sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Manoel de Barros

 

 
NA FAZENDA
Barulhinho vermelho de cajus
e o riacho passando
nos fundos do quintal...
Dali
se escutavam os ventos com a boca
como um dia ser árvore
Eu era lutador de jacaré.
As árvores falavam.
Bugre. Teotônio bebia marandovás.
Víamos por toda parte cabelos misgalhadinhos de borboletas...
Abriu-se
uma pedra
certa vez:
os musgos
eram frescos...
As plantas
me ensinavam de chão.
Fui aprendendo com o corpo.
Hoje sofro de gorjeios
nos lugares puídos de mim.
Sofro de árvores.









quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Leninha

 

 

Ausência

A vida é como uma estrela cadente.
O clarão dessa estrela é tão supreendente.
A queda dessa estrela é tão repentina.
Tudo passa tão depressa...
Que às vezes nem sequer dá tempo de pedirmos:
— Estrelinha, brilhe mais um pouquinho.
— Vida, por favor, fique mais um tempinho.

 

 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Affonso Romano de Sant’Anna

 



Aprendizados

Uns aprendem a nadar
Outros a dançar, tocar piano,
Fazer tricô e a esperar.

Na infância cai-se
Para se aprender a andar.
Cai-se do cavalo e do emprego
Aprendendo a viver e a cavalgar.
Em alguns aprendizados
Chega-se à perfeição.
Em alguns.

No amor, não.

                      Affonso Romano de Sant'Anna
                      Do livro: Textamentos, Ed. Rocco, 1999, RJ


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Márcia Sanchez Luz

 

 

Bilhete de Julieta

Por que você partiu sem me contar
que o fim estava próximo e que nós
não poderíamos nos ver após
a cotovia, lúgubre, cantar?


Não foi de fato amor de acarinhar,
nem foi de fato amar de amor feroz.
Da forma como veio, assim veloz,
partiu e me deixou sem me acordar.


E agora o que fazer sem seu carinho
para acalmar a febre em sonhos meus?
Não quero mais ninguém em nosso ninho.


Eu sei – a vida é assim –, dirá quem ler,
mas não sei mais o que fazer, meu Deus!
Como é difícil deste amor morrer!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Flávio Machado

 

    Sexo Virtual

    No meu
    Site
    Ou no seu?
                            

    Do livro: "Sala de espera", Blocos, 2003, RJ

sábado, 25 de janeiro de 2014

São Paulo, Carteiro, Correios e Telégrafos e Bossa Nova!

Av. Paulista, MASP

Fundada em 1554 por padres jesuítas, a cidade é mundialmente conhecida e exerce significativa influência nacional e internacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político. Conta com importantes monumentos, parques e museus, como o Memorial da América Latina, o Museu da Língua Portuguesa, o Museu do Ipiranga, o MASP, o Parque Ibirapuera, o Jardim Botânico de São Paulo e a avenida Paulista, e eventos de grande repercussão, como a Bienal Internacional de Arte, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, São Paulo Fashion Week e a São Paulo Indy 300.

O município possui o 10º maior PIB do mundo, representando, isoladamente, 11,5% de todo o PIB brasileiro9 e 36% de toda a produção de bens e serviços do estado de São Paulo, sendo sede de 63% das multinacionais estabelecidas no Brasil, além de ter sido responsável por 28% de toda a produção científica nacional em 2005. A cidade também é a sede da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBovespa), a segunda maior bolsa de valores do mundo em valor de mercado. São Paulo também concentra muitos dos edifícios mais altos do Brasil, como os edifícios Mirante do Vale, Itália, Altino Arantes, a Torre Norte, entre outros.

São Paulo é a sexta cidade mais populosa do planeta e sua região metropolitana, com 19 223 897 habitantes, é a quarta maior aglomeração urbana do mundo. Regiões muito próximas a São Paulo são também regiões metropolitanas do estado, como Campinas, Baixada Santista e Vale do Paraíba; outras cidades próximas compreendem aglomerações urbanas em processo de conurbação, como Sorocaba e Jundiaí. A população total dessas áreas somada à da capital – o chamado Complexo Metropolitano Expandido – ultrapassa 29 milhões de habitantes, aproximadamente 75% da população do estado inteiro. As regiões metropolitanas de Campinas e de São Paulo já formam a primeira macrometrópole do hemisfério sul, unindo 65 municípios que juntos abrigam 12% da população brasileira. Leia mais em: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(cidade)

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Dia do Carteiro

O Dia do Carteiro é comemorado anualmente no dia 25 de janeiro e homenageia uma profissão mais antiga do que muitos imaginam. Em 2013 se comemoram 350 anos de atividade postal no Brasil.

Mensageiros sempre existiram, desde a antiguidade, mas a profissão de carteiro como a conhecemos hoje, é bem mais recente. Apesar de muitas mensagens hoje em dia serem enviadas eletronicamente, o carteiro continua desempenhando um papel fundamental na sociedade atual.

 

Origem do Dia do Carteiro

O dia 25 de janeiro foi escolhido como Dia do Carteiro porque foi nessa data que o Correio-Mor foi criado, no ano de 1663. Luiz Gomes da Matta Neto foi o nome do primeiro "carteiro" do Brasil. Ele já atuava como Correio-Mor em Portugal, passando depois a ser o responsável no Brasil pela troca de correspondências da Corte portuguesa.

A profissão de carteiro tal como a conhecemos hoje, só apareceu em 1835, quando começaram a entregar correspondência nos domicílios. Até essa data as pessoas usavam mensageiros, bandeirantes ou escravos para levarem suas mensagens de um lugar para o outro.

Hoje, existem cerca de 50 mil carteiros trabalhando nos Correios do Brasil. http://www.calendarr.com/brasil/dia-do-carteiro/

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Criação dos Correios e Telégrafos

Aparelho Breguet

A telegrafia elétrica foi introduzida no Brasil em 1851. Eram utilizados dois aparelhos Breguet, de manivela e mostrador. Após um ano, a primeira ligação oficial foi feita entre o Palácio do Governo e o Quartel General do Rio de Janeiro, onde os aparelhos estavam instalados. (Informações e foto: Empresa de Correios e Telégrafos do Brasil). Esse Telégrafo, também conhecido por telégrafo de quadrante, foi criado por Louis-François-Clément por volta de 1845. (fonte: www.fundacao.telecom.pt). Provavelmente é Bréguet, mas a ECT grafaBreguet.

(http://angelomazzuchelli.blogspot.com.br/2009_07_01_archive.html)

Das primeiras cartas ao Correio-Mor

Os primórdios dos serviços postais no Brasil Colônia reportam-se a Portugal e à sua atuação neste novo território. As cartas eram o único meio de comunicação à longa distância e foram muito utilizadas desde os primeiros passos do processo de colonização, dependendo inicialmente da atuação de particulares. Os serviços postais oficiais chegaram com os assistentes do Correio-Mor das Cartas do Mar. Com o lento povoamento do interior, acelerado depois da descoberta das minas de ouro, os novos fluxos de negócios exigiam que esses serviços fossem levados para as novas fronteiras de povoamento. A coroa lusitana, entretanto, interessada em controlar as informações sobre as riquezas da colônia, proibiu a atuação do Correio-Mor no interior do país a partir de 1730. Esses fatos levaram a experiências de criação das primeiras linhas de transporte postal organizadas pelos representantes do estado português, ainda que de uma forma embrionária.

1500
A "certidão de batismo do Brasil" é a carta de Pero Vaz de Caminha, que anunciou ao rei de Portugal o descobrimento da nova terra. O que é menos conhecido é que a nau de Gaspar de Lemos, que a transportou, levava também uma outra correspondência importante, a de Mestre João Faras, primeiro documento científico sobre nosso país, além de amostras recolhidas no país. Assim, pode ser considerada, de certa forma, a primeira ligação postal entre o Brasil e a metrópole.

Continuem essa leitura interessante sobre a história da criação dos Correios e Telégrafos: http://correios.com.br/sobreCorreios/empresa/historia/default.cfm

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Dia da Bossa Nova

Vinicius de Moraes, principal letrista de canções da bossa nova a partir de "Chega de Saudade", composição feita com Tom Jobim em 1958 e que consagrou o estilo. 

        Vinícius de Moraes                                       Tom Jobim

 

Bossa Nova é um movimento da música popular brasileira do final dos anos 50 lançado por João Gilberto, Tom Jobim, Vinícius de Moraes e jovens cantores e/ou compositores de classe média da zona sul carioca, derivado do samba e com forte influência do jazz. De início, o termo era apenas relativo a um novo modo de cantar e tocar samba naquela época, ou seja, a uma reformulação estética dentro do moderno samba carioca urbano. Com o passar dos anos, a Bossa Nova tornou-se um dos movimentos mais influentes da história da música popular brasileira, conhecido em todo o mundo, um grande exemplo disso é a música Garota de Ipanema composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim.

A palavra bossa apareceu pela primeira vez na década de 1930, em Coisas Nossas, samba do popular cantor Noel Rosa: O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). A expressão bossa nova passou a ser utilizada também na década seguinte para aqueles sambas de breque, baseado no talento de improvisar paradas súbitas durante a música para encaixar falas.

Alguns críticos musicais destacam uma certa influência que a cultura americana do Pós-Guerra, de músicos como Stan Kenton, combinada ao impressionismo erudito, de Debussy e Ravel, teve na bossa nova, especialmente do cool jazz e bebop. Embora tenha pouca influência de música estrangeira como o Jazz, a Bossa Nova possui elementos de samba sincopado. Além disso, havia um fundamental inconformismo com o formato musical de época. Os cantores Dick Farney e Lúcio Alves, que fizeram sucesso nos anos da década de 1950 com um jeito suave e minimalista (em oposição a cantores de grande potência sonora) também são considerados influências positivas sobre os garotos que fizeram a Bossa Nova.

Um embrião do movimento, já na década de 1950, eram as reuniões casuais, frutos de encontros de um grupo de músicos da classe média carioca em apartamentos da zona sul, como o de Nara Leão, na Avenida Atlântica, em Copacabana. Nestes encontros, cada vez mais frequentes, a partir de 1957, um grupo se reunia para fazer e ouvir música. Dentre os participantes estavam novos compositores da música brasileira, como Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal e Sérgio Ricardo, entre outros. O grupo foi aumentando, abraçando também Chico Feitosa, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, entre outros.

Primeiro movimento musical brasileiro egresso das faculdades, já que os primeiros concertos foram realizados em âmbito universitário, pouco a pouco aquilo que se tornaria a bossa nova foi ocupando bares do circuito de Copacabana, no chamado Beco das Garrafas.

No final de 1957, numa destas apresentações, no Colégio Israelita-Brasileiro, teria havido a ideia de chamar o novo gênero - então apenas denominado de samba sessions, numa alusão à fusão entre samba e jazz -,devido a um recado escrito num quadro-negro, provavelmente escrito por uma secretária do colégio, chamando as pessoas para uma apresentação de samba-sessions por uma turma "bossa-nova". No evento participaram Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Sylvia Telles, Roberto Menescal e Luiz Eça, onde foram anunciados como "(...)grupo bossa nova apresentando sambas modernos". Leia mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bossa_Nova

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Liane dos Santos


MINHA VIDA PEQUENINA

Minha vida pequenina
não tem grandes dramas
nem grandes prêmios,
tragédias ou heroínas.

É divertida, mas minimalista.

Tem o básico de viver e de sonhar.
O cenário é todo emprestado
no palco onde transcorre
meu ato de representar.
De meu mesmo quase nada:
talvez a paixão e o humor
que me marcaram desde a estreia.
Minha vida pequenina é muito simples.
Mas a plateia, meu Deus, a plateia.
(do livro O exercício das pequenas delicadezas)

image
        (foto: Ana Crisitna Bernardes, 2013)



Natural de Itajaí (SC), Liane (Orzechowsky) dos Santos nasceu em 24 de julho de 1953. Morou em Porto Alegre de 1972 a 1980. Em 1976 conheceu Mario Quintana com quem manteve grande amizade até a morte deste em 1994. É dele o prefácio de Primeiro Ato, livro de estreia lançado em 1977. Formada em Jornalismo pela PUC-RS, após trabalhar nos jornais gaúchos Folha da Manhã e Folha da Tarde, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1980, onde reside até hoje. É formada também em Cinema e pós-graduada em Marketing. Leia mais em seu blog: http://lianedossantos.blogspot.com


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Tanussi Cardoso



As Time Goes By


Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca.
Me tira esse sobretudo;
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca.
Meu bem,
Me chama de Humphrey Bogart...
Te dou carona em meu carro
Chevrolet — que sou bacana;
Te levo, meu bem, pra cama
Fumamos nossa bagana;
Te provo que sou sacana...
Te faço toda a denguice:
Te dispo que nem a Ingrid,
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar...
Mas me chama de Humphrey Bogart!
Faço chover colorido
Como num bom musical.
Te chamo de Lauren Bacall!
Te danço, te canto, te mostro,
Entre as pernas, meu bom astral...
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gangster,
Mil poemas de ninar...
Só pra te ouvir sussurrar:
Como te amo, meu Humphrey Bogart!





Tanussi1



25/2/1946 Rio de Janeiro, RJ
Poeta. Letrista. Crítico literário. Jornalista. Advogado.
Irmão da escritora e poeta Carmen Moreno.
Formado em Jornalismo pela PUC-Rio, e em Língua Inglesa pelo British Brazilian Course do Rio de Janeiro.
Trabalhou como Técnico-Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Em 2000 formou-se em Direito, na Faculdade Bennett, no Rio de Janeiro.
Com Leila Míccolis, Glória Perez e Carlos Araújo, fundou a Editora Trote na década de 1980.
Em 1975 participou da "Abertura poética - 1ª antologia de novos poetas do Rio de Janeiro", organizada por Walmir Ayala e César de Araújo.
Como jornalista, trabalhou como repórter na Rádio JB, no Jornal Rio Letras e no jornal O Fluminense.
Publicou os livros de poesias "Desintegração" (1979) e "Boca maldita" (prefácio de Leila Miccolis - Editora Trote, 1982), "Viagem em torno de" (prefácio de Salgado Maranhão - Ed. 7Letras, 2000) e "A medida do deserto e outros poemas revisitados", inserido na coletânea de poemas "Rios", apresentação de Thereza Christina Rocque da Motta (Editora ÍbisLibris, 2003), além de poesias e artigos em diversas antologias e periódicos por todo o Brasil.
Como poeta integrou os grupos Bandidos do Céu, Bazar dos Baratos e Teatrote.
Dentre os vários prêmios literários que ganhou, destacam-se "Menção Honrosa" no "II Concurso Escrita de Literatura", com o livro "O homem e suas paredes", "Primeiro Concurso Nacional de Poesias Vinicius de Moraes" e "Menção Honrosa", da União Brasileira dos Escritores com o livro "Beco com saídas" (Edicon, 1991), além de prêmios internacionais, entre eles 1º lugar no "Concurso Internacional de Poesia - Prêmio Saturnino Paccitti", da Associação de Escritores de Bragança Paulista, 1º lugar no "Concurso Internacional Il Convívio" - sezione Poesia in língua portoghese, Sicília/Itália e 1º lugar no "Concurso Internacional de Arte, Prosa e Poesia", da UBENY - União Brasileira de Escritores com sede em Nova York.
Continue lendo em: http://www.dicionariompb.com.br/tanussi-cardoso/biografia
Foto de Mônica Banderas



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

37 anos sem Maysa Matarazzo

 




OUÇA
Ouça, vá viver
Sua vida com outro bem
Hoje eu já cansei
De pra você não ser ninguém
O passado não foi o bastante
Pra lhe convencer
Que o futuro seria bem grande
Só eu e você
Quando a lembrança
Com você for morar
E bem baixinho
De saudade você chorar
Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar
Quando a lembrança
Com você for morar
E bem baixinho
De saudade você chorar
Vai lembrar que um dia existiu
Um alguém que só carinho pediu
E você fez questão de não dar
Fez questão de negar









Cantora. Compositora. Filha de Inah e Alcebíades Monjardim, de uma rica e tradicional família do Espírito Santo, aos 18 anos casou-se com André Matarazzo - um dos herdeiros da família Matarazzo (milionários industriais paulistas descendentes do Conde Matarazzo), quase 20 anos mais velho do que ela.
O envolvimento com a música, no entanto, veio muito antes, pois desde a adolescência já gostava de cantar em festas familiares, compor algumas músicas (aos 12 anos compôs o samba-canção "Adeus"), além de tocar piano.
Em 1956, já grávida de seu único filho, Jayme (que se tornaria o diretor de telenovelas da Rede Globo e da Rede Manchete Jayme Monjardim), conheceu o produtor Roberto Côrte-Real que, encantado com sua voz, quis contratá-la imediatamente para gravar um disco.
Últimos momentos
A cantora vivia isolada em sua casa de praia em Maricá, desde 1972, em depressão. No fim da tarde do dia de casamento do seu filho, pegou seu carro e foi para Maricá, quando um acidente automobilístico na Ponte Rio-Niterói deu fim a sua vida.  Em uma de suas últimas anotações, registrou:

“Hoje é novembro de 1976, sou viúva, tenho 40 anos”
                                                                                         

                                                                                               Maysa

Pesquisas: http://www.almacarioca.com.br/maysa.htm  e http://pt.wikipedia.org/wiki/Maysa

FELIZ ANO NOVO: SAÚDE, AMOR, DINHEIRO, REALIZAÇÃO E MUITOS LIVROS PARA CURTIR E VIAJAR

 

O início do ano traz coisas boas, mas, também, cansaço, das muitas festas a que fomos, acompanhado por uma enorme vontade de se deitar, com um bom livro nas mãos, para descansar viajando através da leitura. Segundo os leitores-internautas, que acompanham Livros em Blocos há dez anos, uma das coisas boas da coluna é dar, na primeira coluna do ano, sugestões variadas, focalizsndo todos os tipos de livros,
mirando, assim, gostos e interesses diversos.
Aproveitem nossas sugestões, e tenha um feliz 2014, com muita saúde, dinheiro, amor, realização e alegria.

I - Best-sellers/Novidades que se repetem e não podem faltar no ano novo

Três autores, muito queridos em todo o mundo, chegam à nossa casa no final de ano, e não podem faltar na estante de quem gosta de uma excelente leitura de entretenimento: Marian Keyes, Nora Roberts e Stephen King. Consagrados em todo o mundo, eles nos trazem seus mais recentes lançamentos.

1 - Literatura Irlandesa – Marian Keyes

Famosa desde a publicação de Melancia, um tremendo best-seller que correu mundo, vendendo milhões de exemplares, Keyes é, também, a criadora da família Walsh, protagonista da maioria de seus romances, que já venderam mais de três milhões de exemplares,

Chá de Sumiço (Bertrand Brasil) é a grande novidade deste ano, trazendo, como protagonista, Helen, a mais doida e engraçada das irmãs, que está num momento difícil, pois seu trabalho como detetive particular não vai bem e seu apartamento foi tomado por falta de pagamento. Mas, de repente, recebe uma proposta do ex-namorado, que poderá resolver seus problemas, mas, em compensação, trazer outra dor de cabeça... Emocionante, engraçado, o romance é irresistível, e muito indicado para começar o ano com muita diversão.

2 - Literatura Americana – Nora Roberts

Com 680 milhões de exemplares de seus romances vendidos, Nora Roberts é, hoje, a escritora mais lida do mundo. Em Riquezas Ocultas (Bertrand Brasil) ela reúne seus dois ingredientes preferidos, romance e mistério, para construir uma história cativante, que tem como protagonista Dora, dona de um antiquário da Filadélfia. Ela comprou uma serie de itens curiosos num leilão, para vender em sua loja, mas, segundo um contrabandista, Edmund, lhe pertencem.

Ele diz que vai recuperar seus bens de qualquer maneira, enquanto Dora e o ex-policial Jed, seu vizinho, começam a investigar roubos e mortes relacionados aos itens arrematados no leilão, e fazem descobertas impressionantes. O final é surpreendente, e mostra a incrível capacidade de Roberts de construir uma ótima história, e arrematá-la de forma arrebatadora. Mais um grande suspense amoroso desta escritora brilhante, cuja imaginação não tem limites, e que, ao mergulhar no mundo das antiguidades, consegue pescar verdadeiras pérolas narrativas, que conquistam o leitor. Uma delícia para curtir durante o verão.

3 - Literatura Americana – Stephen King

Um dos autores de maior sucesso em todo o mundo, Stephen King é publicado em mais de 40 países, e, em 2003, recebeu uma medalha da National Book Foundation, por sua contribuição à literatura americana. Um fabuloso contador de histórias, chamado de Mestre do Terror, King é capaz de criar mundos novos, e tem, em O Apanhador de Sonhos (Suma de Letras/ Objetiva), seu último lançamento no Brasil,  uma de suas melhores histórias. Uma leitura empolgante e engraçada, o romance conta uma história sobre a amizade e a memórias, formando um complexo thriller, com muito suspense e ação, um verdadeiro terror psicológico, que King sabe tão bem criar. A história começa quando quatro meninos, com seus sonhos e medos, vivem uma experiência única.

Quatro amigos, que juntaram suas forças, e foram capazes de um grande ato de coragem, e a partir daquele momento, tudo mudou para eles. Vinte e cinco anos depois, os meninos viraram adultos, e a vida de cada um tomou seu próprio rumo, mas a amizade se manteve e, todo mês de novembro, se reúnem no mesmo bosque da infância, para uma temporada de caça.Mas tudo se transforma quando aparece um misterioso forasteiro que fala, insistentemente, sobre luzes do céu. Uma das melhores e mais bem escritas obras de King, um tesouro de suspense e emoção, que levará o leitor a paragens desconhecidas. Um romance que já se tornou cult em todo o mundo. Ótima leitura para começar o ano.

II - Poesia Brasileira Para Ler e Sonhar

1 - Manuel Bandeira um dos maiores poetas da Língua Portuguesa

Lira dos Cinquent'anos (Global) foi editado pela primeira vez em 1944, quando foi publicado na terceira edição de Poesias Completas. Só agora ganha, enfim, sua primeira edição independente. Considerada a obra da maturidade de Bandeira.

Lira traz alguns dos poemas mais característicos do poeta que, segundo afirma  Ruy Espinheira Filho, na apresentação do livro, “é o poeta mais lírico e límpido do século XX”. Uma edição da maior importância, que vai alegrar o início do novo ano de brasileiros que amam nossa poesia e seus grandes expoentes, como Manuel Bandeira. A cronologia e bibliografia é de André Seffrin, e a apresentação de Ruy Espinheira Filho.Uma leitura perfeita para iluminar o início do ano.


2 – Thiago de Mello e a poesia amorosa e libertária

Poeta, diplomata e tradutor,  a poesia de Thiago de Mello já foi traduzida e publicada em muitos países. Como Sou (Global) reúne poemas selecionados para o público jovem, onde estão presentes diversos temas, como a luta política, as relações familiares, e o amor.

Neste seleção de poesias temos a oportunidade de descobrir (ou redescobrir) o poeta sofisticado ao construir seus poemas, e simples no dizer.  Thiago de Mello tem 87 anos, nasceu em Amazonas, em 1926, e publicou seu primeiro livro de poemas, Silêncio e Palavra, aos 25. Desde então, nunca mais deixou de escrever. E é do grande poeta a afirmação: “Nasci com o ritmo dentro de mim e é da própria vida que nascem os meus poemas. A inspiração vem da vida do homem, neste lugar chamado Terra. O que me comove ou me espanta, me dá esperança ou indignação”. Uma leitura inspiradora para começar o ano com altíssimo astral.


III - Literatura Francesa Um Estrondoso Sucesso Para Começar o Ano

Autor de língua francesa mais lido em todo o mundo, com cerca de 20 milhões de exemplares vendidos em 41 idiomas, o francês Marc Lévy é reconhecido, por público e crítica, como um grande contador de histórias, com enredos altamente originais e criativos, emocionantes e sensíveis.

Nascido na França, em 16 de outubro de 1961, Lévy exerceu múltiplas atividades, entre elas, o design de interiores, e só aos 37 anos, escreveu seu primeiro livro, E se Fosse Verdade, estrondoso sucesso, que se transformou em filme. Replay (Suma de Letras/ Objetiva), acaba de ser lançado no Brasil, com muito sucesso, e aborda um tema que fascina  a todos: e se pudéssemos voltar no tempo, e evitar acontecimentos catastróficos? Um sonho acalentado pelo ser humano, impossível de realizar na vida real, mas plenamente exequível e apaixonante na aventura original, bolada por este grande gênio da literatura de entretenimento, que é Marc Léy. Leitura obrigatória para ter um verão cheio de bons sonhos.


IV - ESPECIAL / CRIANÇA QUE BRINCA COM GOSTO, LÊ COM PRAZER

V&R Editoras, uma das editoras mais criativas e empenhadas não só em estimular a leitura infantil, mas, também, aumentar sua criatividade e percepção do mundo, está lançando a coleção “Brin-Co-lê: Para Brincar e Reciclar”. Brin-co-lê: Para Brincar e Reciclar – Bijuterias e Enfeites (V&R Editoras) foi produzida com material reciclado, e vem acompanhada de diversos apetrechos e acessórios como tecido, botão, arame e papelão, com o intuito  de estimular o lúdico e a criatividade das crianças. Com 48 páginas, o livro traz botões, fitas coloridas, e encartes, com diversas estampas, com as quais se pode criar anéis, pulseiras rendadas, porta-joias, colares em formato de coração, porta-retratos e tiara de flores, entre outros acessórios.

As últimas páginas trazem dicas de materiais recicláveis, que a pequena leitora pode encontrar em casa, e reaproveitar, como, por exemplo, tubo de papel toalha, garrafas de água, rolhas, caixas de suco e leite, jornais, revistas, clipes e embalagens. Um mundo de diversão, criatividade, e uma ponte para que a criança chegue aos livros, com a imaginação estimulada pela atividade artesanal. Um grande lançamento da V&R Editoras, um verdadeiro hino à criatividade e aprendizagem infantil.

Clarice Lispector

 

Francesca Woodman (1958-1981) – Untitled

 

 

A Lucidez Perigosa


Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

 

1920
- Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América. Leia mais em: http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Raul Seixas!

 

 

Água Viva (A Fonte)

- Raul Seixa & Paulo Coelho -

Eu conheço bem a fonte
Que desce aquele monte
Ainda que seja de noite

Nessa fonte está escondida
O segredo dessa vida
Ainda que seja de noite

"Êta" fonte mais estranha,
que desce pela montanha
Ainda que seja de noite.

Sei que não podia ser mais bela
Que os céus e a terra, bebem dela
Ainda que seja de noite

Sei que são caudalosas as correntes
Que regam os céus, infernos
Regam gentes
Ainda que seja de noite

Aqui se está chamando as criaturas
Que desta água se fartam mesmo às escuras
Ainda que seja de noite
Ainda que seja de noite...

Eu conheço bem a fonte
Que desce daquele monte
Ainda que seja de noite

Porque ainda é de noite!
No dia claro dessa noite!
Porque ainda é de noite!

 

Escutem a música: http://www.youtube.com/watch?v=2Q9Xh4QiZqU

Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 — São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um cantor e compositor brasileiro, frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e "Maluco Beleza". Sua obra musical é composta por 17 discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu estilo musical é tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let Me Sing, Let Me Sing"4 . Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968), foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-ha, Bandolo! (1973), como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de "contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974).

http://www.vagalume.com.br/raul-seixas/agua-viva.html

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

De tanto te pensar

 

De tanto te pensar, me veio a ilusão.
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.

De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.

De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água.

 

                                        Hilda Hilst

Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais.
Foi para o colégio interno, Santa Marcelina, na cidade de São Paulo, em 1937, onde estudou por oito anos. No ano de 1945 matricula-se no curso clássico da Escola Mackenzie, também naquela cidade. Morava, nessa época, num apartamento na Alameda Santos, com uma governanta de nome Marta. Leia mais em: http://www.releituras.com/hildahilst_bio.asp

domingo, 19 de janeiro de 2014

Todas as Manhãs

 

 flores Salomão

 

Todas as manhãs
canto pra subir
no passo a passo
nos sonhos
na firmeza
no porvir


Todas as manhãs
alimento esperanças
quem sabe alguma
alguma coisa seja


Todas as manhãs
grito por viver
clamo ao sol por mais justiça
abro o leque da solidariedade


Todas as manhãs
sou mais eu
sendo mais justo
em todas as medidas


Todas as manhãs
danço minhas manhas
abrindo as manhãs


                             Jorge Salomão

 

Jorge Salomão 1

Jorge Salomão pelas lentes de Mário Cravo Neto

 

 

Jorge Dias Salomão
3/11/1946 Jequié, BA

Poeta. Compositor. Diretor de teatro.
Irmão de Waly Salomão.
Estudou Ciências Sociais e Filosofia em Salvador, e ainda Teatro (direção), com Luiz Carlos Maciel, na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia.

Dirigiu várias peças teatrais em Salvador, entre as quais, “O macaco da vizinha”, de Joaquim Manuel de Macedo, “A boa alma de Setchuan”, de Bertold Brecht, e ainda vários shows musicais, entre os anos de 1967 e 1969.
Em 1969, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde marcou presença na cena cultural da cidade. Trabalhou na revista “Navilouca”, (...)

 

OBRAS

  • Azul Azulão (c/ Guto Goffi e Roberto Frejat)
  • Barraco (c/ Roberto Frejat)
  • Beijo no ar (c/ Joe Euthanazia)
  • Cabeça Divina (c/ Nico Rezende)
  • Cigana (c/ Nico Rezende)
  • Comendo Vidro (c/ Guto Goffi)
Discografia
  • (2007) Cru tecnológico (Jorge Salomão) • Peteca Produções

Informações do site: http://www.dicionariompb.com.br/jorge-salomao

 

Quem foi Mário Cravo Neto:

Mario Cravo Neto nasce em 20 de Abril de 1947 na cidade do Salvador, Bahia, onde no ano de 2009, em 09 de agosto, partiu para o lugar que estava reservado para ele no plano desconhecido da existencia, ainda que continue hoje a viver entre nós em espirito e o seu legado artistico continuará sendo sempre o trabalho de um dos grandes artistas contemporaneos. Leia mais sobre a obra do artista: http://www.cravoneto.com.br/po/biografia/biografia.htm

sábado, 18 de janeiro de 2014

O Saber e a cegueira: Affonso Romano de Sant'Anna

 

 

Eye M.C. Escher Eye – M.C. Escher

A CEGUEIRA E O SABER

Primeiro esta lenda: "Era uma vez uma praga que atingiu os mongóis. Os saudáveis fugiram, deixando os doentes e dizendo: 'Que o Destino decida se eles vivem ou morrem'. Entre os doentes havia um jovem chamado Tarvaa. O seu espírito deixou o corpo e chegou ao lugar dos mortos. O governante daquele lugar disse a Tarvaa: 'Por que deixaste o teu corpo enquanto ainda estava vivo?'. 'Eu não esperei que tu me chamasses', respondeu Tarvaa, 'simplesmente vim'. Comovido com a presteza com que o jovem obedeceu, o Khan do Inferno disse: 'A tua hora ainda não chegou. Deves retornar. Mas podes levar daqui o que quiseres'. Tarvaa olhou em volta e viu todas as alegrias e todos os talentos terrenos: riqueza, felicidade, riso, sorte, música, dança. 'Dá-me a arte de contar histórias', disse ele, pois sabia que as histórias podem congregar as outras alegrias. E assim retornou ao seu corpo e constatou que os corvos já lhe haviam arrancado os olhos. Como não podia desobedecer ao Khan do Inferno, reentrou no próprio corpo e viveu cego, porém conhecendo todos os contos. Passou o resto da vida viajando pela Mongólia, contando contos e lendas e trazendo às pessoas alegria e saber".
Sintomaticamente essa lenda começa mencionando "uma praga que atingiu os mongóis" e termina revelando como o herói se tornou exemplar contador de histórias. A exemplo de "O Decamerão", de Bocaccio, várias narrativas se referem às pestes que antecederam o surgimento dos contadores de história. No caso da narrativa italiana, um grupo de jovens se refugia num determinado lugar por causa da peste e para passar o tempo eles começam a contar histórias. Narrar é uma forma de sobreviver e afastar a morte. Igualmente em "As mil e uma noites", as peripécias que Sherazade vai desfiando noite após noite é o seu estratagema para postergar a sua morte.
No caso da lenda mongol, além da peste como elemento disparador dos fatos, há um dado singular: como todo personagem mítico, o herói Tarvaa transita entre a vida e a morte, como se não houvesse separação entre elas. É o herói mágico que vive no limiar, na fronteira entre dois mundos. Adentrou-se na morte, mas estava vivo. Não esperou que o chamassem para o outro lado - "simplesmente vim", diz ele, como se isso lhe fosse natural. E como uma espécie de prêmio ou reconhecimento lhe é conferido o direito de escolher o que quiser do mundo sobrenatural. Mas à semelhança de outros heróis míticos, ele recusa as riquezas e opta por algo bem mais modesto, algo que aparentemente é nada: contar histórias.
Em dois outros extremos, um religioso e outro literário, poderíamos estabelecer um paralelo, com Cristo recusando tudo, toda a aparência de poder e brilho que o demônio lhe ofereceu do pináculo do templo ou, no episódio poético e metafísico da "Máquina do mundo" que apareceu ao poeta (Drummond) oferecendo-lhe também a solução de todos os enigmas. Nesses episódios, igualmente, há a recusa das aparências, do falso poder e do falso saber. E assim como na mítica biografia do Rei Salomão, que ao ser indagado, ainda jovem, o que mais queria, respondeu "sabedoria", o herói mongol optou também por um tipo de saber & poder imponderável: viver no fabuloso imaginário.
Mas nosso herói, como nos mitos, por ter se apressado, como se tivesse cometido uma infração, é também punido. Enquanto dialogava com o Khan do Inferno, do lado de cá onde havia largado seu corpo, os corvos comeram-lhe os olhos. Mesmo assim ele reassume sua forma e seu papel no drama, pois sendo cego ele conhecia já "todos os contos" e levava às pessoas "alegria e saber". Ele não necessitava mais ver o exterior, a sabedoria iluminava sua vida interior.
A cegueira e o conhecimento são dois termos que pontuam inúmeros mitos. Ao invés de se anularem, esses dois termos se potencializam. Édipo, por exemplo, na tragédia de Sófocles, nos dá dois elementos importantes para esta análise. Primeiro a peça se inicia descrevendo, a exemplo do mito mongol, o misterioso flagelo, "a pavorosa peste" que se abateu sobre a cidade. Em segundo lugar , um dos pontos altos da tragédia é quando ao "ver" que possuiu a própria mãe depois de ter matado o pai, Édipo cega-se assombrosamente. Dir-se-ia que cegou-se para não ver. Mas numa interpretação ultra-sofisticada de Heidegger, Édipo é aquele que se cegou para melhor ver a sua patética situação.
Cegueira e (pré)visão. Do Cego Aderaldo repentista no sertão nordestino à Grécia esses termos se complementam. "Furaram os óio do assum preto prá ele assim cantar melhor", diz Luiz Gonzaga. Homero, diz-se, era um bardo cego. E é comum aqui e ali encontrar o profeta, o sacerdote, o xamã ou o pajé, sempre cegos, que de dentro de sua cegueira enxergam melhor que a corte ou toda a tribo. É assim que Tirésias, o adivinho que aparece em várias peças de Sófocles, sendo cego é o que pode narrar e prever. É ele quem revela a Édipo o que, antes de cegar-se, Édipo ignorava.
Tome-se agora esse extraordinário livro "Meu nome é vermelho" (Companhia das Letras) do escritor turco Orhan Pamuk. A cegueira e a sabedoria são dois temas fortes dessa obra, que estabelece o confronto entre a maneira renascentista de pintar e o modo de conceber figuras e miniaturas nos impérios persa, mongol e turco. Aí, como se estivessem revivendo mitos, os pintores cultivavam a cegueira como forma de aperfeiçoar sua pintura. Assim, "a cegueira não era um mal, mas a graça suprema concedida por Alá ao pintor que dedicara a vida inteira a celebrá-lo; porque pintar era a maneira de o miniaturista buscar como Alá vê este mundo, e essa visão sem igual só pode ser alcançada por meio da memória, depois que o véu da cegueira cair sobre os olhos, ao fim de uma vida inteira de trabalho duro. Assim, a maneira como Alá vê o seu mundo só se manifesta por meio da memória dos velhos pintores cegos".
Por isto no Islã antigo pintores apressavam sua cegueira pintando sobre uma unha ou grão de arroz, ou fingiam-se de cegos, pois só os sem talento precisavam dos olhos.
Talvez, por aí, se possa começar a entender a opção que faz o artista entre o mundo imaginário, para ele mais real que o real, e o que os demais denominam como realidade.
É preciso depois de ver, desver para que o real se realize.
Do "Ensaio sobre a cegueira", romance de José Saramago, o leitor tem memória recente. Ele narra que num dia qualquer um cidadão diante do sinal de trânsito fica desesperadamente cego. E começa, então, uma epidemia de cegueira narrada longamente. Ao final do livro e do mergulho na escuridão os personagens começam a emergir de novo para a visão recuperada. É uma parábola de fundo ético, sobre os nossos tempos, com laivos de esperança, como o próprio romancista assinalou em algumas entrevistas. Na última página, usando aquela estranha pontuação o texto indaga: "Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem".
Na mitologia e na literatura há vários textos sobre o intrigante tópico da cegueira e do (não) saber. Ainda agora recebo "Manual de instruções para cegos"(7Letras/Funalfa), de Marcus Vinícius, um bem-elaborado livro de poemas que atravessa essa questão. E a contadora de estórias Christina Zembra me lembra o recente "Vozes do deserto" (Record), de Nélida Piñon, em que a escrava Jasmine vai ao mercado de Bagdá ouvir histórias do derviche cego, que, à maneira daquele herói mongol Tavaar, ao ficar cego pediu a Alá que lhe desse algum dom que o fizesse sobreviver.
No entanto, um dos mais fortes e intrigantes textos sobre o tema que estamos abordando é o conto de H.G. Wells, escrito em 1899, "Em terra de cego", que pode ser encontrado em "Contos fantásticos do século XIX escolhidos por Italo Calvino" (Cia das Letras). Curiosamente, lembro-me de um jantar aqui no Rio em que, indagado por Marina Colasanti, Saramago revelou que não conhecia o texto de Wells. Todavia, um estudo comparativo entre ambos seria enriquecedor.
H.G. Wells (1866-1946) conta que, nos Andes, na região do Peru, havia uma Terra de Cegos. Como em outras narrativas, a exemplo do mito mongol e o "Édipo" de Sófocles, aos quais já me referi, a cegueira sobreveio como uma peste, como punição para os "pecados da comunidade". Surgindo aos poucos, a cegueira foi se manifestando nos habitantes daquela região até que, ao cabo de 14 gerações, estavam todos sem visão e não tinham mais sequer memória que um dia algum antepassado pudesse ter visto alguma coisa. Porém, adestrados para sobreviverem, acabaram por se movimentar normalmente nas montanhas, cultivavam seus alimentos e se reproduziam. Como em muitos mitos, no entanto, um dia surge um forasteiro. Ah! O forasteiro, esse que vem de fora, vendo o que a comunidade já não mais vê? Pois esse forasteiro literalmente despencou ali na Terra de Cegos ao cair de uns trezentos metros numa encosta gelada. Recuperando-se do acidente, estava pasmo, admirando a espetacular natureza e o milagre de sua sobrevivência, quando percebeu estranhas pessoas que, aos poucos, descobriu, eram cegas. Vem-lhe à mente a expressão: "Em terra de cego quem tem um olho é rei". E o que se desenrola a seguir é, em parte, para provar (ou não) os limites dessa assertiva.
O forasteiro é levado ao ancião da tribo. Estabelece-se o confronto cultural-biológico. Eles não entendiam o que ele queria dizer quando usava a estranha palavra "ver". Decididamente possuía uma anomalia - a visão - que tinha que ser curada. Estranhavam que ao guiá-lo pelos caminhos ele afirmasse que não se preocupassem porque podia ver com os próprios olhos. "- Não existe a palavra 'ver' - disse o cego. - Pare com essa loucura e siga o som de meus pés". Mas o forasteiro retruca ao cego: "Nunca lhe disseram que em terra de cego quem tem um olho é rei?". E o outro responde: "- O que é cego?"
Faltava-lhes a visão e a palavra correspondente. Mas, espantosamente, os cegos tinham lá sua sabedoria, sua filosofia, sua religião. E o fato é que o estranho, o "outsider", tentou se adaptar, esforçou-se por "ver" junto com os cegos, alongando os sentidos para que um compensasse e ampliasse o outro. Diante das dificuldades de adaptação à cegueira, dizia "Há coisas em mim que vocês não entendem" e passava a descrever a beleza do mundo que conhecia, porém os cegos negavam aquilo tudo. Há até uma cena de ameaça de luta usando pás entre aquele que vê e os que não sabem que não vêem. A partir daí, o estrangeiro "começou a perceber que não se pode nem lutar com ânimo contra criaturas que estão numa situação mental diferente da sua".
Há uma primeira tentativa de fuga, de abandono daquela situação. Mas o herói volta para dar a si e aos cegos nova chance. Decide tornar-se um deles. Aceitar a cegueira para sobreviver. Começa a namorar uma bela índia. Mas os nativos se preocupam que ele vá, com sua visão, corromper a raça. Dizem-lhe que tem que ser operado. E o ancião lhe afiança que a cirurgia é "bem fácil" e pode extrair-lhe "esses corpos irritantes" - os olhos.
Na véspera de abrir mão de sua visão, foi ao local de sacrifício para despedir-se da pradaria, dos narcisos brancos, "mas enquanto andava ergueu os olhos e viu a manhã, manhã como um anjo em armadura dourada, descendo pelos picos? Pareceu-lhe que, diante desse esplendor, ele, e esse mundo cego no vale, e seu amor, e tudo, não eram mais do que um poço de pecado (?) Viu sua beleza infinita, e sua imaginação cresceu a partir do gelo e da neve para as coisas lá longe, às quais iria renunciar para sempre". E depois de descrever a riqueza do mundo fora da Terra dos Cegos, o texto descreve o estado de graça do personagem: "ficou bastante quieto por ali , sorrindo como se estivesse satisfeito simplesmente por ter fugido do vale dos cegos, no qual tinha pensado ser rei. O brilho do pôr-do-sol passou, a noite chegou, e ele ainda estava quieto, deitado, em paz e contente sob as estrelas frias e claras".
A conhecida lenda de Hans Christian Andersen "A nova roupa do imperador" é uma variante do tópico que estamos estudando. Aqui não se trata da cegueira biológica, senão da incapacidade de ver e do medo de enfrentar o real. O conto de quatro páginas e meia tem tal força simbólica que incorporou-se ao inconsciente coletivo da modernidade. Por isto, essa história é dada como pertencente a vários folclores, como o português, onde o menino que denuncia a nudez do rei é substituído por um estranho-estrangeiro-negro. Seja como for, quando as pessoas dizem "o rei está nu" estão denunciando o embuste em várias situações. Em relação à arte de nosso tempo essa metáfora é a mais usual. Não há estudo sobre a arte atual que não recorra a essa lenda. Por quê? Seria assunto para uma instrutiva pesquisa.
Diz a história de Andersen (1805-1875) que houve um imperador que gostava tanto de roupas novas que passava mais tempo experimentando-as do que cuidando das outras coisas do reino. (Já na abertura aparece este tópico curioso, que podemos batizar de neofilia: a paixão pela coisa nova, pela moda, pelo aspecto superficial, exterior, que fazia com que o imperador se desinteressasse da realidade de seu reino). Isto propiciou que dois espertalhões surgissem em suas terras dizendo que produziam uma roupa que não apenas tinha cores deslumbrantes, mas que possuía uma qualidade única: só pessoas muito especiais poderiam vê-la e que apenas pessoas destituídas de inteligência, que não estavam aptas para ocupar cargos no reino, iam dizer que a roupa era invisível ou que não existia.
  A roupa nova do rei

Assim, estabeleceu-se um processo de seleção, quase um rito de iniciação pelo qual o imperador poderia testar a inteligência de seus auxiliares, pois só os escolhidos eram capazes de ver a roupa invisível que ninguém via. Os falsos tecelões simulavam tecer panos no tear e iam exigindo dinheiro e fios de ouro em troca. E como o monarca quisesse já testar a inteligência de seus auxiliares, pediu ao velho ministro que fosse ver como andavam as coisas. Lá chegando, o principal auxiliar do imperador ficou perplexo, porque os teares estavam vazios. "Não consigo ver nada!". Mas, temeroso de expressar seu sentimento, começou a ouvir a descrição que os falsos costureiros faziam do tecido maravilhoso. E ele se dizia: "Será que sou tão estúpido? Não vejo nada! Vai ver que sou inapto para o cargo que ocupo". E como temesse perder o cargo e os tecelões do nada cobrassem dele a visão que eles tinham, acabou declarando: "É maravilhoso! Que padrões! Que cores! Vou dizer ao imperador que fiquei encantado".
Além da trapaça financeira, observe-se que a palavra ocupa o lugar da coisa, o conceito no lugar da obra. Não só o imperador acreditou, desde o princípio, na palavra dos arrivistas, como também o ministro, por medo e insegurança, abriu mão da sua palavra (ou visão) em benefício da palavra (ou visão) dos ilusionistas. E a cena se repete quando o imperador, para testar outro conselheiro, pede que ele faça a visita ao ateliê do nada. A reação foi a mesma. Ele não via nada. Pensou em dizer que não estava vendo nada, mas receoso de passar por estúpido e perder o emprego, partiu para os elogios a inventar verbalmente o inexistente tecido.
E o mesmo vai ocorrer com o imperador quando decide ir ver a tal roupa fabulosa. Ao defrontar-se com coisa nenhuma, pensou igual ao velho ministro e ao conselheiro - "Estão me fazendo de idiota!" - mas para não passar publicamente por imbecil, já que dois de seus principais auxiliares viam no vazio coisas fascinantes, passou a exclamar "lindo, maravilhoso, excelente". Assim fechou-se o circuito de invenção verbal da coisa inexistente. Ao qual se incorporou o resto da corte quando auxiliares tiveram que fingir carregar o manto invisível no dia de sua exibição no palácio. A ousadia dos falsários leva o imperador admirar-se diante do espelho. Então, consuma-se a alucinação: "o imperador diante do espelho admirava a roupa que não via".
Assim, toda a corte passou a se curvar diante do inexistente com a anuência do imperador e seus auxiliares. "Nenhum deles queria admitir que não estava vendo nada, pois se alguém o fizesse estaria admitindo que era estúpido ou incompetente. Nunca uma roupa do imperador fez tanto sucesso".
E como termina a história? No folclore português, ao invés de auxiliares competentes da versão de Andersen, só os "filhos legítimos" poderiam ver a roupa invisível do rei. Seria, como em outros mitos, a senha da legitimidade para sucessão no trono. Desta feita quem denuncia o embuste é um estranho-estrangeiro-negro. Na lenda de Andersen é uma criança - essa espécie de olhar estranho e virgem - que, descompromissada, grita em meio à multidão: "Ele está sem roupa!". O povo começa a abrir os olhos e concordar com a visão do garoto. Enquanto a multidão gritava, o imperador acuado pensava: "Tenho que levar isto até o fim do desfile. E continuou a andar orgulhoso e, com ele, dois cavaleiros e o camareiro real seguiram e entraram numa carruagem que também não existia".
É um belo final irônico, em aberto.
Noutras versões menos instigantes, que até circulam na internet, o rei ficou envergonhado de ter se deixado levar pela vaidade, arrependeu-se e desculpou-se, enquanto os falsos tecelões foram enganar outros em outros reinos, até serem presos e condenados.
Essa é uma lenda sobre um pacto de não-ver, onde toda uma comunidade brinca de avestruz enquanto alguém lucra com a cegueira estimulada. E porque todos têm medo da opinião (ou visão) do outro, todos deixam de ver (e ter opinião). É um caso de cegueira social. Isto ocorre, visivelmente, nas agremiações políticas e religiosas: a produção de um discurso que ordena o que deve ser visto ou não. No caso de grande parte da arte contemporânea isto é um caso de voluntária cegueira artística, próximo do que La Boetie chamava "servidão voluntária".
Pode-se perguntar: mas afinal, já que tanta gente é capaz de descrever as sutilezas da inexistente veste real, o rei está ou não está nu? Está e não está. Como diria Nathalie Heinich, "o rei está vestido pelo olho do outro". A linguagem pode ocultar ou desvelar. E esse é um jogo difícil e perigoso de se jogar.
Antes de virar marca de chocolate, Lady Godiva era uma lenda que ilustra uma das variantes do tema que estamos tratando. Aí ressurgem as questões do ver e do não- ver, porém envoltas com o problema da transgressão e da punição. Diz a lenda que entre os anos 968-1057, na Inglaterra, na região de Coventry, havia um rei, Leofric III, que cobrava pesados impostos de seu povo. Sua mulher, Lady Godiva, implorava ao marido que fosse mais humano com seus súditos. Ele não cedia. E um dia, como ela tornasse a insistir, ele fez uma contraproposta, evidentemente, para humilhá-la e mostrar uma vez mais seu poder sobre o povo. Que ela desfilasse nua sobre um cavalo pela cidade e ele aboliria os impostos excessivos.
Lady_Godiva_by_John_Collier Lady Godiva - John_Collier

Pois a Lady aceitou o desafio. O marido, aparentemente liberal, era, no entanto, ciumento, e botou uma condição: ninguém poderia vê-la desfilar nua, todas as portas e janelas deveriam estar trancadas. Pode-se imaginar como essa nudez se tornava logo mais erotizada não só pela presença desse cavalo em pêlo onde ela ia peladíssima, "vestida" apenas de sua longa cabeleira, mas a interdição tornava a cena ainda mais erótica. E no dia ansiado, lá estava Lady Godiva sobre o cavalo ondeando suas formas, oferecendo sua nudez real e imaginária, posto que ninguém deveria ou poderia vê-la. Mas como em toda lenda, há um transgressor; e um certo Peeping Tom resolveu fazer um buraco na janela de sua casa para ver a nudez real passar. Dizem que é daí que veio a expressão "peeping tom" em inglês, significando o voyeurista, o que sente prazer sexual em ver as intimidades alheias.
O fato é que o cidadão curioso foi punido com a cegueira. Ele viu o que não deveria ver. Nem sempre a autoridade permite que se veja o que ela não quer que seja visto. Se alguém insiste em ver o interditado deve ser cegado, para que a autoridade e o sistema permaneçam. É interessante, no entanto, observar duas coisas. Primeiro que, apesar deste incidente, o rei aboliu os impostos. E, em segundo lugar, um detalhe que não pode passar em branco na seqüência de histórias que estamos analisando: o voyeurista, aquele que quis ver a nudez da Lady Godiva era um alfaiate. Não deve ter sido por acaso que a lenda se constituiu deste modo incluindo aí um alfaiate, da mesma maneira que não é à toa que naquela lenda de Andersen que citei noutra crônica os dois tecelões( variantes do alfaiate) tecem a roupa inexistente para o rei.
Ao contrário da lenda de Andersen e de seus tecelões charlatães, aqui o alfaiate, que sabia cobrir o corpo alheio com as roupas mais apropriadas, é aquele que ousa ver a anti-roupa, ou melhor, a roupa original, a Lady vestida pelo esplendor de sua nudez. Portanto, aquele que por profissão cobre a nudez do corpo é o mais curioso para ver a Lady Godiva nua, desvestida.
Essa lenda tem sua parte de verdade, pois esses personagens são reais, há a sepultura da Lady na Trinity Church, e desde 1678 realiza-se um desfile lembrando o episódio. Uma lenda sobrevive na medida em que expressa conteúdos do imaginário coletivo.
Freud interessou-se por essa história ao estudar o "Conceito psicanalítico das perturbações psicogênicas da visão" (1910). Ele estava interessado em analisar a cegueira histérica estudada por Charcot, Janet e Binet. Nos hospitais e clínicas constatara que a histeria provocava a cegueira. Em circunstâncias de estresse e trauma, uma pessoa pode fabricar, psicologicamente, sua própria cegueira. O que faz com que em algumas sessões religiosas alguns desses histéricos voltem até a enxergar de novo, destraumatizados pela fé. Mas há também os casos da cegueira provocada psicologicamente por outra pessoa, quando um hipnotizador, por exemplo, torna um cliente sonâmbulo ou faz que veja, como reais, alucinações puras surgidas do comando do hipnotizador.
Líderes carismáticos podem provocar a cegueira histérica numa comunidade e levar todo um país a horrores sem precedentes. É o caso de hipnose social e histórica. Histórica e histérica. Hitler, Stalin, Mao são alguns exemplos recentes. E a cegueira em que anda tanto o povo americano atualmente como os comandados pelos fanáticos talibãs e por certos aiatolás são exemplos complementares.
Mas na lenda de Lady Godiva, Freud destaca o que lhe interessava - a questão da interdição. Estavam todos proibidos de ver a nudez da senhora. E como os interditos sociais e psicológicos são muito mais fortes do que pensamos, a quebra do pacto do não-ver por aquele que quer ver é punida com a cegueira. É como se o expulsassem da comunidade. No viés erótico freudiano o analista diz: "por haver querido fazer o mal uso de teus olhos, utilizando-os para satisfazer tua sexualidade, mereces ter perdido a vista". Ocorre a lei do Talião, paga-se o crime na mesma moeda, perde a vista quem tentou ver. "Na bela lenda da Lady Godiva", diz Freud, "todos os vizinhos ficam reclusos em suas casas e fecham as janelas para fazer menos penosa à dama a sua exibição, nua sobre o cavalo, pelas ruas da cidade. O único homem que espia através das madeiras de sua janela a passagem da beleza nua perde, como castigo, a vista".
A complementariedade de significados entre "A nova roupa do rei" de Andersen e a Lady Godiva é instigante. Se na primeira era o rei que estava nu, aqui é a Lady - variante da rainha, que exibe sua nudez. O rei fingia estar vestido, a rainha sabia-se nua. E em ambos os casos é alguém de fora da corte que consegue ver o que os demais não podem ou não querem ver. Ver é uma ousadia. Fazer falar o que se viu ou desmistificar a cegueira alheia é ousadia dupla.
O VELHO URINOL: Inúmeros leitores enviam-me a notícia que corre mundo de que o urinol de Duchamp foi eleito a obra mais influente e conhecida da modernidade, mais que a "Guernica" de Picasso e outras que tais. Pedem-me que comente o fato. Ele está já comentado em "Desconstruir Duchamp" (Ed. Vieira&Lent). Essa "eleição", paradoxalmente, confirma as teses que expus naquele livro.
images O Urinol de Duchamp
 
As histórias policiais clássicas, seja em Agatha Christie ou Sherlock Holmes, mostram que o detetive é aquele que vê "melhor" que os outros as pistas do crime. Esse olhar nos surpreende. Depois que nos desvenda os fatos, então nos dizemos, é claro, por que não percebi isto antes? Mas o conto de Edgar Allan Poe (1809-1849) "A carta roubada", que pode ser encontrado no livro de mesmo título (editora L&PM), mostra que o olhar policial, enquanto olhar oficial, às vezes não consegue resolver um enigma. Assim é necessário que um outro olhar fora do sistema venha revelar o que estava oculto.
Naquela história de Poe, o chefe de polícia de Paris procura um certo Auguste Dupin para que o ajude a esclarecer o roubo de uma carta. O curioso é que o policial sabe quem a roubou. Foi um ardiloso ministro do rei que se apoderou do documento, substituindo-o por outro semelhante. E esse ministro, tendo em seu poder tal carta, chantagearia a personagem - provavelmente a rainha -, a quem a carta comprometedora se dirigia. Como o chefe de polícia procura e revira tudo e não encontra a missiva, pede ajuda a Dupin. Este aceita o desafio. Prontamente descobre e devolve a carta ao policial que, pasmo e humilhado, pede que lhe explique como realizou tal façanha. Em grande parte, o conto é a explicação de como o policial não viu o óbvio. A carta roubada tinha sido posta num lugar bem evidente pelo ladrão, e exatamente por estar tão evidente não era vista. Esse o paradoxo que interessa à análise.
Sintomaticamente o texto de Poe começa por uma epígrafe, uma frase de Sêneca: "Nada é tão prejudicial à sabedoria como a excessiva sagacidade". Eis uma das linhas condutoras da história: a denúncia da "excessiva sagacidade" do olhar que, por querer ver demais, não vê o essencial, coisa que se dá em diversos campos do conhecimento humano. Com efeito, o chefe de polícia confessa que havia procurado em "todas" as partes, desmontado móveis, perfurado cadeiras, aberto gavetas, vasculhado espelhos, chapas de vidro, assoalhos, porões, fendas de tijolos, argamassas, encadernações de luxo, usado microscópios e nada encontrara. Por isto, Dupin, ao ouvir-lhe a narrativa vai logo advertindo que "talvez o mistério seja um tanto simples 'demais' (?) evidente 'demais'".
Como não lembrar uma vez mais a lenda do rei nu? Na narrativa de Andersen é um menino, alguém também de fora, que aponta a nudez dos fatos e no conto de Poe o narrador diz "que muitos meninos de escola conseguem raciocinar melhor" que o policial. O olhar excessivo, o hiperolhar da corte (e de certos críticos e analistas) vê "demais". Já diziam os chineses: "o homem inteligente é o que descobre o óbvio". Ou, Guimarães Rosa: "sujeito muito lógico, o senhor sabe: cega qualquer coisa". E ilustrando essa dificuldade que temos de não ver o óbvio, Dupin dá um exemplo: aquele jogo em que uma pessoa escolhe uma palavra num mapa e o adversário tem que dizer qual é ela. A tendência é o desafiado ir procurando a menor palavra e que está mais escondida, quando às vezes a palavra escrita em letras imensas e espaçadas, por ser visível, é ignorada.
A metáfora da visão é muito explorada no conto. Primeiro Dupin, contrariando a lógica meridiana da polícia, diz que é melhor examinar certas coisas "no escuro". É como se estivesse zerando nosso olhar, reinventando o primeiro olhar, desviciando a maneira de ver. E a seguir, quando vai ao gabinete do ministro que surrupiou a carta, chega aí com estranhos "óculos verdes", queixando-se de problemas de visão. É um álibi às avessas. É como se se disfarçasse de cego para ver melhor. Assim se a incapacidade do chefe de polícia de achar a carta confirma que o pior cego é aquele que não quer ver, o investigador Dupin mostra que o melhor "cego" é aquele que sabe ver. Por isto, no "escuro", com seus "óculos verdes" percebe que a carta tão procurada, na verdade, está à vista, num porta-papéis barato pendurado por uma fita azul e ensebada dentro de um envelope amassado e sujo. O esperto larápio da carta sabia que iriam procurá-la em lugares secretos, por isto a colocou num lugar à vista. Ao percebê-la, Dupin, espertamente, troca a carta por outra, usando da mesma tática do ministro quando trocou a carta verdadeira na mesa real também por outra.
Nessa história, verdadeiro "jogo de cartas", Dupin afirma que o policial conduziu a investigação erradamente porque não acreditou na inteligência e astúcia do ministro, pois achava que o ministro era "tolo porque adquiriu a fama de poeta". E na alma do policial "todos os idiotas são poetas". Neste ponto, Poe, que era poeta e construía seus textos matematicamente, faz algumas considerações sobre "poetas" e "matemáticos", revelando uma das chaves do mistério. Expõe a tese de que o raciocínio matemático em si não leva ao conhecimento se não estiver associado a algo mais, como a poesia. E porque aquele que era investigado era ao mesmo tempo "matemático e poeta", Dupin não poderia usar de um raciocínio lógico trivial, mas teria que desenvolver diversas astúcias, sendo também "poeta e matemático".
Jacques Lacan em seus "Escritos", com aquele seu estilo meio esotérico e apesar de algumas frases machistas, analisa esse conto levantando outras questões. Refere-se ao primeiro "olhar que não vê nada", ao segundo "olhar que vê que o primeiro não vê nada" e ao "terceiro que desses dois olhares vê o que eles deixam a descoberto". Refere-se ainda a alguns personagens que mereceriam um estudo particular: ao prestidigitador ou ilusionista, que nos engana com seus gestos e palavras, e ao nos convencer que o falso é verdadeiro nos transforma num ser de sua ficção.
E ironicamente refere-se também àqueles que, como "avestruzes", enfiam a cabeça na areia não querendo ver a realidade enquanto outros depenam-lhe o traseiro exposto.
Leio notícia que foi inaugurado em Paris um restaurante onde as pessoas têm a oportunidade de viver a experiência da vida de um cego, pois aí os clientes comem no mais completo escuro. Chama-se, apropriadamente, "Dans le noir" ("No escuro"). Os garçons são cegos, e não apenas servem, mas atuam como guias levando os fregueses até suas mesas. O restaurante está na moda. Situa-se ali perto do Beaubourg e até o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin foi experimentar comer no escuro.
A coisa ocorre assim: "antes de entrar na sala totalmente escura, os clientes deixam em armários com cadeados, no bar do restaurante, relógios, isqueiros, celulares e qualquer outro objeto que emita a mínima luz. Os pratos também são escolhidos antes de entrar no recinto. Entre as opções, há ainda o 'menu surpresa', que só será descoberto quando o garfo for levado à boca". A experiência supera qualquer instalação. As pessoas passam por três ambientes com cortinas nos quais a luz vai rareando até a sala escura, onde há muito barulho, pois para compensar a falta de visão as pessoas falam alto. A surpresa aumenta quando o cliente descobre que tem outras pessoas à sua mesa.
Foi um ex-banqueiro e consultor de marketing social quem teve essa idéia. E diz a matéria veiculada num site da BBC e mandada pela médica brasileira Mônica Campos, residente nos Estados Unidos, que alguns clientes acham-se ridículos durante a experiência, outros têm crise de choro e angústia, mas o fato é que o restaurante está sempre lotado. As pessoas pagam para não ver.
É pitoresco, mas repito: as pessoas pagam para não ver, pagam para comerem no escuro.
Não deixa de ser sintomático que se abra um restaurante onde os que vêem vão experimentar a cegueira, exatamente numa cultura de hipervisualização. Como se estivéssemos fatigados de ver, agora queremos não-ver. Que seja por algumas horas, não importa. É como se a poluição visual tivesse chegado a tal extremo, que se sentisse a necessidade de recuperar outros sentidos, experimentando o desver para, quem sabe?, ver de novo.
Tomo esse restaurante como uma metáfora paradoxal de nossa época. A modernidade que descobriu e aperfeiçoou a fotografia, e que tendo conseguido essa façanha mobilizou-a criando o cinema, e logo a seguir instalou a televisão dentro de nossas casas para que víssemos o mundo e o universo vinte e quatro horas por dia; a mesma modernidade que vem com essa enxurrada de letras e palavras em camisetas, vitrines, anúncios luminosos, que nos manda imagens dos planetas mais distantes e detalhes das guerras e misérias mais horrendas; essa modernidade que é um constante espetáculo de "strip-tease", no qual o público e o privado, ou melhor, a sala de visitas e a privada se acoplaram, essa modernidade de tanto ver, já não vê. O mundo é projetado como um clipping de imagens esfaceladas acompanhadas por um ruído ou ritmo qualquer. E, de repente, na "cidade-luz", pagamos caro para comer no escuro.
Nesta série de lendas, mitos e textos literários que comentamos nas cinco crônicas precedentes várias coisas se destacaram. Há cegos, como o adivinho Tirésias, que interpretam melhor os fatos do que os que enxergam. Há, por outro lado, a comunidade dos cegos arrogantes, dos que negam que se possa ver, como no conto de H.G.Wells. Há a cegueira que sobrevem a uma comunidade como uma praga temporária, uma doença, uma ideologia, como no "Ensaio sobre a cegueira" de Saramago. Há a visão excessiva com sua racionalidade irritante, que não enxerga o óbvio, como em "A carta roubada" de Poe. Há, na história de Lady Godiva, o ato de ver como forma de desafiar a interdição instaurada pela autoridade, que ordena não ver. Ver a nudez das coisas é já transgredir. E há, como na lenda "A nova roupa do rei", de Andersen, a denúncia do pacto social da comunidade que faz um acordo em torno do não-ver. Em vários desses casos é o estrangeiro, o forasteiro, o menino, alguém não comprometido com o sistema que denuncia a cegueira alheia.
"Homem cego" ( "Blind man") é o nome da revista que Marcel Duchamp lançou em 1917 para criar polêmica sobre o urinol que mandou para a exposição de vanguarda em Nova York, e que foi recusado pelo júri, também de vanguarda. Esse título é significativo. Ele vem do homem que decretou a morte da pintura, da gravura, do desenho e de outras artes a que chamava de "retinianas", porque careciam do olho para existir. Em sua ojeriza à "arte retiniana", Duchamp não reconhecia nem a fotografia nem o cinema como arte, senão como "um meio mecânico de fazer alguma coisa". Dizia: "Não acredito no cinema como meio de expressão" e fazia um jogo de palavras: "CINEMA/ANEMIC". Propunha uma arte conceitual, na qual a idéia era mais importante que a execução da obra pelas mãos do artista. Daí a sua série de "ready-made" ou "object trouvé", objetos industriais que ele expunha como obra de arte. Com isto ele "deixava de ver" ou "negava-se a ver" toda a arte do passado e cegava o artista moderno deixando-o com um só olho na direção de um pretenso futuro. Duchamp é o genial profeta da cegueira artística do século XX. Paradoxalmente ele pretendia despertar uma nova maneira de ver o mundo e as coisas. Achou que interditando o olhar se veria melhor. Mas pode-se perguntar: será cegando o passado que veremos melhor o futuro?
Segundo notícias nos jornais, o urinol de Duchamp acaba de ser escolhido como a obra icônica da modernidade. Isto é um fato sintomático. Isto explica as contradições do século XX. Duchamp é uma figura complexa. Acertou e errou.
Errou porque o século XX, século do cinema, foi o século da hipervisualidade. Acertou porque o século XX foi também o século de uma visualidade cega. Não apenas na cegueira trazida por Stalin, Mao e Hitler, mas outras formas de cegueira na arte, que é necessário rever. O desafio é ver com novos olhos, com um terceiro olhar o século XX e analisar aí as astúcias do "homem cego" que, paradoxalmente, pretende ter um ultra-olhar, mas que não vê o óbvio.
Esse homem que prefere comer no escuro, porque passar por cego virou moda.
Jornal O GLOBO, 20 de novembro de 2004.
Afonso Romano de Sant'Anna
                        Foto de Umberto Nicolini

Com mais de 40 livros publicados, professor em diversas universidades brasileiras - UFMG, PUC/RJ, URFJ, UFF, no exterior lecionou nas universidades da California (UCLA), Koln (Alemanha), Aix-en-Provence (França). Seu talento foi confirmado pelo estímulo recebido de várias fundações internacionais como a Ford Foundation, Guggenheim, Gulbenkian e o DAAD da Alemanha, que lhe concederam bolsas de estudo e pesquisa em diversos países.
Nascido em Belo Horizonte (1937), desde os anos 60 teve participação ativa nos movimentos que transformaram a poesia brasileira, interagindo com os grupos de vanguarda e construindo sua própria linguagem e trajetória.
Data desta época sua participação nos movimentos políticos e sociais que marcaram o país. Embora jovem, seu nome já aparece nas principais publicações culturais do país. Por isto, como poeta e cronista foi considerado pela revista “Imprensa”, em 1990, como um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião de seu país. Leia mais em: http://www.releituras.com/arsant_bio.asp

sábado, 4 de janeiro de 2014

Dia mundial do Braile

 

blind_rubik_1

 

Braille ou braile é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris.

O Braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em alto relevo. O deficiente visual distingue por meio do tato. A partir dos seis pontos relevantes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais.

Louis Braille perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ele ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, ele fez algumas adaptações no sistema de pontos em alto relevo, e em 1829 publicou o seu método.

Sendo um sistema realmente eficaz, por fim tornou-se popular. Hoje, o método simples e engenhoso elaborado por Braille torna a palavra escrita disponível a milhões de deficientes visuais, graças aos esforços decididos daquele rapaz há quase 200 anos.

O braille provou ser muito adaptável como meio de comunicação. Quando Louis Braille inicialmente inventou o sistema de leitura, aplicou-o à notação musical. O método funciona tão bem que a leitura e escrita de música é mais fácil para os cegos do que para os que vêem. Vários termos matemáticos, científicos e químicos têm sido transpostos para o braille, abrindo amplos depósitos de conhecimento para os leitores cegos. Relógios com ponteiros reforçados e números em relevo, em braille, foram produzidos, de modo que dedos ágeis possam sentir as horas.

Dia mundial do Braile

 

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Braille ou braile1 é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris.

O Braille é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em alto relevo. O deficiente visual distingue por meio do tato. A partir dos seis pontos relevantes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e notas musicais.

Louis Braille perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ele ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, ele fez algumas adaptações no sistema de pontos em alto relevo, e em 1829 publicou o seu método.

Sendo um sistema realmente eficaz, por fim tornou-se popular. Hoje, o método simples e engenhoso elaborado por Braille torna a palavra escrita disponível a milhões de deficientes visuais, graças aos esforços decididos daquele rapaz há quase 200 anos.

O braille provou ser muito adaptável como meio de comunicação. Quando Louis Braille inicialmente inventou o sistema de leitura, aplicou-o à notação musical. O método funciona tão bem que a leitura e escrita de música é mais fácil para os cegos do que para os que vêem. Vários termos matemáticos, científicos e químicos têm sido transpostos para o braille, abrindo amplos depósitos de conhecimento para os leitores cegos. Relógios com ponteiros reforçados e números em relevo, em braille, foram produzidos, de modo que dedos ágeis possam sentir as horas.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Carta de Kurosawa a Ingmar Bergman pelo seu 70º aniversário

 

Caro Mr. Bergman.
Quero dar-lhe os parabéns pelo seu 70º. aniversário.
Seu trabalho toca profundamente meu coração toda vez que o vejo, e aprendi muito através de suas obras, além de ser sido encorajado por elas. Meu desejo é que continue com boa saúde para criar para nós muitos outros filmes maravilhosos.
No Japão, houve um grande artista chamado Tessai Tomioka, que viveu na Era Meiji (final do século 19). Este artista pintou muitos quadros maravilhosos quando era ainda jovem, e quando chegou aos 80 anos, de repente começou a produzir pinturas que eram muito superiores às que fizera antes, como se ele tivesse tido um magnífico desabrochar. Cada vez que vejo os quadros dele, compreendo que um ser humano não é realmente capaz de produzir grandes obras de arte enquanto não chega aos oitenta.
Um homem nasce como bebê, torna-se um menino, passa pela juventude, pelo auge da vida e finalmente volta a ser um bebê antes que sua vida se encerre. Esta é, na minha opinião, a vida ideal.
Acho que o sr. concordaria que um ser humano torna-se capaz de produzir obras puras, sem nenhuma restrição, nos dias da sua segunda infância.
Estou agora com 77 anos e estou convencido de que minha verdadeira obra está apenas começando.
Vamos nos manter juntos, pelo bem do cinema.


                                                                          Akira Kurosawa

`Postado no Facebook por Braulio Tavares