entra no mundo do sexo, do fetiche, daquilo que não pode ser revelado à luz do dia, a máscara dos escuros do desejo, desejo acompanhado de dor, desejo do anonimato, da transformação do corpo em apenas corpo, pedaço incógnito de carne e amor. Somente a máscara tem esse poder, o de revelar escondendo, o de trazer à tona o que a razão insiste em manter nos baixos. A máscara desmascara qualquer um, põe a nu o que somos: de psicopata a bailarino, de amante a agressor, uma máscara sobre a máscara do que somos pode nos levar mais perto da verdade do somos.

Rubens da Cunha

 

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HOMEM

Não sou grande guerreiro
não tenho nervos de aço
o coração não é de leão
e a torcer dou o braço.
Que cabra-macho sou eu
se tanto temo assombração
não sou valente nem covarde
e não ando na contramão.

Não sou um cara-de-pau
não tenho palavra de rei
mas tenho vergonha na cara
e não há rastro onde pisei.

Não gosto de ser machista
e não sou homem sem agá
louvo ainda o feminismo
mas de galo sei cantar.

Minha vida não é um livro
mas quase sempre sou aberto
só não gosto das mudanças
se me ocultam o lugar certo.

                              Novais Neto

Do livro: Ave corrente, Ed. do autor, 1990, Salvador/BA

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Palavras em Blocos

Olimpíada, os extremos

Primeiro essa observação quase estapafúrdia: as olimpíadas derivam dos ritos funerários setecentos anos antes de Cristo. Parece um paradoxo: a excelsa celebração do corpo é um contraponto à decomposição do próprio corpo. É a vida se vingando da morte. Todas culturas têm ritos sofisticadíssimos para exorcisar a morte. Seg undo um ditado antigo: os mortos governam os vivos. Segundo os maldosos: alguns governantes já morreram há muito, apenas se esqueceram de deitar o caixão.
Seja como for, a olimpíada é o momento de esplendor da vida. É o momento em que o herói, por um instante, é imortal. Por isto, lhe conferem o ouro - o brilho, a perenidade, a glória. E nós assistimos a isto porque queremos ver a superação de nossas deficiências. Até os deficientes fisicos têm sua olimpíada. Eles, todos nós, nos superarmos através do outro.
Daí que as olimpíadas sejam o momento em que os extremos se encontram, se chocam, se abismam e nos levam às alturas ou nos prostram aterrados. Ali está, por exemplo, aquela coreana lutadora de esgrima. Derrotada. Bastou um segundo para desgraçar-lhe quatro anos de preparação, destruir o sonho com o extasiante ouro olímpico. Ela está sentada com o florete abatido, inútil. Perplexa. A derrota a assombrou. Os juizes dizem que a oponente venceu, que ela tem que sair do pódio. Ela não sai. Fica ali 45 minutos. Destroçada. O estádio inteiro, as televisões do mundo inteiro de olho nela, esperando que assimile a derrota.
Ela tem razão, a derrota é aceitável. Derrota é morte. E ela foi ali pela vida.
E ficamos divididos.
Se as olimpíadas fossem só um festival de vitórias, seria um tédio. Onde a surpresa? O imprevisto? Onde o fracasso? O fracasso nos interessa, nos fascina. O fracasso nos torna novamente humanos.
Às vezes, por um instante, somos deuses. A chinesinha vem, dá aqueles saltos ornamentais fabulosos e temos certeza que ela é de borracha. Não é possivel que um se humano dê tantas piruetas e caia com a precisão de um objeto ou como se fosse uma figura projetada pelo computador. Estamos em êxtase.
Mas vem outra atleta. E parece que está tudo bem, E está. Por enquanto. De repente, ela dá um salto sobre aquela barra de dez centimetros e se estabaca como um mamulengo. Tornou-se um ser humano falível, desprezivel, irremediável. E temos pena dela. Temos pena de nós mesmos. Por um momento fomos deuses. E fracassamos.
As multidões vão aos estádios festivamente, mas estão à mercê desse paradoxo. Mesmo os que parecem olhar desatatendos a televisão num bar ou restaurante estão de olho no acaso. Eles querem testar no outro os seus próprios limites. Quando alguém bate um récorde, me provou que eu posso ir além de mim mesmo. Quando alguém fracassa, me ensinou que eu não sou deus. sou um reles mortal. Sou, como dizia Eça de Queirós - "um pobre homem de Póvoa de Varzim" ou como disse Fernando Pessoa, “="não sou nada, nunca serei nada não posso querer ser nada. À parte isto tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Dizem que na Grécia antiga havia quatro instituições que organizavam a vida social: a política, a religião, a poesia e o atletismo. E o herói que recebesse mais prêmios na olimpíada merecia um poema de Pindaro. Certa vez um desses poemas foi eternizado em ouro no Templo de Minerva. Pois bem. Lá vem o Michael Phelps como peito cheio de medalhas. O homem é ouro puro. Destronou uma russa que era campeã de vitórias, e hoje é avó.
Me digam: se eu perguntasse a ele , em plena pós modernidade, se quer um poema, o que ele diria?

Affonso Romano de Sant'Anna

Crônica publicada no Estado de Minas/Correio Braziliense em 5/8/2012, e divulgada no facebook pelo autor

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RETORNO AO PAI

Exigi os teus domingos
e me disseste que não
dias sem cotas pedidos
dias sem lápis na mão
Quis tomar os teus domingos
vida inteira foi um não
maldisse meus ternos pagos
com tua submissão
a meses que terminavam
dentro de outro embutidos
nas cotas de teu patrão

Quis de ti o que deveste
e me disseste que não
sonhei o herói dos domingos
naquela figura tiste
de silêncio e evasão
de vidas tão separadas
de amores na contramão

E embora não conte mais
foi bom ter sido teu filho
caixeiro das Minas Gerais
de Aracitabas e Ubás
de domingos sem poesia
de vida perdida a dias
de morte na solidão

Conheci os teus domingos
agora assumo meu não

  Sergio Campos

Do livro Ciclo amatório, João Scortecci / Chico Moura Editores, SP, 1986

domingo, 5 de agosto de 2012

Cielo, Bronze e o Mensalão...

 

Cielo não tem que chorar, não. Ele é um campeão olímpico e agora arrebata o Bronze. Uma honra! Seu choro é por não ter ganho a medalha de ouro, porém é um vencedor. Veja, quantas medalhas o Brasil ganhou mesmo, até agora? Calma Cielo. Você já faz parte da melhor de nossas histórias. Agora, Mensalão, Dirceu, Anões do orçamento, Propinas, Pizzas, Mensaleiros, Corrupção, vigarice... Não adianta, Cielo. Você tem do que se orgulhar, e nós de tudo o que você fez. Erga a cabeça, lute, e saiba que pode dormir tranquilo, porque de você guardaremos o nosso melhor... Não volta para o Brasil, não. Aqui você vai ter de conviver com essa onda de positivismo, essas verbas que sempre faltam e essa lama que deixa um cheiro intragável no ar de nossa pátria. Cielo, você faz parte do panteão de heróis que nos faltam à beça por aqui: por qual razão chorar? Choremos nós, um povo que tem de ouvir de altos juristas que nem tudo que é ilegal, é ilegal e que mesmo se sendo desonesto, tudo se faz porque os fins justificam os meios. Cielo, erga a cabeça: você é nosso herói. Isso conta, num país em que a verdade, as crenças e a virtude são esmagadas pela voracidade de uns estúpidos. Parabéns Cielo!

Flavio Gimenez