sábado, 31 de agosto de 2013

A uma passante

     

    Frank Eugene, Menuet, 1900

     

    A rua em derredor era um ruído incomum,
    longa, magra, de luto e na dor majestosa,
    Uma mulher passou e com a mão faustosa
    Erguendo, balançando o festão e o debrum;

    Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.
    Eu bebia perdido em minha crispação
    No seu olhar, céu que germina o furacão,
    A doçura que embala o frenesi que mata.

    Um relâmpago e após a noite! — Aérea beldade,
    E cujo olhar me fez renascer de repente,
    So te verei um dia e já na eternidade?

    Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!
    Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
    Tu que eu teria amado — e o sabias demais!

    Charles Baudelaire

                   
(Enviado por Leninha)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pierre Curie para Marie Sklodowska

 

10 de Agosto de 1894


Nada poderia dar-me maior prazer do que obter notícias suas. A perspectiva de permanecer dois meses sem ouvir acerca de você tem sido extremamente desagradável. Isto é para dizer que sua pequena nota foi mas de que bem-vinda.
Eu espero que você tenha armazenado um estoque de bom ar e espero que você volte para nós em Outubro. No que me diz respeito eu penso que não irei a lugar nenhum. Eu estarei no país onde passarei o dia todo em frente à minha janela aberta ou no jardim.
Nós temos nos prometido — não temos? — sermos pelos menos bons amigos. Se você não mudar de idéia! Pois não há promessas que sejam obrigatórias; tais coisas não podem ser ordenadas à vontade. Seria uma coisa ótima, mesmo assim eu dificilmente ouso acreditar, passar nossas vidas perto um do outro, hipnotizados por nossos sonhos; seu sonho patriótico, nosso sonho humanitário e nosso sonho científico.
De todos nossos sonhos o último é, eu acredito, o único legítimo. Eu quero dizer que nós somos impotentes para mudar a ordem social e mesmo se não fôssemos não saberíamos o que fazer; iniciar a ação, não importa em que direção, nós nunca estaríamos seguros de não fazermos mais mal do que bem, ao retardarmos alguma evolução inevitável. Do ponto de vista científico, ao contrário nós podemos esperar fazer alguma coisa; o chão é mais sólido aqui e qualquer descoberta que possamos fazer, não importa quão pequena permanecerá como conhecimento adquirido.
Veja como isto funciona: concordamos que seremos grandes amigos, mas se você deixar a França em um ano seria uma amizade totalmente platônica, esta de duas criaturas que nunca se veriam uma a outra novamente. Não seria melhor para você permanecer comigo? Eu sei que esta questão a enraivece e que você não deseja falar disto novamente — e então, também, eu me sinto tão completamente indigno de você sob todos os pontos de vista.
Eu pensei pedir sua permissão para encontrá-la por acaso em Friburgo. Mas você ficará lá, a não ser que eu me engane, somente um dia e neste dia naturalmente você pertencerá aos nossos amigos Kovalskis.
Acredite-me seu muito devotado

Pierre Curie

domingo, 25 de agosto de 2013

ATÉ LÁ DENTRO

 

               Quando eu ainda pensava em felicidades, felicidade era gesto despachado de me despir amassando peças de cima de baixo, ninguém recolher! o pessoal gritando tira tira tira tira mais! eu nuinha até lá dentro da silva e incólume, isso, incólume! de bunda arrepiada na praça e o mundo cheia de roupa no colo... Teve dia, ah, teve dia do meu sorriso escorrer por baixo, e menstruei abertamente meus perfumes de gardênia, leite coalhado e aborto mal curado... é fazia mal não, era um bálsamo o sabonete barato de lavatório da cidade, eu me banhava, me felicitavam, essa mulher vai longe! vai longe, não fui, nem cheguei a recolher meu soutien cor de carne embolado lá na calçada... Passou passou passou! uso sutiã, anágua e meia de liga todo santo dia, quando me dá na telha uso combinação, tenho sido feliz algumas vezes me usando no avesso, ainda me dou ao luxo de exibir-me alinhavos.

Beatriz Escórcio Chacon

sábado, 24 de agosto de 2013

Chegadas e partidas…

 

Nasceram neste dia…

  • 1899 – Jorge Luis Borges, escritor argentino (m. 1986).
  • 1929 – Yasser Arafat, líder, ativista e político palestiniano (m. 2004).
  • 1948 – Jean Michel Jarre, compositor francês.

Morreram neste dia…

  • 1540 – Parmigianino, pintor italiano (n. 1503).
  • 1954 – Getúlio Vargas (na fotografia), político brasileiro (n. 1882).
  • 1956 – Kenji Mizoguchi, cineasta japonês (n. 1898).

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Dia do Internauta

 

A data escolhida para homenagear a Internet e seus milhões de usuários é o dia 23 de agosto, mês em que se comemora o surgimento do World Wide Web, o famoso WWW. É em virtude dessas letras que se torna possível o acesso à rede mundial de computadores de forma ágil, simples e eficaz.
No dia 6 de agosto de 1991, na Suíça, que o projeto WWW foi publicado por Tim Berners-Lee, nos laboratórios da CERN (Organização Pan-européia de Pesquisa de Partículas). Por esta razão, o mês de agosto marca a estreia da web como um serviço publicado na Internet. Esta criação permitiu que qualquer usuário pudesse utilizar a rede de comunicação mundial Internet, interconectando todos os documentos digitalizados do planeta, tornando-os acessíveis em qualquer lugar do globo. Trata-se, provavelmente, da maior revolução na história da escrita desde Gutenberg e a invenção da imprensa.
Porém, foi o dia 23 de agosto que ficou conhecido mundialmente logo depois que uma imensa passeata, com o objetivo de celebrar importância do ciberespaço, reuniu milhares de pessoas na Praça Campo de Bagatele, após o IGF Brazil (Internet Governance Fórum).
De acordo com dados do Ibope Nielsen Online, existem mais de 64,8 milhões de internautas no Brasil, e, a cada dia, cerca de 500 mil pessoas entram pela primeira vez na web. Mais de 20 horas de vídeo dão disponibilizados no YouTube a cada minuto, e, a cada segundo, é criado um novo blog. Em 1982, havia 315 sites na Internet, hoje, existem mais 174 milhões. Por internauta, entende-se o usuário de Internet, aquele que navega na Internet.

http://www1.portoweb.com.br/pwdtcomemorativas//default.php?reg=30&p_secao=16

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

ESCOLHE A ESCOLA

 

Não deixa a tua cozinheira, senhora do sabor e da arte do saber - o que convém à mesa -, perdurar como incidadã analfabeta. Escolhe a escola.
Sabes aquele garoto junto ao sinal vermelho que te cessa o trânsito da vida? Aquele acrobata amador que faz bailar sobre a cabeça meia-dúzia de bolas ou garrafas? Não dê a ele esmolas, abra-lhe horizontes, aplaca-lhe a fome de humanidade. Escolhe a escola.
Se empregas um jovem de cujo trabalho recebes teu bem-estar, não o deixes absorvido a ponto de impedi-lo de ler, aprimorar sua cultura e seu preparo intelectual. Escolhe a escola.
Não te entregues à ociosidade inútil de tua aposentadoria, teu tempo absorvido por programas televisivos de mero entretenimento, os dias a escorrer céleres a apressar-te a velhice, como se as folhas despidas no outono não mais retornassem no vigor da primavera. Escolhe a escola.
Se enfrentas a atroz dúvida de como presentear os mais jovens, sem a certeza de que haverás de agradá-los, invista no futuro deles, não dês embrulhos, e sim matrículas. Escolhe a escola.
Evita que a tua mente se entorpeça por falta de uso ou uso rotineiro de tuas ocupações habituais. Amplia a tua visão, aprende um idioma ou a tocar um instrumento musical, matricula-te no curso de trabalhos manuais ou na oficina de cerâmica. Escolhe a escola.
Há por toda parte muitos cursos que ultrapassam os currículos convencionais, de culinária e bordado, ikebana e yoga, natação e tai chi chuan; cursos por internet e TV, correspondência e manuais de autodidatismo. Escolhe a escola.
Se encontras um adolescente no meio rural, entregue precocemente à labuta diária, sem outra cultura senão a que deriva de seus afazeres e da convivência com os guardiães da memória local, ajuda-o a aprender que o mundo é mais vasto que a sua aldeia. Escolhe a escola. Todos temos algo a aprender e ensinar. Não guardes para ti os teus conhecimentos, as tuas habilidades, tantas informações a adularem tua auto-estima. Socializa-os, divulga-os, partilha com o próximo o teu saber. Escolhe a escola.
Se tens tempo livre e podes trabalhar como voluntário, animando crianças em seus deveres escolares, treinando jovens em suas habilidades profissionais, entretendo idosos com as tuas histórias e leituras, não deixa enterrados os teus talentos. Escolhe a escola.
Se freqüentas ou tens contato com uma escola, procura fazer com que ela dialogue com outra escola, troque experiências e conhecimentos, intercambie alunos e professores, tornando-se escolas irmãs. Tece entre elas uma rede solidária. Escolhe a escola.
Saibas que todas as crianças e todos os jovens envolvidos com criminalidade estão fora da escola; e muitos são trabalhadores precoces, desprovidos de infância e juventude, direitos trabalhistas e salário justo. A favor de uma nação saudável, de cidadania plena, escolhe a escola.
Ao escolher a escola, luta para que todos tenham acesso a ela, e que o ensino seja repartido gratuitamente como os raios solares. Empenha-te para que a escola seja de qualidade, os professores bem preparados e remunerados, as instalações adequadas e limpas, os recursos fartos, os equipamentos atualizados. Mas escolhe a escola. Não se faz cidadania sem escolaridade, nem democracia sem cultura centrada nos direitos humanos e na prática intransigente da justiça. Não se aprimora o humano sem ética e valores infinitos enraizados na subjetividade. Escolhe a escola.
A escola nem sempre se resume a uma construção retalhada em salas de aulas, preenchida por alunos devidamente matriculados. Faz-se escola sob a tenda indígena ou a lona do assentamento, no quintal de casa ou na sala de uma igreja, na garagem ao lado ou no cinema cedido às aulas matinais. Escolhe a escola.
Doenças endêmicas, como a dengue ou a febre amarela, a leishmaniose ou a xistosomose, seriam facilmente evitadas se as pessoas tivessem suficiente educação para cuidar da higiene de si e do ambiente em que vivem, dos artefatos que manipulam e dos alimentos que consomem. Escolhe a escola.
E ao escolher a escola, não permitas que em torno delas os políticos inflem seus discursos demagógicos. Exige deles - nossos servidores públicos – compromissos efetivos e assinados, de modo que a educação, de qualidade e para todos, seja considerada prioridade neste país. Ao votar, escolhe candidatos comprovadamente empenhados em transformar o Brasil numa imensa escola voltada ao fortalecimento da cidadania e ao aprimoramento da democracia.

Frei Betto

 

Enviado por Clarice Villac

 

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Leninha

 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

De quem este Rio é filho

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Cantou Bandeira. Depois do auge das passeatas, depois do Papa Francisco, depois do frio polar (para nós), o Rio de Janeiro lentamente está voltando a ser o que era dantes, a cidade maravilhosa, porque o sol voltou a brilhar.

Louvo o santo padroeiro
– Bravo São Sebastião –
Que num dia de janeiro
Lhe deu santa defensão.

Esta cidade tem de ter sol, para viver. Como planta. O povo desta cidade não sorri se a chuva ou o vento lhe bate à porta. Ele não atende, não abre.

Louvo a Cidade nascida
No morro Cara de Cão,
Logo depois transferida
Para o Castelo, e de então
Descendo as faldas do outeiro,
Avultando em arredores,
Subindo a morros maiores
— Grande Rio de Janeiro!

No Morro Cara de Cão, onde moro, o Rio é sol, é mar, é chope, é lugar comum. Eu sou um amazonense bem carioca, bem nascido nas ruas e praias, que já cantou o pernambucano Manuel Bandeira, na “ Louvação à Cidade do Rio de Janeiro”.
Cidade de sol e bruma,
Se não és mais capital
Desta nação, não faz mal:
Jamais capital nenhuma,
Rio, empanará teu brilho,
Igualará teu encanto.
Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.

O sisudo, o tímido Machado de Assis escrevia: “ É meu costume, quando não tenho que fazer casa, ir por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar à cidade de São Sebastião, matar o tempo. Não conheço melhor ofício, mormente se a gente se mete por bairros excêntricos; um homem, uma tabuleta, qualquer basta a entreter o espírito, e a gente volta para casa "lesta e aguda", como se dizia em não sei que comédia antiga”.

O Gilberto Gil mandou aquele abraço e disse:

O Rio de Janeiro
Continua lindo
O Rio de Janeiro
Continua sendo
O Rio de Janeiro
Fevereiro e março

Mesmo José de Alencar, o homem de seu mar, escreveu: “A cidade do Rio de Janeiro, com seu belo céu de azul e sua natureza tão rica, com a beleza de seus panoramas e de seus graciosos arrabaldes, oferece muitos desses pontos de reunião, onde todas as tardes, quando quebrasse a força do sol, a boa sociedade poderia ir passar alguns instantes numa reunião agradável, num círculo de amigos e conhecidos, sem etiquetas e cerimônias, com toda a liberdade do passeio, e ao mesmo tempo com todo o encanto de uma grande reunião... temos na Praia de Botafogo um magnífico boulevard como talvez não haja um em Paris, pelo que toca à natureza. Quanto à beleza da perspectiva, o adro da pequena igrejinha da Glória é para mim um dos mais lindos passeios do Rio de Janeiro.

Alô, alô, Realengo
Aquele Abraço!
Alô torcida do Flamengo
Aquele abraço

Alô moça da favela
Aquele Abraço!
Todo mundo da Portela
Aquele Abraço!
Todo mês de fevereiro
Aquele passo!
Alô Banda de Ipanema
Aquele Abraço!

E Pedro Nava, famoso morador da Glória, comentou: “Flanar nas ruas do Rio é prazer refinado. Exige amor e conhecimento. Não apenas o conhecimento local e o das conexões urbanas. É preciso um gênero de erudição. É preciso saber colocar os pés nos locais de Matacavalos onde pisou Osório, na calçada de São Clemente onde andou Tamandaré, nesta Glória onde perpassou o vulto de Capitu — na geografia citadina real e imaginária, no Rio velho de Manuel Antônio de Almeida, Alencar, Macedo, Artur e Aluísio — irmãos Azevedo; de Lima Barreto, João do Rio, Marques Rebelo, Drummond.

Machado, em A mão e a luva , descreve e comenta: “A Corte divertia-se, apesar dos recentes estragos do cólera —; bailava-se, cantava-se, passeava-se, ia-se ao teatro. O Cassino abria os seus salões, como os abria o Clube, como os abria o Congresso, todos três fluminenses no nome e na alma. Eram os tempos homéricos do teatro lírico, a quadra memorável daquelas lutas e rivalidades renovadas em cada semestre, talvez por um excesso de ardor e entusiasmo, que o tempo diminuiu, ou transferiu, — Deus lhe perdoe, — a coisas de menor tomo."

No dia da libertação do escravos, disse Lima Barreto que fazia sol: “Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do grande casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todos aqueles milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenço, vivas... Fazia sol e o dia estava claro. Jamais na minha vida, vi tanta alegria. Era geral, era total; e os dias que se seguiram, dias de folganças e satisfação, deram-me uma visão da vida inteiramente de festa e harmonia”.

Assim penso que é uma glória o simples estar nas ruas dessa cidade que a todos acolhe. E assim a cantou numa bela manhã de praia Carlos Drummond Andrade:

Umidade de areia adere ao pé.
Engulo o mar, que me engole.
Valvas, curvos pensamentos, matizes da luz
azul
completa
sobre formas constituídas.
Bela
a passagem do corpo, sua fusão
no corpo geral do mundo.
Vontade de cantar. Mas tão absoluta
que me calo, repleto.

Bilac escreveu: “Num dos últimos domingos vai passar pela avenida central um carroção atulhado de romeiros da Penha; e naquele boulevard esplêndido, sobre o asfalto polido, entre as fachadas ricas dos prédios altos, entre as carruagens e os automóveis que desfilavam, o encontro do velho veículo em que os devotos urravam, me deu a impressão de um monstruoso anacronismo”.

Louvo o Padre, louvo o Filho
E louvo o Espírito Santo.
Louvado Deus, louvo o santo
De quem este Rio é filho.

Rogel Samuel

domingo, 18 de agosto de 2013

O Pinto do Boi, o Saci e a Bomba Atômica

 

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Estávamos nos preparando para sair quando minha amiga Teca soltou a pergunta:

__ E aí, Chico, o que você acha de eu levar o pinto do boi?

__Ótima idéia, Teca, tudo a ver, vai fazer sucesso! Bora levar esse pinto pra reunião!

Ela apanhou sua bolsa, o celular, o pinto seco do boi, que é um objeto cilíndrico de 60 cm de comprimento, parecendo feito de plástico reciclado, trancou a porta da casa, entramos os dois no carro e partimos em direção à cidade de Caçapava, onde nos esperava uma reunião do Núcleo Içá Bitú, o braço regional da Comissão Paulista de Folclore para o Vale do Paraíba.

A cada mês, um grupo de pessoas se reúne para discutir estratégias que visam a salvaguarda do folclore na região. O responsável por disparar os emails convidando a turma sou sempre eu. Contabilizo os que confirmam, a fim de que o dono da casa possa ter uma previsão do número de bocas que se farão presentes para o almoço, que é gentilmente oferecido pelo anfitrião.

Para esta reunião em Caçapava, uma das participantes, a minha amiga Lucia, que mantém o verdadeiro Sítio do Pica Pau Amarelo, cogitou da conveniência de levar à reunião, 4 japoneses que estavam passando férias em sua casa. A primeira coisa que me ocorreu foi querer saber se eles falavam o português. “Não, Chico, somente um deles fala o português e mesmo assim mal e má…”, foi a resposta que ela me deu. Não querendo contrariar minha amiga Lucia, uma virginiana arretada, eu disse que tudo bem, mas ela que cuidasse de entreter os seus japoneses, já que, certamente, eles não teriam muito o que fazer durante nosso encontro.

No caminho para Caçapava, fui discutindo com Teca o assunto dos 4 japoneses que nos aguardavam na reunião. Eu havia dito sim para a Lucia sem consultar o grupo, o que será que eles iam achar? Será que os japoneses iriam ficar sentados durante 3 horas olhando para nossas caras ou iriam interagir? Como seria pinto de boi em japonês? Numa tentativa de integrar os orientais, eu já estava bolando uma mímica sonora para que eles entendessem o que era o pinto do boi, quando me lembrei que nossa amiga Misae iria estar presente à reunião. Misae nasceu na ilha de Okinawa e sabe falar japonês, o que me deixou mais relaxado naquele momento. Pelo menos os japoneses não iriam se sentir deslocados…

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A casa da nossa anfitriã em Caçapava, a Darcy, é um misto de museu com loja de antigüidades. Ela foi juntando bonecos de pano, enfeites religiosos, imagens de santos, missais que o povo não quer mais e enfeitando com eles os cômodos da casa. É difícil achar um espaço livre, sem objetos, nas paredes daquela casa. Tudo chama o olhar, mas o que mais me interessou foi um santinho de Nossa Senhora Aparecida que na verdade é uma propaganda política de uma figura local. Disse a Darcy que, antigamente, os políticos patrocinavam romarias à cidade de Aparecida e forneciam os santinhos com seus nomes para as eleições vindouras. Descobri, assim, a origem do nome “santinho“, que é o panfleto que hoje em dia mostra o rosto dos políticos, mas que de santo mesmo não tem nada…

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Quando chegamos à casa da Darcy, os japoneses ainda não estavam lá. Mas já haviam chegado o seu João, um carreiro que no século XXI ainda lida com bois, e o Carajás, um senhor que também já mexeu com bois de carro na infância. A Teca, que também é da roça, segurando o pinto do boi nas mãos com a maior sem cerimônia do mundo, foi logo perguntando aos dois se eles sabiam do que se tratava. Eles, educadamente disseram que não… Claro que conheciam, mas preferiram não correr o risco de ferir susceptibilidades.

Não demorou muito e chegou uma senhora que eu não conhecia e que veio de carona com seu marido. Descobri que a Madalena não só era casada com um nissei, como também falava japonês. Muita coincidência! Nessas alturas eu relaxei de vez, com as duas falantes para servir de intérpretes. Mas o melhor estava ainda por acontecer.

Lúcia chegou com os seus 4 japoneses, três senhoras e um menino de 11 anos, depois de ficar perdida pela cidade. Essas pequenas localidades do Vale do Paraíba tem o dom de emaranhar o turista em suas ruelas estreitas e com sinalização precária. O aumento do numero de carros tem sido sempre mais rápido do que a necessária adequação das vias.

Pois bem, feitas as apresentações, deu-se início à nossa reunião e tão logo pode, Lucia tomou a palavra para apresentar seus amigos e disse que uma de suas amigas, a Yumiko, iria mostrar um trabalho sobre o saci. Saci? Será que eu tinha escutado bem? Uma japonesa do Japão mostrar um trabalho sobre o saci? Lucia não havia me falado nada sobre isso…

Yumiko, que já viveu um tempo no Brasil, é uma professora de português para filhos de brasileiros, os dekasseguis que voltaram para o Japão. Essas crianças nasceram no Japão e apesar de terem pais brasileiros, não tiveram contato com a cultura brasileira. Para ensiná-los, Yumiko usa os personagens do Sítio do Picapau Amarelo, dos quais ela é fã. Tanto ela gosta da criação infantil de Monteiro Lobato que seus filhos japoneses foram criados com histórias de Dona Benta! Disse ela que isso proporcionou a eles uma grande liberdade e uma alternativa ao estrito comportamento japonês.

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O trabalho que Yumiko nos mostrou eram desenhos coloridos em cartolina, de uma história do saci, feitos por essas crianças, com legendas em português e japonês. Eu fiquei impressionado com o interesse de uma professora japonesa pela cultura brasileira. A outra japonesa, fiquei sabendo depois, faz bicos de pena pelos lugares que viaja. Havia um livro dela com desenhos de São Paulo, um primor de traço que retrata o Mercado Municipal, a igreja da Sé, o Pátio do Colégio e outros pontos conhecidos da cidade. Depois ela leva para o Japão e mostra o Brasil pelos olhos dela. Maravilha de se ver! Na pressa, acabei  não tirei fotos do livro, mas minha amiga Dóris Bonini foi mais cuidadosa e clicou o livro (grato Dóris!)

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Não me lembro como foi, mas o assunto do pinto do boi veio à tona e o mesmo correu as mãos de todos os presentes. Explicou-se que o objeto é usado como relho, um chicote feito para dar nos animais de montaria e quando os japoneses ficaram sabendo do que era feito, fizeram cara de espanto recatado mas depois caíram na risada. Alguém quis saber como se diz pinto em japonês e aí foi a vez dos brasileiros rirem. Pinto em japonês é tim tim, exatamente o mesmo que dizemos quando brindamos com bebidas! Pronto, os japoneses estavam integrados de vez.

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Num clima de festa, fomos comer o delicioso almoço preparado pela família da Darcy no fogão de lenha. Polenta, arroz, feijão, farofa, carne ensopada, frango assado, salada de rúcula com tomate, não teve quem não repetisse o prato! De sobremesa havia taiada, maria mole, sorvete e mais alguma coisa que não me lembro… Foi difícil parar de comer!

Lá pelas tantas, apareceu uma japonesa que eu ainda não tinha visto. Será que ela tinha ficado dormindo no carro e levantou para comer? Não, tratava-se da Noêmia, uma vizinha da Darcy que foi convidada justamente por causa da presença dos amigos da Lucia.

Dona Noêmia logo entabulou conversa com os outros japoneses. Curioso, eu tentava entender o que diziam e Yumiko, percebendo meu interesse, ia traduzindo para mim. Noêmia viera ao Brasil com 25 anos, para arrumar casamento com japoneses que tinham se fixado no país. Como a maioria dos imigrantes eram homens, era preciso importar mulheres do Japão para casarem-se com eles. Foi assim que Noêmia chegou à cidade de Caçapava, casou-se com um agricultor e ali ficou até hoje.

Noêmia contou também que escutou as explosões nucleares que deram fim à Segunda Guerra, três estouros assustadores que ficaram para sempre em sua memória. Não sei porque, naquele momento senti uma profunda reverência por aquela mulher, talvez pelo fato de ela haver presenciado um momento de grande dor da humanidade. Fiquei emocionado e em silêncio agradeci a Lucia por ter tido a idéia de trazer gente do outro lado do mundo para um encontro que em princípio deveria tratar da cultura local. Gente que com certeza valoriza muito mais nossa cultura que muitos de nós brasileiros.

Comentando com a amiga Misae sobre a coincidência de estarem reunidos ali tantos japoneses, ela me chama à atenção para o fato de que no dia seguinte, 06 de agosto, comemora-se o sexagésimo oitavo aniversário das bombas atômicas que caíram sobre o Japão determinando o fim da Segunda Guerra Mundial…

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CHICO ABELHA

 

http://chicoabelha.wordpress.com/2013/08/06/o-pinto-do-boi-e-a-bomba-atomica/

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Millôr, Caymmi e Bukowsky

 

 Nascimento de Millôr Fernandes (1923, Rio/RJ), Glauco Mattoso

 

Falecimento de Dorival Caymmi (2008, Rio/RJ)

 

 Nascimento Henry Charles Bukowsky (1920, Andernack/Alemanha), Graça Graúna

 

Poesia

 

Temática cores: Roberto Piva

 

Prosa

 

Temática: "Haverá paz?", Felipe Cerquize

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Euclides e Nietzsche…

 

 

 

Falecimento de Euclides da Cunha (1909, Rio de Janeiro/RJ), Gustavo Dourado

 

Falecimento de Nietzsche (1900, Weimar/Alemanha)

 

Poesia

 

Temática mensal Homem: Yêda Schmaltz

 

Prosa

 

Temática mensal Internet: Mariza Lourenço

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Desfamiliares

 

 

Amigos de Blocos Online,

Dia 20 estarei autografando meu livro Desfamiliares em Belo Horizonte, no Espaco Cultural Letras e Ponto. Será a partir das 19.30h.

Espaço Cultural Letras e Ponto

Rua Aimorés, 388 - salas 501 / 502 (esquina com Rua Ceará)

Funcionários - Belo Horizonte - MG

Espero rever os amigos mineiros e conhecer os poetas que se correspondem comigo pela Internet.
Desde já agradeço a divulgação e a presença.
Abraços a todos,
Leila

Brecht

 

Falecimento de Alberto da Cunha Mello (2007, Recife/PE)

 

Falecimento de Bertold Brecht (1956, Berlim/Alemanha)

 


Dia do Combate à Poluição

 

Literatura / Prosa: Leila Míccolis

 

Literatura

 

Poesia

 

Temática mensal Homem: Yêda Schmaltz

 

Prosa

 

Temática mensal Internet: Mariza Lourenço