quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Faça novo o teu ano.



Neste ano novo, faça-te novo, reduzas a tua ansiedade, cultivas flores no canteiro da alma, regues de ternura teus sentimentos mais profundos, imprimas a teus passos o ritmo das tartarugas e a leveza das garças.
Não te mires nos outros; a inveja é um cancro que mina a auto-estima, fomenta a revolta e abre, no centro do coração, o buraco no qual se precipita o próprio invejoso.
Mira-te em ti mesmo, assumas teus talentos, acredites em tua criatividade, abrace com amor tua singularidade. Evitas, porém, o olhar narciso. Sejas solidário; aos estender aos outros as tuas mãos estarás oxigenando a própria vida. Não seja refém de teu egoísmo.
Cuida-te da língua. Não professes difamações e injúrias. O ódio destrói quem odeia, não o odiado. Troque a maledicência pela benevolência. Comprometa-te a expressar ao menos cinco elogios por dia. Tua saúde espiritual agradecerá.
Não desperdices tua existência hipnotizado pela TV ou navegando aleatoriamente pela internet, naufragado no turbilhão de imagens e informações que não consegues transformar em síntese cognitiva. Não deixes que a espetacularização da mídia anule tua capacidade de sonhar e te transforme em consumista compulsivo. A publicidade sugere felicidade e, no entanto, nada oferece senão prazeres momentâneos.
Centra tua vida em bens infinitos, nunca nos finitos. Leia muito, reflitas, ouse buscar o silêncio neste mundo ruidoso. Lá encontrarás a ti mesmo e, com certeza, um Outro que vive em ti e quase nunca é escutado.
Cuida da saúde, mas sem a obsessão dos anoréticos e a compulsão dos que devoram alimentos com os olhos. Caminhas, pratiques exercícios aeróbicos, sem descuidar de acarinhar tuas rugas e não temer as marcas do tempo em teu corpo. Freqüentes também uma academia de malhar o espírito. E passe nele os cremes revitalizadores da generosidade e da compaixão.
Não dês importância ao que é fugaz, nem confundas o urgente com o prioritário. Não te deixes guiar pelos modismos. Faças como Sócrates, observe quantas coisas são oferecidas nas lojas que tu não precisas para ser feliz. Jamais deixes passar um dia sem um momento de oração. Se não tens fé, mergulha-te em tua vida interior, ainda que por apenas cinco minutos.
Não te deixes desiludir pelo mundo que o cerca. Assim o fizeram seres semelhantes a nós. Saibas que és chamado a transformá-lo. Se tens nojo da política, receberas a gratidão dos políticos que a enojam. Se és indiferente, agradecerão os que a ela se apegam. Se reages e atuas, haverão de temer-te, porém a democracia se fará mais participativa.
Arranque de tua mente todos os preconceitos e, de tuas atitudes, todas as discriminações. Sê tolerante, coloca-te no lugar do outro. Todo ser humano é o centro do Universo e morada viva de Deus. Antes, indagues a ti mesmo por que provocas em outrem antipatia, rejeição, desgosto. Reveste-te de alegria e descontração. A vida é breve e, de definitivo, só conhece a morte.
Faça algo para preservar o meio ambiente, despoluir o ar e a água, reduzir o aquecimento global. Não utilizes material não-biodegradável. Trate a natureza como aquilo que ela é de fato: tua mãe. Dela viestes e a ela voltarás; hoje, vives do beijo que lhe dá continuamente na boca: ela te nutre de oxigênio e alimentos.
Guarde um espaço em teu dia-a-dia para conectar-te com o Transcendente. Deixas que Deus acampe em tua subjetividade. Aprendas a fechar os olhos para ver melhor.



Feliz 2010!



Frei Betto
Enviado por Fabiana Menassi

Mais uma da Leninha!


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Cândido Portinari


Cândido Torquato Portinari, nasceu em  Brodowski/SP,  no dia 29 de dezembro de 1903  e faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1962,  vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.
Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços a gigantescos murais. Foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.




Retirantes, uma das mais emocionantes pinturas de Portinari.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vai, Ano Velho - Affonso Romano de Sant'Anna





VAI, ANO VELHO, VAI DE VEZ
VAI COM TUAS DÍVIDAS
E DÚVIDAS, VAI, DOBRA A EX-
QUINA DA SORTE, E NO TRINTA E UM,
À MEIA NOITE, ESGOTA O COPO
A CULPA DO QUE NEM LEMBRO
E ME CRAVOU ENTRE JANEIRO E
DEZEMBRO.
VAI, LEVA TUDO: DESTROÇOS
OSSOS, FOTOS DE PRESIDENTES
BEIJOS DE ATRIZES, ENCHENTES
SECAS, SUSPIROS, JORNAIS.
VADE RETRUM, PRA TRÁS,
LEVA PRA ESCURIDÃO
QUEM ME ASSALTOU O CARRO,
A CASA E O CORAÇÃO.
NÃO QUERO TE VER MAIS, SÓ DAQUI A ANOS,
NOS ANAIS, NAS FOTOS DO NUNCA-MAIS.
VEM, ANO NOVO, VEM VELOZ,
VEM EM QUADRIAS, ALADAS, ANTIGAS
OU JATOS DE LUZ MODERNA, VEM,
PAIRA, DESCE, HABITA EM NÓS,
VEM COM CAVALHADAS, FOLIAS., REISADOS,
FITAS MULTICORES, RABECAS, VEM COM
UVA E MEL E DESPERTA
EM NOSSO CORPO A ALEGRIA,
ESCANCARA A ALMA, A POESIA, E POR UM
INSTANTE, ESTANCA
O VERSO REAL, PERVERSO
E SACIA EM NÓS A FOME
— DE UTOPIA.






VEM NA AREIA DA AMPULHETA COM A
SEMENTE QUE CONTIVESSE OUTRA SE-
MENTE QUE CONTIVESSE OU-
TRA SEMENTE OU PÉROLA
NA CASA DA OSTRA
COMO SE
SE
OUTRA SE-
MENTE PUDESSE
NASCER DO CORPO E MENTE
OU DO UMBIGO DA GENTE COMO OVO
O SOL A GEMA DO ANO NOVO QUE ROMPESSE
A PLACENTA DA NOITE EM VIVA FLOR LUMINSESCENTE.






ADEUS, TRISTEZA: A VIDA
É UMA CAIXA CHINESA
DE ONDE BROTA A MANHÃ.
AGORA
É RECOMEÇAR.
A UTOPIA É URGENTE.
ENTRE FLORES E URÂNIO
É PERMITIDO SONHAR.






Affonso Romano de Sant'Anna

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Poema de Natal




Neste Natal quero paz nos corações.
Não aquela paz momentânea, doentia,
que só dura o tempo necessário
para a entrega dos presentes...

Não. Tem de ser eterna
a paz que eu espero!

Ela tem que durar
o tempo da humanidade,
o tempo da liberdade,
a idade da procura
por paz, amor e ventura.

 Sim. Tem de ser eterna
a paz que eu espero!

© Márcia Sanchez Luz

Cartão de Natal de Leninha


domingo, 20 de dezembro de 2009

Todas as manhãs, Carmen Moreno



Despertar é vitória infinda,
a qual o orgulho humano não brinda,
por julgar rotineiro e certo
o descerrar das pálpebras.
Por conceber ato consumado a sorte da hora:
a verve rara de Deus rimando vida e aurora.

Tesouro interior, Vânia Moreira Diniz



Ontem foi o dia que eu fiquei à tarde na periferia da cidade, em santa Maria, reunida com algumas crianças e adolescentes na antivéspera de natal. Levei alguns presentes, balas, bombons e todo o meu carinho. E me senti um pouco gente quando pude ver que muitos sorrisos estavam ali presentes, naqueles rostos tão jovens.
Fico imaginando a leia mais

As horas, Solange Firmino



Zeus era o mais importante dos deuses gregos. Ele mantinha a ordem e a justiça do mundo e dominava o Céu e fenômenos atmosféricos como chuvas e raios. Sua ascensão ao poder foi conquistada pelas vitórias em diversas lutas. A primeira delas foi contra o pai Crono, que devorava os filhos quando nasciam para se continue a ler

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dia internacional dos imigrantes




"Kikuji Iwanami nasceu em 1898 na aldeia Shiga, na província de Nagano, Japão. Em 1918 ingressa na agremiação de tankaístas Araragui e torna-se discípulo de Akahiko Shimagui (1876-1926). A revista Araragui, fundada em 1908 é considerada a maior revista especializada em tanka, e tem sua origem ligada ao Neguishi Tankakai, que em 1898 deu início a luta pela renovação do tanka. Segundo Kikuji Iwanami, a forma regular de cinco versos com total de 31 sílabas era apenas uma questão de princípio e não havia obrigatoriedade de se manter as 31 sílabas, distribuídas em versos de 5-7-5-7-7. Assim, entre os seus trabalhos não são raros a desobediência à métrica e o excesso de sílabas. Eis uma afirmação sua: " Os antigos costumavam dizer da necessidade de se afastar cerca de um metro para não se pisar na sombra do mestre, mas isso impede o progresso...É necessário ultrapassar o mestre!"... Casa-se em 1924 e em 1925 emigra para o Brasil onde passa o resto de sua vida. Em 1952 falece aos 55 anos acometido de úlcera do estômago. No Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera, na capital São Paulo é erguida em 1959 uma lápide onde está gravado o seguinte tanka de sua autoria:


"No meu coração
estão bem guardados
os montes e rios
da terra natal, Shinano...
Rememorarei sempre."

Durante sua vida participou de algumas publicações como as revistas Yashiju e Rinsen (esta última, uma publicação clandestina em japonês), e o Jornal Paulista. Teve dois de seus tankas publicados pela editora Koodansha, de Tóquio, na antologia de tankas contemporâneos Shoowa Man'yooshuu. Após sua morte a revista Yashiju publicou duas edições especiais em sua homenagem. Foi editado o livro Iwanami Kikuji Kashuu, com os 1996 tankas mais representativos. Quarenta de seus tankas foram publicados na antologia Colônia Man'yooshuu e por fim foi editado o livro Toki To Tsuti / Terratempo com 200 de seus tankas em edição bilíngue com tradução de Masuo Yamaki e Raimundo Gadelha", livro do qual tomo todas estas referências.


"Vou semeando
rainhas-margaridas
brancas e vermelhas
para colher e vender,
no Dia dos Finados".

Kikuji Iwanami ((poeta japonês que imigou para o Brasil)

Tradução de Massuo Yamaki

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Aniversário de Érico Veríssimo


Érico Lopes Veríssimo, (Cruz Alta, 17 de dezembro de 1905 — Porto Alegre, 28 de novembro de 1975).
Foi um dos escritores brasileiros mais populares do século XX.
Eis uma parte das suas obras, existem contos, novelas, contos infanto-juvenis, narrativas de viagem, ensaios e etc.

Romances


Clarissa – 1933
Caminhos cruzados – 1935
Música ao longe – 1936
Um lugar ao sol – 1936
Olhai os lírios do campo – 1938
Saga – 1940
O resto é silêncio – 1943
O tempo e o vento (1ª parte) — O continente – 1949
O tempo e o vento (2ª parte) — O retrato – 1951
O tempo e o vento (3ª parte) — O arquipélago – 1961
O senhor embaixador – 1965
O prisioneiro – 1967
Incidente em Antares – 1971
..............................................................

Frases de Érico:


"Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu."

"A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos."
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Haicai
Serviço Consular

Com cartas brancas,
senhor cônsul solta
Pombos de papel.
....................................................................

De Mário Quintana para Érico Veríssimo

XII


Para Erico Verissimo

O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua - a Lua! - em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqüila de um açude...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nascimento de Olavo Bilac




Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 — Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

A um Poeta
Olavo Bilac

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Aniversário de Oscar Niemeyer



Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho (Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1907) é um arquiteto brasileiro, considerado um dos nomes mais influentes na Arquitetura Moderna internacional. Foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Ele tem sido exaltado pelos seus admiradores como grande artista e um dos mais importantes arquitetos de sua geração.  Seus trabalhos mais conhecidos são os edifícios públicos que desenhou para a cidade de Brasília. Porém, não há no mundo arquitetônico quem não conheça a obra desse gênio fantástico, incansável, trabalhador e guerreiro, chamado Oscar Niemeyer.
Ficamos contentes com a sua vitória.
Parabéns e muitos anos de vida!


"Não é o ângulo reto que me atrai,
nem a linha reta, dura,
inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre
e sensual, a curva que
encontro nas montanhas do
meu país, no curso sinuoso
dos seus rios, nas ondas do
mar, no corpo da mulher
preferida. De curvas é feito
todo o universo, o universo
curvo de Einstein."

Oscar Niemeyer

domingo, 13 de dezembro de 2009

Nascimento de Luís Gonzaga


Luiz Gonzaga do Nascimento, (*Exu, 13 de dezembro de 1912)

ASA BRANCA

Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por falta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chores não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração

Hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Para eu voltar pro meu sertão


Gonzaga sofria de osteoporose. Morreu vítima de parada cárdio-respiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte e posteriormente sepultado em seu município natal, em 02/08/1989.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Thaty Marcondes












Thaty Marcondes é colunista de Blocos e fez em julho desse ano uma homenagem pelo falecimento do
escritor Rodrigo de Souza Leão.



Para Rodrigo de Souza Leão

I
Um amigo virtual se foi.
Dele não ouvirei a voz,
nem sentirei o tato...
Sentirei saudades das palavras
apropriadas e sinceras.
A poesia...
(Levou-a consigo.
Quem sabe?)

II
Num guardanapo de papel,
rabiscarei saudades em versos inúteis.
As incontáveis trocas de linhas,
de e-mails, de idéias...
Os poetas me fazem tanta falta,
como uma tragada do seu cigarro
(Penso, olhando a foto:
quem sabe não é da mesma marca que o meu?)
Não, não sinto falta dos poetas.
Sinto falta de você, poeta.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Nascimento de Noel Rosa - 1910 (RJ)















Poeta da Vila Eterna

Noel é o samba na alma
É Poeta Universal
Conheceu uma alma humana
Muito além do Carnaval
Realista, épico, crítico:
Eterno e intemporal ...

Influenciou Chico, Vinícius
Cartola, Gil, Tom Jobim
Caetano e João Gilberto
Quase todo mundo, enfim
Filósosfo do Samba é:
O pós eu fazer dentro de mim ...

Gustavo Dourado

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Para lembrar o que não houve

Em dois minutos de magia pura
cantamos juntos versos ao luar.
Você jurava que o dia a chegar
seria para nós a partitura

do amor infindo (laço que perdura)
da noite eterna feita pra abrigar
os sonhos nossos de nunca adiar
as tardes calmas, cheias de ternura.

Por que não se tornaram realidade
os nossos sentimentos e desejos
cantados em total cumplicidade?

Os dois minutos de felicidade
deram lugar a pálidos tracejos
do que seria vida e hoje é saudade.

© Márcia Sanchez Luz

Desabafo de uma placa de trânsito





Eu sou uma feliz placa de trânsito. Quer dizer, eu era uma feliz placa de trânsito. Quer dizer, continuo sendo placa, mas não tão feliz.

Eu sou a Proibido Estacionar, muito prazer. Essa é a única coisa que eu consigo falar para as pessoas: “Proibido estacionar”.

Antes, me compreendiam, viam-me, e sabiam que por ali perto de mim não poderia estacionar. Era óbvio e a obviedade obviamente fazia a minha felicidade. Desculpe-me, às vezes exagero nas repetições. É o hábito de uma vida inteira repetindo: “Não estacione”.

Mas, ultimamente, não sei bem o que tem acontecido. De repente, começaram: uma paradinha de leve. Depois, mais tempo, mas o motorista ainda ficava dentro do carro. Depois, só uma saidinha, mas com o vidro aberto, tipo para indicar que era uma urgência, ou coisa assim.

Agora não, agora eles até ligam o alarme, trancam tudo e vão embora. Ou seja, deixam-me muda. Eu já nem existo mais, estou ali como enfeite. Um ou outro recebe uma multa, reclama, sai xingando, achando que tem razão, mas de nada adianta. Parece que eles tão brotando do chão, logo em seguida vem outro, liga o alarme do carro e vai.

Eu grito, peço por favor, imploro, aviso do perigo de ser multado e nada, eu já não existo. Eu tenho uma prima que é bem continue a ler

1977- falecimento de Clarice Lispector







O DEUS DE CLARICE LISPECTOR

Há trinta anos morria Clarice Lispector, a escritora que abalou a literatura brasileira pela contundência de sua linguagem que tentava desvendar o mistério da existência com palavras claras e obscuras a um tempo, de grande beleza poética, de inquietação, de perturbação, espanto e maravilhamento. Com dezessete anos de idade escreveu “Perto do Coração Selvagem”, e era como se estivesse surgindo uma obra de gênio. Era como se valesse o adágio: “O gênio nasce feito.” Mas Clarice trabalha incansavelmente. A sua genialidade era uma busca contínua da palavra certa, que clarificasse os escaninhos continue a ler

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Ricardo Augusto dos Anjos - entrevistado pela escritora Belvedere Bruno.


Quando o conheci, Ricardo Augusto dos Anjos morava na Vila Pereira Carneiro, em Niterói/RJ. Nessa vila, nasci e vivi boa parte da infância e adolescência. O lugar ainda conserva seu bucolismo, que nos traz inspiração e nos remete à poesia. Anos depois, reencontrei Ricardo pelos caminhos do jornal Lig. Quis o destino que ele buscasse outros rumos e, atualmente, os ares serranos e a calmaria fazem parte do seu cotidiano. E nessa troca de idéias, cresço, ao mesmo tempo que me encanto com a sua generosidade.

BB - Pode descrever seu primeiro instante poético?
Ricardo Augusto dos Anjos - Adolescente, achava-me apaixonadíssimo, continue a ler

domingo, 6 de dezembro de 2009

O Viver — Vânia Moreira Diniz



Sei agora mais do que nunca o quanto a vida é importante. Ela se desfaz num momento qualquer como se fôssemos um brinquedo ou incitados por um prestidigitador. Precisamos fazer tudo “hoje e agora” porque realmente não sabemos o que vem “depois e amanhã”.

Muitas vezes quis transmitir alguma frase, opinião, comentário ou dizer simplesmente que amava a uma pessoa querida e quando me resolvia ela já tinha ido embora, a despeito de ser jovem, forte, cheia de boas intenções e alegria, mas o mágico Senhor o impulsionara. Por isso quando falo e principalmente escrevo, continue lendo...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Hércules mata o Leão de Neméia

Hércules e o Leão de Neméia

Na Grécia antiga, um Leão feroz devastava a região de Neméia, perto de Micenas e Corinto, devorando rebanhos e seres humanos. O Leão era filho de Équidna, monstro com corpo de mulher e cauda de serpente que vivia nas profundezas. Com Tifão, Équidna gerou o Leão de Neméia e outras criaturas como Fix, Ortro, Hidra de Lerna, Cérbero e Quimera. Esses monstros eram violentos, por isso foram combatidos pelos heróis.
Um dos heróis que mais mataram monstros foi Héracles, mais conhecido pelo nome romano
Hércules, filho de Zeus com a mortal Alcmena. Hera, a esposa ciumenta de Zeus, provocou uma loucura temporária em Hércules, que acabou matando a esposa e os filhos. Quando lúcido novamente, o herói consultou o Oráculo de Delfos, que o aconselhou a servir seu primo Euristeu. Simpatizante de Hera, o rei impôs-lhe perigosos trabalhos, os
quais Hera fez de tudo para atrapalhar .
A primeira tarefa de Hércules foi matar o invencível Leão de Neméia e levar a pele ao rei. Hércules tentou atingir o animal com flechas e outras armas, sem sucesso. Depois o atacou diretamente, apertando-o com seus braços até sufocá-lo. Hércules esfolou o leão e retirou sua pele invulnerável, que passou a ser sua marca registrada nos ombros. Com a cabeça do monstro fez uma espécie de capacete. A posse dos artefatos do animal abatido e dotado de mana simbolizava o espírito vitorioso de Hércules.
Em Neméia, uma pessoa que teve um filho morto pelo leão hospedou Hércules e lhe deu um carneiro com o qual foi feito o sacrifício a Zeus. Hércules depois instituiu os
Jogos Nemeus, que se tornaram um dos mais importantes da Grécia, junto com os Jogos Olímpicos, também em honra a Zeus; Píticos, em honra a Apolo; e Ístmicos, que honravam Poseidon.
Hércules levou o corpo esfolado do animal continue a ler

Autora do texto: Solange Firmino, professora do Ensino Fundamental e de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio. Escritora, pesquisadora. Estudou Cultura Greco-romana na UERJ com Junito Brandão, um dos maiores especialistas do país em Mitologia.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009


Socorro, fotopoema de Marcelo Mota

Bate-papo com Alcides Nogueira



Bate-papo com ALCIDES NOGUEIRA, autor das novelas O amor está no ar, Torre de Babel, A Força de um Desejo, Ciranda de Pedra, entre outras, teatrólogo, distinguido já com o Prêmio Molière, com a peça sobre Rimbau e Verlaine: Poesia e Pólvora.


Era uma noite qualquer: faculdade, editora, miado dos nossos gatos e Raul incansável no cd. Sempre em fim de noite, quase começo de outro dia, entro no chat. Depois de colibri, as salas têm sido ponto de encontro de meus amigos virtuais. Naquele dia, não tinha ninguém conhecido. Comecei, então, a papear com duas ou três pessoas. Uma delas impressionou-se com minhas metáforas e me perguntou o que eu fazia; disse que era escritor e ele me respondeu que não tinha dúvida, pois logo percebera pelo meu estilo de teclar; falou-me que também era da classe. Vimos logo que tínhamos muita coisa em comum, e, para maior surpresa ainda, que Leila conhecera, na infância, através de correspondência, ele e sua irmã. Neste dia, ganhei um amigo incrível e Leila reencontrou companheiros queridos separados pelo tempo. E dizem que o micro é algo frio... (UF)
Urha - Você começou sua carreira dramatúrgica no teatro ou na TV? Fale deste início.
Alcides - Comecei a fazer teatro amador, ainda em Botucatu, interior de São Paulo, onde nasci. Minha primeira peça profissional, em São Paulo, aconteceu em 1977 — A FARSA DA NOIVA BOMBARDEADA — uma peça que lançou artistas como Miguel Magno (falecido em 2009) e Cida Moreyra, entre outros autores. Ficou apenas um mês porque foi censurada pelo Armando Falcão, ministro da justiça da ditadura. Foi em 81 que consegui meu primeiro sucesso, LUA DE CETIM, que me deu o primeiro Molière e outros prêmios. Foi a partir daí que a televisão se interessou pelo meu trabalhão e a Globo me convidou para escrever um especial sobre o Chico Xavier, com direção do Vanucci. Depois da explosão de FELIZ ANO VELHO (em 1983, quando ganhei meu segundo Molière e todos os prêmios da temporada), aí veio o convite para fazer novelas. E a primeira foi LIVRE PRA VOAR, onde colaborei com Walther Negrão (1984). A partir disso, teatro e tv seguiram em paralelo.
Leila - "Ventania", sua peça de teatro atual esta em cartaz em SP depois delonga temporada no Rio. Me parece que ela esta sendo mais polemica para os paulistas do que para os cariocas, que amaram a peca. A que você atribui esta reação?
Alcides - Foi o mesmo sucesso que pintou no Rio. Mas houve reações mais fortes. Talvez São Paulo identifique mais proximamente o conflito sexualidade /religiosidade de que trata a peça, e isso dói mais na ferida do paulistano. Também porque foi aqui que o Zé Vicente (de quem em termos a peça fala) morou a maior parte do tempo e produziu muito de sua obra. O paulistano é mais conservador que o carioca em muitos aspectos, embora a cidade em si não. Os valores daqui são diferentes e a postura do Rio em relação ao teatro é mais light (no bom sentido).
Urha - Para você qual a diferença fundamental entre escrever para o teatro? E para a TV?
Alcides - Acabamento. No teatro, você tem a possibilidade de ficar muito mais tempo gerando o texto, dando a ele o acabamento necessário. Na televisão, por forca da pressa, isso é impossível. Você tem de parir um capitulo de novela por dia e tudo bem... No teatro também existe uma integração muito mais intensa entre autor, diretor e elenco. Na televisão, isso acaba se diluindo. Mas eu gosto muito dos dois veículos e sinto muito prazer escrevendo para mundos tao diferentes.
Urha - Além de escrever, o que você gosta de fazer?
Alcides - Eu ouço muita música, leio muito, adoro artes plásticas (vejo todas as expo que posso), vou ao cinema, ao teatro, namoro, jogo cartas e bingo, viajo...
Leila - Você trabalha melhor "sob pressão"?
Alcides - Na televisão sim, mesmo porque é inevitável. Mas, quando escrevo para o teatro, quero toda a paz do mundo. Nem sempre isso é possível, mas quando consigo me isolar do mundo para criar uma peça, é dos deuses.
Leila - E "inspiração"... e' "dom divino"?...
Alcides - Não, não acredito nisso. Acho que todo autor é antenado, tem insights, consegue visualizar muita coisa... Mas inspiração é um conceito antigo... Também não acho que seja aquela historia de transpiração... Para mim, escrever é exercício sim, mas as vezes as coisas brotam em borbotões, como se fosse uma escrita automática, e você acaba nem mexendo muito no texto. Outras, você escreve e reescreve mil vezes uma cena, para chegar naquilo que está querendo dizer.
Leila - Qual a novela que lhe deu mais trabalho? E a que lhe deu maior alegria?
Alcides - A novela que mais me deu trabalho foi SALVADOR DA PÁTRIA, quando escrevi com o Lauro Cesar Muniz. Sofremos pressão de todos os lados, o Lauro ficou doente e levei a novela sozinho durante um bom tempo. Foi estressante, embora o resultado tenha sido muito bom. É a novela com a segunda melhor audiência da Globo (74%). As que me deram mais alegria foram PRÓXIMA VÍTIMA, que transcorreu em vôo cruzeiro todo o tempo e mobilizou todo o pais, graças a trama muito bem armada do Silvio de Abreu e O AMOR ESTÁ NO AR, que, além de ser a minha primeira novela solo, sinto uma harmonia muito grande com direção, com os co-autores Bosco Brasil e Filipe Miguez, e a repercussão que provoca, mesmo sendo uma novela de seis horas, hoje um horário muito complicado.
Urha - Em literatura, quais os autores preferidos em prosa e verso?
Alcides - Em teatro, Tchecov, Jorge Andrade, Nelson Rodrigues, Plínio Marcos e Eugene O'Neal. Em literatura, Proust, Balzac, Machado, Eça de Queiroz, Flaubert, Genet, Updike, Fante, Gertrude Stein e Joyce. Em poesia, Rimbaud, Sylvia Beach, João Cabral, Mallarme, Baudelaire, Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Kavafis.
Urha - Voltando ao teatro: quais são seus novos projetos?
Alcides - Colocar em cena uma peça escrita em 89, minha única inédita, PARIS - BELFORT, que é uma releitura muito pessoal das Três Irmãs, de Tchecov; escrever a terceira parte da minha trilogia sobre o discurso moderno, que começou com a ÓPERA JOYCE, seguiu com O RETRATO DE GERTRUDE STEIN QUANDO HOMEM e terminará com O BARCO BÊBADO E SEU TIMONEIRO, sobre a relação Rimbaud e Verlaine. Também quero escrever o quarto ato da LUA DE CETIM, abarcando o período Collor.
Leila - Como é o seu dia? Sobra tempo para o lazer?
Alcides - Quando estou escrevendo novela, não. Nem para o lazer sexual. Mas quando estou em férias da TV, procuro sair de São Paulo, ir a Paris, ver muito teatro e cinema, ir a concertos, encontrar amigos, jogar conversa fora etc...
Urha - E' possível fazer novos amigos, a esta altura da fama?
Alcides- Sim. Você é um exemplo disso. É muito mais difícil do que antigamente, pois o approach das pessoas é meio esquisito. Sempre existe aquela historia de imaginar que ser meu amigo poderá abrir portas. Besteira. A gente abre portas pelos méritos próprios e não apropriados de outras pessoas. Também é complicada a aproximação afetiva, sentimental, sexual... Porque sempre fica a impressão de que as pessoas estão transando com a imagem publica e não com o Alcides de sempre... Mas tenho levado bem isso. Eu procuro me resguardar, sem abrir mão da minha liberdade. Até mesmo a liberdade de me dar mal em determinadas situações.
Urha - O que você gosta menos na vida?
Alcides - A falta de respeito. Isso inclui a falta de respeito aos direitos humanos, a falta de respeito ao nosso quotidiano, a falta de respeito que as vezes nos mesmos sentimos com relação a gente... Não posso deixar de sofrer quando vejo a incompreensão do governo com as crianças de rua, com os sem-terra, com os doentes e idosos... Dói. Dói muito. A vida fica feia e suja se compactuamos com isso.
Leila - O que você preza mais nas pessoas? E nos seus personagens?
Alcides - A integridade. Tanto nas pessoas como em personagens. Porque, para mim, integridade não é sinônimo de maniqueísmo. A gente pode errar sim, mas tem de ter a humildade e a nobreza em enxergar isso... Claro que, quando falo de pessoas, isso é fundamental, pois inclui caráter (não suporto pessoas de má índole)... Nas personagens, muitas vezes, carrego nas tintas, para que os signos de vilania sejam decodificáveis de forma mais simples e ampla, principalmente na televisão.
Leila - O teu teatro sempre foi assim cortante como "Ventania"? Por quê a mudança, e quando ocorreu?
Alcides - Meu teatro era mais condescendente. Talvez eu tivesse medo de colocar no palco meus fantasmas, sem nenhum tipo de tapadeira. Por mais chocantes e duros que fossem. Quando comecei a ver que minha geração - muitos amigos, quase todos - tinham morrido, ou na época da repressão, ou depois, com a Aids (outra forma de repressão), eu percebi que tinha de colocar em cena todas as minhas coisas - doessem ou não em mim ou no espectador. Acho que esse dilaceramento sempre houve. Estava oculto ou preservado em algum ponto, muitas vezes recoberto pela poética da minha palavra (que não abandonei nem pretendo, pois gosto), mas agora é tudo ou nada. Não tenho o que perder. Não vou deixar passar a vida sem que as pessoas saibam que o Alcides Nogueira pensa desse jeito. É a minha forma de estar inteiramente no mundo, embora o Abujamra me chame de o guerrilheiro do nada (risos). O que me deixa muito feliz!
Urha - Como se dá o seu processo de criação?
Alcides - Basicamente pela maturação. Isso, tanto no teatro quanto na tv. Pinta algo em minha cabeça. Isso vai adquirindo contornos, delineamentos. Vou deixando, deixando... Um dia, sinto a necessidade e a urgência de colocar isso no papel. Aí a coisa se torna quase física. Entra a fase do exercício (se for teatro). Escrevo, escrevo, para ver o que é melhor... Como disse antes, muitas vezes a coisa vem com tudo. ÓPERA JOYCE, que considero um dos meus melhores trabalhos, nasceu em um dia. Foi como se estivesse tomado pela energia da escrita. PARIS-BELFORT me consumiu seis meses de escrita exaustiva.
Urha - Como e' estar no primeiro time da Globo?
Alcides - Por um lado, extremamente gratificante. Muita gente quer isso e não consegue. E eu não consegui de graça, mas por conta de muito trabalho. Foram nove novelas como colaborador e depois como co-autor. Vem aquela sensação de conquista, de reconhecimento. Por outro lado, as dificuldades que citei de aproximação com as pessoas, de viver mais calmamente a vida, isso tudo fica mais difícil... O importante para mim não é estar no primeiro time da Globo, mas ter a possibilidade de mostrar meu trabalho e ver que a mídia reconhece, muito mais pessoas são atingidas por ele, as portas para o teatro se abrem mais facilmente pois se trata daquele autor da novela x...
Leila - "O amor está no ar" é a primeira novela que você assina sozinho. E' uma novela romântica? Você acha que só o teatro pode veicular obras fortes, que tratem de tabus e preconceitos?
Alcides - O AMOR ESTÁ NO AR tem sua dose de romantismo sim. Eu fui buscar em Jane Austen, na sabedoria dela, muita coisa que está na minha historia. No horário das seis é muito mais difícil colocar temas mais polêmicos. Mesmo assim, estou tratando do judaísmo. É a primeira vez que se vê isso na tv brasileira. E é incrível, pois temos no pais a terceira maior colônia judaica do mundo. Também falo de ódio, de poder, da troca de dinheiro... Em a PRÓXIMA VÍTIMA, mesmo com muitas limitações, foi possível tratar da homossexualidade e do racismo de forma muito clara e digna. Obviamente no teatro tudo isso é mais fácil. Mas atinge menos. Um capitulo de novela da Globo é visto por milhões de pessoas. Uma obra teatral, pois mais sucesso que faca, não leva mais que milhares de pessoas, durante toda a temporada.
Leila - E tem OVNI na novela, não é? Você acredita em UFOS?
Alcides - Acredito sim. Acho muita impertinência e presunção do terráqueo achar que está sozinho nesse universo todo. Mas na novela o assunto entra de forma diferente que no ARQUIVO X ou na JORNADA NAS ESTRELAS, por exemplo. A questão da ufologia, na minha novela, está diretamente ligada aos conflitos interiores vividos pela personagem da Natalia Lage, a Luiza. Fica sempre a duvida se ela realmente está mantendo contatos ou tudo aquilo não é a forma que ela encontrou para falar dos seus problemas, para exteriorizar suas dificuldades com o mundo, com as pessoas...
Urha - Fale da sua experiência com os outros autores com os quais trabalhou.
Alcides - Eu adorei trabalhar com alguns deles. Sou extremamente grato ao Walther Negrão, que me ensinou o beabá da novela, com toda a sua generosidade. Abriu seu baú de experiência e disse: pega, Alcides, e se vira... Foi maravilhoso. O Silvio de Abreu continua sendo, alem de um autor a quem sempre recorro para me dar dicas, para fazer uma boa analise do que estou fazendo, um amigo de todas as horas; adorei trabalhar com o Gilberto Braga, que tem uma sensibilidade fantástica... Com outros, a coisa foi mais difícil. Uma co-autoria sempre esbarra na questão do ego, da criatividade que se choca... em muita coisa, com as quais precisamos lidar com luva de pelica. E nem sempre isso acontece. Aí, surgem situações de choque, magoas etc...
Leila - Você sente influencia de algum autor em particular em suas obras?
Alcides - No teatro, sinto muito a influencia de Tchecov e Jorge Andrade. E de todos os poetas que amo. Porque meu teatro chega a ser quase um poema dramático, tal a força com que a poesia me domina.
Leila - Muitos intelectuais discordam de que novela de TV seja literatura. E para você? Por que?
Alcides - É literatura sim. Talvez sem o acabamento desejado. Se pudéssemos escrever um capitulo por semana, com certeza teríamos sempre belas cenas, pungentes, dolorosas, alegres, doidas, criticas etc... Mas a pressa prejudica isso. No entanto, a televisão, no Brasil, acabou suprindo a leitura. Infelizmente, claro. Mas melhor ver um bom especial ou uma novela bem escrita (e há muitas), do que continuar absolutamente fora do jogo das idéias.
Urha - E como tem sido sua vivência/experiência com os vários diretores de teatro com os quais você tem trabalhado?
Alcides - Eu me dei muito bem com quase todos. Sempre houve troca, respeito, entendimento. Claro que o filtro do diretor nem sempre é o mesmo do autor. Nem a óptica. Mas a somatória desses filtros, juntando-se a maneira como o autor veste a personagem, provoca uma obra maior do que aquela que está no papel. Particularmente, alguns diretores conseguiram a tradução do meu universo de maneira muito bonita. O Márcio Aurélio, o Abujamra, o Paulo Betti, o Gabriel Vilella, o Francisco Medeiros, foram diretores que souberam exatamente o que eu estava querendo dizer e, não abandonando em momento algum o conceito estético deles, conseguiram um casamento maravilhoso entre texto e encenação.
Leila - Você sempre quis ser escritor? Sempre acreditou que ia dar certo?
Alcides - Sempre quis ser escritor. Quanto ao dar certo, nunca me preocupei com isso. As coisas foram acontecendo de forma natural, como um rio que corre pela aldeia... Deram certo, ainda bem. Se não tivesse sido assim, eu continuaria escrevendo. Talvez tivesse de achar outra forma de sobrevivência e seria infeliz. Mas eu não abriria mão nunca da minha escrita. É o meu canal com o mundo. Não há como viver sem ele.
Urha - Quem mais o incentivou na sua carreira?
Alcides - Minha família sempre foi muito ligada as artes. E alguns professores. Tive a sorte de pertencer a uma geração onde a manifestação artística era uma forma de posicionamento como cidadão, e isso me deixou muito mais a vontade para ir em frente. Não sei como hoje as coisas acontecem para quem começa uma carreira de escritor, ou de pintor, ou de músico. Houve muitas vezes em que as coisas pareciam estar minguando, principalmente durante a ditadura. Mas acho que, como bom escorpiniano, consigo sobreviver e renascer.
Urha - E a Internet, entrou pela sua vida? Como?
Alcides - Como uma teia mesmo. Que foi me envolvendo. Comecei como curioso. Sou muito curioso com todo tipo de comunicação, e todo tipo de modernidade. Hoje não uso tanto a net como fazia no inicio. Cheguei a ficar dias e dias conectado, principalmente em chats e visitando sites americanos... Agora estou mais controlado, mesmo porque não tenho muito tempo. Mas a net me ajudou a conhecer pessoas incríveis e a reencontrar outras. Você, Urha, conheci por meio da net, e a Leila eu reencontrei. O seu livro, Urhacy, sobre os chats, é lindo e desvenda de maneira brilhante esse mundo virtual. As pessoas devem le-lo, para entenderem porque a net hoje é realmente um grande canal, que mitiga um pouco a solidão do final de milênio.
Leila - Que dica você daria para os autores que estão começando?
Alcides - Ler, ler muito. Principalmente poesia, que é a síntese de toda a palavra e de toda a emoção. E tentar todos os canais, não importa quais sejam. Teatro, literatura, televisão... E sem preconceito. Há espaço para todo mundo...
Urha - E as suas poesias, saem da gaveta?...
Alcides - Por enquanto não. Ainda não me sinto um bom poeta. A poesia é a mais difícil tradução das emoções, porque é contida e espraiada ao mesmo tempo. Cálida e cortante. Verborrágica e econômica. Não, ainda não estão maduras. Um dia sairão.

Minhocas Mentais Trabalhando



O que será de mim?

E por acaso será que eu "sou"?

Infelizmente, sei a resposta. De mim será uma morte.

E no fundo eu acho que sou por acaso mesmo.

Querem coisa mais assustadora do que isso?

De vez em quando penso que queria ser um peixe.

Ou melhor, uma minhoca na boca do peixe, cabeça com essa criaturinha e cu indefinidos que, se

é que estou certa, não sabe que vai morrer.

A primeira feminista foi a primeira mulher, por Clevane Pessoa


Lilith


A primeira criatura que transigiu uma Lei – ou simples ordem das coisas pré-estabelecidas ou implícitas – foi Lilith. Essa pessoa intrigante, no Talmude, é a primeira fêmea. A primeira mulher de Adão. Ousada, continue a ler

Saiba mais sobre a autora, Clevane Pessoa.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O espião de Proust




Há um momento em que a narrativa de Céleste Albaret se trai e deixa escapar que “o Senhor Proust”, tão puro e endeusado por ela freqüentou ainda que “5 ou 6 vezes” uma pensão de encontros “de homens” de propriedade de Albert Le Cuziat, seu antigo protegido.
Esse Albert fora criado de grandes mansões russas, onde viveu “experiências engraçadas”. Era “um grande varapau da Bretanha, louro, sem elegância, e olhos azuis frios como os de um peixe – os olhos de sua alma”.
Um dos seus patrões, o Conde Orloff, mesmo durante um jantar pedia um penico e urinava diante dos convidados.
Proust deve ter conhecido Albert na casa do príncipe Radziwill. Depois Albert saiu da casa dos outros abriu uma “casa banhos” suspeitíssima na Madaleine, e depois uma “casa de encontros” num pequeno hotel na Rua de l'Arcade.
Proust, que era muito rico, presenteou Albert Le Cuziat com móveis e dinheiro para sua casa de banhos. Mas Albert tinha vários protetores riquíssimos, muito mais ricos do que Proust.
Proust usava Albert para colher informações sobre a alta sociedade que aparece na “Recherche”. Talvez seja Albert um dos modelos de Jupien no seu romance. Proust também pagava Olivier Dabescat, o diretor do restaurante do Ritz, para receber informações: “quem tinha jantado com quem, e que vestido usava naquela noite a sra Tal, e qual tinha sido o protocolo numa mesa ou noutra”.
Albert Le Cuziat constantemente era preso. Mas na sua casa de encontros masculinos apareciam políticos e até ministros. Albert dava os detalhes de seus gostos, e o “Sr. Proust se divertia”.
Quando queria saber alguma coisa, Proust mandava chamar Albert em sua casa, em seu apartamento. E era ela, Dona Céleste, quem levava a mensagem, com o cuidado de só entregar em mãos, e com a recomendação de Albert devolver a carta.
A casa de encontros tinha duas saídas estratégicas. Albert vivia com um jovem que se chamava André, mas que não podia receber as cartas. Talvez Proust tivesse medo de uma chantagem.
Proust disse para sua governanta Céleste:
“Quando vou lá, não gosto muito de demorar, em face das operações que faz a polícia. Não gostaria de aparecer nos jornais de amanhã!”
Portanto, por um motivo ou por outro, Proust freqüentou aquilo.
E um dia até pagou para bisbilhotar um industrial masoquista, amarrado à parede por grossas correntes, a ser flagelado “por um tipo ordinário, até que o sangue se espalhasse por todos os lugares. E foi somente então que o infeliz teve o gozo de todos os seus prazeres...”

Rogel Samuel é Doutor em Letras e Professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. poeta, romancista, cronista, webjornalista.
Site pessoal: http://literaturarogelsamuel.blogspot.com/

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A história de Blocos



Urhacy Faustino e Leila Míccolis



BLOCOS on line está na Internet desde a primeira quinzena de julho de 1996, e de início definiu-se como uma "versão resumida" de Blocos - jornal cultural, que circulava há cinco anos na época. Logo compreendemos que isto era inviável: não podíamos dizer que BLOCOS on line fosse a continuação ou a versão cibernética do jornal impresso, porque a leitura por intermédio de hipertextos, links e até de simultânea participação coletiva (através de programas como o ICQ, o mIRC, etc.), tornava-o muito diferente do jornal periódico do qual se originou. Hoje podemos dizer que conservou, apenas, a proposta ideológica: BLOCOS on line privilegia a cultura alternativa contemporânea, principalmente a literária, ou seja, a cultura que não é patrocinada por grandes editoras, e que, por isso, quase nunca tem espaço na mídia, atrelada a interesses mais econômicos do que culturais. Neste contexto, BLOCOS on line disponibiliza uma série de informações valiosas, prestando serviço, a nível de informação de concursos nacionais e internacionais, eventos, mostras e divulgação de notícias de interesse de poetas, professores de literatura, escritores, artistas em geral. BLOCOS on line, no entanto, não tem apenas valor informativo. Ele é um documento sócio-literário dos acontecimentos da contemporaneidade, preservando a memória de iniciativas, que, se não registradas, perdem-se irremediavelmente, por serem manifestações ou orais ou pouco convencionais, ainda de difícil decodificação por parte de seguimentos literários tradicionais. Além desses aspectos, BLOCOS on line incentiva o intercâmbio cultural, disponibilizando e-mails de poetas. Ainda neste sentido, incentiva novos valores, mantendo várias seções de poesia, colocando, escritores iniciantes e até inéditos, lado a lado com nomes consagrados da literatura nacional.
Na parte de prosa, BLOCOS on line tem como colaboradores fixos: Carlos Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras e Zanoto, jornalista de "Correio do Sul", Varginha/MG. Ambos, nomes consagrados da literatura nacional, encampam este projeto, como prova de que "cultura alternativa" não precisa estar isolada de nenhum segmento literário, porque alternativas são suas propostas e não o tipo de público a que se destina. No link "artigos", temos sempre abordagens sérias e polêmicas junto com duas seções de humor: "Horoscopulações" e "Bois de Paulette", porque informalidade e ironia sempre foram armas poderosas da literatura/cultura independente.
Dividimos a historia de BLOCOS em cinco etapas; a primeira, a inicial, que durou alguns meses apenas. Em um segundo momento, mudamos BLOCOS on line de provedor e Luiz Paulo Serôa juntou-se à equipe, disponibilizando nosso sonho: com todos os seus problemas pessoais, seus trabalhos, suas atribulações, Serôa, nosso engenheiro-poeta, sozinho, manteve Blocos no ar, sem nunca negligenciá-lo. Muitas transformações ocorreram, BLOCOS mudou de apresentação, e cresceu bastante. Começou a ganhar prêmios nacionais e ressaltamos, também, o que consideramos uma espécie de premiação: o número de acessos que BLOCOS conseguidos, desde novembro de 1996: mais de 10.000, número bastante significativo, embora não representasse rigorosamente a contagem de visitas, uma vez que, só em maio deste 1997, conseguimos um contador brasileiro, já que o anterior, europeu, dava bastante problemas, permanecendo mais fora do ar do que funcionando.
A terceira etapa caracteriza-se por uma transformação radical de BLOCOS. Incentivado por Gilberto Weissmüller, físico de formação, especializado em informática, Urhacy muda todo o desgin, cria backgrounds exclusivos para Blocos, gifs especiais, imprime sua feição artística nele. Leila aprende a atualizar o conteúdo, convida novas pessoas para colaborarem, como Felipe Holder, o Abuzadinho de "A Gréia", e a seleção poética passa ser mensal. Conseqüência deste segundo ano de existência on line: ao todo 50 prêmios, sendo 10 nacionais e 40 estrangeiros (EUA, Canadá, Alemanha, Suécia, Portugal, Inglaterra, Itália, Áustria), além de chegar a quase ao triplo de acessos do primeiro ano.
Em agosto/98, através de Daniel Galera — do "Proa da Palavra" —, a ZAZ visita nosso site, gosta dele e nos propõe uma parceria. Sendo o Zaz um dos maiores provedores do ranking brasileiro, temos agora a oportunidade de expandir BLOCOS on line ainda mais, em todos os aspectos. Esta parceria se concretiza em setembro, e eis-nos aqui, felizes por ver a literatura ganhando espaço, sendo mais amplamente divulgada e atingindo, a cada dia, um público maior.
Em dezembro/2000 partimos para domínio próprio, acrescentando mais seções como a Minissérie Literária (histórias em capítulos), ampliando a parte de Webdesigner, a cargo de Urhacy Faustino e Felipe Magalhães (inclusive com poemas animados em flash), e incrementando o site com mecanismos de busca, mapa do site na barra, o que facilita e agiliza em muito a navegação.
Por fim, em maio de 2002, através do novo layout da página inicial de Blocos, criado por Felipe Magalhães - belíssima, por sinal - estamos inaugurando nossa fase mais recente, inclusive partindo para uma maior comercialização do site, até para conseguirmos fazer com que ele cresça cada vez mais e divulgue cada vez mais nossos autores e, também, escritores internacionais de 102 países, até agora. Em abril de 2002 tínhamos média de 755 visitantes diários; em abril de 2003, a média registrada foi de 1729. No momento, agosto de 2005, nossa média é de 3.379 visitantes, já tendo registrado, inúmeras vezes, mais de 6.000 acessos diários.
Não tem tabelas de preços, nem custos de edições; recomenda livros de outras editoras, não omite os mails dos poetas com quem tem contato e não divulga apenas os autores que publica... ou seja, não prioriza o lado comercial. Embora não gostando de definições que limitam mais do que explicam, podemos dizer que BLOCOS on line é um site que privilegia o circuito alternativo — principalmente literário — circuito este que sempre deu muito mais valor ao intercâmbio cultural, à solidariedade e às propostas ideológicas nas quais acredita do que ao lucro econômico, a qualquer preço (inevitável o jogo de palavras). Somos escritores, amamos o que fazemos, por isso abrirmos BLOCOS on line a todos os que compartilham do mesmo sonho de contribuir para um mundo melhor, a partir da palavra escrita, verbal ou virtual. De repente, juntos, talvez seja possível concretizar-se este ideal.


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma escritora retratando a força e a inteligência da mulher.

Isabel Allende e seu livro Retrato em sépia

Isabel Allende fala a Antonio Júnior de Retrato em Sépia, fechando a trilogia iniciada por A Casa dos Espíritos e A Filha da Fortuna
Isabel Allende passou três dias em Barcelona onde acertou detalhes com sua agente Carmem Barcellos - a mesma de Gabriel García Marquez, Jorge Amado e tantos outros - e a editora Plaza & Janés para o lançamento depois do verão europeu de seu novo livro, Retratos em Sépia. Acompanhada de seu marido, o advogado norte-americano Willie Gordon, Allende recebeu muitos jornalistas, sempre sorridente, talvez satisfeita com o êxito de A Filha da Fortuna, que não deixa a lista dos mais vendidos em todo o mundo desde o seu lançamento, e somente em Espanha já está na l2ª edição. É uma mulher atraente e cheia de energia. Bastante morena, conta que veio do sol da Itália, onde foi nomeada "A Mulher do Ano". A autora chilena de A Casa dos Espíritos, que a tornou popular, vive em San Francisco, Califórnia, há doze anos, e em seu novo livro faz uma viagem de regresso ao seu país de origem.
AJ - Eliza Sommers, a protagonista de sua última novela editada, A Filha da Fortuna, deixava Valparaíso, no Chile, para iniciar uma nova vida na Califórnia. Sua nova protagonista, faz o caminho inverso...
IA - Ela se chama Aurora del Valle, é a neta de Eliza Sommers e Tao Chi´en. Aos 5 anos vai viver no Chile para ser criada pela avô, Paulina del Valle. É uma segunda parte de A Filha da Fortuna, com personagens que reaparecem e outros novos, mas pode se ler como um livro independente.
AJ - Retratos em Sépia fecha uma trilogia, iniciada por A Casa dos Espíritos, a novela de 82 que revelou seu talento, e A Filha da Fortuna. Aurora é também uma mulher de caráter forte como habitualmente gosta de mostrar?
IA - Não é o ponto central. É uma mulher jovem, de olho no passado, que trata de descobrir o que passou durante os seus primeiros cinco anos de vida, motivo de freqüentes pesadelos. Terminará sabendo o que passou, porém no caminho enfrentará um péssimo casamento e renunciará a ser a "boa menina" que sua avô gostaria que fosse.
AJ - Ela é uma fotógrafa. Por quê?
IA - A partir de 1870, com a substituição da placa pela película fotográfica, os fotógrafos puderam começar a captar cenas em movimento, gerando duas tendências: quem entendia a fotografia como uma arte parecida a pintura e quem optou por sua vertente documental. Nesta evolução, muitas mulheres tiveram papel importante, sobretudo nos EUA. Era um campo de criação e trabalho novo, e diferente da pintura, não estava restrito somente aos homens. Resolvi colocar Aurora del Valle como uma dessas pioneiras da fotografia, que entende a sensibilidade do fotógrafo com a realidade.
AJ - Mesmo narrada entre 1870 e 1910, Retrato em Sépia ano deixa de aludir ao golpe de Estado de Augusto Pinochet, que teve em seu tio Salvador Alende a vítima mais emblemática. Estes anos englobavam um período muito importante da história do Chile, que incluem a guerra do Pacífico e a revolução de 1879. É um período histórico que guarda muitas semelhanças com o da ditadura.
AJ - Foi difícil o trabalho de documentação para situar a novela num contexto histórico determinado?
IA - Não. Aproveitei o trabalho de documentação que havia feito para A Filha da Fortuna, completando com a ajuda em Chile de meu padrasto, que proporcionou-me dados importantes da situação do país no final do século XIX.
AJ - Além do nascimento da fotografia no Chile, o que mais você mostra no seu relato?
IA - Tento mostrar o que passa em um país quando existe um poder com impunidade. Basta que se dê as condições para que a selvajaria da gente brote.
Antonio JúniorDe Barcelona