sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal!


Que haja paz e muita luz! Que nessa noite tão especial, todos possam encontrar a harmonia que tanto precisam!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Segredos e Sussurros - Fabrício Carpinejar

Minha mãe nunca me permitiu criar gatos.
Surgia uma ninhada no pátio e já roubava leite na geladeira e servia num pires. Arrumava uma casinha em caixa de papelão, juntava trapos, cobertas de meus olhos e fazia travesseiros de toalhas antigas. Acendia a pressa de orfanato em todas as lâmpadas da garagem.
Não me interessava perguntar como os filhotes chegaram em casa. Do terreno baldio? Do telhado?
Era impelido a atendê-los. Peludos, fofos, mirrados, miados febris. O gato é um passarinho que engoliu as asas, por isso salta tão alto.
Ofecerer o pratinho de leite me deslumbrava de gentileza. Se fui pai na infância deve ter sido equilibrando a pesada garrafa de vidro.
Minha paternidade durava uma tarde, escurecia, a mãe descobria o esconderijo pela movimentação secreta e nervosa, por mais que sufocasse os sussurros com os irmãos. Ela ralhava que não poderia adotá-lo. Que não cuidava nem de mim. A despedida doía no osso. Eu já tinha dado até nome. Acenava ao chão, sem coragem de erguer o pulso.
Abandonei muitos felinos antes da maioridade.
Na semana passada, vi um gato entrando na residência de minha mãe.
Gerou raiva. Agora ela decidiu cuidar de um. E unicamente para ela, no momento em que mora sozinha.
Desencadeou um matagal de ciúme. Cocei a barba para podar o desconforto.
Um gato preto com listras brancas. Passeando pelo pátio, correndo pela sala, fugindo de mim. Brilhoso, gordo. Ela deve alimentá-lo com requinte e fartura. Sacana!
Não juntei coragem para questioná-la, alisar o trauma, arrancar desculpas de sua horta. Encabulei, regressando aos meus nove anos.
Acompanhei a expedição do bichano pelos aposentos. Sentava no sofá e logo pulava para a varanda. Apresentava uma intimidade com as frestas que não alcancei quando pequeno. Dono de patas arteiras e vôos repentinos.
Telefonei para o meu irmão Rodrigo pronto a desabafar. Ele me dissuadiu da mudança de hábitos, respondeu que a mãe não possuía gato de maneira nenhuma. Não seria possível. Não correspondia ao seu feitio.
Mesmo?
Na manhã seguinte, repeti a visita. E nada do gato pelos corredores. Nenhum pêlo, pegada, alma de arrancada. Nem comida no armário.
Atravessei o portão convicto das alucinações. A carência da infância produzia seus efeitos colaterais.
Ao virar o corpo em direção à rua, enxerguei uma sombra matutando a grama. Era ele!
Manhoso, entrou pela janela emperrada do porão. Aquela janela que não tem como lacrar.
Entendi que a mãe tem um gato, mas ela não sabe.
Não deixa de ser uma deliciosa vingança.

Fabrício Carpinejar

Reproduzido do blog do autor: http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br

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Coluna de Bárbara Bandeira Benevento: RaBicho, em defesa da vida animal

sábado, 17 de dezembro de 2011

Três estrelas de uma vez...

Neste sábado, perdemos três estrelas das artes: Joãozinho Trinta, Sérgio Britto e Cesária Évora. Leiam a vida dos três numa bela e artística trajetória. Que descansem em paz!

O pássaro de luz, Joãozinho trinta...

O corpo do carnavalesco João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trinta, de 78 anos, chegou às 16h ao Museu Histórico e Artístico do Maranhão, em São Luís, onde deve ser velado.

O carnavalesco morreu neste sábado (17) por volta das 11h em São Luís. Ele estava internado desde o dia 3 deste mês, em estado grave.

Segundo o assessor de imprensa de Joãosinho, o sepultamento deve ocorrer às 10h da segunda-feira (19). O corpo será velado no Museu Histórico e Artístico do Maranhão entre sábado e domingo. No domingo, está prevista uma missa às 10h30 e um culto às 13h30. À noite, parte um cortejo para o Teatro Arthur Azevedo, no centro da cidade. Na segunda, o enterro deve ocorrer no cemitério do Gavião.

"Ele vai ser enterrado com a roupa, um terno branco, que ele usaria para ser homenageado pela Beija-Flor. Ele viria no último carro", disse Biné Gomes, assessor de Joãosinho. O enredo 2012 da Beija-Flor é sobre o Maranhão.

Estado grave
O Hospital UDI, em São Luís, informou que o carnavalesco morreu às 9h55 horário local (10h55 de Brasília), em razão de um choque séptico, infecção generalizada, e apresentava quadro de pneumonia e infecção urinária.

Até esta sexta, ele estava com um "quadro de insuficiência respiratória e sepse, evoluindo com instabilidade hemodinâmica". A cirurgia a que ele se submeteria na sexta havia sido descartada no final da tarde.

A carreira do carnavalesco Joãosinho Trinta
João Clemente Jorge Trinta, conhecido como Joãosinho Trinta, nasceu em São Luís, em 23 de novembro de 1933. Trabalhou como escriturário na capital maranhense até se mudar para o Rio de Janeiro, em 1951, onde fez dança clássica no Teatro Municipal e montou peças como “O Guarani”, de Carlos Gomes, e “Aida”, de Giuseppe Verdi.

Ele começou a carreira de carnavalesco no Salgueiro, como assistente de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Joãosinho foi campeão em 1965, 1969 e 1971. Dois anos depois, em 1973, ele assume como carnavalesco da escola de samba e fez parceria com a artista plástica Maria Augusta. Com o enredo “Eneida: amor e fantasia” eles conquistaram o terceiro lugar no carnaval do Rio de Janeiro.

No ano seguinte, em 1974, ele iniciou carreira solo e faturou o título daquele ano pelo Salgueiro, com o enredo "O Rei de França na Ilha da Assombração". A segunda conquista aconteceu em 1975 com o trabalho "O Segredo das minas do Rei Salomão."

Joãosinho Trinta saiu do Salgueiro após problemas com a diretoria da escola de samba e seguiu para a Beija-Flor, onde teve uma carreira de sucesso e de títulos com o parceiro figurinista Viriato Ferreira.

Com ousadia e enredos luxuosos, Joãosinho Trinta passou a ser chamado de gênio e reinou no Rio de Janeiro conquistando os títulos do carnaval de 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983. Ele ainda teve destaque com dois trabalhos carnavalescos que ficaram com a segunda colocação, em 1986 e em 1989.

 

27 de fevereiro de 2006 - Afastado do Carnaval desde 2004, em razão de um derrame, Joãosinho apareceu na Marquês de Sapucaí em um carrinho motorizado junto a outros cadeirantes no desfile da Vila Isabel, escola campeã daquele ano (Foto: Dida Sampaio/AE)

 

Joãosinho em 2006, afastado do Carnaval havia dois anos em razão de um derrame, apareceu na Marquês de Sapucaí em um carrinho motorizado junto a outros cadeirantes no desfile da Vila Isabel, escola campeã  (Foto: Dida Sampaio/AE)

Censura
O trabalho “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia” criou polêmica com a Igreja Católica por colocar na Sapucaí um carro alegórico com o Cristo Redentor vestido como mendigo, em 1989. A imagem foi censurada e, sem perder a criatividade, Joãosinho Trinta resolveu cobrir o Cristo com plástico preto e a inscrição: “Mesmo proibido, olhai por nós.”

Joãosinho também venceu os carnavais do grupo de acesso com o Império da Tijuca, em 1976, e Acadêmicos da Rocinha, nos anos de 1989, 1990 e 1991. Pela Unidos do Peruche, ele também teve uma passagem em 1989 e em 1990.

O carnavalesco ganhou outro título no Rio de Janeiro com a Viradouro, em 1997, com o enredo “Trevas! Luz! A explosão do universo.”

Em 2001, Joãosinho Trinta levou para a Sapucaí um homem voando em um foguete portátil como parte do enredo “Gentileza, o profeta do fogo”, pela Grande Rio, conquistando a sexta colocação.

 

31 de março de 1989 – Joãosinho causou polêmica com uma imagem do Cristo Redentor vestido de mendigo na Beija-Flor; a escola foi vice-campeã naquele ano (Foto: Arquivo/AE)

 

31 de março de 1989 – Joãosinho causou polêmica com uma imagem do Cristo Redentor vestido de mendigo na Beija-Flor; a escola foi vice-campeã naquele ano (Foto: Arquivo/AE)

Inovação financeira
Ele conquistou o 3º lugar no carnaval de 2003, com o enredo “Nosso Brasil que Vale”. Por este trabalho, Joãosinho foi considerado o primeiro carnavalesco a aceitar merchandising e patrocínio para compor o enredo. A então empresa Vale do Rio Doce, que hoje se chama apenas Vale, ajudou nos custos da escola de samba. Neste mesmo ano, ele gravou o documentário “A Raça-Síntese de Joãosinho Trinta”, que mostrava os preparativos do carnaval na Grande Rio.

Em 2004, horas antes da apuração do carnaval, Joãosinho Trinta foi demitido. Com o enredo “Vamos vestir a camisinha, meu amor”, a escola ficou apenas em 10º lugar. A diretoria, à época, alegou que o carnavalesco tinha fugido do tema original.

Despedida da Sapucaí
A última participação de Joãosinho Trinta no carnaval do Rio de Janeiro foi em 2005, na Vila Isabel, com o enredo “Singrando em mares bravios... E construindo o futuro”, que lhe rendeu a 10ª colocação.

 

14 de fevereiro 2010 – Afastado, Joãosinho assiste ao desfile da Unidos da Tijuca na Marquês de Sapucaí. A escola foi campeã do Carnaval com o enredo "É Segredo!", sob o comando do carnavalesco Paulo Barros (Foto: Wilton Junior/AE)

 

Em 2010, Joãosinho assistia ao desfile da Unidos da Tijuca na Marquês de Sapucaí. A escola foi campeã do Carnaval com o enredo "É Segredo!", sob o comando do carnavalesco Paulo Barros(Foto: Wilton Junior/AE)

Em 2009, ele ajudou a cidade de Cavalcante (GO), com pouco mais de 10 mil habitantes, a fazer carnaval local. Mesmo com a saúde frágil, ele desenhou fantasias e orientou as costureiras a fazer os trabalhos. Ele improvisou barracões em galpões de fazendas, organizou a bateria e montou cinco blocos carnavalescos. A apresentação contou com descendentes de escravos, que apresentaram a sussa, dança típica quilombola.

Atualmente, Joãosinho Trinta vivia no Maranhão e atuava em projetos da Secretaria de Cultura do Estado para a comemoração dos 400 anos de São Luís, em 2012.

Problemas de saúde
Em 1993, após sofrer uma isquemia, ele não participou do carnaval.

Em novembro de 2004, ele sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Em julho de 2006, sofreu outros dois AVCs, foi internado no Rio de Janeiro e transferido para o Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.

Em maio deste ano, ele passou 37 dias internado no Hospital UDI, em São Luís, com quadro de pneumonia e insuficiência cardíaca.

Em 2011, Joãosinho Trinta se dedicava, junto ao governo do Maranhão, à produção da festa em celebração aos 400 anos de São Luís, a serem comemorados no ano seguinte. “Joãozinho pensou num grandioso projeto, que agora deverá ser levado adiante, até como forma de homenagem a esse maranhense que marcou a história da arte brasileira”, informou neste sábado a governadora Roseana Sarney, por meio de nota oficial.

do site G1: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2011/12/corpo-de-joaosinho-trinta-chega-museu-para-velorio-no-maranhao.html

O grande herói do teatro brasileiro!

 
Morre o ator Sérgio Britto
'Perco o meu irmão', diz Fernanda Montenegro em velório de Britto. Atriz foi ao velório neste sábado e relembrou a amizade com o ator. Sérgio Britto morreu em decorrência de uma insuficiência respiratória.

A atriz Fernanda Montenegro se emocionou no velório do ator Sérgio Britto, que morreu neste sábado (17), após uma insuficiência respiratória aguda. “Não perdi um amigo. Perco o meu irmão. Fazíamos parte de uma família artística muito íntima e particular, formada por mim, Britto, Ítalo (Rossi), Fernando (Torres) e Nathália Timberg. Uma família de muitos trabalhos e convivío geral. Infelizmente só sobrou eu e Nathália”, disse a atriz durante a cerimônia realizada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Outros atores e colegas de Britto também lamentaram a perda. Mais cedo, em entrevista por telefone à GloboNews, os atores Juca de Oliveira e Walmor Chagas, emocionados, comentaram o legado deixado pelo amigo.

"Sérgio Brito foi a maior vocação do teatro brasileiro. Há pessoas que têm talento, mas não tem a paixão, o amor, a presença definitiva dele com relação ao teatro. Ele deixa uma obra impressionante. Um dos maiores atores dos últimos tempos", declarou Juca.

O apresentador Serginho Groisman, via Twitter, escreveu: "Morreu hoje o ator e diretor Sérgio Britto. O teatro, o cinema e a televisão agradecem seu talento."

A Secretária de Cultura, Adriana Rattes, diz a tinha uma relação de grande admiração por Sérgio Britto, que foi seu professor na juventude.

"A imagem que fica de Sérgio Britto é de um homem de vivacidade, ironia e inteligência agudas. Ele não era somente uma grande pessoa, mas também um grande artista, um grande talento, um mestre. É uma grande perda para o Rio, que hoje também perdeu o carnavalesco Joãosinho Trinta. Este é o momento de reverenciá-los, lembrá-los. Eles eram dois patrimônios da cultura que fizeram do Rio o que ele é hoje", disse Adriana.

Fernanda, que chegou ao local pouco antes das 16h, destacou ainda que Britto era um homem extremamente generoso, honesto e de muita liderança. “Ele sempre liderava, mas não colonizava. Era uma pessoa excepcional, porque viveu uma grande vida, principalmente em um país como o nosso, carente de valores éticos e comportamentais”, comentou a atriz.

Chegada do corpo de Sérgio Brito à Assembleia Legislativa do Rio (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)

Chegada do corpo de Sérgio Brito à Assembleia Legislativa do Rio (Foto: Alba Valéria Mendonça/G1)

Segundo informações da Alerj, o local permanecerá aberto para as homenagens até às 19h e será reaberto às 7h do domingo. A previsão é de que o corpo seja transportado até o Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, na Zona Portuária, às 9h, onde será enterrado às 11h, no jazigo da família (o G1 informou anteriormente que o enterro seria realizado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul, segundo nota divulgada pela Alerj; mais tarde, a sobrinha do ator, Marília Britto, corrigiu a informação e divulgou o local correto).

Sérgio Britto estava internado no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, desde o dia 14 de novembro com problemas cardíacos e faleceu às 6h35 de insuficiência respiratória aguda. A informação foi confirmada pela assessoria da Rede D'Or.

Ator, diretor e empresário brasileiro, Britto dedicou a vida aos palcos desde 1945, quando participou de uma montagem da peça "Romeu e Julieta", no Teatro Universitário. Atuou e dirigiu mais de 130 peças. Trabalhou no grupo Teatro dos Doze, no Teatro de Arena, no Teatro Brasileiro de Comédia e fundou, ao lado de Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Fernanda Montenegro e Fernando Torres, o Teatro dos Sete, no final dos anos 60.

Foi também o criador do Grande Teatro Tupi e do Teatro dos Quatro, no Rio de Janeiro, acompanhado por Paulo Mamede, Mimina Roveda e José Ribeiro Neto.

Site: http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/12/perco-o-meu-irmao-diz-fernanda-montenegro-em-velorio-de-britto.html

Cesária Évora, agora, canta nas nuvens...

Morre a cantora cabo-verdiana Cesaria Évora

Ela tinha 70 anos e ficou conhecida como a 'diva dos pés descalços'.

Évora havia abandonado definitivamente os palcos há três meses.

 

A cantora cabo-verdiana Cesária Évora (Foto: AFP)

 

A cantora cabo-verdiana Cesária Évora (Foto: AFP)

A lendária cantora cabo-verdiana Cesaria Évora morreu neste sábado (17) em um hospital de Cabo Verde, anunciou o ministro da Cultura deste país, Mario Lúcio Sousa.

Évora, de 70 anos e cantora de fama internacional, abandonou definitivamente os palcos há três meses por problemas de saúde.

A cantora sofria há vários anos de diversos problemas e chegou a ser submetida a sérias operações, incluindo uma cirurgia cardíaca em maio de 2010.

"Não tenho forças, não tenho energia. Gostaria que dissessem aos meus admiradores: sinto muito, mas agora preciso descansar. Lamento infinitamente ter que me ausentar devido à doença, gostaria de dar ainda mais prazer aos que me seguiram durante tanto tempo", disse Évora ao jornal francês Le Monde ao anunciar o fim de sua carreira, no dia 23 de outubro.

Esta ex-cantora de bares na cidade de Mindelo, na ilha de San Vicente, tornou-se subitamente uma celebridade mundial com seu terceiro disco, "Miss perfumado", em 1992, e pouco depois realizou dois shows triunfais em Paris.

Évora ficou conhecida como a "diva dos pés descalços", título de seu primeiro disco (lançado em 1988), por cantar sem sapatos em suas atuações, em homenagem aos mais pobres, e as letras de suas canções frequentemente eram dirigidas a essas pessoas.

Embora o sucesso tenha chegado tarde para esta artista, que, na época, já tinha mais de 50 anos, ele nunca parou de crescer.

A artista recebeu em 2009 a insígnia da Ordem da Legião de Honra da França depois de mais de 45 anos de carreira musical, incluindo seus 14 álbuns.

Depois de se retirar dos palcos, Évora comemorou com simplicidade seus 70 anos no dia 27 de agosto.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Estante Blocos

A BÍBLIA: ROTEIRO DE LEITURA EM FORMA NOVA, CRIATIVA E ORIGINAL
O maravilhoso mundo da ficção está em alta, o que é uma boa notícia para os que gostam do gênero, e querem dar um bom e inesquecível presente de Natal às pessoas queridas. Portanto, apreciadores do romance, alegrem-se, pois as livrarias estão recheadas de bons lançamentos, e escolhemos alguns para sugerir a vocês – seja para ler ou dar de presente de Natal. Confira.

No início da década de 90, o jornalista, crítico de música clássica do jornal O Globo, escritor e acadêmico Luiz Paulo Horta, um dos maiores especialistas em religião da imprensa brasileira, passou por um período difícil. Ao superá-lo, ele achou que deveria retribuir o que havia recebido de bom, criando um grupo de estudos bíblicos – segundo ele, uma leitura em grupo do mais instigante livro que existe, base da civilização ocidental judaico-cristã: a Bíblia
Tive o privilégio de ser uma das pessoas do primeiro grupo que ia, todas as segundas-feiras, à casa de Luiz Paulo, no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, para ouvir não só a leitura de um determinado texto bíblico, mas também as vastas e profundas pesquisas que nosso anfitrião fazia, levando-nos a conhecer grandes autores, estudiosos de Bíblia e religião, muitos deles estrangeiros, cujos textos ele traduzia, com paciência e competência, para nosso maior esclarecimento sobre o tema da noite. As reuniões duravam cerca de duas horas, e quando o cheiro delicioso do café preparado por D. Ana, fiel escudeira de Luiz Paulo e sua mulher Cecília (falecida em 2005) chegava à sala, sabíamos que a leitura estava terminando, e que iríamos para a sala ao lado, onde o lanche e o cafezinho, além do bate papo sobre o que havíamos aprendido, coroavam uma noite deliciosa, de aprendizagem e mergulho profundo no berço da história da civilização ocidental.
Estas leituras aconteceram até 2003. A habilidade de Luiz Paulo ao transmitir conhecimento gerava dúvidas, questionamentos, perguntas, enfim, todo um jogo de raciocínio extremamente produtivo, e que, certamente, influenciou a vida de todos nós, tornando-nos mais atentos, perceptivos e coerentes com a realidade deste Livro que é uma verdadeira biblioteca, composto de diversos volumes que retratam toda a gama da emoção e comportamento humano, um grande romance composto por pequenos romances, a saga do Povo de Israel, (Antigo Testamento) e a História de Cristo, o Messias (Novo Testamento).
Foi uma experiência e tanto, que deveria ser ampliada para um maior número de pessoas. Nascia assim, a idéia de colocá-la em livro, concretizada em A Bíblia, Um Diário de Leitura (Zahar), que mostra a íntima ligação que existe entre o Antigo e Novo Testamento, e o modo como um remete, constantemente, ao outro. A idéia, genial, de pinçar alguns dos mais significativos personagens bíblicos, e transformá-los em “chaves”, que nos permitem abrir a porta que leva a compreensão de realidades bíblicas difíceis de serem entendidas, traz à luz Eva, Abraão, Jacó, Moisés, Débora, Sansão, Davi, Salomão, João Batista e Maria, entre muitos outros extremamente significativos.

Vários são os autores dos livros bíblicos, que têm, cada um deles, uma mitologia própria, uma linguagem simbólica que é preciso desvendar para poder usufruir de toda sua beleza e verdade. Como peça literária, a Bíblia é riquíssima: aventura, perigo, erotismo, amor, traição, ascensão e queda de impérios, assassinatos, adultérios, todos os gêneros literários, enriquecidos pela ampla gama de emoções e comportamentos que caracterizam o gênero humano. O Novo Testamento conta uma História: a de Yeoshua, filho do carpinteiro José, e da jovem Maria, que salvou a humanidade, e mudou, completamente, a face do planeta – para sempre.

O grande mérito de A Bíblia, Um Diário de Leitura, escrito em estilo elegante, embora de facílima leitura, é permitir a qualquer pessoa penetrar na compreensão deste livro fascinante e aparentemente complicado que é a Bíblia, e deleitar-se com personagens que são emblemáticos, e continuam, até hoje, muitos séculos depois, a fazer parte de nossa vida. Imperdível, a ser lido uma centena de vezes.

1. Bibliografia / Celebridades

Crítico de arte e arquitetura, historiador de arte e da literatura proletária, o francês Michel Ragon, nascido em Marselha, em 1921, com mais de 50 títulos publicados no currículo (sobre poesia, ensaios e crítica) estréia no Brasil com Eles Se Acreditavam Ilustres e Imortais... (Difel).

O livro, extremamente interessante, narra o fim de vida de alguns intelectuais importantes, que enfrentaram o declínio de sua obra e saúde, além de uma velhice trágica, mas, apesar de terem sido totalmente esquecidos após a morte, voltaram a ser reconhecidos e idolatrados. As dez personalidades retratadas no livro (Descartes, Lamartine, Françoise Sagan, entre outras) mostram uma faceta gloriosa e, ao mesmo tempo, outra, obscura e decadente, acontecida no ocaso de suas vidas, o que é uma grande lição sobre a impermanência. Ontem gloriosos, hoje obscuros, amanhã brilhando de novo, ao sol do esplendor. Será que a vida de nós todos segue o mesmo ritmo e direção? Um livro importante, não só para quem quer adquirir conhecimentos mas, também, ver novos rumos para sua vida.


2 - Ficção Inglesa / Romance

A escritora inglesa Helen Grant estudou em Oxford, trabalhou com marketing durante dez anos para poder custear sua paixão por viagens e, em 2001, mudou-se com a família para a Alemanha, onde, ao pesquisar as lendas da cidade de Bad Munstereifel, se inspirou para escrever seu primeiro romance, o premiado O Desaparecimento de Katharina Linden (Bertrand Brasil). O romance começa com o desaparecimento de Katharina, uma menina de dez anos, e a última pessoa a vê-la foi Pia, que começa a imaginar que algo sobrenatural e macabro aconteceu com a menina.

Por quê ela pensa assim? Porque se baseia nas histórias que um velho senhor local lhe conta a respeito de fantasmas, bruxas e monstros, que aterrorizam os moradores e fazem parte do folclore local. Mas será que foi um destes estranhos seres que sumiram com Katharina? Suspense, mistério e terror se unem, sob a competente narrativa de Helen Grant, para criar um grande romance, por vezes assustador, mas sempre delicado e emocionante. A escritora é uma grande promessa, que já na estréia ganhou um prêmio literário. Um grande entretenimento.

3 - Memórias / Viagem

É sempre uma alegria quando uma nova obra do grande escritor Ignácio de Loyola Brandão chega às livrarias. Acordei em Woodstock: viagem, memórias, perplexidades (Global) , é um relato de viagem, quase um diário, onde a memória afetiva desempenha um papel primordial. Em 2000, último ano do século XX, Ignácio partiu, com a mulher e um casal de primos, para uma viagem a Nova Inglaterra. Além de desejar conhecer aquela parte dos Estados Unidos, considerado o maior reduto de escritores clássicos por quilômetro quadrado, os quatro (mas principalmente Loyola) foram em busca de Woodstock, o mítico e histórico festival realizado sob a bandeia da paz e do amor, e que se tornou símbolo de uma era de abertura e liberdade.

Mas nem só de Woodstock é feito este ótimo livro, que traz Loyola falando sobre cinema, literatura e mitos que fizeram sua cabeça, numa viagem que evidencia a memória e a imaginação. Quem já era adulto na época, fará, junto com o autor, uma viagem maravilhosa. Quem não participou deste momento histórico terá, através deste livro, a chance de ir a lugares incríveis e experimentar sensações que seus pais (ou avós) guardam, até hoje, na memória. Um livro maravilhoso.

4 - Infanto-Juvenil

A fauna e a flora do Rio São Francisco (que nasce na Serra da Canastra, em Minas e deságua no Atlântico, entre Sergipe e Alagoas) são o tema deFormosuras do Velho Chico (Peirópolis) de Lalau e LauraBeatriz. Para desvendar os mistérios e histórias que envolvem o rio, Lalau transformou em poesia cada uma das espécies que habitam o Velho Chico, sendo que cada poema faz menção a algum tipo de ave, peixe ou elemento típico da cultura e do folclore da região.

Agora, ela tem que agir rapidamente, ao descobrir que há um serial killer matando escritores de livros policiais, da mesma forma que as vítimas assassinadas em seus livros, já que seu namorado é um escritor de ficção policial, e pode ser um alvo em potencial do criminoso. Uma trama muito bem urdida, e contada em detalhes de tirar o fôlego, característica desta genial autora que tem legiões de fãs por todo o mundo. Um romance de suspense profundamente inteligente, envolvente e surpreendente.

Postagens...

Nascimento (Portugal, 1894) e Falecimento (idem, 1930) de Florbela Espanca

Eventos culturais

Agende-se para participar de dois lançamentos imperdíveis no Rio, hoje e amanhã

Literatura

Poesia

Temática cidades brasileiras: Manaus, Kideniro Teixeira

Prosa

Reflexões: Leonardo Boff: "É possível alimentar 7 bilhões de pessoas?"

Coluna trimensal de Marli Berg: "Livros em Blocos"

Site de Leila Míccolis

Coluna quinzenal de Vânia Moreira Diniz

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sete teses sobre Walter Benjamin e a teoria crítica

imagem: Por Michael Löwy.

Traduzido do francês por Mariana Echalar.

I – Walter Benjamin pertence à teoria crítica em sentido amplo, isto é, à corrente de pensamento inspirada em Marx que, a partir ou em torno da Escola de Frankfurt, pôs em questão não só o poder da burguesia, mas também os fundamentos da racionalidade e da civilização ocidental. Amigo íntimo de Theodor Adorno e Max Horkheimer, ele sem dúvida influenciou seus escritos e, sobretudo, a obra capital que é a Dialética do esclarecimento, em que se encontram muitas de suas ideias e, às vezes, “citações” sem referência à fonte. Ele, por sua vez, foi sensível aos principais temas da Escola de Frankfurt, mas distingue-se dela por alguns traços que lhe são particulares e constituem sua contribuição específica à teoria crítica.

Benjamin nunca conseguiu um cargo em universidades: a reprovação de sua tese – sobre o drama barroco alemão – condenou-o a uma existência precária de ensaísta, “homem de letras” e jornalista free-lancer, que, é claro, decaiu consideravelmente nos anos de exílio em Paris (1933-40). Exemplo ideal típico da freischwebende Intelligenz de que falava Mannheim: ele era um Aussenseiterem sentido estrito, um outsider, um marginal. Essa situação talvez tenha contribuído para a acuidade subversiva de seu olhar.

II – Benjamin foi, nesse grupo de pensadores, o primeiro a questionar a ideologia do progresso, filosofia “incoerente, imprecisa, sem rigor”, que só percebe no processo histórico “o ritmo mais ou menos rápido com que homens e épocas avançam no caminho do progresso” (“A vida dos estudantes”, 1915). Ele também foi mais longe do que os outros na tentativa de livrar o marxismo de uma vez por todas da influência das doutrinas burguesas “progressistas”; assim, em Passagens, ele se propunha o seguinte objetivo: “Também se pode considerar como alvo metodologicamente visado neste trabalho a possibilidade de um materialismo histórico que tenha anulado em si mesmo a ideia de progresso. É justamente se opondo aos hábitos do pensamento burguês que o materialismo histórico encontra forças”. Benjamin estava convencido de que as ilusões “progressistas”, especialmente a convicção de “nadar na corrente da história”, e uma visão acrítica da técnica e do sistema produtivo existentes contribuíram para a derrota do movimento operário alemão diante do fascismo. Entre essas ilusões nefastas, ele incluía o espanto de que o fascismo pudesse existir em nossa época, numa Europa moderna, produto de dois séculos de “processo de civilização” (no sentido dado por Norbert Elias), como se o Terceiro Reich não fosse precisamente uma manifestação patológica dessa mesma modernidade civilizada.

III – Se a maioria dos pensadores da teoria crítica partilhava o objetivo de Adorno de pôr a crítica romântica conservadora da civilização burguesa a serviço dos objetivos emancipadores das Luzes, Benjamin talvez tenha sido aquele que mostrou mais interesse pela apropriação crítica dos temas e das ideias do romantismo anticapitalista. Em Passagens, ele se refere a Korsch para destacar a dívida de Marx, via Hegel, com os românticos alemães e franceses, mesmo os mais contrarrevolucionários. Ele não hesitou em usar argumentos de Johannes von Baader, Bachofen ou Nietzsche para derrubar os mitos da civilização capitalista. Encontramos nele, como em todos os românticos revolucionários, uma surpreendente dialética entre o passado mais longínquo e o futuro emancipado; daí seu interesse pela tese de Bachofen – que inspirou tanto Engels quanto o geógrafo anarquista Elisée Réclus – sobre a existência de uma sociedade sem classes, sem poderes autoritários e sem patriarcado na aurora da história.

Essa sensibilidade permitiu que Benjamin compreendesse melhor que seus amigos da Escola de Frankfurt o significado e o alcance de um movimento romântico libertário como o surrealismo, ao qual ele atribuiu, num artigo de 1929, a missão de captar a força do inebriamento (Rausch) para a causa da revolução. Marcuse também se deu conta da importância do surrealismo como tentativa de associar arte e revolução, mas isso aconteceu quarenta anos depois.

IV – Mais do que os outros pensadores da teoria crítica, Benjamin soube mobilizar de forma produtiva os temas do messianismo judeu para o combate revolucionário dos oprimidos. Os temas messiânicos estão presentes em certos textos de Adorno (especialmente em Minima Moralia) ou Horkheimer, mas foi em Benjamin e, em particular, em suas teses “Sobre o conceito de história” que o messianismo se tornou um vetor central de refundação do materialismo histórico – para poupá-lo do destino de autômato que teve nas mãos do marxismo vulgar (social-democrata ou stalinista). Em Benjamin existe uma espécie de correspondência (no sentido baudelairiano da palavra) entre a irrupção messiânica e a revolução como interrupção da continuidade histórica – a continuidade da dominação.

No messianismo como Benjamin o entende (ou melhor, inventa), a questão não é alcançar a salvação de um indivíduo excepcional, de um profeta enviado pelos deuses: o “Messias” é coletivo, já que a cada geração foi dada “uma fraca força messiânica”, que deve ser exercida da melhor maneira possível.

V – De todos os autores da teoria crítica, Benjamin foi o mais apegado à luta de classes como princípio de compreensão da história e transformação do mundo. Como escreveu nas teses de 1940, a luta de classes “está sempre presente para o historiador formado pelo pensamento de Marx”. De fato, ela está sempre presente em seus textos, como elo essencial entre o passado, o presente e o futuro, e como lugar da unidade dialética entre teoria e prática. Para Benjamin, a história não aparece como um processo de desenvolvimento das forças produtivas, mas como um combate até a morte entre opressores e oprimidos. Rejeitando a visão evolucionista do marxismo vulgar, que percebe o movimento da história como uma acumulação de “conquistas”, ele insiste nas vitórias catastróficas das classes reinantes.

Ao contrário da maioria dos outros membros da Escola da Frankfurt, Benjamin apostou – até seu último suspiro – nas classes oprimidas como força emancipadora da humanidade. Profundamente pessimista, mas nunca resignado, considera a “última classe subjugada” – o proletariado – aquela que, “em nome das gerações vencidas, leva a cabo a obra de libertação” (Tese XII). Apesar de não compartilhar o otimismo míope dos partidos do movimento operário sobre sua “base de massa”, ele vê nas classes dominadas a única força capaz de derrubar o sistema de dominação.

VI – De todos os pensadores da teoria crítica, Benjamin era talvez o mais obstinadamente fiel à ideia marxiana de revolução. Na verdade, contrariando Marx, ele a definiu não como “locomotiva da história”, mas como interrupção de seu curso catastrófico, como ação salvadora de uma humanidade que puxa o freio de emergência. Mas a revolução social permanece o horizonte de sua reflexão, o ponto de fuga messiânico de sua filosofia da história, a pedra angular de sua reinterpretação do materialismo histórico.

Apesar das derrotas do passado – desde a revolta dos escravos liderada por Espártaco na Roma antiga até o levante do Spartakusbund de Rosa Luxemburgo, em janeiro de 1919 – “a revolução como Marx a concebeu”, o “salto dialético”, ainda é possível (Tese XIV). Sua dialética consiste em realizar, graças a “um salto de tigre no passado”, uma irrupção no presente, no “tempo de hoje” (Jetztzeit).

VII – O pensamento de Benjamin está profundamente enraizado na tradição romântica alemã e na cultura judaica da Europa Central e responde a uma conjuntura histórica precisa, a da época das guerras e das revoluções que vai de 1914 a 1940. E, no entanto, os temas principais de sua reflexão e, em particular, suas teses “Sobre o conceito de história” são de uma universalidade admirável: eles nos fornecem ferramentas para compreender realidades culturais, fenômenos históricos, movimentos sociais em outros contextos, outros períodos e outros continentes. Mas, em última análise, isso vale também para toda a teoria crítica.

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Michael Löwy, sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (Boitempo, 2009) e organizador de Revoluções (2009),  dentre outras publicações. Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às sextas-feiras.

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Em Walter Benjamin: aviso de incêndio, Michael Löwy faz uma aprofundada análise das teses “Sobre o conceito de história”. O livro integra a Coleção Marxismo e Literatura, coordenada por Leandro Konder, e ganhará versão eletrônica (ebook) em breve.

Matéria retirada do site Boitempo editorial http://boitempoeditorial.wordpress.com/2011/10/28/sete-teses-sobre-walter-benjamin-e-a-teoria-critica/

LENDA CUNHÃ-MORÉ


                

A grã bokarra do Deus-Bruxo Pã se abriu, e dela siu o que se pediu: uma nuvem de pássaros de plumas vistosas, araras e aves-do-paraíso, além de tucanos azuis e amarelos.
                 A lua minguante, como se fora cheia, dispensava lantejoulas. Partiu pro setestrelo uma igara, deixando atrás de si uma esteira de espuma.
                 Os guerreiros chegavam depois e pediam a Tupã a vitória sobre os brankos."Grande Caiman que estás no céu, queremos vencer os tabaíba". Se esses brankos morassem bem, não vinham pra nossa terra brigar, falou Chefe.
                 "Grande Caiman, adocicai nossas frechas". Vitória Cunhã-Moré, na certa.
                 A história do Brazil curvou-se diante dos fatos. Os Cunhã-Moré erçao e sam mais poderosos.
                 "Comeremos breve carna branka. De seus dentes faremos colares, de seus ossos faremos frautas", assim falou Chefe. "Haverá cauim".
                 As luzes-do-ceu-que-piscam brilhavam coloridas sobre tribo, aquela noite. Era preciso expulsar brankos que chegaram em igaras grandes pela casa da Yara. Brankos falavam língua de capiora, eram maus e fizeram suas tabas esquisitas perto do tribo. Era preciso matar, a não ser que a Yara os levasse de volta em suas igaras antes que o céu ficasse todo-escuro.
                 Tupã nos ensinava piedade, bondade e esses melados à tribo. Curumi aprendia a respeitar a natureza, não ser egoísta nem malvado e só matar bicho pra comer, senão Curupira renegava. Mas branko matava por matar, não ia ninguém chorar por eles. E pra que saíram de suas tabas pra tomar selva de tribo: Não tinham família? Brankos estavam pedindo castigo.
                 Deus-Bruxo Pã tinha uma bokarra muito misteriosa. Diziam que podia engolir a selva toda, e só der o céu de fora, se quisesse.

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                 Jamais saberemos a verdadeira história dos bravos Cunhã-More. Pouco se conhece sobre esta tribo, provavelmente exterminada ainda no século XVI. Ao que tudo indica, porém, a expedição a que se refere a lenda foi levada a cabo com êxito, não havendo sobreviventes brankos naquela ocasião.

Walter Cabral de Moura

Do livro: Livro dos Silêncios, Ed. autor, 2000, Recife/PE

domingo, 4 de dezembro de 2011

Dia Mundial da Propaganda

 

Equipe Glóbulo [Marketing] / SC

     

 

Fonte: http://globulo.com.br/blog/mercado-blog/homenagem-no-dia-mundial-da-propaganda.html

Dia de Santa Bárbara, padroeira dos bombeiros!

Festa foi considerada patrimônio imaterial da Bahia em dezembro de 2008.
Celebração é feita há mais de 300 anos no estado.

Há mais de 50 anos que Maria Bárbara de Oliveira mantém uma tradição realizada por muitos baianos no dia 4 de dezembro, data em que é celebrada a festa de Santa Bárbara. Nascida no dia da santa, a artista plástica vai oferecer um caruru neste domingo (4) em comemoração a mais um aniversário e em homenagem à santa que originou seu nome. Devota da mártir católica e de Iansã, divindade da religião de matriz africana associada a Santa Bárbara no sincretismo religioso, Bárbara conta que desde quando nasceu era oferecido um caruru no dia do seu aniversário. “Meu caruru vai completar 58 anos, assim como eu. Eu não convido ninguém, as pessoas já sabem que eu faço e aparecem. Visto sempre vermelho no dia”, diz a artista plástica, que costuma receber cerca de 40 pessoas no dia da festa.

Patrimônio imaterial, dia de Santa Bárbara é celebrado por baianos (Foto: Eric Luis Carvalho/Arquivo Pessoal)

Dona Aida exibe a imagem da santa que mantém na sala de casa. Todos os anos a aposentada faz o tradicional caruru para homenagear a padroeira dos bombeiros (Foto: Eric Luis Carvalho/Arquivo Pessoal)

Já a costureira aposentada Aida da Silva, diz que durante todo o mês de dezembro é tempo de homenagear Santa Bárbara. "A data nem sempre coincide com o dia 4, pois depende também do dia em que recebo meu dinheiro para comprar os ingredientes do caruru, mas sempre faço em dezembro. Este ano vou fazer no dia 7”, conta Dona Aida, de 72 anos, que há 65 anos mantém a tradição de oferecer o caruru de Santa Bárbara, iniciada pelo pai. Além do compromisso em ‘agradar’ a santa todo ano, Dona Aida conta que batizou uma das filhas com o mesmo nome da mártir católica. “Eu tenho cinco filhos, entre eles duas mulheres e uma delas chama-se Bárbara Cristina. Coloquei o nome dela em homenagem a Santa Bárbara”, orgulha-se Dona Aida.

“É uma festa que demonstra o poderio feminino. São as mulheres consideradas retadas, ousadas, que não dependem dos homens para se manter”

Jaime Sodré

Histórias como a de Bárbara e Dona Aida reforçam a importância da festa de Santa Bárbara na Bahia, especialmente em Salvador. Para o professor e pesquisador Jaime Sodré, a festa da santa católica, padroeira dos bombeiros, possui elementos do catolicismo que são aproveitados e transformados em manifestações da religião de matriz afro-brasileira. “Essa festa é uma marca católica, que é o culto à Santa Bárbara, parte do estoque de santas femininas da igreja. É importante dizer que esse rito foi complementado e ganhou a proporção que tem hoje por causa dos fiéis do candomblé. O próprio rito católico passou a incrementar elementos do candomblé”, relata Sodré. A culinária típica adotada na celebração para Santa Bárbara carrega uma forte influência da religião de matriz africana e, entre outras semelhanças, os devotos de Iansã e Santa Bárbara se vestem de vermelho para cultuar uma das figuras religiosas mais populares da Bahia.

Sincretismo

Apesar das semelhanças, segundo Jaime Sodré, não há possibilidade de associar a história pessoal de Santa Bárbara, que foi morta pelo pai por ser cristã, com a lenda da divindade Iansã. “Na verdade, as semelhanças são que ambas são mulheres, ambas portam uma espada, que é um dado de guerreira, e a vestimenta das duas tem a cor vermelha. As pessoas do candomblé sabem a dimensão das diferenças. O que se faz semelhante são alguns detalhes. Uma decorre do catolicismo, na Europa, e a outra na África, na religião de matriz africana, em épocas completamente distintas”, relata o especialista em história da cultura negra. Para ele, o sincretismo na verdade é uma ‘superposição’ religiosa. “A poligamia de Iansã (que, segundo a lenda, se relaciona com os orixás Xangô e Ogum) nada se assemelha à castidade de Santa Bárbara, e isso é tratado com naturalidade pelos fiéis do candomblé”, complementa o pesquisador.

Patrimônio Imaterial

A festa de Santa Bárbara foi considerada patrimônio imaterial da Bahia no dia 3 de dezembro de 2008 pelo governo do estado. O decreto que registrou a cerimônia reafirma a importância da diversidade cultural e religiosa que a festa reúne. “Santa Bárbara passa a ser uma santa cultuada dentro da religião católica, que ganhou uma versão baiana quando ela foi similarizada a Iansã. Todo rito dela passa a ter parâmetros com a religião de matriz africana”, diz o pesquisador. “Duas características principais da festa de Santa Bárbara são essencialmente do candomblé, que é a prática do transe [quando ‘filhos de santo’ manifestam Iansã na procissão] e da culinária, com o tradicional caruru”, complementa. A intensa participação do povo no dia 4 de dezembro caracteriza oficialmente a festa de Santa Bárbara como a celebração que marca o início do ciclo das festas populares da Bahia.

A festa

Realizada há mais de 300 anos, a festa de Santa Bárbara começa com uma queima de fogos, por volta das 5h, como a maior parte das comemorações religiosas. A concentração na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos marca a primeira missa celebrada às 8h e, por conta do número de fiéis, uma missa campal é realizada no Largo do Pelourinho, seguida de uma procissão com destino ao quartel do Corpo de Bombeiros, localizado no bairro da Barroquinha. Segundo a tradição, a última parada da procissão é o Mercado de Santa Bárbara, onde é distribuído um caruru para a população. Para Sodré, a festa, acima de tudo, demonstra o poder da mulher na Bahia. “É uma festa que demonstra o poderio feminino. São as mulheres consideradas retadas, ousadas, que não dependem dos homens para se manter”, conclui o pesquisador.

Serviço:

5h – Centro Histórico: Alvorada de Fogos
8h – Largo do Pelourinho: Missa e Procissão
14h – Atrações Itinerantes: Swing do Pelô, Meninos do Pelô, Tambores e Cores, Filhos de Gandhy, Bandão Jurema e Bandão Status.
14h – Largo do Pelourinho: Jorginho Comancheiro, Afoxé Kori Nagô, Banda Didá, Ara Ketu e Ilê Aiyê
15h – Terreiro de Jesus: Catadinho do Samba, Afro Detona e Viola de Doze.

texto retirado do portal G1 http://g1.globo.com/bahia/noticia/2011/12/patrimonio-imaterial-dia-de-santa-barbara-e-celebrado-por-baianos.html