sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Dia da Saudade

banco vazio na praça

 

Diz a lenda que o termo foi cunhado na época dos Descobrimentos portugueses e do Brasil colônia, quando esteve muito presente para definir a solidão dos portugueses numa terra estranha, longe de entes queridos. Define, pois, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações.

Uma visão mais especifista aponta que o termo saudade advém de solitude e saudar, onde quem sofre é o que fica a esperar o retorno de quem partiu, e não o indivíduo que se foi, o qual nutriria nostalgia. A gênese do vocábulo está directamente ligada à tradição marítima lusitana.

A origem etimológica das formas atuais "solidão", mais corrente e "solitude", forma poética, é o latim "solitudine" declinação de "solitudo, solitudinis", qualidade de"solus". Já os vocábulos "saúde, saudar, saudação, salutar, saludar" proveem da família "salute", "salutatione", "salutate", por vezes, dependendo do contexto, sinônimos de "salvar, salva, salvação" oriundos de "salvare, salvatione".

Na formação do termo "saudade", o vocábulo sofreu uma interfluência entre o estado de estar só, sentir-se solitário - oriundo de "solitarius" que por sua vez advem de "solitas, solitatis", possuidora da forma declinada "solitate" e suas variações luso-arcaicas como suidade - e a associação com o ato de receber e acalentar este sentimento traduzido com os termos oriundos de "salute e salutate", que na transição do latim para o português sofrem uma síncope e perde a letra interna l, simplesmente abandonada, enquanto o t não desaparece, mas passa a ser sonorizado como um d.

No caso das formas verbais, existe a apócope do e final. O termo saudade acabou por gerar derivados como a qualidade do "saudosismo" e seu adjetivo "saudosista" - apegado a ideias, usos, costumes passados, ou até mesmo aos princípios de um regime político decaído, e o termo adjetivo de forte carga semântica emocional, "saudoso" - que é aquele que produz o sentimento de saudade, podendo ser utilizado para entes falecidos, ou para substantivos abstratos como em "os saudosos tempos da mocidade", ou, ainda, não referente ao produtor, mas aquele que sente e que dá mostras de saudades.

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Saudade

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A CASA DE PORTINARI



           Fotografei uma foto da casa de Portinari. Depois saí à rua e fotografei duas vezes a casa mesmo, a casa em carne e osso. A primeira ficou uma boa foto, como se fosse a casa real fotografada. Mas foi preciso fotografar duas vezes, para ter certeza, a casa em carne e osso, a casa como a alma de Portinari.
           É emblemático. A casa conserva a alma do pintor. As fotos dizem pouco, quase nada. É preciso entrar na casa, esbarrar nos móveis, nos objetos, nos utensílios... Lembrar, com Drummond, que as almas penadas esbarram nos móveis. Você sabe que não há almas penadas vagando por aí, muito menos ali, mas a alma de Portinari está presente. Ela esbarra em você, guia seus olhos, suas emoções.
           Você esbarra nas telas, nas pinturas nas paredes, nos pincéis, nos tubos de tinta. Ah, não é bom falar em tubos de tinta: você se lembra dos versos de Portinari no fim de um pequeno texto em prosa:

           “A morte será colorida?
           De que cor será a outra vida?”

           Você se lembra, com dor, que o artista morreu de amor à sua arte. De obsessão pela sua arte. Já prevenido de que não deveria abusar das tintas, depois de sofrer grave intoxicação, não parou de pintar. Tinha uma encomenda de vários quadros, tinha a obsessão da criação, precisava criar, custasse o que custasse, até a própria vida. A arte matou-o.
           A casa está lá. Logo na entrada a sua pintura de “São Jorge e o dragão”, acima de uma porta, e o poema explicando-a. Explicação ingênua, com a cor e o espanto da infância. Depois, um quarto com seu livro, seus poemas nas paredes, coloridos, com a cor e o espanto da infância.
           Os seus versos são capengas. Era um extraordinário pintor, não um poeta. Lembro-me, quase malvadamente, de um conto de Agustina Bessa Luís. Basta o título: “Apenas um poeta manco”. Candinho era o poeta das tintas. Com as tintas não mancava. Era o poeta da cor, das formas leves, que pairavam no ar. Pintava o sonho. Com que graça pintava o sonho!
           Construiu no quintal a “Capela da Nonna”. Pequenina, para caber apenas a sua nonna. O Coração de Jesus e o Coração de Maria à frente. Dos lados, o anjo Gabriel e Santo Antônio, São Francisco, São Sebastião. Leves. Candinho conhecia a religião da leveza. As cores claras, as formas nítidas, leves. Candinho pintava a paz.
           Na Igreja Matriz de Batatais, ali perto da sua Brodósqui, Candinho pintou seis belos murais. Deixou o Deus cruel para os renascentistas, que tinham o fogo do inferno na garganta e serpentes peçonhentas nos olhos. Candinho pintou figuras leves. Inventou a religião da leveza. A religião no tempo dele ainda era pesadona. Não a dele. As figuras pairavam no ar, como se estivessem em êxtase. A “Fuga para o Egito” ou “Jesus carregando a cruz”. José e Maria deveriam estar cansados, abatidos, apavorados. Cristo deveria estar sofrendo uma dor imensa. Quando Candinho pinta, estão mais leves do que se estivessem em êxtase.
           Não que Portinari não pintasse a dor. Diante da tela “Os retirantes”, no Masp, quase sentia os ossos daquelas figuras doídas estralando, quase sentia respingar sangue por cima de mim. Mas as figuras religiosas Candinho pintou com leveza. Candinho é o menino dos sonhos leves da sua infância. Como se um anjo o carregasse nos braços, como se um anjo guiasse suas mãos para pintar o sonho. Leve, aéreo, celeste. Celestial.
           Mas eu não quis falar de uma sala da casa de Portinari. O seu estúdio. É o lugar mais triste da casa. Vejo Candinho que se afasta, com o pincel em punho. Apóia-se numa perna, ergue o pincel, e mede a tela. Mede uma figura invisível na tela. Candinho é uma figura invisível no estúdio vazio. Candinho faz uma falta danada no estúdio vazio.
           O estúdio é o lugar mais triste da casa. Candinho não está lá. Falei que a casa conserva a alma de Portinari. Mas o estúdio está frio demais. Sem cor. Há cor em todos os cômodos da casa. Menos no estúdio. Lembro, com dor no peito, os versos de Portinari:
           “A morte será colorida?
           De que cor será a outra vida?”

José Carlos Mendes Brandão

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Dia da lembrança do Holocausto

Para além da lembrança…

 

 

"Dia da Lembrança do Holocausto", ocorre no dia 27 de Nissan no calendário hebraico.

Este dia é lembrado anualmente como dia de recordação das vítimas do Holocausto, sendo feriado nacional em Israel.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Data de nascimento de Antonio Callado

 

 

Quarto ocupante da Cadeira 8, eleito em 17 de março de 1994, na sucessão de Austregésilo de Athayde e recebido pelo Acadêmico Antonio Houaiss em 12 de julho de 1994.

Antonio Callado (A. Carlos C.), jornalista, romancista, biógrafo e teatrólogo, nasceu em Niterói, RJ, em 26 de janeiro de 1917, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de janeiro de 1997.

Ingressou na Faculdade de Direito em 1936 e, no ano seguinte, começou a trabalhar, como repórter e cronista, em O Correio da Manhã. Iniciava aí uma carreira jornalística que lhe proporcionou muitas viagens e contato com alguns dos temas de sua obra.

Diplomou-se em Direito em 1939. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, foi contratado pela BBC de Londres como redator, lá trabalhando até maio de 1947. Em um período intermediário, de novembro de 1944 a outubro de 1945, trabalhou também no serviço brasileiro da Radio-Diffusion Française, em Paris (a sede do Serviço ficava nos Champs-Elysées e seu chefe era o escritor Roger Breuil). Em 1943, casou-se com a inglesa Jean M. Watson, com quem teve três filhos. Casou-se, em 1977, com a professora e jornalista Ana Arruda Callado.

Ao retornar ao Brasil voltou a trabalhar no Correio da Manhã e também passou a colaborar em O Globo. Foi redator-chefe do Correio da Manhã de 1954 a 1960, quando foi contratado pela Enciclopédia Britânica para chefiar a seção de uma nova enciclopédia, a Barsa, publicada em 1963. Foi em seguida redator do Jornal do Brasil, que o enviou, em 1968, ao Vietnã em guerra. Em 1974 esteve como Visiting Scholar em Corpus Christi College, Universidade de Cambridge, Inglaterra. Passou o segundo semestre de 1981 lecionando, como Visiting Professor, na Columbia University, Nova York. Aposentou-se como jornalista em 1975, mas continuou a colaborar na imprensa. Em abril de 1992 tornou-se colunista da Folha de S. Paulo.

Além das atividades jornalísticas, dedicou-se sempre à literatura. Ainda jovem pôde ler, na biblioteca do pai, os autores europeus que mais tarde marcariam seu trabalho, sobretudo franceses e ingleses, como Proust e Joyce, ao lado de alguns brasileiros, como Machado de Assis e José de Alencar. Nos seus dois primeiros romances, Assunção de Salviano (1954) e A madona de cedro (1957), persiste uma nítida preocupação religiosa a informar e até mesmo a condicionar o transcurso da aventura e a temática. Mas o encontro entre o escritor e os principais temas de sua obra deu-se através do jornalismo, que o levou, além dos anos passados na Europa, a lugares como Bogotá, Washington, Xingu e Havana, que enriqueceram a sua bibliografia com livros de reportagem e obras literárias engajadas com as grandes questões de seu tempo. Entre os mais importantes, estão Quarup (1967), Bar Don Juan (1971), Reflexos do baile (1976), Sempreviva (1981), que apresentam um retrato do Brasil durante o regime militar, do ponto de vista dos opositores. Seu engajamento lhe custou duas prisões: uma em 1964, logo após o golpe militar, e outra em 1968, após o fechamento do Congresso com o AI-5.

Teatrólogo, reuniu quatro de suas peças no volume A Revolta da Cachaça, em 1983. Uma delas, Pedro Mico, encenada em muitas ocasiões, foi transformada em filme que teve como ator principal o ex-jogador de futebol Pelé. Em março de 1987 participou, em Paris, do Salon du Livre, a convite do Ministério da Cultura da França. Em novembro de 1990 representou o Brasil na semana “De Gaulle en son siècle”, comemorativa do centenário do General Charles de Gaulle.

Em 1958 recebeu, na Embaixada da Itália no Rio de Janeiro, a medalha da Ordem do Mérito da República Italiana. Em 1982 foi à Alemanha, como vencedor do Prêmio Goethe, do Goethe Institut do Rio de Janeiro, com o romance Sempreviva. Em setembro de 1985 recebeu, pelo conjunto de suas obras, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal. Em outubro de 1985 recebeu, na Embaixada da França em Brasília, a Medalha das Artes e das Letras, das mãos do Ministro da Cultura Jack Lang; em maio de 1986, o prêmio Golfinho de Ouro, de Literatura, outorgado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; em 1989, o troféu Juca Pato, da União Brasileira dos Escritores, por ter sido eleito “Intelectual do Ano”.

Era membro da ABL e da The Corpus Association, do Corpus Christi College, Cambridge (Inglaterra).

Retirado do site ABL: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=151&sid=138

domingo, 25 de janeiro de 2015

sábado, 24 de janeiro de 2015

Aureo Mello se foi…


A morte do poeta Aureo Mello.
Morreu no dia 21 de janeiro o poeta e ex-senador Áureo Mello. Grande amigo do portal Blocos de literatura. Deixa viúva, dona Thereza.
Era antes de tudo, um ótimo contador de histórias e um amigo. Descanse em paz…

Autor da lei que proíbe o registro de nomes ridículos ou humilhantes aos nascidos em território brasileiro.
Em 1946, começaram a aparecer na imprensa oficial as listas de eleitores de todo território nacional, na imprensa, os nomes curiosos, bizarros e extravagantes de centenas de brasileiros.
Levado pela preocupação de tais nomes, o Deputado Federal Áureo Melo apresentou o projeto (1965) que visava proibir o registro de nomes ridículos e humilhantes. Leia os artigos 1º e 2º deste projeto:
O Congresso Nacional decreta: Artigo 1º Fica proibido, em todo o território Nacional, o registro, pelas autoridades, de nomes próprios que venham a se constituir por serem ridículos ou humilhantes, motivo de prejuízo moral àqueles a quem forem dados. Artigo 2º Ficam passíveis de multa que será arbitrada em um mínimo de Cr$ 1.000.000,00 (Hum milhão de cruzeiros), na época, todos aqueles que infringirem o disposto no artigo anterior. Parágrafo único. As pessoas passíveis da multa a que se refere o presente artigo se constituem: a pessoa que solicitar o registro; o escrivão que o fizer. [...]
Vale lembrar que os nomes carregam muito de influências étnico-raciais e culturais, além daqueles que são passados de geração a geração, como o nome dos pais ou dos avós.
Nossas leis hoje não trazem regras precisas no tocante à escolha de nome, muito embora o registrador possa recusar o registro e submeter a apreciação do juiz corregedor permanente do cartório, caso possa o nome eleito acarretar constrangimentos, por ser ridículo.
Cabe aos oficiais do cartório de registro civil a orientação aos pais, não permitindo o registro de nomes ridículos, vexatórios ou com erros de escrita.
O objetivo desse procedimento é garantir o direito fundamental ao nome, positivado no art. 16 do novo Código Civil e principalmente evitar constrangimentos e sofrimentos. 

Aureo Bringel de Mello - Nasceu em Porto Velho/RO, em 15/6/1924. Advogado, Jornalista, Escritor, com diversos livros publicados de poesia e prosa. Foi Procurador e Consultor Jurídico do Incra. Como Parlamentar, foi Deputado Estadual de 1947 a 1951; de 1951 a 1955; de 1955 a 1959 e de 1964 a 1967. Senador, de 1987 a 1995. Presidiu a Assembléia Constituinte do Amazonas.





Walden ou a vida nos bosques (fragmento)

 

 

               (...) Tenho bastante companhia em minha casa, especialmente na parte da manhã, quando ninguém me procura. Deixai-me sugerir algumas comparações a fim de que se possa ter idéia de minha situação. Não sou mais solitário que o mergulhão a rir tão alto no lago, nem que o próprio Walden. Que companhia, pergunto eu, tem esse solitário lago? E todavia tem em si não demônios, porém anjos no tom azul de suas águas. O sol é só, salvo em tempo cerrado quando às vezes parece ser dois, mas um deles é falso. Deus é só — porém o demônio está longe de ser só: ele é legião. Não sou mais solitário que um verbasco ou um dente-de-leão isolado no pasto, nem que uma folha de vagem, uma azeda, um moscrado ou uma vespa-de-rodeio. Não sou mais solitário que o Mill Brook (Arroio do Motinho), que o catavento, que a estrela do norte ou o vento do sul, que uma pancada d'água em abril ou um degelo em janeiro, ou que a primeira aranha numa casa nova.

Thoreau

Do livro: Walden ou A vida nos bosques, Henry D. Thoreau (Coleção Armazem do Tempo), trad. Astrid Cabral, Global Editora, 2ª ed., 1984, RJ

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Por que coleciono cartões-postais?

     

    Cartão Postal - Veneza

     

    Quando tinha seis para sete anos gostava imenso de guardar postais com desenhos, imagens com humor, pinturas... Desde então aprendi a fantasiar através deles.

    Têm sido uma companhia de vida há mais de trinta anos.

    Ao olhar os postais encontro referências visuais de vários momentos vividos e sonhados.

    Fui guardando-os e organizando-os por temas, criei um museu visual pessoal.

    Postais são uma forma de memória, como todas as memórias, uns mais bonitos que outros.

    Das viagens que faço trago sempre vários postais: dos museus, alternativos, pintura, desenho, poesia, poesia visual, animais, arquitetura, paisagens...

    No mês de Setembro (1998) estivemos em Portugal e eu trouxe vários postais de arte, alternativos, paisagens... Foi uma viagem fantástica cheia de bons momentos que estão para sempre na nossa memória afetiva. E os postais também são uma pequena parte dessa alegria.

    Colecionar postais é um ato de prazer, aprendizado e memória.

      Constança Lucas

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Este é o Prólogo

 

 

 

Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.


Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!


Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!


Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.


Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.


Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,


e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —


O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.


O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.


O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.


Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.

Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.

Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!

Deixaria no livro,
neste, toda a minha alma...

                      

Federico García Lorca
                     Tradução de Oscar Mendes

Do livro: Poemas Esparsos, in Romanceiro Cigano, 1974.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Estratégia de Sobrevivência

 

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Todo bom estrategista, a serviço das relações públicas ou privadas, sabe que o princípio fundamental para o sucesso de qualquer projeto é saber como deve ser aplicado, quando e qual alvo a ser atingido.

Para consulta, deve sempre trazer em seu bolso algum exemplar de "Arte da Guerra" com os ensinamentos do general Sun Tzu, provavelmente aquele escrito por Samuel Griffith.

Sun Tzu, excelente estrategista, viveu no século quarto antes de Cristo e foi um general chinês que entre outros pensamentos, filosofou: "aquele que não conhece o inimigo, nem a si mesmo, perderá cem batalhas: aquele que conhece a si mesmo, mas não conhece o inimigo, poderá ganhar como também poderá perder, com chances iguais para a vitória ou para a derrota; mas aquele que conhece a si mesmo e também ao inimigo, vencerá todas as batalhas".

Atualmente, toda grande empresa, além de conhecedores das leis de mercado e estratégias de marketing, necessita também de especialista em política pública internacional, já que as relações de venda e compra, bem como as de prestações de serviços passam pelas condições políticas existentes entre os países de primeiro, segundo e terceiro mundo.

As civilizações humanas com suas diferenças culturais e religiosas, tão fortemente marcadas nesse novo século, não aceitam mais as imposições de consumo determinadas pelas grandes potências, já que estas não respeitam tais diferenças, nem tampouco a preservação de seus costumes e leis sociais.

Além do mais, o modelo econômico baseado supostamente na livre concorrência em mercado globalizado, via-de-regra com os países mais poderosos da Terra utilizando conhecimento e tecnologia de ponta ou mesmo subsidiando suas produções primárias, cada vez mais determinará a concentração de riquezas nas mãos desses poderosos, em detrimento do restante da população mundial.

Nesse momento histórico, as grandes potências lideradas pelos Estados Unidos da América estão a infringir um dos mandamentos básicos ensinados pelo estrategista Sun Tzu: não conhecer o inimigo, nem a si mesmo.

Inicialmente, não conhecer a si mesmo advém da arrogância que assola aos poderosos, com tomada de conhecimento no momento do declínio de seu império, fatalmente quando já é tarde.

Já os inimigos, não se tratam de pessoas ou países, nem de culturas políticas ou religiosas, mas sim de necessidades básicas para a sobrevivência da espécie humana, tais como: alimentação; moradia; respeito às culturas e religiões alheias; direito à vida com dignidade; preservação ambiental do planeta etc.

Verifica-se, com singular clareza, que a concentração de renda nas mãos dos países ricos, com modelo econômico baseado no capital e na exploração predatória dos recursos naturais, produziu apenas uma "raiva incontida" em determinadas pessoas que desenvolveram um modelo de luta baseado no terrorismo internacional.

Combatê-lo com exibição de força através de ataque bélico demonstra desconhecimento das ações do inimigo, já que não ataca a causa do problema, mas tenta-se eliminar apenas suas conseqüências, o que demonstra mais uma vez o traço típico da arrogância dos dominantes.

Capturar ou matar este ou aquele líder do terrorismo internacional, apenas livrará por algum tempo os países ricos de ações contra seus povos ou instituições, já que a substituição do líder é automática em grupos dessa natureza, dada sua organização estar alicerçada no objetivo, não na burocracia existencial.

É necessário que a política internacional oriunda de países ricos contemple uma solução emergencial com a criação de um Estado Palestino, suavizando o conflito existente entre Israel e o povo palestino, bem como desenvolva um modelo econômico baseado na melhor distribuição da riqueza mundial dando oportunidade para que povos de países pobres possam preservar suas culturas e seus costumes sociais e religiosos, com possibilidade de desenvolvimento independentemente de estarem em lugares estratégicos ou terem riquezas minerais ou energéticas.

Caso contrário, a humanidade oprimida e explorada que agora sente o gosto do ataque às bases do grande poder econômico e político mundial através de ações organizadas por grupos terroristas, poderá atingir e macular toda a sociedade formada pelos mesmos Estados que as exploram.

A luta contra aludidas armas não depende unicamente de poderio bélico ou de ataque a grupos terroristas, pelas razões expostas e pelo fato de que sociedades viciadas em consumo de bens descartáveis fatalmente consumirão drogas alucinógenas e que produzam sensação de euforia para manutenção de seu estado psíquico e equilíbrio social.

Cumpre salientar, por sua relevância, que o cultivo de plantas que abastecem o mercado ilegal de drogas ainda é o principal meio de subsistência de vários desses países explorados pelo modelo econômico aplicado pelas grandes potências.

Por outro lado, em face da ausência de discussões sobre as mudanças necessárias para que novos modelos econômicos e de respeito humano possam acontecer entre as nações, temos que as conquistas de direitos por parte dos países explorados acontecerão unicamente através de conflitos armados, já que a história do homem apenas isso registra.

O grande desafio da humanidade para esse novo século será a utilização unicamente dos meios necessários para a defesa dos territórios e seus povos, pois se ultrapassar o bom senso nas demonstrações de forças e utilização de poderio bélico, fatalmente as condições de vida no planeta não continuarão a contemplar o homem moderno.

Douglas Mondo

 

P.S. imagens postadas para o texto de Douglas Mondo pela equipe do blog de Blocos Online.

Informações sobre as imagens: Artista francês Mister Blick que faz colagens de flores em cima das armas de guerra dos soldados no Vietnam. Através destas imagens manipuladas, Mister Blick envia a mensagem final de paz. Do site: http://www.contioutra.com/artista-substitui-armas-por-flores-em-fotos-vintage-de-soldados-em-tempos-de-guerra/

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Cinema, 22 anos da morte de Audrey Hepburn

Audrey Kathleen Ruston, conhecida internacionalmente por Audrey Hepburn (Ixelles, 4 de maio de 1929 — Tolochenaz, 20 de janeiro de1993), foi uma premiada atriz, modelo e humanista britânica, eleita em 2009 a atriz mais bonita da história de Hollywood. É considerado um ícone de estilo e a terceira maior lenda feminina do cinema, de acordo com o American Film Institute.

Hepburn estrelou diversos filmes, entre eles Bonequinha de Luxo e A Princesa e o Plebeu, filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, além de indicações ao Globo de Ouro, ao BAFTA e ao NYFCC Award. Foi a quinta artista, e a terceira mulher, a conseguir ganhar as quatro principais premiações do entretenimento norte-americano, o EGOT - acrônimo de Emmy, Grammy, Oscar e Tony.

Em 8 de fevereiro de 1960, ganhou uma estrela na Calçada da fama de Hollywood, em homenagem a sua dedicação e contribuição ao cinema mundial. Sua morte se deu em virtude de um câncer de apêndice, em 20 de janeiro de 1993, na cidade de Tolochenaz, Suíça.

Texto retirado da Wikipédia

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Melancia


Gosto de ir à feira. Uma festa para os sentidos, as bancas repletas de frutas, verduras, legumes. Os peixes prateados no gelo. As barracas de flores. As formas, os odores, os sucos, as cores. A beleza da natureza pronta para um quadro, uma tela, um pedestal.

Nesta mesa forrada de plástico verde e branco, destacam-se os pedaços de melancia, tão vermelha e doce. As numerosas sementes negras gritam um hino à abundância, à fecundidade, às origens.

Vi-me criança no sítio. Era verão. O sol quente parecia cuspir fogo como um dragão. Os feixes de arroz eram cortados a foice. Uma trilha nos levava ao córrego, um riacho frio que fluía entre as pedras. Iolanda, filha mais velha dos caseiros, ia à frente, com a trouxa de roupas. Tinha cabelos crespos, olhos verdes e o ar de camponesa rude que conhece os segredos da terra e seus perpétuos reinícios. Passamos pela roça de melancias. A planta de caule mole subia pelo arame farpado, retorcia-se pelo chão como uma serpente, envergava-se ao peso volumoso dos frutos de casca listrada e luzidia. Eu olhava aqueles frutos com satisfação, maturando projetos na minha vida de sonhadora. Aqui e ali, no solo seco e arenoso, na erva trepadeira, sempre renascida, brotavam flores amarelas. Iolanda agora carregava roupa e melancia pelo caminho. Chegamos ao córrego, onde uma tábua servia de tanque e escorregador. Penetrávamos na água sem espuma, os pés na lama, como se entrássemos num corpo de alma úmida. Éramos donzelas e os peixes sumiam.

Contei para Iolanda aquela história do Américo Pisca-Pisca, que Dona Benta, do Sítio do Picapau Amarelo, narrou à travessa boneca Emília para dissuadi-la de querer reformar a natureza. Américo Pisca-Pisca tinha o hábito de colocar defeito nas coisas. O mundo para ele estava todo errado. O pomar era prova disso: a jabuticabeira enorme dava frutas pequeninas e as colossais melancias eram presas ao caule de uma planta rasteira.

Américo resolveu tirar uma soneca, à sombra da jabuticabeira. Dormiu e sonhou com um mundo novo reformado por suas mãos. De repente, uma jabuticaba caiu e se esborrachou no seu nariz. Américo despertou, meditou sobre o caso e reconheceu que o mundo não era tão mau: Se o mundo fosse arranjado por mim, a primeira vítima teria sido eu, morto por uma melancia. Iolanda riu, pisca-piscou:

A natureza tem cada uma. Às vezes o vento e os pássaros enxertam as plantas. Por isso é preciso tomar cuidado. Nunca plantar melancia perto de porungo, aquele fruto seco como coco. A melancia mofa. A cabaça enche d'água. Melancia é bom perto do córrego e porungo, longe. Melancia é suculenta. Porungo é duro, feito para guardar mel de abelha. Melancia tem polpa e porungo fibra. Porungo vira cuia de chimarrão e tereré. Chocalho de índio. Melancia a gente corta em fatias e devora na boca. Cada coisa tem sua serventia.

Compro a melancia inteira, pesada como um ventre grávido. Vai direto para a geladeira, pensei. À noite, lá, no meu passado, uma sereia saiu do córrego, rescostou-se na tábua e ficou chupando melancia.

Raquel Naveira

domingo, 18 de janeiro de 2015

O feminismo e a sujeição social

 

O processo de libertação da população brasileira do jugo daqueles que dominam a política tupiniquim, atualmente empenhada em destruir a idéia do Estado-Nação brasileiros, segundo as diretrizes impostas pelos organismos de representação do capitalismo financeiro internacional, e docilmente aceitas pelos homens no poder, com certeza muito tem a aprender com a experiência vivida pela mulher, nesses últimos 30 anos, quando foi abalada a chamada mística feminina.
A reflexão que se pode fazer neste 8 de março, quando mais uma vez se comemora o Dia Internacional da Mulher, muito tem a informar e a contribuir, se comparamos os ganhos e conquistas das mulheres, que já foram de todo degradadas e espezinhadas, com o grau de degeneração que vamos alcançando na vida social e política do País, sob o domínio dos ditames do chamado homem macho caboclo —  mesmo os formados na Sorbonne ou em Harvard. Para tanto, vamos trabalhar com informações e análises oferecidas pela psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora do livro Na cabeceira da cama (Rocco), a pesquisadora francesa Michelle Perrot (Mulheres Públicas, Unesp) e a historiadora Hannah Arendt (A vida do espírito).
As lutas que culminaram com as atuais conquistas das mulheres e a sua crescente libertação e independência da estrutura social nascida do poder do pai — a ideologia patriarcal, que existe há cinco mil anos e cuja história se confunde com a própria história da nossa civilização — muito podem colaborar para o esclarecimento do processo vivido hoje
pelas populações excluídas no âmbito do neoliberalismo, essa nova ideologia econômica que vem presidindo os caminhos do ocidente neste final de milênio.
Como se vê nos dias de hoje, a mesma bestialização e subjugação de populações inteiras —  independente das condições de classes de seus membros —  por grupos políticos que usurparam o poder político e as manipulam e oprimem são também as características do patriarcado, que submeteu as mulheres ao longo de séculos, fazendo-as acreditar na sua condição de seres inferiores e subalternos, a elas impondo o controle da fecundidade e a divisão sexual das tarefas. O estabelecimento do sistema patriarcal na civilização ocidental, fruto de um processo gradual que levou quase 2.500 anos, desde cerca de 3.000 a.C., consolidando-se em 600 a.C., fomentou a sujeição física e mental da mulher, restringindo sua sexualidade e mantendo-a limitada a tarefas específicas.
A correlação hoje com a sujeição de populações inteiras ao domínio de oligarquias e grupos econômicos se daria igualmente pela promoção – via marketing nos meios de comunicação desses grupos e oligarquias – da impressão de que apenas os ‘‘iluminados’’ do sistema político-econômico (o pai) seriam os predestinados a governar e a administrar a coisa pública, em detrimento dos talentos e das autênticas lideranças surgidas do meio do povo e dos segmentos excluídos do gerenciamento das riquezas nascidas do trabalho e do esforço dos que, enfim, fazem a sociedade.
Especialistas da psicossomática questionam como a maioria dos cidadãos, mesmo dispondo de luminares e estudiosos em seu meio, se permite subjugar-se e manter-se, ao longo dos séculos, sujeitos aos domínios dos que detêm o poder econômico, encontrando, na atualidade, as chamadas neuroses ‘‘de caráter’’ e ‘‘de comportamento’’.
A partir do estudo de Hannah Arendt, em seu livro Eichmann em Jerusalém (1963), que tem como subtítulo Reflexão sobre a banalidade do mal, pode-se perceber como um comportamento de obediência, de submissão absoluta, implicando na abolição de todo livre arbítrio, pode levar ao estado de coisas vivido hoje nas sociedades mantidas a ferro e fogo por pequenos grupos e oligarquias, sem que, com isso, se ache nada ‘‘anormal’’ ou que algo esteja ‘‘fora do lugar’’, exatamente como a submissão da mulher ao correr dos séculos aos preceitos do sistema patriarcal.
Aqui podemos encontrar o retrato de pessoas que conosco convivem e a explicação para comportamentos de certas figuras sociais que, tendo há pouco apresentado um comportamento ‘‘rebelde’’ ou ‘‘de esquerda’’, são introduzidos no sistema e se transformam em propagandistas da continuidade da ordem vigente, ou seja, do status quo. No caso das mulheres, foram elas cúmplices durante milênios na perpetuação do sistema patriarcal que as oprimia, acreditando em sua inferioridade e transmitindo os mesmos valores, através das gerações, aos filhos de ambos os sexos.
Como Eichmann, que contribuiu de forma decisiva com Hitler na matança de seis milhões de judeus, vemos hoje multidões de pessoas a quem foram extraídas a ‘‘faculdade de pensar’’. No Brasil, em especial, o fato se
dá como resultado de 21 anos de ditadura militar, quando houve uma completa despolitização e imbecilização das massas, num processo que culmina na ‘‘normopatia’’, termo que designa personalidades que se caracterizam por sua extrema ‘‘normalidade’’, no sentido de conformismo com as normas de comportamento social e profissional.
‘‘Pouco fantasistas, pouco imaginativos, pouco criativos, eles costumam ser notavelmente integrados e adaptados a uma sociedade na qual se movimentam com desembaraço e serenidade, sem serem perturbados pela culpa, a que são imunes, nem pela compaixão, que não lhes concerne; como se não vissem que os outros não reagem como eles; como se não percebessem mesmo que os outros sofrem; como se não compreendessem porque os outros não conseguem adaptar-se a uma sociedade cujas regras, no entanto, lhes parecem derivar do bom senso, da evidência, da lógica natural. Sendo bem-sucedidos na sociedade e no trabalho, os normopatas se ajustam bem ao conformismo, como num uniforme, e portanto carecem de originalidade, de ‘personalidade’. O recurso a esse modo de funcionamento psicoafetivo pode estar ligado à pura hipocrisia e à perversão ou à má-fé. É o caso de Eichmann. No fundo, a principal característica constitutiva de sua banalidade é a sua ‘falta de personalidade’ verdadeira. Em outras palavras, Eichmann é um normopata, e essa normopatia é que Hannah Arendt designa pela expressão ‘banalidade do mal’.’’
Essa ausência de pensamento, que tão bem caracteriza o homem deste final de século, entregue aos ditames da mídia, com seus clichês, frases feitas, códigos de expressões padronizadas e convencionais, que têm como função socialmente reconhecida proteger da realidade, das solicitações que os fatos e acontecimentos impõem à atenção para sua própria existência, é também objeto de estudo do psiquiatra e psicanalista Christophe Dejours, no livro A banalização da injustiça social, que complementa:
‘‘Em outras palavras, encontram-se aqui, no nível dos membros de toda uma sociedade, as três características da normopatia: indiferença para com o mundo distal (o mundo longe da gente) e colaboração no ‘mal tanto por omissão quanto por ação’; suspensão da faculdade de pensar e substituição pelo recurso aos estereótipos economicistas dominantes propostos externamente; abolição da faculdade de julgar e da vontade de agir coletivamente contra a injustiça.”
No plano político, com a desorientação das esquerdas e dos movimentos de emancipação coletiva que marcaram outras épocas, Procura-se Desesperadamente por Suzy (filme de Madonna), ou seja, por uma tábua de salvação, que, no pós-Muro, não se sabe de onde poderá vir. E, assim, como sociedade espoliada e degenerada, nos mantemos como a mulher do passado, vista pela história popular, na qual uma jovem muito desejosa de viver uma relação de amor deixa um bilhete num local onde seria fácil de ser encontrado, no qual está escrito: ‘‘A qualquer pessoa que encontre esse bilhete: Eu te amo’’. Não esquecer, contudo, que essa mulher já era, viveu no passado. Hoje, há um novo tipo de donzela...

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Paulo Augusto - O autor é poeta, ensaista e jornalista de Rio Grande do Norte  (Natal). Publicado em Blocos Online

           

sábado, 17 de janeiro de 2015

Carta de George Sand a Alfred de Musset



Veneza, 12 de Maio de 1834
Meu menino querido, estas três cartas não são a despedida da amante que te deixa,
é o abraço de uma irmã que ficou.
Este sentimento é lindo demais, puro demais e doce demais para que eu possa sentir vontade de acabar com ele.
Que a lembraça de mim não envenene nenhuma felicidade da sua vida mas também não deixe que estas felicidades destruam a recordação de mim.
Seja feliz, seja amado. Como você não seria? Mas me guarde dentro de um pedacinho do seu coração e desça para dentro dele nos dias de tristeza para aí encontrar uma consolação ou a coragem.
Ame, meu Alfred. Ame para sempre, ame uma mulher jovem, linda, que ainda não tenha amado. Que ainda não tenha sofrido. Não a faça sofrer. O coração de uma mulher é uma coisa tão delicada quando não é um pedaço de gelo ou uma pedra.
Eu não acredito que existe um meio termo aqui, nem na sua maneira de amar. A sua alma foi criada para amar ardentemente ou para secar completamente. Você me disse isso cem vezes e tentou desdizer mas nada apagou esta frase.
Quem sabe você me amou com dor para vir a amar uma outra com abandono. Quem sabe esta que virá te amará menos do que eu mas quem sabe ela será mais feliz e mais amada.
Quem sabe o seu último amor será mais romântico e mais jovem. Mas não mate o seu coração, o seu bom coração, eu lhe peço. Entregue ele por inteiro em todos os amores da sua vida, para que um dia, quando você olhar para tras, você possa falar, como eu falo: eu sofri muitas vezes, muitas vezes me enganei, mas eu amei.

George Sand

Fonte:http://www.lyricstime.com/celine-dion-lettre-de-george-sand-alfred-de-musset-tradu-o-lyrics.html

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Magra nostalgia

 

       

  Tendo em vista os recentes reencontros parisienses com amigas e amigos brasileiros. Tendo em visto o teor - e a repetição - de certo tema nas matérias das revistas semanais, que tardam mas chegam, acabo de chegar à seguinte conclusão: não há mais gordos no Brasil.
          A gente bem que tenta ser um ser complexo, fugir dos estereótipos, enriquecer a alma. Mas tem um fundozinho simples em nós. Ainda bem. E pode ser meia dúzia a soma de tudo aquilo que o exilado deseja reencontrar nessa vida.
          O jeito da mulher brasileira sempre fez parte de minha meia dúzia. Há mulheres bonitas em toda parte, é óbvio, basta olhar. As escandinavas são escandalosamente presentes. As italianas têm pernas que jamais acabam. E foi uma russa que vi ganhar o concurso de beleza no hotel de Creta. Chama-va Anatva, e parecia não ter defeitos.
          A francesa tem o seu estilo: a maquiagem, o cabelo curto, a língua fazendo seus bicos, o ar de quem sabe. Mas não a francesa na praia. A francesa na praia perde o estilo. Nada se salva. Na parte de cima, o topless dá os seios mesmo. Sem sugestão, sem erotismo, espécie de pornografia dura e crua nas praias duras de pedra. Se nada em cima, muito em baixo. E a parte de baixo do biquíni é um calção enorme que apaga os indícios da transição coxa com bunda. Em cima enfim o excesso de realidade não deixa imaginar. Em baixo é a falta que impede. Na praia francesa, resta ler. Nada pode ser mais trágico.
          Vontade, é claro, de rever o passeio no verão de uma brasileira. A bem do estereótipo, do dia-a-dia, bem da praia. Quase nada e quase tudo. Tudo, enfim.
          Mas o desejo é também um leque e tenho um xodó pelas cheinhas. As gordinhas. As gordinhas sensuais de simpáticas, que se lixam para a forma polida. Que chegam com o riso gordo, a piada aberta, a história em si, o mundo apenas. O corpo passa na tarde. O mundo fica nelas. E nisso as acompanham os gordos, e o mundo seria um tédio sem eles. Sem nós. Como uma imensa praia reta, sem fim.
          Querida X veio à Paris há quatro meses. Estava malhada como sempre foi. Outono ia adiantado. Não botou biquíni, é claro, mas o vestido torneando o seu corpo não nos enganou. Mas querida Y era daquelas limite, nem gorda, nem magra, no ponto. Veio há três meses, fora do ponto. Está magra, esquelética, um espeto mas não um espeto, porque reformada em cada ponto: silicone em baixo e em cima. E tem querida Z, que acaba de vir me visitar, e foi mais além. Da obesidade chegou na magreza, e continuou seus retalhos. Fez lifting, lipo, coisa que o nome nem sei.
          Seguido uma revista fala disso tudo. Parece que os homens estão no mesmo barco, e o barco ruma na direção do corpo perfeito. As imagens me aliviam por um lado, trazendo aquela mulher da meia dúzia de minha nostalgia. E que tenho a certeza de reencontrar, no Leblon ou em Capão.
          Tira-me o sono é essa sensação de que não passará disso. Não virá o riso gordo. A despreocupação da tarde. A tarde dourada não de sol, mas belisquetes. O pastelzinho engordurado comido pela gente e pelo outro. O outro tão barrigudinho como a gente, como se a vida fosse isso e não aquilo.
          Medo de reencontrar o Brasil sem nenhum gordinho. O Brasil sem graça. Como uma praia reta e infinita, afogada no esforço sem nenhuma pausa para um croquetinho ou uma gorda anedota.

Celso Gutfreind

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Dia da imprensa Filatélica

 

Imprensa filatélica no Brasil nasceu modestamente em São Paulo, em 1882. Criou-a o jovem colecionador Luís Levy, comerciante, compositor e exímio pianista, estabelecido à rua da Imperatriz, n. 4.

Luís Levy (São Paulo, 1861 - Rio de Janeiro, 1935) falava e escrevia corretamente em cinco idiomas o que lhe facilitava a comunicação com filatelistas do mundo inteiro e a troca de peças com outras pessoas que tinham o mesmo hobby.

A princípio foi apenas um amador, mas logo percebeu que poderia vender selos e com os ganhos ampliar sua coleção. Assim, como se tornasse um comerciante, teve a ideia de propagar o gosto pela filatelia através de uma publicação especializada. Em 15 de janeiro de 1882, circulava na cidade de São Paulo um modesto jornalzinho intitulado Brazil Philatelico.

A reduzida quantidade de colecionadores na então pequena cidade paulistana fez com que a publicação não tivesse vida longa. Apenas alguns números saíram à luz e o jornalzinho deixou de circular. Mas o caminho da imprensa filatélica estava aberto e outras publicações especializadas viriam a aparecer em diversas cidades brasileiras com o progressivo aumento do colecionismo postal.

Hoje centenas de profissionais trabalham nos vários órgãos existentes, reunidos na Associação Brasileira dos Jornalistas Filatélicos - Abrajof.

E, em homenagem à iniciativa pioneira de Luís Levy, no dia 15 de janeiro se comemora o Dia da Imprensa Filatélica.

Por ocasião do centenário do lançamento do primeiro órgão impresso dedicado aos filatelistas, a Empresa Brasileira de Correios lançou um selo em comemoração à data.

Hoje, a principal publicação brasileira sobre filatelia, por ser oficial, é a Revista COFI editada pela própria Empresa de Correios, contendo todos os lançamentos nacionais com as características de cada peça filatélica, além de um vasto e bem elaborado noticiário sobre o que emitem outras nações em matéria de selos postais, principalmente aquelas que formam a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Imprensa_filat%C3%A9lica_no_Brasil

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

PATRÍCIA E A GENTE

 

Uma estrela bordou o azul
raio de luz no sereno
e eu gritava Patrícia! minhamiga Patrícia!
vemver vemver
raiou! vai pro infinito...
Patrícia ajeitava flor noturna
no caixão
(minha mãe ali dormia.)
Patricia inda teve na mão
a estrela da manhã.


O tempo fez sua mágica e
a gente já faz muita festa e
se bebe e se dança pras luas novas e
a gente canta canções do rádio.
Patrícia enfeita os doces
a gente inventa sabores.
Dias e noites são estrelas cadentes
num abrir de olhos se recriam.


(E a gente até que pensou
minha mãe esteve morta
enquanto uma estrela manhecia.)

Beatriz Escorcio Chacon

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

74 anos da morte de Joyce

 

James Joyce (Dublin, 2 de fevereiro de 1882 — Zurique, 13 de janeiro de 1941) foi um romancista, contista e poeta irlandês expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do século XX. Suas obras mais conhecidas são o volume de contos Dublinenses/Gente de Dublin(1914) e os romances Retrato do Artista Quando Jovem (1916), Ulisses(1922) e Finnegans Wake (1939) - o que se poderia considerar um "cânone joyceano". Também participou dos primórdios do modernismo poético em língua inglesa, sendo considerado por Ezra Pound um dos mais eminentes poetas do imagismo.

Embora Joyce tenha vivido fora de seu país natal pela maior parte da vida adulta, suas experiências irlandesas são essenciais para sua obra e fornecem-lhe toda a ambientação e muito da temática. Seu universo ficcional enraíza-se fortemente em Dublin e reflete sua vida familiar e eventos, amizades e inimizades dos tempos de escola e faculdade. Desta forma, ele é ao mesmo tempo um dos mais cosmopolitas e um dos mais particularistas dos autores modernistas de língua inglesa.

Texto retirado da Wikipédia

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Cinco anos sem Zilda Arns

No mês de janeiro, recorda-se o falecimento da Dra. Zilda Arns Neumann, fundadora da Pastoral da Criança, que morreu vítima do terremoto ocorrido na cidade de Porto Príncipe, Haiti, no dia 12 de janeiro de 2010. A ela, carinho e eterna gratidão.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Quase divina comédia

 

Caminho na contramão
desço ao inferno
perdida no perdido
na selva de pedra escura
mergulho na solidão
e tudo me pesa.

Meus ombros já não suportam
as dores do mundo.
Encontros…desencontros…
e apesar de tudo
entre os caminhos
escolho o mais estreito
os mais tortuosos
e sigo, vislumbrando
do mais fundo do poço
o clarão do olhar mais justo que me alcança
as mãos brandas em forma de pássaro
a me socorrer.

Vislumbro o clarão onde faz morada
o coração justo
e penso: será o poeta Virgilio?
Ele também mergulhou na selva escura,
se deparou com o espírito do amor
e encontrou o seu caminho rumo à colina
sem culpa, sem dor.

 

Nordeste do Brasil, 21 de setembro de 2014

Graça Graúna

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

193 anos do Dia do Fico

 

 

"Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico". Dom Pedro I

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Dia de Reis

O Dia de Reis, segundo a tradição cristã, seria aquele em queJesus Cristo recém-nascido recebera a visita de "alguns magos do oriente" (Mateus 2:1) que, segundo o hagiológio, foram três Reis Magos, e que ocorrera no dia 6 de janeiro. A noite do dia 5 de janeiro e madrugada do dia 6 é conhecida como "Noite de Reis".

Curso de Argumento e Sinopse (Módulo Avançado)

 

O curso visa auxiliar o participante a transformar sua ideia em sinopse, acompanhando sua trajetória do começo ao fim: desde a sua story-line, até a sinopse (com o rol de personagens), passando pela etapa intermediária do argumento.

O curso está previsto para três meses (24 aulas), sendo duas aulas por semana. Este prazo pode ser diminuído, dependendo da facilidade do participante em construir sua narrativa, ou aumentado, podendo chegar a 28 aulas, no máximo, se necessário.

O valor do curso é de R$ 1.500,00, sendo R$ 1.000,00 depositado antes da primeira aula e, a segunda parcela de R$ 500,00, um mês após o primeiro depósito. O participante que começar o curso pagará o valor total, mesmo que resolva parar antes do segundo mês; e, ao abandonar o curso antes de completá-lo, não terá direito a qualquer devolução ou restituição dos valores pagos.

O esquema abaixo de planejamento é maleável: se o participante já fez anteriormente o meu curso de roteiro de TV, as três primeiras aulas podem ser compactadas em uma ou em duas, ampliando-se assim o tempo para trabalharmos no argumento e na sinopse.

Planejamento de aulas:

1ª aula – Traga a sua ideia: vamos começar a construir sua história dentro da narrativa traçada pela sua story-line; identificaremos o plot e começaremos a dar vida aos personagens (esquema  de organização  das contradições através  do modelo  actancial de  Greimas (adaptado para a TV)

2ª aula –  Regras básicas e ferramentas do argumento ou da sinopse

3ª aula – Fio condutor e as etapas da narrativa segundo Propp para o argumento

Da 4ª aula até a 8ª aula – Elaboração do argumento (de 3 a 7 páginas)

Da 9ª até a 19ª aula – Elaboração da sinopse (as tramas paralelas e a junção com a principal, cerca de 20 a 30 páginas)

20ª e 23ª aulas – Elaboração do rol de personagens  e verificação se há algum “buraco” ou furo na narrativa que esteja em contradição com  o rol de personagens

24ª aula –  Avaliação e conclusão

Leia mais: http://www.roteirodetv.com.br/modulo-avan%C3%A7ado-%28argumento-e-sinopse%292/

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Poesia de Adriane Garcia

 

Apaguem tudo o que eu fiz

Quero uma poesia solidária
Que tome o partido
Do homem
Da mulher eu quero
Uma poesia solidária
Pois eu, solitária, cansei de doer
Por isso vou a uma poesia
Que doa.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015