quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

ACASO E PROBABILIDADES

 

Há pessoas que acreditam na fatalidade: cada um tem seu dia, sua hora de morrer. É uma maneira de ver o mundo. O acaso fica de fora. Alguém organiza nossa vida e morte, ninguém tem responsabilidade nisto.Tudo está pré determinado.
Mas há pessoas que, diferentemente, pensam nas probabilidades. Se o asfalto está molhado, se pessoa entra mal numa curva, se o outro carro ultrapassou onde não devia, se motorista tomou alcool, se está estressado ou enxerga mal, se é de noite ou, se passou um cachorro na estrada, se o automóvel não foi alinhado ou tem os pneus carecas, enfim, tudo isto aumenta a probabilidade de acidentes.
Estou convencido que nenhum acidente é fruto de fatalidade, mas de um conjunto de fatores que se agregam de repente. E as quase trezentas mortes na boite Kiss em Santa Maria, no Rio Grande do Sul são uma prova disto.
Qual o elemento aglutinador da tragédia? Onde o acaso entra nisto?
Se por acaso o rapaz da banda não tivesse soltado aquele rojão, nada disto teria acontecido. Todos os outro erros: uma porta só, isopor inflamável, alvará vencido, superlotação, falta de iluminação, seguranças, tudo isto não seria suficiente para detonar a tragédia.
Possivelmente o rapaz que soltou o rojão ja soltou rojões em outros shows e nada aconteceu. Aquela boite deve ter tido superlotação em outras oportunidades, e nem por isto. Os donos da casa noturna, descobre-se agora, tinham ficha criminal e seguiam sua vida normal.
Toda tragédia parte de uma série de transgressões, que se aglutinam em torno de um elemento disparador, que potencializa o desastre. O acaso é essa espécie de reagente químico que precipita a transformação do sistema.
Viver é a arte de controlar ou diminuir os acasos em nossa vida.

Affonso Romano de Sant’Anna

                                                                                    (Radio Metrópole, 31.01.2013)

domingo, 27 de janeiro de 2013

Após anulação, Biblioteca Nacional dá prêmio de poesia a Ana Martins Marques

 

O livro "Da Arte das Armadilhas" (Companhia das Letras), de Ana Martins Marques, foi escolhido na tarde desta quinta-feira (24) o vencedor na categoria poesia do Prêmio Biblioteca Nacional de Literatura.

A honraria tinha sido concedida em dezembro ao livro "Poesia 1930-62" (Cosac Naify), de Carlos Drummond de Andrade (1902-87), mas a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) voltou atrás após analisar quatro recursos pela anulação do resultado.

 

A poeta mineira Ana Martins Marques

A poeta mineira Ana Martins Marques (Rodrigo Valente/Divulgação)

 

A instituição reconheceu que, pelo edital, a inscrição só poderia ser feita pelo autor ou pela editora mediante autorização por escrito do autor, de modo que um autor já morto não poderia concorrer.

Após a anulação, os membros da comissão de avaliação --poetas Leila Miccolis, Carlito Azevedo e Francisco Orban-- reuniram-se novamente e o livro que obteve maior pontuação foi o de Ana. Publicado em 2011, "Da Arte das Armadilhas" é o segundo livro de Ana Martins Marques. O primeiro, "A Vida Submarina" (2009), saiu pela editora mineira Scriptum.

Nascida em 1977, em Belo Horizonte, onde mora, a autora é formada em letras e tem mestrado em literatura brasileira pela UFMG.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1220631-apos-anulacao-biblioteca-nacional-da-premio-de-poesia-a-ana-martins-marques.shtml

William Trevor: lições para uma literatura sentimental

 

Autor inédito no Brasil, Trevor assume o compromisso de celebrar a vida como ela é, em suas alegrias e tristezas, e dar voz ao cidadão comum.

 

William Trevor

 

“Usaria qualquer coisa para contar uma história, qualquer coisa que a fizesse funcionar”. É o que dizia William Trevor (1928- ) em entrevista ao The Guardian em setembro de 2009, vinte anos após um silêncio quase intransponível que o manteve à distância dos holofotes literários e midiáticos. Sua última entrevista significativa havia sido em 1989, quando uma impressionada repórter do Paris Review o interpelava acerca de sua extraordinária capacidade para criar diferentes personalidades em seus personagens, uma característica que, não se sabe se por falta de melhor definição ou por ser, de fato, o adjetivo mais certeiro, chamou simplesmente de “diabólica”. Dizia Mira Stout, a entrevistadora: “Como você pode saber tanto sobre como essas pessoas vivem? Parece com um ventríloquo que projeta sua voz em qualquer coisa”. A resposta foi ao mesmo tempo uma síntese de sua própria obra e de sua forma de trabalho: “Ora, parece-me que a única maneira de chegar lá é através da observação. Escritores registram tudo, lembram-se de pequenos detalhes. É uma forma de estar constantemente lembrando”.

Pode-se dizer que ler William Trevor é isso mesmo: um exercício do olhar. Ser leitor de seus livros é ser um pouco detetive, analista, ater-se às pequenas minúcias. É mirar através de uma lente de aumento a realidade cotidiana dos desafortunados, nua e crua. Wiliam Faulkner, o nobelizado de 1949, dizia que o elemento essencial para todo escritor é a observação. Outras duas categorias também figuram como fonte de inspiração e matéria-prima: imaginação e experiência. Em geral, uma delas será a mais desenvolvida, ocupando lugar de destaque na complexa genética literária que decidirá os rumos da prosa de cada autor. Tivesse conhecido William Trevor, certamente Faulkner seria impelido à criação de uma quarta categoria para aqueles que, dotados de criativa sensibilidade, ostentam a rara habilidade de equilibrar imaginação, experiência e observação.

Há um paralelo possível com outros escritores já consagrados no Olimpo da literatura, sobreviventes ao teste do tempo – como Anton Tcheckov. As ruas da Rússia czarista tomam a forma do Reino Unido contemporâneo que, passados cem anos, padece dos mesmos dilemas. A transposição dessas questões para outra cultura e outra época levanta uma questão importante: ao contrário do que apregoa nossa frenética era tecnicista, a história parece locomover-se emslow motion no que concerne aos valores humanos. Trevor assume o compromisso de celebrar a vida como ela é, em suas alegrias e tristezas, e dar voz ao cidadão comum. Por isso é, de fato, um contador de histórias. Seus personagens não corroboram o arquétipo do romance pós-moderno: o indivíduo atormentado por uma existência sem sentido que busca em seu próprio relato uma ressignificação para sua vida. Não. Para Wiliam Trevor os dilemas são produto da história. Ele afirma: “Minha ficção pode, vez ou outra, lançar luz sobre aspectos da condição humana, mas eu não o faço conscientemente: sou um contador de histórias”.

Mas em que momento a literatura contemporânea esqueceu-se dessas vozes para ater-se a imbróglios intelectuais sem fim? Não é que os personagens de Trevor sejam desprovidos de profundas preocupações existenciais. Eles estão, antes, preocupados com o emprego inexistente, com a visita iminente de um abusador sexual ao orfanato, com o que comer. Como a Rússia de Tcheckov, a Inglaterra de Dickens e o Brasil do século XXI.

Irlandês de nascimento, corpo e alma, o autor vive na Inglaterra desde 1954. Mas não trilharia desde cedo o caminho das letras. Seu primeiro romance veio apenas em 1964, aos trinta e seis anos de idade, após flertar com a carreira de escultor durante boa parte de sua juventude. Com o nascimento de seu primeiro filho e as dificuldades financeiras Trevor abandonou a escultura e arrumou trabalho escrevendo anúncios para empresas de publicidade, sempre prestes a ser mandado embora. “Eu era extremamente ruim”, diz. Foi nessa época que passou a escrever suas primeiras histórias, acompanhado de sua fiel máquina de escrever e doses cavalares de chá – para nunca mais parar.

O início de sua formação literária foi essencialmente através das ficções de mistério e histórias de detetive. Aos dez anos queria escrever thrillers, mas a ideia de se tornar um escritor ficou suspensa durante mais de duas décadas até o lançamento de The old boys. Antes disso Trevor havia publicado A standard of behavior, romance hoje renegado pelo próprio autor, escrito para aumentar a renda em um período de grande pobreza. Mas com a visibilidade de The old boys e as publicações seguintes finalmente pôde concentrar seus esforços exclusivamente naquilo que era sua verdadeira vocação: a escrita.

O recluso contador de histórias surpreende ao conduzir com maestria histórias que poderiam facilmente enveredar pelos caminhos do melodrama nas mãos de um escritor incauto. A narrativa tende a mostrar a que veio desde o início. Assim começa Death in summer: “Após o funeral, o intervalo que a tragédia trouxe toma uma diferente forma.” Dois capítulos mais tarde somos apresentados a Pettie, a amarga protagonista, e por meio da prosa límpida de Trevor já é possível identificar os desarranjos mentais que culminarão no evento central do romance.

Em 2012 foi um dos principais nomes na sempre acirrada disputa pelo Nobel de literatura. A casa de apostas Ladbrokes, reduto de jogadores que ano após ano apostam generosas quantias de dinheiro no nome dos possíveis ganhadores, tinha o nome de William Trevor alçado ao topo da lista, atrás apenas de Mo Yan, o contestado vencedor, e do superstar japonês Haruki Murakami. Vale ressaltar: o Nobel nunca revela quem são seus concorrentes, o que torna as possibilidades bastante amplas e um terceiro lugar ainda mais admirável.

Ainda que o público brasileiro não esteja familiarizado com seu nome, podemos encontrar edições em português para alguns de seus livros. Portugal possui algumas disponíveis, como A viagem de Felícia e Amor e verão (traduzidos do original por José Miguel Silva e Isabel Castro Silva, respectivamente). No estrangeiro, no entanto, Trevor já é figura respeitada há muitos anos. Tendo recebido inúmeros prêmios por seus romances, o autor faz maior sucesso justamente nas narrativas curtas – sendo considerado por muitos o maior contista vivo. Uma rápida busca no site Goodreads revelará o fato: os maiores escores de William Trevor são suas coletâneas, em especial After Rain, de 1996.

Quanto a nós, brasileiros, seguimos na expectativa por algum de seus trabalhos. E que a sua influência seja salutar para uma geração habituada a conflitos interiores e que almeja atacá-los em suas origens socioculturais mais profundas. Não importa o século e a localização geográfica do problema em questão. Importa registrar nas páginas da história os porquês e os comos de nossas falhas na tentativa de extirpá-los, e que a literatura seja capaz de denunciar a realidade sem pudores. Como dizia Walter Benjamin: todo documento de cultura é um documento de barbárie.

http://www.amalgama.blog.br/01/2013/william-trevor/

sábado, 26 de janeiro de 2013

Com fotos e televisores antigos, museu preserva a história da televisão

 

Quando a televisão surgiu no Brasil, em 1950, todos os programas eram exibidos ao vivo, porque não havia tecnologia para gravá-los. Diariamente, das 20h às 22h, um episódio da novela (que passava só duas vezes por semana) ou uma peça de teatro, por exemplo, eram encenados em frente às câmeras.

Por causa da dificuldade tecnológica, muito da memória desse período se perdeu. Um lugar, porém, reúne parte do que sobrou dessa história: o Museu da TV, localizado no bairro do Sumaré.

A atriz Vida Alves, que fez parte da equipe original da TV Tupi - a primeira emissora de televisão do Brasil, converteu sua casa na sede do museu. Ali, é possível ver fotos, figurinos, câmeras e aparelhos de televisão antigos. E, na memória, ela armazena histórias sobre a primeira transmissão do canal e sobre o primeiro beijo na boca exibido na televisão brasileira (do qual ela fez parte, com o ator Walter Foster).

Museu da TV
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         Gabo Morales/Folhapress

JOGO DE CINTURA

No começo, Vida conta que não havia departamento de figurino. Cada ator vestia as próprias roupas ou arranjava as próprias fantasias. "Se fosse uma roupa de um personagem mais velho, levava da mãe. Se fosse mais velho ainda, levava da avó", ela lembra.

Os cenários também eram improvisados. Vida relata que para fazer uma cena em um lago cercado de plantas, os funcionários recolheram galhos pelas ruas próximas à emissora e os organizaram ao redor da banheira de borracha usada pelos filhos pequenos da atriz.

PARA CRIANÇAS

Não demorou para alguém pensar em fazer programas para crianças. A autora Tatiana Belinky e o seu marido, o médico Júlio Gouveia, conseguiram do amigo Monteiro Lobato autorização para adaptar para a televisão as aventuras da turma do Sítio do Picapau Amarelo, que foram ao ar pela primeira vez em 1951.

Outros programas para o público infantil foram criados e a programação foi ampliada para começar às 18h. Vida Alves foi a idealizadora de um desses programas, chamado "Ciranda Cirandinha". "Era parecido com o 'Chaves'", diz a atriz. Nele, um grupo de crianças brincava a na rua e interagia com os adultos que passavam por ali.

MUSEU

Histórias como estas estão preservadas no acervo do museu, que foi montado com doações de atores e outros profissionais veteranos da televisão. As inúmeras fotos em exposição trazem rostos conhecidos até hoje, de atores e atrizes como Suzana Vieira, Regina Duarte, Tarcísio Meira e do apresentador Cid Moreira.

Quem visita o museu também pode ver peças do figurino usado por Alves na novela "Sua Vida Me Pertence" (1951), a primeira câmera de televisão do Brasil, prêmios e troféus do rádio e da televisão e conhecer a dona da casa, que ao final das visitas monitoradas faz uma pequena palestra.

CIDADE DA TV

Parte do acervo reunido pelo museu está em exposição na Cidade da TV, que fica na Cidade da Criança, em São Bernardo do Campo.

Além de apresentar a história da televisão desde os tempos em que era preto e branco, a atração também tem uma tela interativa --que reage aos passos dos visitantes que caminham sobre ela-- e o uniforme vestido pelo Capitão 7, estrela de um programa que foi ao ar de 1954 a 1966 na TV Record.

PARA CONFERIR
Museu da Televisão
QUANDO: A partir de 18/2. Visitas devem ser agendadas pelo telefone 0/xx/11/3872-7743 ou por e-mail protv.museudatv@gmail.com e acontecem de segunda à sexta, das 10h às 18h.
ONDE: r. Vargem do Cedro, 140 - Sumaré - São Paulo / SP
QUANTO: R$ 5

Cidade da TV
QUANDO: de terça a domingo, das 9h às 17h
ONDE: Cidade da Criança - Rua Tasman, 301 - São Bernardo do Campo
QUANTO:de R$ 5 a R$ 10

http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/1218580-com-fotos-e-televisores-antigos-museu-preserva-a-historia-da-televisao.shtml

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Brasil tem 15 filmes na 42ª edição do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam

 

Com um total de 15 títulos em diversas mostras, o cinema brasileiro terá uma expressiva participação na 42ª edição do Festival Internacional de Cinema de  Rotterdam, na Holanda, que começa na próxima quarta-feira (23) e vai até o dia 3  de fevereiro. O destaque é o filme Eles Voltam, do diretor pernambucano  Marcelo Lordello, que em sua estreia internacional concorre ao prêmio Hivos  Tiger, o principal da parte competitiva do festival. No último Festival de Brasília, Eles Voltam ganhou os prêmios de melhor longa de ficção, melhor  atriz e melhor atriz coadjuvante.

O filme conta a história de duas crianças que, por brigarem constantemente durante uma viagem à praia, são deixados na beira da estrada pelos próprios pais. Eles voltam é mais uma produção pernambucana a participar da mostra competitiva do festival da cidade holandesa, depois de Baixio das Bestas, premiada com o Hivos Tiger em 2007, e de O Som ao Redor, em 2012.

Em outras seções do festival, mais cinco filmes brasileiros fazem em Rotterdam sua estreia mundial. São eles A Floresta de Jonathas, de Sérgio Andrade; Avanti Poppolo, de Michael Wahrmann; Morro dos Prazeres, de Maria Augusta Ramos; O Rio nos Pertence, de Ricardo Pretti e O Uivo da Gaita, de Bruno Safadi.

Integram ainda a participação brasileira deste ano em Rotterdam cinco curta metragens, filmes já exibidos em outra mostras internacionais e produções feitas originalmente para outras mídias, como a internet e a TV.

O Festival de Rotterdam é um dos 77 eventos contemplados em 2013 pelo Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros em Festivais Internacionais, da Agência Nacional de Cinema (Ancine). O programa, que acaba de ser renovado por meio de portaria da agência, viabilizou em 2012 a presença de 85 filmes brasileiros – 38 longas, 22 curtas e 25 médias-metragens – em 43
festivais realizados em 21 países.

Lançado pela Ancine em 2006, o programa auxilia com serviços e recursos financeiros os filmes brasileiros oficialmente selecionados para festivais estrangeiros. São quatro tipos diferentes de apoios, compreendendo desde a concessão de cópia legendada ao envio da cópia e ao apoio financeiro para a promoção do filme.

Segundo a Ancine, os valores do apoio diferem em função da categoria do evento para o qual o filme foi selecionado, mas o mínimo é de R$ 4.200. O requerente deve solicitar o apoio com pelo menos 30 dias de antecedência em relação à data do festival. No caso do Festival de Rotterdam, cinco filmes foram beneficiados pelo programa de apoio da Ancine.

http://www.brasilcultura.com.br/audio-visual/brasil-tem-15-filmes-na-42%C2%AA-edicao-do-festival-internacional-de-cinema-de-rotterdam/

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

História da Bienal da UNE aponta poder de mobilização de estudantes e artistas

 

Criar um espaço para o diálogo entre o movimento estudantil e o movimento cultural. Foi com esse intuito que a União Nacional dos Estudantes (UNE) fundou, em 1999, um evento que atraísse estudantes que não estavam articulados na rede formal do movimento estudantil, composta por Centros e Diretórios Acadêmicos (CAs, DAs e DCEs). A iniciativa não era nova e se inspirava no Centro Popular de Cultura (CPC), fundado pela UNE em 1961 e fechado peladitadura militar três anos depois. Mesmo curta, a experiência deixou como legado um exemplo da força da mobilização conjunta de artistas e estudantes, fazendo correr pelo país os anseios por reformas estruturais.

“O CPC demontrou o poder da união entre as forças mobilizadoras que emanam da cultura e dos estudantes. Nessa época, vários artistas se aproximaram das demandas apresentadas pelo movimento estudantil”, aponta Maria das Neves, diretora de cultura da UNE. Pelo CPC, passaram figuras como o teatrólogo Gianfrancesco Guarnieri, que produziu a peça Eles não usam black-tie; o escritor Ferreira Gullar, autor de diversas poesias e crônicas; e os cineastasJoaquim Pedro de Andrade, de Marcos Faria, Cacá Diegues, Miguel Borges e Leon Hirszman, que produziram o filme Cinco Vezes Favela.

No espaço de tempo que separou o fim do CPC e a criação Bienal da UNE, o vínculo entre estudantes e artistas nunca foi totalmente suspenso, se vinculando através do apoio à cultura popular e das campanhas pelo direito à meia-entrada. Entretanto, é partir da Bienal que a UNE retoma seu objetivo de revelar ao Brasil manifestações artísticas inovadores e vinculadas com os processos políticos e sociais em curso no país. O evento é hoje um espaço propício para a
iniciação artística. “Os artistas que se apresentam ganham experiência para se participarem em outros eventos deste porte e têm a oportunidade de estabelecer contatos promissores. Alguns seguem carreira, outros não. Há bandas universitárias que se apresentaram em outras edições e já fazem sucesso em seus estados”, diz Maria das Neves.

Poder mobilizador

A Bienal parte de um entendimento de que o movimento estudantil deve mobilizar um rede mais diversificada. “A falta de interesse em participar de uma passeata não significa falta de engajamento ou descompromisso político. Há muitos estudantes que não estão dispostos a participar de manifestações ou integrar os CAs, mas organizam periodicamente uma roda de samba que reúne um grupo fixo de pessoas. A linguagem cultural tem um poder contagiante. Muitas vezes, um discurso oral não choca tanto quanto uma música ou uma peça de teatro”, explica Maria das Neves.

A história do evento deixa em evidência o poder de mobilização da cultura.
Chegando a sua 8ª edição, a Bienal já mobiliza um público maior que o Congresso da UNE. Estima-se que 10 mil pessoas circularão diariamente pelas atividades da programação.

Nesse processo de mobilização contínua, a Bienal contou com o reforço do Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA), fundado pela UNE em 2001. Segundo Maria das Neves, a iniciativa teve como objetivo proporcionar um fórum permanente para o debate cultural e um espaço para a criação artística dos estudantes. Em 2002, o CUCA foi contemplado no Programa Pontos de Cultura, lançado pelo então ministro da Cultura, Gilberto Gil. A partir de então, o circuto se desenvolve, criando ramificações em vários estados e promvendo um diálogo cultural entre estudantes e socidade.

A Bienal da UNE já passou por lugares conhecidos pela sua efervescência cultural, tais como a Lapa e o Pelourinho. Ao todo, cinco cidades já sediaram o evento, algumas delas mais de uma vez: Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Olinda e São Paulo. Nos seus 14 anos, a Bienal proporcionou o encontro de estudantes e novos artistas com renomados personagens do cenário artístico do Brasil. Gilberto Gil, Oscar Niemeyer, Ariano Suassuna, Augusto Boal, Ziraldo, Jorge
Mautner, Alceu Valença, Marcelo D2, Martinho da Vila, Lenine e Naná Vasconcelos são alguns dos nomes que trocaram experiências com os participantes das edições passadas.

Ao longo de sua história, o evento buscou ainda aliar o debate cultural às questões sociais e políticas da formação do povo brasileiro e da identidade nacional. Enquanto neste ano está em foco os processos migratórios do povo nordestino, em outros momentos já foram discutidas, por exemplo, a relação entre o Brasil e a África e a integração latino-americana.

http://www.brasilcultura.com.br/sociologia/historia-da-bienal-da-une-aponta-poder-de-mobilizacao-de-estudantes-e-artistas/

domingo, 20 de janeiro de 2013

EM HOMENAGEM A WALMOR CHAGAS

 

 

O Suicida

 

O sucídio
Não é algo pessoal.
todo suicida
nos leva
ao nosso funeral.

 

O suicida
Não é só cruel consigo.
É cruel, como cruel
só sabe ser
o melhor amigo.

 

O suicida
é aquele que pensa
matar seu corpo a sós.
Mas seu eu se enforca
num cordão de muitos nós.

 

O suicida
não se mata em nossas costas
Mata-se em nossa frente
usando seu próprio corpo
dentro de nossa mente,

 

O suicida
não é o operário.
É o próprio industrial em greve.
É o patrão
que vai aonde
o operário não se atreve.

 

Todo homem é mortal.
Mas alguns, mais que outros,
Fazem da morte
Um ritual.

 

O suicida, por exemplo
É um vivo accidental.
E o general
que se equivocou de inimigo
e cravou a sua espada
na raiz do proprio umbigo.
Mais que o espectador
que saiu no entreato
o suicida
é um ator
que questionou o teatro.

 

O suicida
é um retratista
que às claras se revela.
Ao expor seu negativo
queima o retrato
e se vela.

 

O suicida, enfim, ‘
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final.

                              

                                       Affonso Romano Santanna

 
(EM HOMENAGEM A WALMOR CHAGAS ESSE POEMA ANTIGO( Poesia Reunida, vol.2 p.45)

Cultura: como vender a ideia

 

Boas ideias e qualidade artística nem sempre são suficientes na hora de conseguir apoio financeiro

"No final das contas, o patrocinador também é protagonista no projeto", afirma Daniel Leão, produtor cultural e captador de recursos
Daniel Leão
Captador de Recursos

O que é preciso para se conseguir um bom patrocínio para projeto cultural?
A grande diferença hoje em processo de captação de recursos é conseguir envolver o investidor / doador e torná-lo também protagonista daquele projeto, benefício ou promoção cultural. É muito comum abordar empresários e pedir patrocínio sem essa compreensão, sem buscar compreender o que é o negócio dele, o que é sensível aos seus clientes, qual a cultura administrativa. É fundamental compreender cada uma as empresas para identificar o que pode ser sensível na hora da captação. Entender como envolver seus funcionários, em que aspectos o marketing pode, de fato, fazer diferença para ele. Ações diretas na empresa e durante o evento podem ser uma boa também.
foto
Quais os erros mais recorrentes cometidos pelos artistas?
Costumo ver vários... No momento anterior da captação tem principalmente a falta de diálogo com possíveis patrocinadores. O artista já tem o projeto pronto, não dialogou nem interagiu antes com possíveis patrocinadores nem com outras pessoas que poderiam sugerir incrementos de forma a facilitar o processo de captação. Acontece muito também do orçamento ser acanhado, o artista não soube especificar tudo corretamente ou principalmente esqueceu de contabilizar todos os impostos. Depois do projeto realizado vejo também um desleixo considerável com a prestação de contas. Este tópico deve ir além da apresentação de notas fiscais e recibos. Prestar contas do projeto é mostrar como a imagem do patrocinador foi associada, mostrar como foram atingidos todos os objetivos do projeto, especificar se todas as metas já foram cumpridas e caso-a-caso porque do não atingimento. É preciso perceber o pós projeto como uma parte da captação para as próximas edições, se não o patrocinador pode fechar as portas pra você no futuro.
O que as empresas procuram nos projetos? O que é vantajoso para elas?
Visibilidade da marca é o fundamental. Essa visibilidade deve extrapolar a logomarca no banner, no folder e a assessoria de imprensa, que, geralmente, é apresentada como um "plus" no projeto. Isso não é errado. Só é importante perceber que não é suficiente para dar visibilidade. O proponente deve abrir uma linha de diálogo e pensar junto com o patrocinador em potencial como a marca dele pode ser bem apresentada e associada ao investimento cultural. É importante pensar nos três públicos, os colaboradores, os fornecedores e os clientes do patrocinador, e pensar forma de envolvê-los caso a caso. Tudo que possa associar a marca dele como um agente promotor de cultura. No final das contas o patrocinador também é protagonista no projeto. Ele só não ajudou a concebê-lo, e até poderia. Seria vantajoso por exemplo um projeto de teatro realizar intervenções na empresa, com seus funcionários. Um festival fazer um evento interno para premiação e agradecimentos aos patrocinadores. A assessoria de imprensa do projeto pautar no caderno de economia sobre o investimento cultural feito por esta empresa. Existindo a possibilidade do patrocinador se posicionar, ele se convence de sua participação, a sua empresa se aproxima mais do projeto cultural e ele é de fato associado a cultura.
Projetos coletivos ou individuais, quais têm mais efeito junto às empresas que investem?
Projetos coletivos tem a chance de apresentar alcance maior de visibilidade. Projetos em rede tem a possibilidade de gerar mídias especificas como compilação da experiencia adquirida, documentação dos processos do projeto, etc. Essas mídias são para documentar os processos para a rede. Projetos coletivos também tem a chance de ampliar o publico atingido, então, nesse caso, vai ser preciso observar onde estão os clientes do patrocinador, para entender se valeria a pena para ele o investimento em um projeto com alcance maior do que ele atinge com seus produtos / serviços. Por isso é importante pensar no patrocinador junto com o projeto. Uma empresa de telefonia, por exemplo, poderia investir em um projeto de circulação nacional. Uma empresa de serviços, com alcance estadual, como companhia elétrica, poderia investir em projeto de circulação estadual, e assim por diante.
Como você avalia o cenário do Ceará quanto a este investimento privado em cultura. Existem muitas empresas que investem ou que tenham interesse em investir? O que falta?
A possibilidade de investimento em cultura e em outras áreas está muito associada à isenção fiscal. Para isenção de imposto federal, a empresa deve ser tributada no lucro real. Não são tantas empresas assim aqui no Ceará (não sei precisar a quantidade), diferente do eixo Rio-São Paulo. Para isenção estadual, temos possibilidades na mesma linha e quantidade de empresas. Diante do fato de não existirem tantas empresas com a possibilidade de investimento via isenção, fica a necessidade de pensarmos em que outras maneiras o investimento poderia ser feito, se dentro de verba de marketing, se apresentando formatos com maior retorno ao investidor, etc. Vejo também uma necessidade dos governos em se aproximarem mais dos investidores, seja discutindo as leis de incentivo, seja convencendo quanto ao processo de isenção ou realizando atividades de fomento ao tema da associação da marca empresarial a cultura.
Fábio Marques
Repórter

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1225242

sábado, 19 de janeiro de 2013

Texas terá a primeira biblioteca sem livros físicos

 

Instituição emprestará apenas e-books

Biblioteca digital

A cidade de Bexar Country, no Texas, receberá a BiblioTech, a primeira biblioteca sem livros físicos. Todos os títulos estarão disponíveis apenas em versões digitais.
Funcionará assim: o indivíduo poderá ir até lá, pegar um e-reader e levá-lo para casa. Será possível ficar com o equipamento por até duas semanas – depois disso, ele será bloqueado. É claro que, para evitar furtos, cada um deverá cadastrar endereço e uma série de informações pessoais. Na biblioteca ainda haverá computadores para uso.
A instituição foi idealizada pelo juíz Nelson Wolff, que tem mais de mil livros em sua casa. Segundo ele, o conceito foi inspirado pela biografia de Steve Jobs.
“Se você quer ter uma ideia de como ela se parecerá, vá à Apple Store”, disse o idealizador ao jornal San Antonio Express.
Cada e-reader deverá custar US$ 100 ao governo. O acesso aos primeiros 10 mil livros deverá custar cerca de US$ 250 mil.
A ideia da BiblioTech não é substituir as bibliotecas comuns, mas sim funcionar como um complemento. Afinal de contas, segundo Wolff, sempre haverá demanda pelos livros físicos.

http://olhardigital.uol.com.br/jovem/digital_news/noticias/texas-tera-a-primeira-biblioteca-sem-livros-fisicos

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Romance de Daniel Galera conquista crítica e leitores com literatura que foge ao padrão de best-sellers

 

Editora investiu pesado em marketing do livro 'Barba ensopada de sangue'

 

 (Renato Parada/Divulgação )

 

No fim do ano passado, com reflexos entrando janeiro adentro, dois acontecimentos literários chamaram a atenção, por motivos diferentes: o fenômeno dos livros eróticos femininos descartáveis, à la 'Cinquenta tons de cinza', de E. L. James; e o sofisticado romance 'Barba ensopada de sangue', de Daniel Galera, que despertou interesse de leitores (já vendeu 9 mil exemplares) e da crítica. Nascido em 1979, em São Paulo, e criado no Rio Grande do Sul, Galera estreou na literatura em 2001, com o volume de contos 'Dentes guardados', pelo selo editorial Livros do Mal, de Porto Alegre, do qual foi um dos criadores.
Nos anos 2000, outros livros nacionais seguiram enredo semelhante: os romances 'Perdas e ganhos', de 2003, da gaúcha Lya Luft, ficou por várias semanas entre os mais vendidos; e 'Dois irmãos', de 2000, de Milton Hatoum, teve o mérito, pela repercussão obtida entre a crítica, de colocar o escritor amazonense entre os principais nomes da literatura brasileira contemporânea.
Outro romance do mesmo período, 'Filho eterno', de 2007, do catarinense morador de Curitiba Cristovão Tezza, também deu o que falar. História autobiográfica, na qual o escritor, num tom comovente e maduro, narra sua complexa relação com o filho portador de síndrome de Down, o livro garantiu ao autor os mais importantes prêmios literários da temporada.
Para Noemi Jaffe, doutora em literatura brasileira pela USP e crítica literária, livros como 'Cinquenta tons de cinza' são os que, provavelmente, vão dar o tom do cenário que está se configurando no universo literário. “Percebo os leitores aumentando, mas a qualidade diminuindo e acho que a tendência é piorar. Nesse sentido, vejo com bons olhos um fenômeno de vendas como está ocorrendo com 'Barba ensopada de sangue', embora não se compare aos 'Cinquenta tons', porque estimula uma leitura maciça, de qualidade”, pontua.

SAIBA MAIS...

Autora de 'A verdadeira história do alfabeto', Noemi acha que Barba ensopada de sangue é até agora, o melhor livro de Daniel Galera, independentemente do fato de ter sido cercado por uma campanha midiática forte, com direito a três capas diferentes. “Certamente é um marco nesse sentido: da aposta em torná-lo o novo nome da literatura brasileira. Mas o livro é realmente bom, embora seja preciso esperar ainda bastante tempo para afirmar algo categórico”, diz. Da geração de Galera, que está sendo reconhecida, a professora cita escritores como Michel Laub, Fabrício Corsaletti, Angélica Freitas e Verônica Stigger. Para Noemi, é difícil dizer se esta geração já deixou sua marca: “Isso só o tempo irá falar”.
Já para o escritor e crítico Nelson Oliveira, que passou a assinar Luiz Braz, vários escritores brasileiros chamaram a atenção em 2012. Entre eles, destaca Angélica Freitas, com a coletânea de poemas 'Um útero é do tamanho de um punho'; Luisa Greisler, com o romance 'Quiçá'; e Daniel Galera, com 'Barba ensopada de sangue', na sua opinião um romance valioso e maduro. “Mas seria injusto com os outros afirmar que esse livro foi o principal lançamento do ano passado. Acredito que o próprio Daniel concordaria comigo, que seu romance pertence a uma interessante safra de títulos nacionais, todos muito bons”, afirma.
O pernambucano Marcelino Freire, companheiro de geração de Galera, acha que 'Barba ensopada de sangue' é um marco na carreira do autor. “Ele está maduro, cada vez melhor. Leva a sério seu ofício. Lembro-me dele carregando caixas de livros nas costas, na Feira do Livro de Porto Alegre. Tenho orgulho de ter sido e estar sendo testemunha de tudo isso”, diz Marcelino.
Quem também está atento ao que se publica no país é o escritor e crítico mineiro Ronaldo Cagiano. Nascido em Cataguases, na Zona da Mata mineira, e atualmente vivendo em São Paulo, ele diz que a geração de escritores que surgiu dos anos de 1990 para cá – e à qual pertence Daniel Galera – se diferencia da dos anos de 1960/70, que produziu uma literatura caudatária do espírito de resistência, vanguardista e renovadora. Já os autores que vieram depois, segundo ele, pertencem a outra vertente, influenciados por momento distinto e pelos ícones da modernidade, beneficiados pelo ambiente da tecnologia e pelos fetiches da comunicação e cultura de massas. “São escritores menos ousados, alienados de um projeto mais crítico engajado, mas tendentes a uma literatura que agrade ao mercado”, diz Cagiano.
Quanto a 'Barba ensopada de sangue', o crítico reafirma a opinião de que o romance é um marco na carreira de Daniel Galera, não só por ter alcançado maturidade e segurança em sua arquitetura formal, mas pelo mergulho radical numa história tensa e densa. “É uma narrativa habilidosa e instigante, que vem consolidar o seu nome. Desde sua estreia em 2001,  Daniel Galera, com seu estilo peculiar, vem só crescendo”, afirma Cagiano.
Quanto a livros como a trilogia 'Cinquenta tons', ele acha que isso pode ser explicado pelo fato de o sistema editorial oscilar entre o mercado e a arte. Para Cagiano, “é preciso ganhar dinheiro com o lixo e fazer caixa para poder publicar o luxo”. Com o que concorda Marcelino Freire, para quem os livros eróticos atuais são uma brochada literária. “Já o Galera, creio, é jovem, vigoroso e muito mais potente”, provoca.

 (Renato Parada/Divulgação)

Barba ensopada de sangue
• De Daniel Galera
• Editora Companhia das Letras
• 424 páginas, R$ 39,50
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Carlos Marcelo
Desde 'O filho eterno' (2007), de Cristovão Tezza, a literatura brasileira contemporânea não conseguia ultrapassar os limites da autorreferência e atingir um público mais amplo. Em tempos de atenções dispersas pela oferta incessante de múltiplas opções culturais, a façanha de Daniel Galera com 'Barba ensopada de sangue' torna-se ainda mais digna de nota. Claro que o forte investimento da editora, Companhia das Letras, foi decisivo para a visibilidade inicial, mas a profusão de comentários nas redes sociais nas últimas semanas mostra que o livro agora anda com as próprias pernas. Caiu no gosto de uma faixa de leitores interessados em uma aventura nada tradicional, que começa íntima e vai ganhando contornos de tensão até o desfecho arrebatador, marcado pelos embates com a natureza e com o próprio passado do protagonista. Com destreza narrativa e máximas ("Tudo que precisa ser conquistado dá problema depois") que começam a ser citadas aqui e ali, Barba… sacode panorama de longa e incômoda calmaria. Que o Brasil não demore outros cinco anos para gerar outra onda tão forte.

http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/arte-e-livros/2013/01/17/noticia_arte_e_livros,139651/romance-de-daniel-galera-conquista-critica-e-leitores-com-literatura-q.shtml

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Como ler e analisar um clássico da literatura

 

Você consegue analisar um texto literário? Confira 10 dicas para fazer isso bem e aproveitar melhor a sua leitura.

 

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Crédito: Shutterstock.com

Comparar o texto literário que está lendo com outros do mesmo autor ajuda a determinar se houve alguma evolução

Ler uma obra literária é formidável. Os textos literários têm, em geral, o objetivo de emocionar o leitor, e para isso exploram a linguagem conotativa ou poética.

Como ler um texto literário: 1. Não se irrite com facilidade

A dica é ler com curiosidade e expectativas razoáveis. Não é importante entender cada palavra da obra. A literatura vai além dos vocabulários.

Como ler um texto literário: 2. Escolha a melhor edição

Busque a edição do livro que tenha uma boa introdução, ou seja, a mais fácil de entender. Boas introduções explicam o contexto histórico, os fatos mais importantes da obra, a vida do autor, a estrutura, o estilo e muito mais.

Como ler um texto literário: 3. Não interrompa a leitura para buscar palavras no dicionário

Apenas faça isso se a palavra em questão apareça muitas vezes na obra, ou se não conhecer o seu significado impede você de entender o texto.

Como ler um texto literário: 4. Faça anotações

Fazer anotações ajuda muito, especialmente quando a obra tem muitos personagens (exemplo: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez). Você pode simplesmente anotar as coisas que mais chamam a sua atenção. Outra dica é fazer um resumo ao final de cada capítulo. Alguns textos literários não têm uma narrativa linear. É o caso da poesia. Nem sempre há uma história com começo e fim.

Como ler um texto literário: 5. Identifique os temas

Geralmente, há temas e subtemas. É preciso identificá-los.

Como ler um texto literário: 6. Analise os personagens e o narrador

Quem é o protagonista da obra? Às vezes, o autor dedica muito tempo a descrever os personagens. Além disso, é preciso determinar também quem é o narrador. Provavelmente, o narrador é um dos personagens, mas também pode ser apenas uma voz onipresente.

Como ler um texto literário: 7. Preste atenção em como a história é narrada

Não fique atento a descobrir apenas quem é o narrador da história. Tente entender também como essa história é narrada. Note se a narração é linear, ou seja, se conta os fatos em ordem cronológica.

Como ler um texto literário: 8. Preste atenção ao estilo de linguagem

É uma linguagem coloquial ou formal? Existe alguma conexão entre o argumento e o estilo? Você deve notar, por exemplo, se há muita descrição ou uso de metáforas no texto.

Como ler um texto literário: 9. Considere o contexto histórico

É importante considerar a situação política, econômica e social em que a obra foi escrita, assim como os movimentos culturais vigentes da época.

Como ler um texto literário: 10

. Compare o texto com outros do mesmo autor

Comparar o texto literário que está lendo com outros do mesmo autor ajuda a determinar se houve alguma evolução. Ajuda a entender se o texto se encaixa em algum movimento literário.


Fonte: Universia Brasil

http://noticias.universia.com.br/atualidade/noticia/2013/01/16/994389/como-ler-e-analisar-um-classico-da-literatura.html

Juiz manda recolher trilogia '50 tons de cinza' em livrarias de Macaé, RJ

 

Decisão, no Norte Fluminense, diz que só livro lacrado pode ser vendido.
Segundo juiz, ele se baseou no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Oficial de justiça aguarda dono da loja Nobel Macaé assinar mandado de intimação (Foto: Carolina Burgos/G1)

Oficial de Justiça aguarda dono da loja Nobel Macaé assinar mandado de intimação (Foto: Carol Burgos/G1)

Um juiz de Macaé, no Norte Fluminense, determinou o recolhimento dos livros  “Cinquenta tons de cinza”, “Cinquenta tons mais escuros” e “Cinquenta tons de liberdade”, da autora E. L. James, das livrarias. Segundo a ordem de serviço assinada por Raphael Baddini, da Segunda Vara de Família, da Infância, da Juventude e do Idoso, estas e outras publicações consideradas "impróprias" não podem ser expostas nos estabelecimentos sem lacre.

Apesar de a decisão, da última sexta-feira (11), valer para outros livros, o juiz cita por diversas vezes a  a trilogia. Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça,  desde a determinação, 64 volumes foram recolhidos em duas livrarias da cidade – Nobel e Casa do Livro. Onze eram de títulos da trilogia e, os outros, de 19 obras diferentes.

Os livros foram levados para a 2ª Vara. De acordo com o magistrado, a iniciativa foi motivada após ele  ter verificado pessoalmente, em uma livraria da cidade, crianças perto das vitrines onde livros com conteúdo erótico estavam expostos.  “A ordem de serviço é uma forma de garantir que a lei seja cumprida", diz o juiz. "Uma criança ou adolescente pode pegar um dos livros em uma prateleira e ter acesso a um conteúdo inapropriado para sua idade. Eles precisam ser protegidos”, afirma.

A loja Nobel de Macaé, que fica no shopping da cidade, recebeu comissários de Justiça  na segunda-feira (14). Segundo o proprietário da loja, Carlos Eduardo Coelho, na ocasião não havia mais nenhum exemplar, pois todos já tinham sido comercializados. Apesar disso, foram recolhidas outras publicações. “Eles entraram procurando pela trilogia especificamente", diz Coelho. "Como não encontraram, acabaram olhando outros livros. Não questiono a lei, mas a forma de abordagem, já que não deram nenhuma orientação, ou fizeram alguma notificação anteriormente", diz ele, que afirma que as prateleiras do público infanto-juvenil são separadas.

Ao todo, no estabelecimento, foram recolhidos sete volumes do livro “Algemas de Seda – A História de Jake Mimi”, de Frank Baldwin; um volume de “Dominique, Eu”, de Dommenique Luxor e sete volumes do livro “50 Versões de Amor e Prazer – Col. Muito Prazer”, de Rinaldo de Fernandes.
“Não fica claro, por exemplo, qual o critério utilizado por eles para escolherem aqueles exemplares em específico, já que não há nada no ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] sobre os que são inadequados, ou não”, diz.

Livros foram expostos já lacrados nesta quinta-feira (17) (Foto: Carolina Burgos/G1)

Livros lacrados nas livrarias (Foto: Carol Burgos/G1)

Oficial de Justiça esteve na livraria nesta quinta (17)
Na tarde desta quinta-feira (17), um oficial de Justiça esteve na loja Nobel com objetivo de  entregar um mandado de intimação sobre os 15 exemplares recolhidos. Segundo ele, que disse não poder falar com a imprensa, os livros podem ser solicitados pela livraria e devolvidos no prazo de cinco dias. Segundo o Tribunal de Justiça, para isso é preciso que os estabelecimentos cumpram o que está previsto no artigo 78 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Ele ainda informou que as obras que estavam no estoque dos estabelecimentos não foram recolhidas.
Na loja, os livros da trilogia estavam novamente nas prateleiras, mas lacrados e postos no mais alto local de exposição.
Decisão
O artigo 78 do ECA, usado como base pelo juiz, diz que “revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo”.
Na determinação,  o juiz Raphael Baddini indica verificar se a trilogia está sendo comercializada protegida com embalagem que impeça o seu manuseio e, ainda, com a advertência de seu conteúdo. Também determina a fiscalização da locação, entrega, fornecimento e empréstimo, ainda que gratuitos, dos livros da trilogia a crianças e adolescentes.

A decisão é estendida a outras publicações de conteúdo “de mesma natureza e espécie” da trilogia, que seriam obras  “de conteúdo erótico, com descrição de cenas de sexo explícito, bem como de outras práticas sexuais, salvo as de natureza estritamente didática compatíveis com o nível de escolaridade do menor”.
Opiniões
Entre os clientes, a decisão dividiu opiniões. “Eu geralmente compro um livro quando ele é indicado por alguém. Não venho à livraria e fico folheando e acho muito difícil algum adolescente pegar um livro e abrir justamente na página, ou conteúdo que não é próprio”, opina a estudante de administração Marcela Oliveira.

Casal Gisele e Tiago divergem em opinião  (Foto: Carolina Burgos/G1)

O casal Gisele e Tiago (Foto: Carol Burgos/G1)

“Acho que com tanto conteúdo disponível hoje em dia, se a gente ficar falando em proibição aí é que vai instigar a curiosidade. Outros livros que são considerados para o público jovem induzem a pensamentos que não acho correto, por exemplo”, diz Gisele Martins. O namorado de Gisele, Tiago Nascimento, acredita que os livros devem ser postos em locais reservados. “Cheguei à conclusão que não devem estar lacrados, mas postos em local apropriado, específico”, argumentou.
Segundo o dono da Nobel Macaé, os livros apresentados na loja já são entregues pela editora da forma que são apresentados, além disso, a venda e acesso aos conteúdos são fiscalizados por funcionários. “Nunca iríamos vender um livro adulto para uma criança, ou adolescente e os funcionários fiscalizam a loja. As crianças, por exemplo, já vão direto para a parte delas e os adolescentes precisariam abrir, ler e nós temos controle”, afirmou.

http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2013/01/juiz-proibe-exposicao-da-trilogia-cinquenta-anos-de-cinza-sem-lacre.html

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Turquia elimina lista de livros proibidos, mas mantém censura

 

A Turquia começou o ano eliminando uma lista de livros proibidos, mas este avanço, sobretudo simbólico, não mudou a mentalidade das autoridades com relação à censura, segundo diversos escritos e editores do país.

"É difícil proibir ou queimar livros no mundo atual e o governo turco se sentiu obrigado a abolir uma lista de livros proibidos que hoje já não faz sentido", disse à Agência Efe em conversa por telefone o escritor Burhan Sönmez.

Sönmez se referia à notificação da Procuradoria do Estado, que em dezembro anunciou que iria eliminar uma "lista negra" de 453 livros e 645 publicações, cuja difusão tinha sido proibida em décadas passadas.

Ao não ser recorrida, a decisão entrou em vigor neste mês, mas de acordo com escritores e editores, o passo não significou nenhuma mudança, já que muitas destas obras eram vendidas há anos sem que o público soubesse que eram proibidas.

Entre os livros agora oficialmente "autorizados", estão marcos como as obras completas do poeta nacional Nazim Hikmet e a sátira "Azizname" do muito popular escritor Aziz Nesin, assim como textos clássicos na história do pensamento político, como o Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels.

Mas Meltem Gürle, professor de Literatura na Universidade Bogazici de Istambul, acredita que "embora a lista de livros proibidos desapareça, a mentalidade de censura continua existindo. É contra essa mentalidade que é preciso lutar".

É que as autoridades turcas continuam censurando livros que não são de seu agrado, explica à Efe Bilge Sanci, diretora-executiva da editora Sel, levada aos tribunais pela série "Livros Sexuais", na qual figuram autores como Guillhaume Apollinaire e textos clássicos como o Kama Sutra, o grande livro indiano do erotismo.

A obra de Apollinaire, As Façanhas de um Jovem Don Juan, foi considerada "não literária" pela comissão governamental para a proteção da infância contra publicações nocivas.

No entanto, um tribunal decidiu que o livro devia ser classificado como obra artística e portanto, não cai na categoria de "livros obscenos", cuja divulgação possa ser proibida.

"Mas a Corte Suprema anulou esta decisão e o livro em breve pode voltar às lojas. Embora há tempos não perdemos um processo, sempre há dúvidas", disse Bilge. Também o romance A Máquina Branda, de William Burroghs, deu voltas pelos tribunais durante um ano e meio. 

Coños, do espanhol Juan Manuel de Prada, por outro lado foi considerado "obra literária" pela Comissão Governamental, da mesma forma que outras duas obras de Burroughs, provavelmente porque os casos anteriores tinham causado uma enorme polêmica, disse Bilge.

"Esta tragicomédia continuará enquanto não houverem reformas profundas que mudem a mentalidade do Estado, que trata os cidadãos como crianças que devem ser protegidas e educadas segundo códigos morais nacionais", adverte.

Um exemplo recente aconteceu neste mês, quando o Ministério de Educação turco tentou eliminar dos colégios dois clássicos da literatura: Ratos e Homens, de John Steinbeck, e Meu Pé de Laranja Lima, um clássico juvenil do brasileiro José Mauro de Vasconcelos.

As razões dessas proibições são, no primeiro caso, uma conversa que acontece em um bordel, e no segundo, porque a criança protagonista recita uma canção sobre uma mulher nua. Curiosamente, ambas as obras estão na lista dos cem textos fundamentais do próprio Ministério da Educação.

A editora Bilge ressalta que os casos de "obscenidade", como o de Steinbeck, são os mais absurdos e os que provocam maior polêmica internacional, mas que não são um fenômeno novo e nem se renderam à censura política, especialmente no âmbito dos direitos da população curda.

"Com um livro de Marx não acontece nada, mas quando se trata da questão curda ou do debate do genocídio (armênio), a censura segue funcionando", conclui a editora.

 

http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/turquia-elimina-lista-de-livros-proibidos-mas-continua-censurando-literatura,d62f324b21b2c310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html

sábado, 12 de janeiro de 2013

Academia de ciências nos EUA cria selo para livros 'verossímeis'

 

Com avanços tecnológicos, credibilidade de trama se tornou um desafio para autores de romances policiais.

Nova York - Muitas tramas de romances policiais caem por terra quando os leitores desconfiam da verossimilhança dos acontecimentos. E enquanto escritores tentam garantir que suas histórias sejam críveis e plausíveis, uma organização científica dos Estados Unidos passou a oferecer um selo de aprovação para livros que acertaram na exposição dos fatos.

Não é uma tarefa fácil, a dos escritores. A ficção policial hoje requer um profundo conhecimento de áreas técnicas e científicas, essencial para o roteiro - e que muitas vezes leva a situações difíceis de serem descritas em palavras e de forma precisa.

Agora, a Academia de Ciências de Washington (WAS na sigla em inglês), criada em 1898 por Alexander Graham Bell - o inventor do telefone -, deu início a um projeto que dá selos de aprovação para livros que tenham fatos científico corretos.

"Muito lixo é publicado atualmente na área de ciência", diz Peg Kay, escritora e membro da WAS. Segundo ela, esse declínio deve-se à pressão comercial e à falta de bons editores por esse declínio.

"Tudo que os agentes querem é atingir as massas. Ninguém sabe mais no que acreditar porque não há mais filtro."

O presidente da WAS, Jim Cole, afirma que muitas pessoas acompanham séries de ciência da TV, como CSI, que podem dar a impressão de que a tecnologia pode resolver qualquer crime.

"A ciência da maneira como é percebida pelo público não é necessariamente a ciência correta", diz Cole.

"Com autores publicando na internet sem editoras, acho que essa questão vai ganhar ainda mais importância no futuro, sobre o que é real e o que não é."

http://www.d24am.com/plus/literatura/academia-de-ciencias-nos-eua-cria-selo-para-livros-verossimeis/77963

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Literatura-Prêmio: Biblioteca Nacional anula resultado de premiação

 

FolhaPress

Por Raquel Cozer
SÃO PAULO, SP, 11 de janeiro (Folhapress) - A Fundação Biblioteca Nacional voltou atrás na decisão de agraciar a obra "Poesia 1930-62" (Cosac Naify), de Carlos Drummond de Andrade (1902-87), organizada por Júlio Castañon Guimarães, no Prêmio de Poesia Alphonsus de Guimaraens. O novo vencedor ainda não foi anunciado.
O resultado, divulgado em 21 de dezembro, foi questionado por recurso enviado pelo poeta Marcus Fabiano, que concorria ao prêmio. Uma petição on-line pela anulação do resultado reuniu, nos últimos dias, 250 assinaturas.
O argumento principal para a anulação era o de que, segundo o edital, a inscrição só poderia ser feita pelo autor ou pela editora mediante autorização por escrito do autor -que, no caso, morreu há mais de 25 anos. Na lista divulgada pela FBN, Bernardo Ajzenberg, diretor executivo da Cosac Naify, aparecia como vencedor por ser "detentor de direitos autorais".
O recurso apresentado à instituição também questionava a possibilidade de a obra ter sido julgada como edição crítica. "O certame não poderia avaliar ensaios ou textos desse teor, mas apenas poesia propriamente dita", dizia o texto.
Na semana passada, os jurados -os poetas Carlito Azevedo, Francisco Orban e Leila Míccolis- se reuniram na Biblioteca Nacional, no Rio, mas não conseguiram chegar a um consenso sobre o novo livro a ser premiado, motivo pelo qual a instituição não anunciou a decisão no início desta semana.
Foram então indicadas três obras para que o Departamento de Economia do Livro escolha a vencedora. Segundo a FBN, o resultado deve ser conhecido entre hoje e o início da semana que vem.

http://www.jornalacidade.com.br/editorias/caderno-c/2013/01/11/literatura-premio-biblioteca-nacional-anula-resultado-de-premiacao.html

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

LITERATURA: Ariano Suassuna ministra aula espetáculo em JP nesta quinta-feira

 

LITERATURA: Ariano Suassuna ministra aula espetáculo em JP nesta quinta-feira

O escritor paraibano Ariano Suassuna ministra aula espetáculo nesta quinta-feira (10), às 19h30, no auditório da Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, no bairro do Altiplano. A aula faz parte das comemorações do centenário do livro “Eu” de Augusto dos Anjos promovida pela Procuradoria Geral do Estado (PGE/PB) e a Academia Paraibana de Letras (APL) com entrada aberta ao público.   
Os organizadores do evento irão disponibilizar um telão, no anfiteatro da Estação Cabo Branco, para que o público, que não conseguir poltrona no auditório para 500 pessoas, possa acompanhar do lado de fora pelo telão.   
Na mesma ocasião, o escritor será agraciado com a medalha “Procurador José Américo de Almeida”, a mais alta honraria do órgão, que está sendo outorgada, pela primeira vez, como forma de prestar homenagem a um dos paraibanos que mais contribuíram para difusão da cultura local.   
A aula espetáculo que será ministrada pelo escritor intitula-se “A Paraíba, um estado de poésis”, em falará sobre a poeticidade de Augusto dos Anjos. 

http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20130110052714&cat=cultura&keys=literatura-ariano-suassuna-ministra-aula-espetaculo-jp-nesta-quintafeira

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Universidade de Berlim oferece curso com escritores famosos

 

 

Desde 1998, a Universidade Livre de Berlim convida autores de best-seller de todo o mundo para dar aulas como professor visitante no curso de formação de escritores, oferecido semestralmente.

Para Raoni Duran já está decidido: no futuro ele quer ser escritor. E, aos 26 anos, o estudante brasileiro de literatura em Berlim já tem uma ideia fascinante para seu primeiro romance. Mas ainda "lhe falta alguma coisa". Ele não tem experiência suficiente para inserir suas ideias artísticas na trama e no modo de escrever adequados.

Quando descobriu o curso em inglês Ler como escritor (Reading as a Writer), no currículo da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin, na sigla em alemão), Duran não hesitou e logo se inscreveu. Passar da leitura à escrita já é há muito tempo o seu desejo. "Como escritor é preciso pensar em como o texto realmente funciona, e não sobre os detalhes do texto", opinou o estudante. Foi justamente isso que o ajudou a desenvolver a ideia para um romance.

Aprendendo com os melhores

Quem conduz o curso não é apenas um docente, mas o autor de best-seller Andrew Sean Greer, de São Francisco. Como convidado para a chamada Cadeira de Professor Visitante Samuel Fischer, neste semestre, o norte-americano de 42 anos leciona a 30 estudantes no curso de pós-graduação em Literatura Geral e Comparada. Greer não é o primeiro escritor conhecido que a universidade convida para dar aulas como professor visitante em Berlim.

A cadeira – patrocinada pela universidade, pelo Ministério do Exterior alemão e pela Editora Fischer – já existe desde 1998. Entre os convidados anteriores estão grandes nomes internacionais como o Nobel de Literatura japonês Kenzaburo Oe, o autor austro-alemão Daniel Kehlmann e um dos escritores africanos mais importantes da atualidade, o somali Nuruddin Farah. Greer, por sua vez, tornou-se mundialmente conhecido com os romances As confissões de Max Tivoli e A história de um casamento.

Andrew Sean Greer acredita que qualquer pessoa pode escrever livros

Outras culturas

O curso de Greer é baseado na observação de que, durante a leitura, os jovens escritores assumem a perspectiva de um crítico literário. No entanto, seria mais produtivo procurar impulsos para o próprio trabalho. "Eu quero que meus alunos fiquem cientes de suas possibilidades", assinalou Greer. Por esse motivo, ao longo do semestre, eles praticam diversas técnicas literárias, como mudanças de perspectiva e de tempo. O escritor norte-americano está convencido de que qualquer pessoa é capaz de aprender o ofício de escrever livros.

"O intercâmbio com visitantes de todo o mundo é uma parte importante da identidade de nossa universidade", disse o reitor, Peter-André Alt. A FU Berlin detém desde 2007 o status de Universidade de Excelência. Instituições como o professorado visitante Samuel Fischer ajudam os alunos a compreender melhor outras culturas, ganhando assim um entendimento mais profundo de sua própria cultura, disse Alt.

Grande interesse em curso de escrita

Mas o curso de Andrew Sean Greer aborda apenas marginalmente as comparações culturais. Talvez devido à similaridade entre as culturas alemã e norte-americana? De qualquer forma, Greer se sente bastante em casa em Berlim. "A cidade tem simplesmente uma atmosfera de presente e não de passado, embora se possa perceber o passado em toda parte", disse Greer. "E isso é libertador para mim."

Hang (esq.) e Dimitrov: Nem todos sonham com a carreira de escritor

O entusiasmo de Greer pela literatura e pela cidade de Berlim é aparentemente contagiante. Seus alunos estão muito felizes de participar de seu curso de escrita literária. Nem todos querem necessariamente ser escritores, como Raoni Duran. Sarah Hang, de 24 anos, disse ver seu ponto forte na crítica literária. Sua colega Lydia Dimitrov, de 23 anos, já trabalha como tradutora, paralelamente aos estudos. Mas as duas sentem que o curso as enriquece.

O alto nível de satisfação dos alunos também se deve à limitação do número de participantes, disse Peter-André Alt. Ao todo 160 estudantes se inscreveram, mas apenas 30 foram selecionados. Para os candidatos rejeitados, Alt tem uma palavra de consolo. "Felizmente, como o curso é realizado todos os semestres, todos os interessados ​​terão, eventualmente, o prazer de participar", disse o reitor.

Autora: Bianca Schröder (ca)
Revisão: Francis França

http://www.dw.de/universidade-de-berlim-oferece-curso-com-escritores-famosos/a-16508946

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

carta para o amado presente na ausência...

 

Meu amado:
Acordo e fico sabendo que hoje, sete de maio, é Dia do Silêncio. Absolutamente sozinha, mas não há silêncio interior.
Dentro de meu self, alaridos, relembrares, cantares e... até gemidos, arfantes gemidos de paixão.
Quando nos encontramos, descobrimos muitas coisas em comum:o gosto por fotografias, viagens, filmagens, música, praia, ar livre, estradas...
Vou à sala e ligo a TV. Na Net, passa um filme "cult": "O Último tango em Paris", que na Ditadura era proibido no Brasil. O livro, deixaram em cima de minha mesa na Gazeta Comercial, onde eu trabalhava, capa dura, páginas em papel ruim, edição clandestina, como muitos que recebi, então.
Li-o escondidamente, pois, mocinha, temia que papai me surpreendesse lendo livro assim"forte". Quando nos casamos, vim morar em Belo Horizonte onde você, engenheiro civil, trabalhava nas passarelas e viadutos da "Via expressa".
A abertura cultural começava. Você levou-me para ver os filmes antes proibidos. Entre eles, O Império dos Sentidos e O Último tango em Paris. Claro, o primeiro,oriental, mostrava situações inusitadas. Lembro de ficar sem graça, ao sairmos, pois a sala de apresentação era freqüentada por homens, na maioria. Como se os filmes fossem pornográficos, não eróticos.
Belo filme,"O Último Tango em Paris", que mostra a crua condição humana perante a condição sexual, suas repressões e liberações. Maria Schneider repete, num dado momento:"É como brincar de adulto sendo uma criança". O amor não é isso? Nosso lado lúdico, esforçando-se para alcançar as esperadas respostas adultas... E quando o filme finda, entre lágrimas, ela nega tudo e se nega. A respeito do amante, exclama: "Eu não o conheço","Eu não sei quem ele é", "Ele é louco" e "Não sei o nome dele..
Os seres humanos vivem essas angústias permanentes.O Outro quer, de si, saber tudo. E todos temos uma bagagem dentro da alma,do coração, segredos... Se todos apenas usufruíssemos a verdadeira alegria cotidiana de estar-com, de estar-para, sem cobrar a dissecação da personalidade e da história do companheiro, seríamos mais felizes...
Você tinha essa sabedoria. Casada de pouco, pois namoramos, noivamos e casamos em três meses, eu quis, como se oferecesse um presente, contar a você sobre meus amores antigos. Você me abraçou e me silenciou: "Chiu... nada que ficou para trás nos importa". E assim foi. Construímos nossa própria história, sem ciúmes, sem canseiras, sem cobranças... sabedoria pura...
Venho escrever. Na sala,a música-tema do filme. Meu coração se aperta, confrange-me. Nas nossas inúmeras viagens, você sempre a colocava para tocar... Linda...
Volto à sala e desligo a Tv. O silêncio se reinstala no espaço.
Dentro de mim, porém, sua voz. Lembro de quando entramos no mar para fazer amor. Quando caminhávamos no Parque das Mangabeiras aqui em Belo Horiznte, você se encantava quando eu imitava os micos e os chamava para lhes dar o pão que levávamos de casa. Homem sério, você se desmanchava de rir com minhas gaiatices, mandava-me imitar o andar das patinhas em Acuruí. Eu as seguia para desenhar e fotografar, enquanto você pescava os seus pacus... O vôo louco das libélulas fogosas...
Com quem vou rir agora?
Com quem vou falar sobre nebulosas, beija-flores, sobre o canto das pedras? Quem vai buscar corujas para minha coleção? Quem vai me mostrar a trajetória das borboletas?
Onde mais vou ouvir seus murmúrios?
Ah, o silêncio se faz absoluto e penso que você está tirando um cochilo dentro de mim... É aí que você vive agora. Você e sua história,você e nossa história... Como disse um personagem "especial" em um filme (...) "Você vive dentro do coração. É um lugar bem grande para se viver"... Quando trouxeram seus pertences, depois do acidente, em sua agenda, na primeira página encontrei um amarelado papel pautado com uma de minhas poesias de amor, manuscrita. Cheirava levemente a gasolina...
E foi assim que eu tive certeza de que eu também ainda estava dentro de seu seu coração, esse lugar grande demais para se viver, onde podemos ser espaçosos, sermos nós mesmos e fazer todos os rumores necessários, cantarmos todas as canção, dizermos todos os versos e sobretudo, falarmos de nosso amor imorredouro...

                         Clevane

N: Tenho de parar de escrever, porque é impossível enxergar sob as cortinas de cristal líquido que toldam meus olhos...
Até um dia...

Clevane Pessoa

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Itinerário de uma viagem à Alemanha

 

 

Bruxelas, 26 de agosto de 1856
Caro filho e irmãos do meu coração,

          O mês de agosto, que (sabem vocês) é tão funesto à minha felicidade, pela tríplice perda que imprimiu em minha existência, começou este ano mais triste e doloroso do que nunca. O coração confrangido, o espírito sempre abtido pela dilacerante recordação da morte da melhor das mães, eu via aproximar-se o primeiro aniversário do dia que a roubou à minha ternura.
          Vocês haviam pensado que Paris exerceria em mim sua costumeira magia. Pois bem, revi-a com indiferença; tornou-se-me monótona e quase insuportável, à medida que o triste aniversário se avizinhava. O abalo cruel que sacudiu todo o meu ser moral mantém-me ainda incapaz de apreciar, como outrora, a vida intelectual de que se frui nesta Atenas moderna.
          Era-me necessário percorrer novos países, nele haurir novas impressões, sob um horizonte mais amplo, em atmosfera mais livre e, conseqüentemente, mais consentâneas com minhas preferências. Importava-me, enfim, ver uma terra-tipo, cujo aspecto sério e respeitável se impusesse a meu espírito pela riqueza de sua natureza, pelo passado grandioso e pelos costumes ainda patriarcais de seu povo. Vocês vêem naturalmente que me decidi pela velha e poética Germânia, a digna pátria de Leibniz e Kant.
          Propondo-me realizar uma perigrinação ao túmulo de venerável amigo, o sábio e bom Duvernoy, preferi entrar na Alemanha pela Bélgica e sair por Kehl, para ir de Estrasburgo a Montbéliard, onde ele quis ser enterrado e onde sua virtuosa viúva me espera para, após minha viagem à Alemanha, retornar comigo a Paris. Sinto que as emoções dessa visita lutuosa, misturadas às que este triste mês me fez experimentar, me teriam incapacitado de ir além.
          Pelas oito horas da manhã, anteontem, 24 de agosto, fechei minha correspondência do Havre para vocês e, entregando a casa à ciada, tomei, com minha filha, uma carruagem que nos conduziu à estrada de ferro do Norte, verdadeira Babilônia de viajantes indo e vindo de todas as direções da França e do exterior.
          Enquanto eu pagava os bilhetes e cuidava da bagagem, estavas lá, diante de mim, ó filho dileto, tu que te encarregavas outrora dessas tarefas, quando eu tinha a felicidade de viajar com mais dois filhos. Agora, minha diligência substituía a tua, que me envaidecia tanto, quando te contemplava desembaraçado, sério e altivo como um jovem do Norte. Desta tua atividade eu esperava sempre melhores dias para tua mãe...
           O sinal de partida arrancou-me de meus pensamentos. Apresso-me em tomar nossos lugares e, um instante depois, o trem voava sobre os trilhos, deixando apenas o tempo suficiente para contemplar as paisagens que se sucediam, ainda sem interesse, sob nossos olhos.
          Já haviam desaparecido atrpas de nós Amiens, depois Arras, com suas reminiscências históricas, a primeira exibe seus canais, fábricas e linda catedral, a segunda evoca o fantasma ainda vivo de Robespierre. Em Valenciennes, paramos mais demoradamente para jantar e ver melhor a velha cidade em que Clóvis III e Carlos Magno realizaram, em 603 e 771, assembléias gerais.
          O percurso de Paris a Valenciennes pareceu-me monótono e triste, certamente por causa da disposição de espírito em que me encontrava. A imagem adorada da minha mãe seguia-me na mesma velocidade em que eu rapidamente percorria novos países, em qualquer parte do mundo, ou no silêncio do meu apartamento. Em Paris, ajoelhada diante de seu retrato, rezara durantes alguns instantes, e meus últimos pensamentos haviam sido dirigidos a ela e a vocês. A prece foi íntima e ardorosa. Senti no coração que minha mãe aprovava a viagem. Quando desci em Valenciennes, sua sombra me indicou a catedral e me precedeu lá.
          Depois de ter ezado por ela, fomos ver o hôtel de ville, as fortificações e a cidade construída por Vauban. A cidade é muito triste, e o mau tempo contribuiu ainda mais para torná-la assim a meus olhos.
          Na direção da fronteira belga, o campo mudou um pouco de aspecto e começou a me agradar mais. A pouca distância de Blanc-Misseron, última estação francesa, e setenta e duas léguas de Paris, atravessamos o limite que separa do solo francês o território belga.
          Chegando a uiévrain, primeira estação belga, submetemo-nos às corriqueiras formalidades aduaneiras. A fisionomia do interior das casas começa aqui a mostrar-se diversa: o poêle substitui, geralmente, à cheminée da França, e um ar de limpeza reina por toda a parte.
          Como na Inglaterra e em Portugal, experimentei emoções novas, tocando o solo de outro país que não a França; vocês sabem, eu sempre preferi esta nação a qualquer outra depois da nossa.
          Mudamos de viatura para tomar um trem belga, cujos lugares de primeira classe são tão bonitos e cômodos como os da França. As cidades, burgos, aldeias, paisagens, toda essa natureza mais ou menos bela, desdobrando-se rapidamente ante meus olhos, lembrava-me os rápidos momentos de minha felicidade, que infelizmente se esvaíram, pobre de mim! apenas eu começava a apreciá-los.
          Contemplando essas cenas variadas das paisagens que percorria, esforçava-me por mergulhar o espírito no seu passado histórico, a fim de desviar a tristeza que me roía mais vivamente o coração, nesse 25 de agosto.
          Alí esta Boussu, vila louçã, com o castelo que serviu de estada ao jovem Luís XIV, em 1655, quando comandou o cerco de Saint-Ghislain, que caiu em seu poder; aqui, Jemmapes, vaidosa de suas ricas hulheiras, a lembrar a célebre batalha que os franceses, comandados pelo General Dumouriez, ganharam contra o exército austríaco; por toda parte, à minha direita e à esquerda, sucedem-se paisagens interessantes, desenrolando-me uma página dos tempos passados. [...]
          Hoje, caros amigos, escrevo-lhes de Bruxelas, onde desembarquei com minha filha, pelas cinco horas, no cais do Sul. Uma pequena viatura, denominada aqui "vigilante", levou-nos ao Hotel da Rússia, onde nos encontramos instalados em belo e confortável quarto.
          Passou, portanto, o vinte e cinco de agosto! Sinto agora que, deixando-nos atordoar pelo silvo gritante do vapor em grande rapidez e pelos pequenos embaraços da bagagem, desendo aqui e ali, nas diversas estações, para percorrer às pressas uma cidade ou uma aldeia diferente, podemos desafiar melhor esta legião de tristes lembranças, fundeadas mais cruelmente em nosso coração, no aniversário da morte de meu ente adorado!...
          Sinto-me fatigada, e muito! Mas essa lassidão me é salutar. É às custas do físico que o moral talvez ressuscite. O corpo ficou inerte durante muito tempo, durante os combates do espírito e os pensamentos do coração! Agora é preciso que ele se agite, e muito, para ver se poderá restaurar esses dois poderes tão profundamente abalados em mim. Terei sucesso? Vê-lo-emos. Pelo menos vocês tomarão conhecimento dos esforços de minha vontade, para conservar uma existência que lhes é cara. [...]
          Mas é a propósito de Bruxelas que agora quero entreter vocês. Não pudemos julgar esta cidade, com base na parte que percorremos do embocadouro até aqui: este trecho é pouco limpo, ocupado pelo comércio da cidade baixa. Assim, se tivéssemos continuado nossa caminhada passando de um cais a outro, não teríamos conhecido o que há de mais belo e notável em Bruxelas, esta cidade, galantemente ataviada em torno de graciosos bulevares e belos edifícios, é edificada, em parte, sobre uma colina elevada e, em parte, em uma rica campina, atravessada pelos vários braços do Sena, rio pequeno em comparação com os nossos. [...]
          A limpeza das ruas e do exterior das casas logo me deu uma imagem positiva, principalmente logo que percorremos uma parte da cidade alta: as ruas são regulares, ornadas de ricas lojas, lindas casas e belos hotéis. As praças públicas e os passeios cheios de gente, algumas pessoas exibindo muito luxo e elegância, compõem a fisionomia de uma verdadeira capital da Europa.
          Empregamos uma parte do dia visitando os museus de Pintura e História Natural, bem como o Palácio da Justiça. Os primeiros encontram-se no Palácio das Belas-Artes, mais geralmente conhecido pelo nome de "Museu". stá situado ao lado de um Palácio utilizado nas exposições dos produtos de indústria nacional. Nesse momento, há uma muito importante.
          O vestíbulo por onde se entra no Palácio das Belas-Artes tem a forma de rotunda. Notável estátua de Hércules acha-se colocada ao pé da grande escada. Os gabinetes de Física e as ricas coleções de História Natural são de grande importância, assim como os quadros e as esculturas. [...].
          O Palácio da indústria engloba rica coleção de modelos de toda espécie, máquinas e instrumentos. Um dos lados é ocupado pela biblioteca real que possui (disseram-me) 200.000 volumes impressos e quase outro tanto de manuscritos; estes últimos sofreram, como todas as coisas da Europa, as mudanças dos vencedores, desde o Marechal de Saxe e Dumouriez, até Napoleão I, que restituiu uma parte.
          O Hôtel de Ville atraiu bem mais nossa atenção. É um velho edifício que oferece, ainda, apesar das devastações sofridas, uma parte de sua antiga magnificência. Entre as salas suntuosas, a graciosa mulher que no-las mostrava destacou aquela onde os antigos estados de Brabante tinham suas assembléias. Distingue-se pela riqueza e lembranças históricas. Mostraram-nos as chaves douradas, apresentadas a Napoleão quando de sua entrada em Bruxelas, cuja visão suscitará em todo viajante filosófo idéias sérias sobre o nada da grandeza humana. [...]

Nísia Floresta Brasileira Augusta

Do livro: Escritoras Brasileiras do Século XIX, vol. 1, 2ª ed., org. Zahidé Lupinacci Muzart, Editora Mulheres, 2000, EDUNISC/SC

Tirar dúvidas sobre a escrita com mestres da Literatura

 

Richard Zimler, Ana Saldanha e Fernando Pinho do Amaral são os convidados da sessão "Livres como Livros", na Biblioteca Almeida Garret, que quer tirar todas as dúvidas sobre o processo de escrever livros, aos fãs da literatura.

É no próximo dia 12 de janeiro que os escritores se reúnem no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett para responder às perguntas dos mais curiosos. "O que o inspira?", "O que lhe traz mais dificuldades?" são apenas algumas das perguntas que poderão ver respondidas.

Richard Zimler, autor de livros como "O Último Cabalista de Lisboa"; Ana Saldanha, de histórias para os mais jovens; e Fernando Pinho do Amaral são os escritores convidados, que partilharão as suas experiências a partir das 18h.

Esta é mais uma sessão do "Livres como Livros", um projeto da Universidade do Porto e da Câmara Municipal do Porto que pretende dinamizar as práticas de leitura na sociedade.

No dia 29, outra sessão da temática "Livros da Minha Vida", onde várias personalidades partilham os seus pensamentos sobre os livros que mais os marcaram, conta com a presença da jornalista Judite de Sousa, do fotógrafo Renato Roque e da pintora Mónica Baldaque. A partir das 21h15, podem ouvir-se excertos de obras como "Os Miseráveis", de Victor Hugo, "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, ou ainda "As Formigas", de Boris Vian.

O programa completo da iniciativa está em constante atualização e pode ser consultado aqui. As sessões são gratuitas e apenas exigem inscrição prévia, através do endereço bib.agarrett@cm-porto.pt.

http://jpn.c2com.up.pt/2013/01/07/tirar_duvidas_sobre_a_escrita_com_mestres_da_literatura.html

sábado, 5 de janeiro de 2013

Rocha murcha

 

Esta rosa desbotada
Já tantas vezes beijada,
Pálido emblema de amor;
É uma folha caída
Do livro da minha vida,
Um canto imenso de dor!

 

Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi num dia de Novembro:
Deixava a terra natal,
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.

 

Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
P'ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada,
Esta rosa foi-me dada
Ao som dum beijo primeiro.

 

Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes
Duns lábios inda inocentes
Enquanto cortasse as vagas.

 

E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!

 

Carpir o lírio pendido
Pelo vento desabrido...
Da divindade aos arcanos
Dobrando a fronte saudosa,
Chorar a virgem formosa
Morta na flor dos anos!

 

Era um anjo! Foi pr'o céu
Envolta em místico véu
Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo,
E despediu-se do mundo
Pensando talvez em mim!

 

Oh! esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também!

                     Casimiro de Abreu

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Carta de John Keats a Fanny Brawne

 

Março 1820
(Itália)

Adorável Fanny,

Você teme, algumas vezes, que eu não a ame tanto quanto você  deseja? minha querida Garota, eu a amo sempre e sem reserva. Quanto mais eu a conheci mais eu a amei. De toda forma — mesmo  meus ciúmes tem sido agonias do Amor, no mais forte acesso que  eu jamais tive eu teria morrido por você. Eu a tenho irritado muito, mas por Amor! Que posso fazer? Você está sempre nova  para mim. O último de seus beijos foi sempre o mais doce, o último sorriso o mais brilhante, o último movimento o mais  gracioso. Quando você passou na janela de minha casa ontem eu me enchi de tanta admiração como se eu a tivesse visto pela primeira vez.
Você proferiu uma queixa, uma vez, que somente amei sua  Beleza. Não tenho mais nada a amar em você que isto? Não vejo  um coração naturalmente provido de asas emprisionado comigo? Nenhuma expectativa de doença foi capaz de mover meus  pensamentos em você para longe de mim. Isto talvez seja tanto um assunto de tristeza como alegria — mas eu não falarei sobre isso. Mesmo se você não me amasse eu não poderia evitar uma completa devoção a você: imagine quanto mais profundo deve ser meu amor, sabendo que você me ama. Minha mente tem sido a mais descontente e impaciente que alguém jamais colocou num corpo, que é muito pequeno para ela. Eu nunca senti minha mente repousar sobre nada com felicidade completa e sem distração, da maneira que repousa em você.
Quando você esta no quarto meus pensamentos nunca voam para fora da janela: você sempre concentra todos os meus sentidos inteiramente. A ansiedade mostrada acerca de nosso Amor em sua última carta é um imenso prazer para mim; entretanto você não deve sofrer tais especulações que a molestem: nem posso eu acreditar que você tenha o menor ressentimento contra mim. Brown partiu — mas aqui está Mrs. Wylie. Quando ela se for eu estarei acordado para você.

Lembranças à sua mãe
Seu apaixonado
J Keats

                                                                    John Keats

______

Carta endereçada a Fanny Brawne, vizinha de Keats pela qual ele se apaixonou, não podendo porém se casar, pois, os médicos já tinham diagnosticado a doença que mataria o poeta inglês um ano depois, a tuberculose.

http://www.blocosonline.com.br/literatura/arquivos.php?codigo=cl/cl03/cl031201.htm&tipo=prosa

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Mulheres são destaque na literatura em 2012


 


Se na antiguidade as mulheres eram mantidas bem longe dos livros, em muitos casos analfabetas, hoje elas estão mais próximas da literatura do que nunca. Atualmente, não só são leitoras mais assíduas – 53% contra 47% dos homens, de acordo com a pesquisa feita pelo Instituto Pró-Livro (IPL) no Brasil – como também tiveram um grande destaque na produção de sucessos literários durante 2012.

Além do fenômeno Cinquenta Tons de Cinza, escrito pela inglesa E.L.James, tivemos muitos outros destaques femininos, confira só:

 


 

Hilary Mantel: A escritora britânica ganhou pela segunda vez em 2012 o Man Booker Prize, mais importante prêmio literário de língua inglesa do mundo, com seu livro Bring up the Bodies. A publicação é a segunda parte de sua trilogia histórica sobre Thomas Cromwell, um dos homens de confiança do Rei Henrique VIII. O foco neste segundo volume é a trama que acabou resultando na morte de Ana Bolena, segunda mulher do monarca inglês. A escritora foi a primeira mulher a ganhar duas vezes o prestigiado prêmio de melhor livro do ano.

 

 

Louise Erdrich: A americana ganhou este ano o National Book Award de ficção, um dos mais importantes prêmios do universo literário nos Estados Unidos. A obra, The Round House, conta a história de um filho que quer vingar a mãe, uma nativa-americana da tribo Ojibwe, que foi violada. A publicação também foi nomeada para o famoso prêmio Pulitzer.

 


 

 

Almudena Grandes: a escritora espanhola teve seu último romance El Lector de Julio Verne eleito como o melhor livro do ano pelo respeitado jornal espanhol El País. A publicação conta as percepções de Nino, filho de um guarda civil, sobre as leis que regem uma guerra e a relação que o garoto estabelece com a literatura.

http://colunas.revistamarieclaire.globo.com/ralstonites/2012/12/28/mulheres-sao-destaque-na-literatura-em-2012/